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Carta Aberta da Diocese de Goiás

“Eu vi muito bem a miséria do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios…” (Ex 3,7-8)

Nós, cristãos e cristãs da Diocese de Goiás, representantes de 23 municípios do Estado de Goiás, reunidos em Coordenação Diocesana de Pastoral nos dias 18 e 19 de março de 2017, atentos e atentas aos “gritos que saem do chão dos oprimidos” e, sob a orientação de nossa missão evangelizadora, vivenciamos com muita tristeza e pesar as ameaças aos direitos sociais constituídos. Esta é a principal realidade que nos interpela no momento, em nome do Evangelho.

Constatamos perplexos a insensibilidade da Comissão da Reforma da Previdência e demais parlamentares no encaminhamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n° 287/2016, enviada pelo Governo, que propõe alterar a Constituição Federal. Caso esse texto seja votado, tal como se apresenta trará grandes e profundas consequências, gerando o aumento da desigualdade social, o que é, na prática, um enorme retrocesso aos direitos fundamentais conquistados.

Entre tantos outros males provocados por essa PEC cruel, destacamos:

1. A idade mínima de 65 anos para ambos os sexos, do meio urbano e rural;

2. O tempo de contribuição de 49 anos para obtenção de 100% da aposentadoria, do meio urbano e rural; e

3. A extinção da isenção previdenciária para as entidades filantrópicas.

O desejo do Governo é que a tramitação desse Projeto seja acelerado e aprovado, no menor espaço de tempo. Condenamos veementemente esta atitude que impede a manifestação das entidades de classe e dos clamores do povo vindos das ruas. Lembramos que tal atitude associa-se também ao Projeto de Lei Trabalhista que retira direitos constitucionais dos trabalhadores em benefício dos grupos econômicos nacionais e internacionais.

Diante do exposto, o Evangelho nos motiva, a não nos acomodarmos ou esmorecermos diante das forças contrárias a vida. É preciso nos mobilizarmos e defendermos os nossos direitos, ou mais uma vez os pobres pagarão as mordomias dos que nos governam.

Não podemos nos calar, precisamos unir nossa voz a voz dos diversos seguimentos que “DIZEM NÃO” a estas propostas perversas. Pois, enfrentar essa questão é uma posição evangélica.

Por isso, nós, Igreja de Goiás, reafirmamos o compromisso com a democracia, os direitos e garantias historicamente conquistados com muita luta e suor do povo brasileiro.

A Diocese de Goiás não se curvará diante das forças da morte!

Cidade de Goiás, 19 de março de 2017

 

Coordenação Diocesana de Pastoral

Pe. Antonio da Mota Bastos Vigário Geral da Diocese de Goiás

Dom Eugênio Rixen Bispo de Goiás

AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO BRASIL

MENSAGEM DA CNBB

“Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho” (Jo 5,17)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida – SP, em sua 55ª Assembleia Geral Ordinária, se une aos trabalhadores e às trabalhadoras, da cidade e do campo, por ocasião do dia 1º de maio. Brota do nosso coração de pastores um grito de solidariedade em defesa de seus direitos, particularmente dos 13 milhões de desempregados.

O trabalho é fundamental para a dignidade da pessoa, constitui uma dimensão da existência humana sobre a terra. Pelo trabalho, a pessoa participa da obra da criação, contribui para a construção de uma sociedade justa, tornando-se, assim, semelhante a Deus que trabalha sempre. O trabalhador não é mercadoria, por isso, não pode ser coisificado. Ele é sujeito e tem direito à justa remuneração, que não se mede apenas pelo custo da força de trabalho, mas também pelo direito à qualidade de vida digna.

Ao longo da nossa história, as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras pela conquista de direitos contribuíram para a construção de uma nação com ideais republicanos e democráticos. O dia do trabalhador e da trabalhadora é celebrado, neste ano de 2017, em meio a um ataque sistemático e ostensivo aos direitos conquistados, precarizando as condições de vida, enfraquecendo o Estado e absolutizando o Mercado. Diante disso, dizemos não ao “conceito economicista da sociedade, que procura o lucro egoísta, fora dos parâmetros da justiça social” (Papa Francisco, Audiência Geral, 1º. de maio de 2013).

Nessa lógica perversa do mercado, os Poderes Executivo e Legislativo reduzem o dever do Estado de mediar a relação entre capital e trabalho, e de garantir a proteção social. Exemplos disso são os Projetos de Lei 4302/98 (Lei das Terceirizações) e 6787/16 (Reforma Trabalhista), bem como a Proposta de Emenda à Constituição 287/16 (Reforma da Previdência). É inaceitável que decisões de tamanha incidência na vida das pessoas e que retiram direitos já conquistados, sejam aprovadas no Congresso Nacional, sem um amplo diálogo com a sociedade.

