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Desde que começou, no dia 23 de junho, a Festa do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), já atraiu cerca de 700 mil romeiros. Os dados parciais foram divulgados na manhã desta quarta-feira (28), em coletiva de imprensa. O reitor do Santuário Basílica, padre Edinisio Pereira, disse que é notório o aumento do fluxo de romeiros tanto na Rodovia dos Romeiros, quanto nas missas e novenas celebradas no santuário e na igreja matriz. “Estamos muito contentes com a participação dos devotos. Está uma Festa muito bonita e tranquila. Esperamos continuar assim até o final de mais uma Romaria. A expectativa que tínhamos de aumento de romeiros efetivou-se. Esperamos reunir ao final dos dez dias cerca de três milhões de pessoas”, declarou.

Além do reitor, participaram da coletiva, a coordenadora do Centro de Apoio ao Romeiro (CAR), Celina Urzêda; o ten. cor. Emerson Divino Ferreira, comandante da 15º Batalhão do Bombeiro Militar; o assessor de comunicação da Polícia Militar de Goiás, ten. cor. Ricardo Mendes; o delegado-geral da Polícia Civil de Trindade, Daniel José da Silva e a representante da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), Helca Nascimento. Até ontem, já havia passado pela barraca da OVG, na Rodovia dos Romeiros, cerca de 120 mil pessoas. “Entre 2011 e 2016 registramos 1,8 mil atendimentos aos romeiros que fizeram a caminhada em peregrinação entre Goiânia e Trindade”, pontuou Helca.

A festa segue até o dia 2 de julho.


Tema da Festa

A Festa em honra ao Divino Pai Eterno, traz, este ano, o tema “Maria: serva fiel e humilde ao Pai Eterno”. A escolha foi inspirada na celebração do Ano Nacional Mariano proclamado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em comemoração aos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Rio Paraíba, em São Paulo.

Além disso, o tema está em comunhão com a Igreja em todo o mundo, que celebrou, em maio de 2017, o centenário das aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos, em Fátima, Portugal.

Devoção

Com mais de 170 anos, a devoção ao Divino Pai Eterno em Trindade, teve início por volta de 1840. A história narra que o casal Constantino e Ana Rosa Xavier encontrou, enquanto trabalhava na lavoura, um Medalhão de barro de aproximadamente 8 cm com a estampa da Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – coroando Nossa Senhora.

Eles beijaram a Imagem, levaram-na para casa, colocaram-na em um altar e deram início à oração do terço, em família, e depois também com os vizinhos. A notícia rapidamente se espalhou, juntamente com uma sucessão de milagres. Hoje, a Romaria do Divino Pai Eterno, que teve início ali naquele gesto simples de fé e devoção a Deus Pai, é o maior evento religioso do Centro-Oeste, segundo do Brasil e a maior festa do mundo dedicada ao Divino Pai Eterno.

Com Afipe/Foto: Vicom/Arquidiocese de Goiânia

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje desejo falar-vos sobre a viagem apostólica que, com a ajuda de Deus, realizei recentemente ao Egito. Fui àquele país na sequência de um convite quádruplo: do presidente da República, de Sua Santidade o Patriarca Copto-ortodoxo, do Grande Imã de Al-Azhar e do Patriarca Copto-Católico. Agradeço a cada um deles o acolhimento que me reservaram, verdadeiramente caloroso. E agradeço a todo o povo egípcio a participação e o afeto com que viveram essa visita do sucessor de Pedro.

O presidente e as autoridades civis se empenharam de forma extraordinária para que esse evento pudesse acontecer da melhor maneira possível; para que fosse um sinal de paz, um sinal de paz para o Egito e para toda aquela região, que infelizmente sofre com os conflitos e com o terrorismo. Com efeito, o lema da Viagem foi “O papa da paz num Egito de paz”.

A minha visita à Universidade Al-Azhar, a mais antiga universidade islâmica e máxima instituição acadêmica do Islão sunita, teve um duplo horizonte: o diálogo entre cristãos e muçulmanos e, ao mesmo tempo, a promoção da paz no mundo. Em Al-Azhar aconteceu o encontro com o Grande Imã, encontro que depois abrangeu a Conferência Internacional pela Paz. Nesse contexto, apresentei uma reflexão que valorizou a história do Egito como terra de civilização e terra de aliança. Para toda a humanidade, o Egito é sinônimo de antiga civilização, de tesouros de arte e de conhecimento; e isso nos recorda que a paz se constrói mediante a educação, a formação da sabedoria, de um humanismo que compreende como parte integrante a dimensão religiosa, a relação com Deus.

Esse mesmo fundamento está na base da construção da ordem social e civil, em que são chamados a colaborar todos os cidadãos, de todas as origens, culturas e religiões. Essa visão de laicidade sadia emergiu durante o intercâmbio de discursos com o presidente da República do Egito, na presença das autoridades do país e do Corpo diplomático. O grande patrimônio histórico e religioso do Egito e o seu papel na região do Oriente Médio conferem-lhe uma tarefa peculiar no caminho rumo a uma paz estável e duradoura, que não se apoie no direito da força, mas na força do direito.

A missão dos cristãos no Egito

Os cristãos, no Egito, assim como em cada nação da terra, são chamados a ser fermento de fraternidade. E isso só é possível se viverem em si mesmos a comunhão em Cristo. Um forte sinal de comunhão, graças a Deus, foi possível oferecê-lo juntamente com o meu querido irmão papa Tawadros II, patriarca dos coptas ortodoxos. Renovamos o compromisso, assinando inclusive uma Declaração Conjunta, de caminhar juntos e de nos comprometermos a fim de que não se repita o Batismo administrado nas respectivas Igrejas. Rezamos juntos pelos mártires dos recentes atentados que atingiram tragicamente aquela Igreja venerável; e o seu sangue fecundou aquele encontro ecumênico, do qual participou também o patriarca de Constantinopla Bartolomeu: o patriarca ecumênico, meu querido irmão.