Irmãos e irmãs, trabalhadores e trabalhadoras, diante da precarização, flexibilização das leis do trabalho e demais perdas oriundas das “reformas”, nossa palavra é de esperança e de fé: nenhum trabalhador sem direitos! Juntamente com a Terra e o Teto, o Trabalho é um direito sagrado, pelo qual vale a pena lutar (Cf. Papa Francisco, Discurso aos Movimentos Populares, 9 de julho de 2015).

Encorajamos a organização democrática e mobilizações pacíficas, em defesa da dignidade e dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras, com especial atenção aos mais pobres.

Por intercessão de São José Operário, invocamos a benção de Deus para cada trabalhador e trabalhadora e suas famílias.

Aparecida, 27 de abril de 2017.

 

Dom Sergio da Rocha

Arcebispo de Brasília

Presidente da CNBB

 

Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ

Arcebispo São Salvador da Bahia

Vice-Presidente da CNBB

 

Dom Leonardo Ulrich Steiner

Bispo Auxiliar de Brasília

Secretário-Geral da CNBB

 

A 55ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que começou nesta quarta-feira (26), em Aparecida (SP), teve momentos para a missa de abertura, diversos comunicados, reflexões, e apresentações. O presidente do Regional Centro-Oeste, Dom Messias dos Reis Silveira, direto do Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida, envia as primeiras informações sobre este grande acontecimento da Igreja no Brasil que congrega mais de 300 bispos ativos e eméritos, dos 18 regionais da CNBB.

Abertura

A 55ª Assembleia Geral da CNBB foi aberta com a missa das 7h30, no Santuário Basílica Nossa Senhora Aparecida, presidida pelo cardeal arcebispo de Brasília e presidente da Conferência, Dom Sergio da Rocha, e concelebrada por todos os bispos e com a presença do núncio apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’Aniello, além dos assessores e participação dos colaboradores da CNBB. Com este ato litúrgico de grande fé, que é sinal de comunhão, como assim disse Dom Sergio, demos início a este grande evento.

Boas-vindas

No plenário do Centro de Eventos Pe. Vitor Coelho de Almeida, houve uma celebração de abertura com o momento da proclamação da Palavra de Deus, também com um breve momento de celebração e as palavras de abertura e de acolhida, do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes; do núncio apostólico, Dom Giovanni; do presidente da CNBB, Dom Sergio; do prefeito de Aparecida, Ernaldo César Marcondes; e do reitor do Santuário, padre João Batista de Almeida.

Conjuntura social

Tivemos também a apresentação do relatório do presidente. Este ato faz parte da assembleia e, como de costume, Dom Sergio relatou o que foi feito pela CNBB no último ano. Ele destacou a visita feita pela presidência ao Santo Padre, o papa. Disse também que a Conferência vive um momento muito especial e de dificuldade pela crise por que passa o Brasil. Houve o impeachment, o momento interino e agora todas essas situações: uma grande crise ética com as denúncias de corrupção colocadas à mesa. Portanto, é um momento muito delicado, a CNBB sempre tem emitido notas sobre alguns assuntos especiais, quer seja pela presidência, pelo Conselho Permanente, pelo Conselho Episcopal Pastoral (Consep), pela Assembleia, sendo que esta é o momento principal.

Novos bispos

Ainda no primeiro dia, foi feita a apresentação dos novos bispos. Neste ano tivemos muitas nomeações, graças a Deus. É um sinal da Igreja crescente em nosso país e, em nosso regional tivemos a apresentação de Dom Moacir Arantes, que é bispo auxiliar de Goiânia. Hoje também houve o momento de falar do Projeto de Comuhão e Partilha que, por cinco anos, foi aprovado. Trata-se de um projeto em que todas as dioceses enviam 1% da sua receita para colaborar com dioceses que não têm tantos recursos na formação de seminaristas. Toda a Igreja no Brasil participa. Ao todo, 400 seminaristas são beneficiados em todo o Brasil. Foi pedido então para que o projeto seja renovado. Por enquanto ainda não foi definido, mas foi pedido para ser votado: se vai ser um projeto permanente ou se será renovado a cada cinco anos.

Educação e conjuntura eclesial

O texto Pensando o Brasil, que neste ano é sobre Educação, também foi apresentado. O material ainda continua em estudo neste ano recebendo acréscimos. Os bispos fizeram as suas intervenções, mas ainda haverá um momento de estudo de grupos para que sejam dadas mais contribuições para que a CNBB possa apresentar um texto iluminador da reflexão sobre a educação em nosso país. A última seção, já à noite, foi sobre os 10 anos da Conferência do Episcopado Latino Americano, que aconteceu em 2007 e resultou no Documento de Aparecida (DAp). Encerramos com a análise de conjuntura eclesial.