O segundo dia da viagem foi dedicado aos fiéis católicos. A Santa Missa celebrada no estádio, disponibilizado pelas autoridades egípcias, foi uma festa de fé e de fraternidade, em que sentimos a presença viva do Senhor Ressuscitado. Ao comentar o Evangelho, exortei a pequena comunidade católica no Egito a reviver a experiência dos discípulos de Emaús: a encontrar sempre em Cristo, Palavra e Pão de vida, a alegria da fé, o fervor da esperança e a força de testemunhar no amor que “encontramos o Senhor!”.

Vivi o último momento juntamente com os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os seminaristas, no Seminário Maior. Há muitos seminaristas: essa é uma consolação! Foi uma bela liturgia da Palavra, na qual foram renovadas as promessas de vida consagrada. Nesta comunidade de homens e mulheres que escolheram oferecer a vida a Cristo pelo Reino de Deus, vi a beleza da Igreja no Egito, e rezei por todos os cristãos no Oriente Médio, para que, guiados pelos seus pastores e acompanhados pelos consagrados, sejam sal e luz naquelas terras, no meio daqueles povos.

O Egito, para nós, foi sinal de esperança, de refúgio, de ajuda. Quando aquela parte do mundo estava faminta, Jacó, com os seus filhos, foi embora de lá; depois, quando Jesus foi perseguido, foi para lá. Por isso, narrar-vos essa viagem significa percorrer o caminho da esperança: para nós o Egito é aquele sinal de esperança, tanto para o passado como para o presente, dessa fraternidade que eu quis contar-vos.

Agradeço novamente a quantos tornaram possível essa viagem e àqueles que de diversas maneiras deram a própria contribuição, especialmente as muitas pessoas que ofereceram as suas orações e os seus sofrimentos. A Sagrada Família de Nazaré, que emigrou pelas margens do Nilo fugindo da violência de Herodes, abençoe e proteja sempre o povo egípcio e o guie pelas sendas da prosperidade, da fraternidade e da paz.
Obrigado!

Audiência Geral. Praça São Pedro, 12 de abril de 2017.

 

Prezados irmãos e irmãs!

Hoje encontramo-nos na luz da Páscoa, que celebramos e continuamos a celebrar mediante a Liturgia. Por isso, no nosso itinerário de catequese sobre a esperança cristã, hoje desejo falar-vos do Cristo Ressuscitado, nossa esperança, assim como nos apresenta São Paulo na primeira Carta aos Coríntios (cf. cap. 15).

O apóstolo quer resolver uma problemática que, certamente, na comunidade de Corinto estava no centro dos debates. A ressurreição é o último dos argumentos abordados na Carta, mas, provavelmente, em ordem de importância, é o primeiro: com efeito, tudo depende desse pressuposto.

Falando aos seus cristãos, Paulo começa a partir de um dado incontestável, que não é o êxito de uma reflexão de um sábio qualquer, mas um acontecimento, um simples evento que teve lugar na vida de algumas pessoas. É daqui que nasce o cristianismo. Não é uma ideologia, nem sequer um sistema filosófico, mas um caminho de fé, que tem início num acontecimento, testemunhado pelos primeiros discípulos de Jesus. Paulo resume-o deste modo: Jesus morreu pelos nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia e apareceu a Pedro e aos Doze (cf. 1Cor 15,3-5). Eis o acontecimento: Ele morreu, foi sepultado, ressuscitou e apareceu. Ou seja, Jesus está vivo! É esse o cerne da mensagem cristã.

Anunciando esse evento, que constitui o núcleo fulcral da fé, Paulo insiste sobretudo no último elemento do mistério pascal, ou seja, sobre a constatação de que Jesus ressuscitou. Com efeito, se tudo tivesse acabado com a morte, nele teríamos um exemplo de dedicação suprema, mas isso não poderia gerar a nossa fé. Ele foi um herói. Não! Morreu, mas ressuscitou. Porque a fé brota da ressurreição. Aceitar que Cristo morreu, e morreu crucificado, não constitui um gesto de fé, mas um acontecimento histórico. Ao contrário, crer que ressuscitou, sim. A nossa fé nasce na manhã de Páscoa. Paulo faz um elenco de pessoas a quem Jesus Ressuscitado apareceu (cf. vv. 5-7). Aqui temos uma breve síntese de todas as narrações pascais e de todas as pessoas que entraram em contato com o Ressuscitado. No topo da lista está Cefas, ou seja, Pedro, e o grupo dos Doze; depois, “quinhentos irmãos”, muitos dos quais ainda podiam dar o seu próprio testemunho; em seguida, é mencionado Tiago. O último da lista – como o menos digno de todos – é ele mesmo. Acerca de si próprio, Paulo diz: “Como um aborto” (cf. v. 8).

O cristianismo é graça

Paulo utiliza essa expressão porque a sua história pessoal é dramática: ele não era um ministrante, mas um perseguidor da Igreja, orgulhoso das próprias convicções; sentia-se um homem bem-sucedido, com uma ideia muito límpida do que era a vida com os seus deveres. Contudo, nesse quadro perfeito – em Paulo tudo era perfeito, ele sabia tudo – nesse quadro de vida perfeito, certo dia acontece algo que era absolutamente imprevisível: o encontro com Jesus Ressuscitado no caminho de Damasco. Ali não havia apenas um homem caído no chão: havia uma pessoa arrebatada por um acontecimento que teria invertido o sentido da sua vida. E o perseguidor tornou-se apóstolo, mas porquê? Porque eu vi Jesus vivo! Vi Jesus Cristo Ressuscitado! Eis o fundamento da fé de Paulo, assim como da fé dos demais apóstolos, da fé da Igreja, da nossa própria fé.