Peço a oração de todos para que tudo ocorra bem nestes dias tão importantes para a nossa Igreja no Brasil

 

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Os novos bispos do Brasil, nomeados a partir de 2016 até os primeiros meses deste ano, foram apresentados na tarde desta quarta-feira (26) no plenário da 55ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao todo eles são 23, entre eles foi nomeado para o Regional Centro-Oeste (Goiás e Distrito Federal), o bispo auxiliar de Goiânia, Dom Moacir Arantes, nascido em 3 de julho de 1969, em Itapecerica (MG). Foi nomeado pelo papa Francisco no dia 11 de maio de 2016 e ordenado em 13 de agosto, em sua terra natal. Começou seu ministério na Arquidiocese de Goiânia, no dia 26 de agosto do mesmo ano. Seu lema episcopal é “Com simplicidade de coração”.

Os bispos reunidos deram as boas-vindas e desejaram frutuosa missão aos novos irmãos, neste primeiro dia de Assembleia Geral que segue até o próximo dia 5 de maio, refletindo sobre o tema central, “Iniciação à vida cristã no processo formativo do discípulo missionário de Jesus Cristo”.

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Quarta, 26 Abril 2017 18:09

55ª Assembleia Geral da CNBB é aberta


A 55ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi aberta nesta quarta-feira, dia 26 de abril, durante cerimônia realizada no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, em Aparecida (SP). O arcebispo de Brasília (DF) e presidente da entidade, cardeal Sergio da Rocha, abriu as atividades do encontro anual do episcopado brasileiro e recordou as motivações deste ano, como as celebrações do Ano Nacional Mariano e a comemoração dos dez anos da Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), realizada aqui em Aparecida, em 2007.

“Neste ano em que celebramos os dez anos da Conferência de Aparecida, que esta assembleia nos ajude a redobrar o empenho para ser uma Igreja de discípulos missionários de Jesus Cristo para que Nele, nossos povos tenham vida, para que Nele, o nosso povo brasileiro tenha vida neste tempo tão desafiador de crise política e econômica”, afirmou o cardeal, recordando o contexto por que passa o país.

Refletindo sobre o Ano Nacional Mariano, instituído para a celebração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba do Sul, Dom Sergio deu graças a Deus por este tempo e manifestou a disposição de imitar Nossa Senhora, “sendo cada vez mais uma Igreja santa, servidora, misericordiosa, orante e fiel como Maria”.

Fonte e sustento

Apesar da cerimônia de abertura, que contou com a participação do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes; do prefeito da cidade, Ernaldo César Marcondes; do reitor do Santuário Nacional, João Batista de Almeida, os quais deram as boas-vindas aos participantes, e do núncio apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’Aniello, que manifestou gratidão ao convite da CNBB e a acolhida dispensada pelos anfitriões, o cardeal Sergio da Rocha ressaltou o início efetivo da Assembleia na missa celebrada às 7h30 na basílica do Santuário. “Assim fizemos expressando a convicção que a fonte e o sustento de nossos trabalhos é sempre a graça de Deus. A nossa esperança de realizar uma assembleia frutuosa está em Deus. Pedimos oração de toda a Igreja no Brasil”, disse.

Os resultados da Assembleia, de acordo com o presidente da CNBB, dependem dos esforços e da participação dos membros da entidade em cada momento, assim como a “colaboração de tantos irmãos que se dispõem a servir à Assembleia com tanta dedicação”.

A Assembleia trata-se de uma experiência privilegiada de partilha fraterna, convivência, oração, estudo, reflexão, “que fortalece a unidade, a comunhão com o episcopado, mas também a unidade com o sucessor de Pedro, o papa Francisco”.

Tema central

O tema central de reflexão dos bispos neste ano é a “Iniciação à vida cristã no processo formativo do discípulo missionário de Jesus Cristo”, um tema, segundo Dom Sergio, de “profunda qualidade, buscando corresponder aos desafios pastorais identificados neste ano pela missão da Igreja e acima de tudo procurando por em prática as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora que nos convocam a ser Igreja: casa da iniciação cristã”.

A solicitude do episcopado brasileiro na 55ª Assembleia Geral da CNBB não se restringe à vida interna da Igreja, se estende à vida social do país, nos seus aspectos políticos, econômicos, cultural, salientou o cardeal Sergio da Rocha, “uma vez que os discípulos de Cristo são chamados a ser sal da terra e luz do mundo”.

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Queridos irmãos e irmãs!

A Primeira Carta do apóstolo Pedro tem em si uma carga extraordinária! É preciso lê-la uma, duas, três vezes para compreender esta carga extraordinária: ela consegue infundir grande consolação e paz, fazendo entender como o Senhor está sempre ao nosso lado e nunca nos abandona, sobretudo nos momentos mais delicados e difíceis da nossa vida. Mas qual é o “segredo” desta Carta, e de modo particular do trecho que acabamos de ouvir (cf. 1 Pd 3, 8-17)? Esta é uma pergunta. Sei que hoje abrireis o Novo Testamento, procurareis a primeira Carta de Pedro, lereis devagarinho, para entender o segredo e a força desta Carta. Qual é o segredo desta Carta?

O segredo consiste no fato que este escrito afunda as suas raízes diretamente na Páscoa, no coração do mistério que celebramos, fazendo com que compreendamos toda a luz e a alegria que brotam da morte e ressurreição de Cristo, que ressuscitou verdadeiramente, e esta é uma linda saudação para fazermos no Tempo Pascal: “Cristo ressuscitou! Cristo ressuscitou!”, como muitos povos fazem. Recordar-nos de que Cristo ressuscitou, está vivo entre nós e habita em cada um de nós. É por isso que São Pedro nos convida com vigor a adorá-lo nos nossos corações (cf. v. 16). O Senhor começou a habitar ali no momento do nosso Batismo, e dali continua a renovar a nós e à nossa vida, enchendo-nos com o seu amor e a plenitude do seu Espírito. Eis então porque o Apóstolo nos recomenda a dizer a razão da esperança que está em nós (cf. v. 16): a nossa esperança não é um conceito, nem um sentimento, não é um telemóvel, nem uma porção de riquezas! A nossa esperança é uma Pessoa, é o Senhor Jesus que reconhecemos vivo e presente em nós e nos nossos irmãos, porque Cristo ressuscitou. Os povos eslavos quando se cumprimentam, em vez de dizer “bom dia”, “boa noite”, nos dias de Páscoa saúdam-se com a expressão “Cristo ressuscitou!”, Christos voskrese! dizem entre si; e sentem-se felizes por isso! Este é o “bom dia” e a ‘boa noite” que se desejam: “Cristo ressuscitou!”.

Compreendemos então que desta esperança não se deve dizer só a razão teórica, com palavras, mas sobretudo com o testemunho da vida, e isto deve acontecer quer no âmbito da comunidade cristã, quer fora dela. Se Cristo está vivo e habita em nós, no nosso coração, então devemos também deixar que se torne visível, sem escondê-lo, e que aja em nós. Isto significa que o Senhor Jesus deve tornar-se cada vez mais o nosso modelo: modelo de vida e que devemos aprender a comportar-nos como Ele se comportou. Fazer o que fez Jesus. Portanto, a esperança que habita em nós não pode permanecer escondida dentro de nós, no nosso coração: seria uma esperança débil, que não tem a coragem de sair e se mostrar: mas a nossa esperança, como se lê no Salmo 33 citado por Pedro, deve necessariamente desabrochar e sair, tomando a forma bonita e inconfundível da doçura, do respeito e da benevolência pelo próximo, chegando até a perdoar quem nos faz mal.

Perdão: caminho de esperança

Uma pessoa que não tem esperança não consegue perdoar, não consegue dar a consolação do perdão nem obter a consolação de perdoar. Sim, porque assim fez Jesus, e assim continua a fazer através de quantos lhes oferecem espaço no próprio coração e na vida, na consciência de que o mal não se vence com o mal, mas com a humildade, a misericórdia e a mansidão. Os mafiosos pensam que o mal pode ser derrotado com o mal, e assim praticam a vingança e muitas outras coisas que todos sabemos. Mas não sabem o que é a humildade, a misericórdia e a mansidão. E por quê? Porque os mafiosos não têm esperança. Pensai nisto.

Eis por que São Pedro afirma que “é melhor sofrer praticando o bem do que fazendo o mal” (v. 17): não significa que é bom sofrer, mas que quando sofremos pelo bem, estamos em comunhão com o Senhor, o qual aceitou sofrer e ser crucificado pela nossa salvação.

Quando também nós, nas situações mais simples e nas mais importantes da nossa vida, aceitamos sofrer pelo bem, é como se espalhássemos ao nosso redor as sementes da ressurreição, sementes de vida e fizéssemos resplandecer na escuridão a luz da Páscoa. É por isso que o Apóstolo nos exorta a responder sempre “desejando o bem” (v. 9): a bênção não é uma formalidade, não é só um sinal de cortesia, mas um grande dom que nós primeiro recebemos e depois temos a possibilidade de partilhar com os irmãos. É o anúncio do amor de Deus, um amor sem medida, que não se esgota, que nunca falta e que constitui o fundamento verdadeiro da nossa esperança.

Queridos amigos, compreendamos também porque o Apóstolo Pedro nos chama “bem-aventurados”, se devêssemos sofrer pela justiça (cf. v. 13). Não é só por uma razão moral nem ascética, mas porque cada vez que desempenhamos a parte dos últimos e dos marginalizados ou não respondemos ao mal com o mal, mas perdoando, sem vingança, perdoando e abençoando, sempre que fazemos isso resplandecemos como sinais vivos e luminosos de esperança, tornando-nos assim instrumentos de consolação e de paz, segundo o coração de Deus. E assim vamos em frente com a doçura, a mansidão, com o ser amável e praticando o bem também àqueles que não nos querem bem ou nos fazem mal. Em frente!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 5 de abril de 2017

 

Prezados irmãos e irmãs!