Como é bom pensar que o cristianismo é essencialmente isso! Não é tanto a nossa busca em relação a Deus – na verdade, uma procura tão vacilante –, mas, em vez disso, a busca de Deus em relação a nós. Jesus alcançou-nos, arrebatou-nos, conquistou-nos para nunca mais nos deixar. O cristianismo é graça, é surpresa, e por esse motivo pressupõe um coração capaz de admiração. Um coração fechado, um coração racionalista é incapaz de admiração, e não consegue entender o que é o cristianismo, porque o cristianismo é graça, e a graça só se sente, e além disso só se encontra na maravilha do encontro.

E então, mesmo se somos pecadores – todos nós o somos – e se os nossos propósitos de bem permanecerem letra-morta, ou então se, olhando para a nossa vida, nos dermos conta de ter acumulado tantas derrotas... Na manhã de Páscoa podemos agir como aquelas pessoas das quais fala o Evangelho: ir ao sepulcro de Cristo, ver a grande pedra removida e pensar que Deus continua a preparar para mim, para todos nós, um futuro inesperado. Ir ao nosso sepulcro: todos nós temos um pouco dele dentro de nós. Ir ali e ver que dali Deus é capaz de ressurgir. É nisso que consiste a felicidade, a alegria e a vida, onde todos pensavam que havia unicamente tristeza, derrota e trevas. Deus faz crescer as suas flores mais bonitas no meio das pedras mais áridas.

Ser cristão significa não partir da morte, mas do amor de Deus por nós, que derrotou a nossa grande inimiga. Deus é maior do que qualquer coisa, e basta uma vela acesa para vencer a noite mais escura. Fazendo eco aos profetas, Paulo clama: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão” (v. 55). Nestes dias de Páscoa, conservemos esse brado no coração. E se nos perguntarem o porquê do nosso sorriso concedido e da nossa partilha paciente, então poderemos responder que Jesus ainda está aqui, que Ele permanece vivo entre nós, que Jesus está ao nosso lado aqui na praça: vivo e ressuscitado!


Audiência Geral. Praça São Pedro, 19 de abril de 2017

Prezados irmãos e irmãs!

“Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20). Essas últimas palavras do Evangelho de Mateus evocam o anúncio profético que encontramos no início: “Ele se chamará Emanuel, que significa Deus conosco” (Mt 1,23; cf. Is 7,14). Deus estará ao nosso lado todos os dias, até o fim do mundo. Jesus caminhará ao nosso lado todos os dias, até o fim do mundo. O Evangelho inteiro está encerrado entre essas duas citações, palavras que comunicam o mistério de Deus cujo nome, cuja identidade é estar-com: não é um Deus isolado, mas um Deus-com, de modo particular conosco, ou seja, com a criatura humana. O nosso Deus não é um Deus ausente, raptado por um céu remoto; ao contrário, é um Deus “apaixonado” pelo homem, tão ternamente amante que chega a ser incapaz de se separar dele. Nós, humanos, somos peritos em romper vínculos e pontes. Ele, ao contrário, não! Se o nosso coração se esfria, o seu permanece sempre incandescente. O nosso Deus acompanha-nos sempre, inclusive se, por desventura, nos esquecêssemos dele. No ponto que divide a incredulidade da fé, é decisiva a descoberta de que somos amados e acompanhados pelo nosso Pai, que Ele nunca nos deixa sozinhos.

A nossa existência é uma peregrinação, um caminho. Até aqueles que são impelidos por uma esperança simplesmente humana sentem a sedução do horizonte, que os leva a explorar mundos ainda desconhecidos. A nossa alma é uma alma migrante. A Bíblia está cheia de histórias de peregrinos e viajantes. A vocação de Abraão começa com esta exortação: “Deixa a tua terra” (Gn 12,1). E o patriarca abandona aquele recanto de mundo que conhecia bem e que era um dos berços da civilização do seu tempo. Tudo conspirava contra a sensatez daquela viagem. E, no entanto, Abraão parte.

Não nos tornamos homens e mulheres maduros, se não sentirmos a atração do horizonte: aquele limite entre o céu e a terra que pede para ser alcançado por um povo de caminhantes. No seu caminhar no mundo, o homem nunca está sozinho. Sobretudo o cristão nunca se sente abandonado, porque Jesus nos garante que não nos aguardará apenas no final da nossa longa viagem, mas que nos acompanhará em cada um dos nossos dias.

Até quando perdurará a atenção de Deus pelo homem? Até quando o Senhor Jesus, que caminha conosco, até quando cuidará de nós? A resposta do Evangelho não deixa margem a dúvidas: até o fim do mundo! Passarão os céus, passará a terra, serão anuladas as esperanças humanas, mas a Palavra de Deus é maior do que tudo e não passará. E Ele será o Deus conosco, o Deus Jesus que caminha ao nosso lado. Não haverá um dia da nossa vida em que cessaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Contudo, alguém poderia dizer: “Mas o que dizes?”. Digo isto: não haverá um dia da nossa vida em que deixaremos de ser uma solicitude para o Coração de Deus. Ele preocupa-se conosco, caminha ao nosso lado. E por que faz isso? Simplesmente porque nos ama. Entendestes isso? Ele ama-nos! E sem dúvida Deus proverá todas as nossas necessidades, não nos abandonará no tempo da prova e da escuridão. É preciso que essa certeza se aninhe no nosso espírito, para nunca mais se apagar. Há quem lhe dê o nome de “Providência”. Ou seja, a proximidade de Deus, o amor de Deus, o caminhar de Deus ao nosso lado chama-se também “Providência de Deus”: Ele provê na nossa vida.