O trecho da Carta de São Paulo aos Romanos, que há pouco ouvimos, oferece-nos um grande dom. Com efeito, estamos habituados a reconhecer em Abraão o nosso pai na fé. Hoje, o apóstolo leva-nos a compreender que para nós Abraão é pai na esperança; não apenas pai da fé, mas pai na esperança. E isso porque na sua vicissitude já podemos ver um anúncio da Ressurreição, da vida nova que vence o mal e até a morte.

No texto, diz-se que Abraão acreditou no Deus “que dá vida aos mortos e chama à existência o que está no vazio” (Rm 4,17); e depois esclarece: “Ele não vacilou na fé, embora tenha reconhecido que o seu corpo estava sem vigor e o seio de Sara amortecido” (Rm 4,19). Eis, essa é a experiência que também nós somos chamados a viver. O Deus que se revela a Abraão é o Deus que salva e faz sair do desespero e da morte, o Deus que chama à vida. Na vicissitude de Abraão, tudo se torna um hino ao Deus que liberta e regenera, tudo se faz profecia. E assim se torna para nós, nós que agora reconhecemos e celebramos o cumprimento de tudo isso no mistério da Páscoa. Com efeito, Deus “que dos mortos ressuscitou Jesus” (Rm 4,24), a fim de que também nós, nele, possamos passar da morte para a vida. Assim, na verdade, Abraão pode dizer-se justamente “pai de muitos povos”, pois resplandece como anúncio de uma nova humanidade – nós! – por Cristo resgatada do pecado e da morte, e introduzida de uma vez para sempre no abraço do amor de Deus.

Nessa altura, Paulo ajuda-nos a elucidar o vínculo profundamente estreito entre a fé e a esperança. Com efeito, Ele afirma que Abraão, “esperando contra toda a esperança, teve fé” (Rm 4,18). A nossa esperança não se baseia em raciocínios, previsões, nem seguranças humanas; e manifesta-se quando já não há esperança, onde não há mais nada no que esperar, exatamente como aconteceu com Abraão, diante da sua morte iminente e da esterilidade da sua esposa Sara. Aproxima-se o fim para ambos, não podiam ter filhos, e naquela situação Abraão acreditou, esperando contra toda a esperança. E isso é grandioso!

A profunda esperança radica-se na fé, e precisamente por isso é capaz de ir além de toda a esperança. Sim, porque não se fundamenta na nossa palavra, mas na Palavra de Deus. Então, inclusive nesse sentido, somos chamados a seguir o exemplo de Abraão que, não obstante a evidência de uma realidade que parece destinada à morte, confia em Deus e “estava plenamente convencido de que Deus era poderoso e podia cumprir o que prometera” (Rm 4,21). Gostaria de vos fazer uma pergunta: nós, todos nós, estamos persuadidos disso? Estamos convictos de que Deus nos ama e que está disposto a cumprir tudo aquilo que nos prometeu? Mas padre, quanto temos que pagar por isso? Só há um preço: “abrir o coração”. Abri os vossos corações e essa força de Deus levar-vos-á em frente, fará milagres e ensinar-vos-á o que é a esperança. Eis o único preço: abrir o coração à fé e Ele fará o resto.

Deus há de ressuscitar também a nós

Esse é o paradoxo e, ao mesmo tempo, o elemento mais forte, mais excelso na nossa esperança! Uma esperança fundada numa promessa que, do ponto de vista humano, parece incerta e imprevisível, mas que não esmorece nem sequer diante da morte, quando quem promete é o Deus da Ressurreição e da vida. Isso não é prometido por qualquer um! Aquele que faz a promessa é o Deus da Ressurreição e da vida.

Caros irmãos e irmãs, peçamos hoje ao Senhor a graça de permanecer firmes não tanto nas nossas seguranças, nas nossas capacidades, mas na esperança que deriva da promessa de Deus, como verdadeiros filhos de Abraão. Quando Deus promete, leva a cumprimento a sua promessa. Nunca falta à sua palavra. E então a nossa vida assumirá uma nova luz, na consciência de que, Aquele que ressuscitou o seu Filho, há de ressuscitar também a nós, tornando-nos na realidade um só com Ele, juntamente com todos os nossos irmãos na fé. Todos nós cremos. Hoje estamos todos na praça, louvemos o Senhor, cantemos ao nosso Pai e depois receberemos a bênção... Mas isso passa. Todavia, também essa é uma promessa de esperança. Se hoje mantivermos o coração aberto, garanto-vos que todos nós nos encontraremos na praça do Céu, que nunca passa para sempre. Essa é a promessa de Deus, essa é a nossa esperança, se abrirmos os nossos corações. Obrigado!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 29 de março de 2017

Amados irmãos e irmãs!

Há já algumas semanas que o Apóstolo Paulo nos ajuda a compreender melhor em que consiste a esperança cristã. E dissemos que não era um otimismo, mas algo diferente. E o apóstolo ajuda-nos a entender isso. Hoje fá-lo relacionando-a com duas atitudes importantes como nunca para a nossa vida e para a nossa experiência de fé: a “perseverança” e a “consolação” (vv. 4.5). No trecho da Carta aos Romanos, que há pouco ouvimos, elas são citadas duas vezes: primeiro em referência às Escrituras e depois ao próprio Deus. Qual é o seu significado mais profundo, mais verdadeiro? E de que modo elucidam a realidade da esperança? Estas duas atitudes: a perseverança e a consolação.