Não é por acaso que entre os símbolos cristãos da esperança existe um do qual eu gosto muito: a âncora. Ela exprime que a nossa esperança não é vaga; não deve ser confundida com o sentimento mutável de quem deseja aperfeiçoar as situações deste mundo de maneira irrealista, apostando unicamente na própria força de vontade. Com efeito, a esperança cristã encontra a sua raiz não na atração do futuro, mas na segurança daquilo que Deus nos prometeu e realizou em Jesus Cristo. Se Ele nos garantiu que nunca nos abandonará, se o princípio de cada vocação é um “Segue-me!”, com o qual Ele nos assegura que permanecerá sempre à nossa frente, então por que devemos recear? Com essa promessa, os cristãos podem ir por toda a parte, inclusive atravessando as regiões de um mundo ferido, onde a situação não é boa, nós estamos entre aqueles que até ali continuam a esperar. O salmo reza: “Ainda que eu atravesse um vale escuro, nada temerei, pois estais comigo” (Sl 23,4). Exatamente onde se propaga a obscuridade, é necessário manter acesa uma luz. Voltemos à âncora. A nossa fé é a âncora no céu. Mantemos a nossa vida ancorada no céu? Que devemos fazer? Segurar a corda: ela está sempre ali. E vamos em frente, porque estamos certos de que a nossa vida tem a sua âncora no céu, naquela margem onde chegaremos.

Sem dúvida, se confiássemos apenas nas nossas forças, teríamos razão de nos sentirmos desiludidos e derrotados, porque o mundo se demonstra muitas vezes refratário às leis do amor. Prefere frequentemente as leis do egoísmo. Mas se em nós sobreviver a certeza de que Deus não nos abandona, que Deus ama com ternura tanto a nós como a este mundo, então a perspectiva muda imediatamente. “Homo viator, spe erectus”, diziam os antigos. Ao longo do caminho, a promessa de Jesus, “Eu estou convosco”, leva-nos a estar de pé, erguidos, com esperança, convictos de que o bom Deus já age para realizar aquilo que humanamente parece impossível, porque a âncora está na praia do céu.

O santo povo fiel de Deus é um povo que está de pé – “homo viator” – e caminha, mas de pé, “erectus”, caminha na esperança. E onde quer que vá, sabe que o amor de Deus o precedeu: não há região do mundo que evite a vitória de Cristo Ressuscitado. E qual é a vitória de Cristo Ressuscitado? A vitória do amor. Obrigado!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 26 de abril de 2017

Quarta, 03 Mai 2017 11:41

Maria: Mãe da esperança

Queridos irmãos e irmãs!

No nosso itinerário de catequeses sobre a esperança cristã, hoje meditamos sobre Maria, Mãe da esperança. Maria atravessou mais de uma noite no seu caminho de mãe. Desde a primeira menção na história dos evangelhos, a sua figura destaca-se como se fosse o personagem de um drama. Não foi simples responder com um “sim” ao convite do anjo, e, no entanto, ainda na flor da idade, ela respondeu com coragem, não obstante nada soubesse do destino que a esperava. Maria, naquele momento, parece uma das muitas mães do nosso mundo, corajosas até ao extremo quando se trata de acolher no próprio ventre a história de um novo homem que nasce.

Aquele “sim” foi o primeiro passo de uma longa lista de obediências – longa lista de obediências! – que acompanharão todo o seu itinerário de mãe. Assim, nos evangelhos, Maria aparece como uma mulher silenciosa, que, com frequência, não compreende tudo o que acontece ao seu redor, mas medita cada palavra e acontecimento no seu coração. Nessa perspectiva, podemos ver um perfil belíssimo da psicologia de Maria: não é uma mulher que se deprime face às incertezas da vida, especialmente quando nada parece correr bem. Nem sequer é uma mulher que protesta com violência, que se enfurece contra o destino da vida que muitas vezes nos revela um semblante hostil. Ao contrário, é uma mulher que ouve: não vos esqueçais que existe sempre uma grande relação entre a esperança e a escuta, e Maria é uma mulher que ouve. Maria acolhe a existência do modo como se apresenta a nós, com os seus dias felizes, mas também com as suas tragédias, que nunca gostaríamos de ter encontrado. Até à suprema noite de Maria, quando o seu Filho foi pregado na cruz.

Até àquele dia, Maria tinha quase desaparecido da trama dos evangelhos: os escritores sagrados deixam entender esse lento escondimento da sua presença, o seu permanecer muda diante do mistério de um Filho que obedece ao Pai. Contudo, Maria reaparece precisamente no momento crucial: quando grande parte dos amigos fogem por terem medo. As mães não traem. E, naquele instante, aos pés da cruz, nenhum de nós pode dizer qual tenha sido a paixão mais cruel: se a de um homem inocente que morre no patíbulo da cruz, ou a agonia de uma mãe que acompanha os últimos instantes da vida do seu filho. Os evangelhos são lacônicos e extremamente discretos. Mencionam com um simples verbo a presença da Mãe: “estava” (Jo 19,25). Ela estava. Nada dizem sobre a sua reação: se chorou ou não... nada; nem uma pincelada para descrever a sua dor. Sobre esses pormenores, mais tarde teria irrompido a imaginação de poetas e pintores que nos deixaram imagens que entraram na história da arte e da literatura. Contudo, os evangelhos dizem só: ela “estava”. Estava ali, no momento mais triste, mais cruel, e sofria com o filho. “Estava”.

Fielmente presente

Maria “estava”, simplesmente estava lá. Ei-la novamente, a jovem de Nazaré, agora com cabelos brancos pelo passar dos anos, ainda ocupada com um Deus que só deve ser abraçado, e com uma vida que chegou ao limiar da escuridão mais densa. Maria “estava” na escuridão mais espessa, mas “estava”. Não foi embora. Maria está fielmente presente, cada vez que surge a necessidade de manter uma vela acesa num lugar de bruma e neblina. Nem ela conhece o destino de ressurreição que o seu Filho estava abrindo naquele instante para todos nós, homens: estava ali por fidelidade ao plano de Deus, do qual se proclamou serva no primeiro dia da sua vocação, mas também por causa do seu instinto de mãe, que simplesmente sofre, cada vez que um filho atravessa uma paixão. Os sofrimentos das mães: todos nós conhecemos mulheres fortes que enfrentaram muitos sofrimentos dos filhos!