A perseverança, poderíamos defini-la também como paciência: é a capacidade de suportar, carregar às costas, “su-portar”, permanecer fiel, até quando o peso parece tornar-se grande demais, insustentável, e teríamos a tentação de julgar negativamente e abandonar tudo e todos. Ao contrário, a consolação é a graça de saber ver e mostrar em todas as situações, até nas mais marcadas pela desilusão e pelo sofrimento, a presença e ação misericordiosa de Deus.

Pois bem, São Paulo recorda-nos que a perseverança e a consolação nos são transmitidas de modo especial pelas Escrituras (v. 4), ou seja, pela Bíblia. Com efeito, em primeiro lugar, a Palavra de Deus leva-nos a dirigir o olhar para Jesus, a conhecê-lo melhor e a conformar-nos com Ele, a assemelhar-nos cada vez mais a Ele. Em segundo lugar, a Palavra revela-nos que o Senhor é verdadeiramente “o Deus da perseverança e da consolação” (v. 5), que permanece sempre fiel ao seu amor por nós, ou seja, que é perseverante no seu amor por nós, não se cansa de nos amar! É perseverante: ama-nos sempre! E cuida de nós, cobrindo as nossas feridas com a carícia da sua bondade e da sua misericórdia, isto é, consola-nos. Não se cansa de nos consolar.

Semear a esperança

É nesta perspectiva que se compreende também a afirmação inicial do apóstolo: “Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas de quantos não o são, sem procurar o que nos é agradável” (v. 1). Essa expressão “nós, que somos fortes” poderia parecer presunçosa, contudo, na lógica do Evangelho, sabemos que não é assim, mas, ao contrário, é exatamente o oposto, porque a nossa força não provém de nós mesmos, mas do Senhor. Quem experimenta na própria vida o amor fiel de Deus e a sua consolação é capaz, aliás, tem o dever de estar perto dos irmãos mais frágeis e de carregar as suas fragilidades. Se permanecermos próximos do Senhor, teremos a fortaleza para estar perto dos mais frágeis, dos mais necessitados, para os consolar e fortalecer. Esse é o seu significado. E podemos fazer isso sem autossatisfação, mas sentindo-nos simplesmente como um “canal” que transmite os dons do Senhor; e assim tornamo-nos concretamente “semeadores” de esperança. É isso que o Senhor nos pede, com a fortaleza e a capacidade de consolar e de sermos semeadores de esperança. E hoje é necessário semear esperança, mas não é fácil...

O fruto desse estilo de vida não é uma comunidade em que alguns são de “série a”, ou seja, os fortes, e outros de “série b”, isto é, os fracos. Ao contrário, como diz Paulo, o fruto consiste em “ter os mesmos sentimentos uns para com os outros, segundo Jesus Cristo” (v. 5). A Palavra de Deus alimenta uma esperança que se traduz concretamente em partilha, em serviço recíproco. Pois até quem é “forte”, mais cedo ou mais tarde experimenta a fragilidade e tem necessidade da consolação dos outros; e vice-versa, na debilidade podemos oferecer sempre um sorriso ou uma mão ao irmão em dificuldade. E é uma comunidade como essa que “glorifica a Deus com um só coração e uma só voz” (cf. v. 6). Mas tudo isso só é possível se no centro pusermos Cristo e a sua Palavra, porque Ele é o “forte”, Ele é aquele que nos dá a força, a paciência, a esperança, a consolação. Ele é o “irmão forte” que cuida de cada um de nós: com efeito, todos nós temos necessidade de ser carregados às costas pelo Bom Pastor, de nos sentirmos contemplados pelo seu olhar terno e atencioso.

Caros amigos, nunca agradecemos suficientemente a Deus o dom da sua Palavra, que se torna presente nas Escrituras. É ali que o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo se revela como “Deus da perseverança e da consolação”. E é ali que nos tornamos conscientes de que a nossa esperança não se baseia nas nossas próprias capacidades nem nas nossas forças, mas na ajuda de Deus e na fidelidade do seu amor, ou seja, na força e na consolação de Deus. Obrigado!

Audiência Geral. Praça São Pedro, 22 de março de 2017

Estimados irmãos e irmãs!

Sabemos bem que o grande mandamento que o Senhor Jesus nos deixou é o de amar: amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente, e amar o próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22,37-39), ou seja, somos chamados ao amor, à caridade. E essa é a nossa vocação mais sublime, a nossa vocação por excelência; e a ela está vinculado também o júbilo da esperança cristã. Quem ama tem a alegria da esperança, de chegar a encontrar o grande amor, que é o Senhor.