A reencontraremos no primeiro dia da Igreja, ela, Mãe da esperança, no meio daquela comunidade de discípulos tão frágeis: um negou, muitos fugiram, todos sentiram medo (cf. At 1,14). Mas ela simplesmente estava ali, do modo mais normal, como se fosse algo totalmente natural: na primeira Igreja envolvida pela luz da Ressurreição, mas também pelos tremores dos primeiros passos que devia dar no mundo.

Por isso, todos nós a amamos como Mãe. Não somos órfãos: temos uma mãe no céu, que é a Santa Mãe de Deus. Porque nos ensina a virtude da esperança, até quando tudo parece sem sentido: ela permanece sempre confiante no mistério de Deus, até quando Ele parece desaparecer por culpa do mal do mundo. Que nos momentos de dificuldade, Maria, a Mãe que Jesus ofereceu a todos nós, possa sempre amparar os nossos passos e dizer ao nosso coração: “Levanta-te! Olha em frente, olha para o horizonte”, porque Ela é Mãe da esperança.

Obrigado!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 3 de maio de 2017

Quarta, 24 Mai 2017 11:39

Jesus caminha conosco sempre

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje gostaria de analisar a experiência dos dois discípulos de Emaús, sobre a qual fala o Evangelho de Lucas (cf. 24,13-35). Imaginemos a cena: dois homens caminham desiludidos, tristes, decididos a deixar para trás a amargura de uma vicissitude mal sucedida. Antes daquela Páscoa, estavam cheios de entusiasmo: convencidos de que aqueles dias teriam sido determinantes para as suas expectativas e para a esperança do povo inteiro. Jesus, ao qual tinham confiado a própria vida, parecia ter finalmente chegado à batalha decisiva: agora manifestaria o seu poder, depois de uma longa fase de preparação e de escondimento. Era isso o que eles esperavam. Mas não foi assim.

Os dois peregrinos cultivavam uma esperança somente humana, que agora desabava. Aquela cruz erguida no Calvário era o sinal mais eloquente de uma derrota que não tinham previsto. Se deveras aquele Jesus era segundo o coração de Deus, deviam chegar à conclusão que Deus estava inerme, indefeso nas mãos dos violentos, incapaz de opor resistência ao mal.

Assim, naquela manhã de domingo, os dois fogem de Jerusalém. Ainda tinham nos olhos os momentos da paixão, a morte de Jesus; e na alma o pensamento atormentado pelos acontecimentos, durante o repouso forçado do sábado. Aquela festa de Páscoa, que devia entoar o canto da libertação, transformou-se, pelo contrário, no dia mais doloroso da sua vida. Deixam Jerusalém para ir alhures, a uma aldeia tranquila. Têm toda a aparência de pessoas empenhadas em apagar uma recordação que magoa. Portanto, encontram-se numa estrada, andam, tristes. Esse cenário – a estrada – já tinha sido importante nas narrações dos evangelhos; agora se tornará cada vez mais relevante, no momento em que se começa a narrar a história da Igreja.

O encontro de Jesus com aqueles dois discípulos parece ser totalmente casual: assemelha-se a uma das numerosas encruzilhadas que se encontram na vida. Os dois discípulos prosseguem pensativos e um desconhecido caminha ao lado deles. É Jesus; mas os seus olhos não são capazes de o reconhecer. E então Jesus começa a sua “terapia da esperança”. O que acontece nessa estrada é uma terapia da esperança. Quem a faz? Jesus.

Em primeiro lugar, pergunta e escuta: o nosso Deus não é um Deus intrometido. Embora já conheça o motivo da decepção dos dois, deixa-lhes o tempo para poder sondar profundamente a amargura que se apoderou deles. Daqui surge uma confissão que é um refrão da existência humana: “Nós esperávamos, mas... Nós esperávamos, mas...” (v. 21). Quantas tristezas, quantas derrotas, quantas falências há na vida de cada pessoa! No fundo, somos todos um pouco como esses dois discípulos. Quantas vezes na vida esperamos, quantas vezes nos sentimos a um passo da felicidade e, no fim, ficamos desiludidos. Mas Jesus caminha com todas as pessoas desanimadas que procedem cabisbaixas. E, caminhando com elas, de forma discreta, consegue restituir-lhes a esperança.

Vai em frente, estou contigo

Jesus fala com eles, sobretudo por meio das Escrituras. Quem pega o livro de Deus nas mãos não se cruza com histórias de fácil heroísmo, campanhas de conquista impetuosas. A verdadeira esperança nunca é pouco dispendiosa: passa sempre através das derrotas. A esperança de quem não sofre, talvez nem sequer seja tal. Deus não gosta de ser amado como poderíamos amar um general que leva o seu povo à vitória, aniquilando no sangue os seus adversários. O nosso Deus é uma chama esmorecida que arde num dia de frio e de vento, e não obstante a sua presença neste mundo possa parecer frágil, Ele escolheu o lugar que todos nós desdenhamos.

Em seguida, Jesus repete também aos dois discípulos o gesto fulcral de cada Eucaristia: pegou no pão, abençoou-o e, depois de o partir, ofereceu-o. Nessa sequência de gestos, não há porventura toda a história de Jesus? E não há, em cada Eucaristia, também o sinal do que deve ser a Igreja? Jesus pega em nós, abençoa-nos, “parte” a nossa vida – porque não há amor sem sacrifício – e oferece-a aos outros, oferece-a a todos.

O encontro de Jesus com os dois discípulos de Emaús é rápido. Todavia, nele está todo o destino da Igreja. Narra-nos que a comunidade cristã não está fechada numa cidadela fortificada, mas caminha no seu ambiente mais vital, ou seja, a estrada. E ali encontra as pessoas com as suas esperanças e as suas desilusões, por vezes pesadas. A Igreja escuta as histórias de todos, assim como sobressaem do íntimo da consciência pessoal; para depois oferecer a Palavra de vida, o testemunho de amor, amor fiel até ao fim. E então o coração das pessoas volta a arder de esperança.

Todos nós, na nossa vida, tivemos momentos difíceis, obscuros; momentos nos quais caminhávamos tristes, pensativos, sem horizontes, somente com um muro à nossa frente. E Jesus sempre está ao nosso lado para nos dar esperança, para nos aquecer o coração e dizer: “Vai em frente, estou contigo. Vai em frente”. O segredo da estrada que conduz a Emaús resume-se inteiramente nisto: mesmo através das aparências contrárias, continuamos a ser amados, e Deus nunca deixará de nos querer bem. Deus caminhará sempre conosco, sempre, até nos momentos mais dolorosos, nos períodos mais difíceis, também nos momentos de derrota: ali está o Senhor. E essa é a nossa esperança. Vamos em frente com essa esperança! Porque Ele está ao nosso lado e caminha conosco, sempre!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 24 de maio de 2017

 

Queridos irmãos e irmãs!

Na última semana, celebramos a Solenidade de Pentecostes. Não podemos deixar de falar da relação que há entre a esperança cristã e o Espírito Santo. O Espírito é o vento que nos impele para a frente, que nos mantém no caminho, que nos faz sentir peregrinos e forasteiros, e não permite que descansemos sobre os nossos próprios louros e que nos tornemos um povo “sedentário”.

A Carta aos Hebreus compara a esperança a uma âncora (cf. 6,18-19); a esta imagem podemos acrescentar a da vela. Se a âncora é o que dá à barca a segurança e a mantém “ancorada” entre as ondas do mar, ao contrário, a vela é o que a faz caminhar e avançar sobre as águas. A esperança é, deveras, como uma vela; ela recolhe o vento do Espírito Santo e transforma-o em força motriz, que impele a barca, dependendo das circunstâncias, ao largo ou à beira-mar.

O apóstolo Paulo conclui a sua Carta aos Romanos com estes votos: ouvi bem, escutai bem que auspício bonito: “O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e de toda a paz na vossa fé, para que, pela virtude do Espírito Santo, transbordeis de esperança” (15,13). Reflitamos um pouco sobre o conteúdo dessa belíssima palavra.

A expressão “Deus da esperança” não significa somente que Deus é o objeto da nossa esperança, ou seja, Aquele que esperamos alcançar um dia na vida eterna; quer dizer também que Deus é Aquele que já neste momento nos faz esperar, aliás, nos torna “alegres na esperança” (Rm 12,12): alegres agora por esperar, e não só esperar para ser alegres. É a alegria de esperar e não esperar para ter alegria, já hoje. “Enquanto houver vida, haverá esperança”, diz o ditado popular; e é verdade também o contrário: enquanto houver esperança, há vida. Os homens necessitam de esperança para viver e precisam do Espírito Santo para esperar.

São Paulo – ouvimos – atribui ao Espírito Santo a capacidade de nos fazer até “transbordar de esperança”. Transbordar de esperança significa nunca desanimar; significa esperar “contra qualquer esperança” (Rm 4,18), ou seja, esperar até quando falta qualquer motivo humano para esperar, como aconteceu com Abraão no momento em que Deus lhe pediu para sacrificar o único filho, Isac, e como sucedeu também, ainda mais, com a Virgem Maria aos pés da cruz de Jesus.

A esperança não engana

O Espírito Santo torna possível essa esperança invencível dando-nos o testemunho interior de que somos filhos de Deus e seus herdeiros (cf. Rm 8,16). Como poderia Aquele que nos entregou o seu único Filho não nos dar também com Ele todas as coisas? (cf. Rm 8,32). “A esperança – irmãos e irmãs – não desilude: a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Portanto, não desilude, porque há o Espírito Santo dentro de nós que nos impele a ir em frente, sempre! E por essa razão, a esperança não desilude.

Há mais: o Espírito Santo não nos torna somente capazes de esperar, mas, inclusive, de ser semeadores de esperança, de ser também nós – como Ele e graças a Ele – “paráclitos”, ou seja, consoladores e defensores dos irmãos, semeadores de esperança. Um cristão pode semear amarguras, pode semear perplexidades, e isso não é cristão, e quem faz isso não é um bom cristão. Semeia a esperança: semeia óleo de esperança, semeia perfume de esperança e não vinagre de amargura e de desesperança.

O Beato cardeal Newman, em um de seus discursos, dizia aos fiéis: “Instruídos pelo nosso próprio sofrimento, pela nossa própria dor, aliás, pelos nossos próprios pecados, teremos a mente e o coração treinados para qualquer obra de amor em relação aos necessitados. Seremos, conforme a nossa capacidade, consoladores à imagem do Paráclito – ou seja, do Espírito Santo – e em todos os sentidos que essa palavra comporta: advogados, assistentes, portadores de conforto. As nossas palavras e os nossos conselhos, o nosso modo de fazer, a nossa voz, o nosso olhar, serão gentis e tranquilizadores” (Parochial and Plain Sermons, vol. v, Londres 1870, pp. 300 s.). E são sobretudo os pobres, os excluídos, os desamados a precisar de alguém que para eles se torne “paráclito”, ou seja, consolador e defensor, como o Espírito Santo faz com cada um de nós, que estamos aqui na praça, consolador e defensor. Nós devemos fazer o mesmo com os mais necessitados, com os mais descartados, com aqueles que mais precisam, aqueles que mais sofrem. Defensores e consoladores!