No trecho da Carta aos Romanos, que há pouco ouvimos, o apóstolo Paulo alerta-nos: existe o risco de que a nossa caridade seja hipócrita, que o nosso amor seja hipócrita. Então, devemos interrogar-nos: quando se verifica essa hipocrisia? E como podemos estar certos de que o nosso amor é sincero, que a nossa caridade é autêntica? Que não fingimos que praticamos a caridade ou que o nosso amor não é uma telenovela: amor sincero, forte...

A hipocrisia pode insinuar-se em toda a parte, até no nosso modo de amar. Isso verifica-se quando o nosso amor é interesseiro, impelido por interesses pessoais; e quantos amores interesseiros existem... quando os serviços de caridade nos quais parece que trabalhamos são realizados para nos mostrarmos ou para nos sentirmos satisfeitos: “Mas como sou bom!”. Não, isso é hipocrisia! Ou então quando visamos situações que tenham “visibilidade” para mostrar a nossa inteligência ou a nossa capacidade. Por detrás de tudo isso existe uma ideia falsa, enganadora, ou seja, se amamos é porque somos bons; como se a caridade fosse uma criação do homem, um produto do nosso coração. Ao contrário, a caridade é antes de tudo uma graça, um presente; poder amar é uma dádiva de Deus, que devemos pedir. E Ele concede-o de bom grado, se nós o pedirmos. A caridade é uma graça: não consiste em fazer transparecer o que nós somos, mas aquilo que o Senhor nos oferece e que nós recebemos livremente; e não se pode expressar no encontro com o próximo, se antes não for gerado pelo encontro com o semblante manso e misericordioso de Jesus.

Partilhar com os irmãos

Paulo convida-nos a reconhecer que somos pecadores e que até o nosso modo de amar é marcado pelo pecado. No entanto, ao mesmo tempo faz-se portador de um anúncio novo, um anúncio de esperança: o Senhor abre-nos um caminho de libertação, uma vereda de salvação. É a possibilidade de vivermos, também nós, o grande mandamento do amor, de nos tornarmos instrumentos da caridade de Deus. E isso acontece quando nos deixamos curar e renovar o coração por Cristo ressuscitado. O Senhor ressuscitado, que vive no meio de nós, que vive ao nosso lado, é capaz de curar o nosso coração: o faz, se nós o pedimos. É Ele quem nos permite, não obstante a nossa pequenez e pobreza, experimentar a compaixão do Pai e celebrar as maravilhas do seu amor. Então, compreende-se que tudo o que podemos ver e fazer pelos irmãos é apenas a resposta àquilo que Deus fez e continua a fazer por nós. Aliás, é o próprio Deus que, fazendo morada no nosso coração e na nossa vida, continua a aproximar-se e a servir todos aqueles que encontramos todos os dias no nosso caminho, a começar pelos últimos e pelos mais necessitados, nos quais Ele é o primeiro que se reconhece.

Então, com essas palavras o apóstolo Paulo não quer tanto repreender-nos, em vez disso quer encorajar-nos e reavivar a nossa esperança. Com efeito, todos nós fazemos a experiência de não viver o mandamento do amor plenamente ou como deveríamos. Mas também isso é uma graça, porque nos leva a compreender que sozinhos não somos capazes de amar de maneira autêntica: temos necessidade de que o Senhor renove continuamente esse dom no nosso coração, através da experiência da sua misericórdia infinita. Só assim voltaremos a apreciar as pequenas coisas, as coisas simples, ordinárias; só assim voltaremos a valorizar todas essas pequenas coisas de todos os dias e seremos capazes de amar os outros como Deus os ama, desejando o seu bem, isto é, que sejam santos, amigos de Deus; e ficaremos contentes com a possibilidade de nos tornarmos próximos de quantos são pobres e humildes, como Jesus faz com cada um de nós quando nos afastamos dele, de nos inclinarmos aos pés dos irmãos como Ele, Bom Samaritano, faz com cada um de nós, mediante a sua compaixão e o seu perdão.

Amados irmãos, o que o apóstolo Paulo nos recordou é o segredo para sermos – uso as suas palavras – o segredo para sermos “alegres na esperança” (Rm 12,12): alegres na esperança. O júbilo da esperança, pois sabemos que em cada circunstância, até na mais adversa e inclusive através dos nossos próprios fracassos, o amor de Deus não esmorece. Então, com coração visitado e habitado pela sua graça e pela sua fidelidade, vivamos na jubilosa esperança de partilhar com os irmãos, no pouco que podemos, aquilo que recebemos dele todos os dias. Obrigado!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 15 de março de 2017

Quarta, 01 Março 2017 15:27

Quaresma: caminho de esperança

Prezados irmãos e irmãs!

Estamos no tempo litúrgico da Quaresma. E dado que prosseguimos o ciclo de catequeses sobre a esperança cristã, hoje gostaria de vos apresentar a Quaresma como caminho de esperança.