O Espírito Santo alimenta a esperança não só no coração dos homens, mas também na criação inteira. Diz o apóstolo Paulo – parece um pouco estranho, mas é verdade: que também a criação “aguarda ansiosamente” com a esperança de ser também ela libertada e “geme e sofre” como que dores de parto (cf. Rm 8,20-22). “A energia capaz de mover o mundo não é uma força anônima e cega, mas é a ação do Espírito de Deus que “pairava sobre as águas” (Gn 1,2) no início da criação” (Bento XVI, Homilia, 31 de maio de 2009). Também isto nos impele a respeitar a criação: não se pode manchar um quadro sem ofender o artista que o criou.

Irmãos e irmãs, que o dom do Espírito Santo nos faça transbordar de esperança. Vos direi algo mais: que nos faça dissipar esperança a todos aqueles que mais necessitam, que são mais descartados e a todos aqueles que dela precisam. Obrigado.

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 31 de maio de 2017

 

Caros irmãos e irmãs!

Havia algo de fascinante na prece de Jesus, tão fascinante que certo dia os seus discípulos pediram para ser iniciados nela. O episódio encontra-se no Evangelho de Lucas, que, entre os Evangelistas, é aquele que mais documentou o mistério de Cristo “orante”: o Senhor rezava. Os discípulos de Jesus ficam impressionados porque Ele, especialmente de manhã e à noite, se retira em solidão e se “imerge” em oração. E por isso, um dia, lhe pedem para ensinar a eles também a rezar (cf. Lc 11,1).

É então que Jesus transmite aquela que se tornou a oração cristã por excelência: o “Pai-Nosso”. Na verdade, Lucas, em comparação com Mateus, restitui-nos a prece de Jesus de uma forma um pouco abreviada, que começa com a simples invocação: “Pai” (v. 2).

Todo o mistério da oração cristã está resumido aqui, nesta palavra: ter a coragem de chamar Deus com o nome de Pai. Afirma-o até a liturgia quando, convidando-nos à recitação comunitária da oração de Jesus, utiliza a expressão “ousamos dizer”.

Com efeito, chamar Deus com o nome de “Pai” não é de modo algum algo óbvio. Seríamos levados a usar os títulos mais elevados, que nos parecem mais respeitadores da sua transcendência. Ao contrário, invocá-lo como “Pai” coloca-nos numa relação de familiaridade com Ele, como uma criança se dirige ao seu pai, consciente de ser amado e cuidado por ele. Essa é a grande revolução que o cristianismo imprime na psicologia religiosa do homem. O mistério de Deus, que sempre nos fascina e nos faz sentir pequenos, mas não nos assusta, não nos esmaga, não nos angustia. Essa é uma revolução difícil de aceitar na nossa alma humana; tanto é verdade que até nas narrações da Ressurreição se diz que as mulheres, depois de terem visto o túmulo vazio e o anjo, “fugiram [...], trémulas e amedrontadas” (Mc 16,8). Mas Jesus revela-nos que Deus é Pai bom, e nos diz: “Não tenhais medo!”.

Nunca estamos sós

Pensemos na parábola do pai misericordioso (cf. Lc 15,11-32). Jesus fala de um pai que só sabe ser amor para os seus filhos. Um pai que não castiga o filho pela sua arrogância e que é capaz até de lhe confiar a sua parte de herança, deixando-o ir embora de casa. Deus é Pai, diz Jesus, mas não à maneira humana, pois não há pai algum neste mundo que se comportaria como o protagonista dessa parábola. Deus é Pai a seu modo: bom, indefeso diante do livre arbítrio do homem, só capaz de conjugar o verbo “amar”. Quando o filho rebelde, depois de ter desperdiçado tudo, finalmente volta para a casa natal, aquele pai não aplica critérios de justiça humana, mas sente, antes de tudo, a necessidade de perdoar, e com o seu abraço leva o filho a entender que durante todo aquele longo tempo de ausência lhe fez falta, fez dolorosamente falta ao seu amor de pai.

Que mistério insondável é um Deus que nutre este tipo de amor pelos seus filhos! Talvez seja por essa razão que, evocando o centro do mistério cristão, o apóstolo Paulo não tem coragem de traduzir em grego uma palavra que Jesus, em aramaico, pronunciava, “abá”. No seu epistolário (cf. Rm 8, 15; Gl 4, 6), São Paulo aborda duas vezes esse tema, e, por duas vezes, deixa aquela palavra não traduzida, da mesma forma como brotou dos lábios de Jesus, “abá”, um termo ainda mais íntimo do que “pai”, e que alguns traduzem “papá, papai”.

Caros irmãos e irmãs, nunca estamos sós. Podemos estar distantes, ser hostis, podemos até professar-nos “sem Deus”. Mas o Evangelho de Jesus Cristo revela-nos que Deus não consegue estar sem nós: Ele nunca será um Deus “sem o homem”; é Ele que não pode estar sem nós, e este é um grande mistério! Deus não pode ser Deus sem o homem: este é um grande mistério! E essa certeza é a fonte da nossa esperança, que encontramos conservada em todas as invocações do Pai-Nosso.

Quando temos necessidade de ajuda, Jesus não nos diz para nos resignarmos e nos fecharmos em nós mesmos, mas para nos dirigirmos ao Pai, pedindo a Ele com confiança. Todas as nossas necessidades, das mais evidentes e diárias, como a comida, a saúde e o trabalho, até àquela de sermos perdoados e ajudados nas tentações, não são o espelho da nossa solidão: ao contrário, há um Pai que nos fita sempre com amor, e que certamente não nos abandona.

Agora faço-vos uma proposta: cada um de nós tem muitos problemas e tantas necessidades. Pensemos um pouco, em silêncio, nesses problemas e nessas dificuldades. Pensemos também no Pai, no nosso Pai, que não pode estar sem nós, e que neste momento está a olhar para nós. E todos juntos, com confiança e esperança, oremos: “Pai nosso, que estais no Céu...”. Obrigado!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 7 de junho de 2017

 

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje fazemos a audiência em dois lugares, mas unidos pelas telas: os doentes, a fim de que não sofram muito o calor, estão na Sala Paulo VI, e nós aqui. Contudo, permanecemos juntos porque nos une o Espírito Santo, aquele que constrói sempre a unidade. Saudemos os que estão na Sala!