Com efeito, essa perspectiva é imediatamente evidente, se pensarmos que a Quaresma foi instituída na Igreja como tempo de preparação para a Páscoa, e, portanto, todo o sentido desse período de quarenta dias adquire luz do mistério pascal para o qual está orientado. Podemos imaginar o Senhor Ressuscitado que nos chama a sair das nossas trevas, e nós caminhamos rumo a Ele, que é a Luz. E a Quaresma é um caminho rumo a Jesus Ressuscitado, um período de penitência e até de mortificação, contudo não é um fim em si mesmo, mas visa levar-nos a ressuscitar em Cristo, a renovar a nossa identidade batismal, ou seja, a nascer novamente “do alto”, do amor de Deus (cf. Jo 3,3). Eis por que motivo, por sua natureza, a Quaresma é tempo de esperança.

Para compreender melhor o que isso significa, devemos referir-nos à experiência fundamental do êxodo dos israelitas do Egito, descrita pela Bíblia no livro que tem este nome: Êxodo. O ponto de partida é a condição de escravidão no Egito, a opressão, os trabalhos forçados. Mas o Senhor não se esqueceu do seu povo, nem da sua promessa: chama Moisés e, com braço poderoso, leva os israelitas a sair do Egito, guiando-os através do deserto rumo à Terra da liberdade. Durante esse caminho da escravidão para a liberdade, o Senhor dá a lei aos israelitas para os educar a amá-lo, a Ele que é o único Senhor, e a amar-se entre si como irmãos.

A Escritura demonstra que o êxodo é longo e difícil: simbolicamente dura quarenta anos, ou seja, o tempo de vida de uma geração. Uma geração que, perante as provas do caminho, é sempre tentada a sentir saudade do Egito e a voltar atrás. Também todos nós conhecemos a tentação de voltar atrás, todos! Mas o Senhor permanece fiel e aqueles coitados, guiados por Moisés, chegam à Terra prometida. Todo esse caminho é percorrido na esperança: a esperança de chegar à Terra, e exatamente nesse sentido constitui um “êxodo”, uma saída da escravidão para a liberdade. E esses quarenta dias são também para todos nós uma saída da escravidão e do pecado para a liberdade, ao encontro com Cristo Ressuscitado. Cada passo, cada esforço, cada provação, cada queda e cada retomada, tudo tem sentido somente no contexto do desígnio de salvação de Deus, que para o seu povo deseja a vida e não a morte, a alegria e não a dor.

Enfrentar e superar as tentações com Ele

A Páscoa de Jesus é o seu êxodo, mediante o qual Ele nos abriu o caminho para alcançar a vida plena, terna e bem-aventurada. Para abrir esse caminho, essa passagem, Jesus teve que se despojar da sua glória, humilhar-se, tornar-se obediente até à morte, e morte de cruz. Abrir o nosso caminho para a vida eterna custou-lhe todo o seu sangue, e foi graças a Ele que nós fomos salvos da escravidão do pecado. Mas isso não quer dizer que Ele fez tudo e nós não devemos fazer nada, que Ele passou através da cruz e nós “vamos para o Paraíso de carruagem”. Não é assim! Sem dúvida, a nossa salvação é sua dádiva, mas por ser uma história de amor, exige o nosso “sim” e a nossa participação no seu amor, como nos demonstra a nossa Mãe Maria, e depois dela todos os santos.

A Quaresma vive desta dinâmica: Cristo precede-nos com o seu êxodo e nós atravessamos o deserto graças a Ele e atrás dele. Ele é tentado por nós e derrotou o tentador por nós, mas também nós devemos enfrentar e superar as tentações com Ele. Ele oferece-nos a água viva do seu Espírito, e a nós compete haurir da sua fonte e beber dos Sacramentos, da oração e da adoração; Ele é a luz que derrota as trevas, e a nós pede-se que alimentemos a pequena chama que nos foi confiada no dia do nosso Batismo.

Nesse sentido, a Quaresma é “sinal sacramental da nossa conversão” (Missal Romano, Oração da Coleta do 1º Domingo de Quaresma); quem percorre o caminho da Quaresma está sempre na vereda da conversão. A Quaresma é sinal sacramental do nosso itinerário da escravidão para a liberdade, que deve ser sempre renovado. Um caminho certamente exigente, como é justo que seja, porque o amor é exigente, mas um caminho repleto de esperança. Aliás, diria mais: o êxodo quaresmal é o caminho em que a própria esperança se forma. O esforço de atravessar o deserto – todas as provas, tentações, ilusões, miragens... – tudo isso serve para forjar uma esperança forte, firme, segundo o modelo da Virgem Maria que, no meio das trevas da paixão e da morte do seu Filho, continuou a acreditar e a esperar na sua Ressurreição, na vitória do amor de Deus.

Com o coração aberto a esse horizonte, hoje nós entramos na Quaresma. Sentindo-nos parte do povo santo de Deus, empreendamos com alegria esse caminho de esperança.

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 1º de março de 2017

 

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