Nenhum de nós pode viver sem amor. E uma terrível escravidão na qual podemos cair é considerar que o amor deve ser merecido. Talvez uma boa parte da angústia do homem contemporâneo deriva disto: acreditar que se não formos fortes, atraentes e bonitos, então ninguém se ocupará de nós. Muitas pessoas hoje só procuram a visibilidade para preencher o vazio interior: como se fôssemos pessoas eternamente necessitadas de confirmações. Contudo, podeis imaginar um mundo no qual todos mendigam motivos para chamar a atenção dos outros e, ao contrário, ninguém está disposto a amar gratuitamente outra pessoa? Imaginem um mundo assim: um mundo sem a gratuidade do querer bem! Parece um mundo humano, mas na realidade é um inferno.

Muitos narcisismos do homem nascem de um sentimento de solidão e de orfandade. Por detrás de tantos comportamentos aparentemente inexplicáveis esconde-se uma pergunta: é possível que eu não mereça ser chamado pelo nome, isto é, ser amado? Porque o amor chama sempre pelo nome...

Quando quem não é ou não se sente amado é um adolescente, então pode nascer a violência. Por detrás de muitas formas de ódio social e de brutalidade muitas vezes há um coração que não foi reconhecido. Não existem crianças más, assim como não existem adolescentes totalmente malvados, mas existem pessoas infelizes. O que nos pode tornar felizes, senão a experiência do amor dado e recebido? A vida do ser humano é uma troca de olhares: alguém que ao olhar para nós conquista primeiro o nosso sorriso, e nós que gratuitamente sorrimos para quem está fechado na tristeza, e desse modo lhe abrimos uma saída. Troca de olhares: olhar nos olhos e se abrem as portas do coração.

O amor muda o coração infeliz

O primeiro passo que Deus dá na nossa direção é de um amor antecipado e incondicional. Deus ama primeiro. Deus não nos ama porque em nós existe um motivo que suscita amor. Deus nos ama porque Ele próprio é amor, e por sua natureza o amor tende a difundir-se, a doar-se. Deus não relaciona nem sequer a sua benevolência à nossa conversão: pode ser que esta seja uma consequência do amor de Deus. São Paulo diz de maneira perfeita: “Deus demonstra o seu amor para conosco no fato de que, enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós” (cf. Rm 5,8). Enquanto ainda éramos pecadores. Um amor incondicional. Estávamos “distantes”, como o filho pródigo da parábola: “Quando estava ainda distante, o seu pai viu-o, sentiu compaixão...” (Lc 15,20). Por amor a nós Deus realizou um êxodo de Si mesmo, para vir ter conosco nesta terra por onde era insensato que Ele transitasse. Deus amou-nos até quando estávamos enganados.

Quem de nós ama dessa maneira, exceto quem é pai ou mãe? Uma mãe continua a amar o seu filho até quando ele vai para o cárcere. Recordo-me de muitas mães que faziam a fila para entrar nas prisões, na minha diocese precedente. E não se envergonhavam. O filho estava na prisão, mas era o seu filho. E sofriam muitas humilhações nas pesquisas, antes de entrar, mas: “É o meu filho!”. “Mas, senhora, o seu filho é um delinquente!” – “É o meu filho!”. Só esse amor de mãe e de pai nos leva a compreender como é o amor de Deus. Uma mãe não pede o cancelamento da justiça humana, porque cada erro exige uma redenção, mas uma mãe nunca deixa de sofrer pelo próprio filho. Ama-o até quando é pecador.

Deus faz o mesmo conosco: somos os seus filhos amados! Mas pode acontecer que Deus tenha alguns filhos aos quais não ama? Não. Todos somos filhos amados de Deus. Não existe maldição alguma na nossa vida, só uma benévola palavra de Deus, que deu sentido à nossa existência do nada. A verdade de tudo é a relação de amor que une o Pai com o Filho mediante o Espírito Santo, na qual somos acolhidos pela graça. N’Ele, em Jesus Cristo, fomos queridos, amados e desejados. Há Alguém que imprimiu em nós uma beleza primordial que pecado algum, que escolha errada alguma, nunca poderá cancelar totalmente. Nós, diante do olhar de Deus, somos sempre pequenas fontes feitas para jorrar água boa. Jesus disse à samaritana: “A água que Eu [te] der tornar-se-á [em ti] fonte de água que jorra para a vida eterna” (cf. Jo 4,14).

Qual é o remédio para mudar o coração de uma pessoa infeliz? Qual é o remédio para mudar o coração de uma pessoa que não é feliz? [respondem: o amor]. Mais alto! [gritam: o amor!]. Excelente, excelente, parabéns a todos! E como se faz para a pessoa sentir que é amada? Antes de tudo, é preciso abraçá-la. Fazer com que se sinta desejada, que é importante, e deixará de ser triste. Amor chama amor, de modo mais forte do que o ódio chama a morte. Jesus não morreu e ressuscitou para si mesmo, mas para nós, para que os nossos pecados sejam perdoados. Portanto, é tempo de ressurreição para todos: tempo de erguer os pobres do desânimo, sobretudo os que jazem no sepulcro por um período muito mais longo do que três dias. Sopra aqui, nos nossos rostos, um vento de libertação. Brota aqui o dom da esperança. A esperança de Deus Pai que nos ama assim como somos: ama-nos sempre e a todos.

Obrigado!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 14 de junho de 2017

 

Dom Guilherme Werlang, bispo de Ipameri (GO), presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, apresentou a proposta de mudança do nome oficial da Comissão que preside. Amparados pela assessoria canônica e pela consulta aos Estatutos e Regimento da CNBB, os bispos foram informados da possibilidade de mudança do nome da Comissão.

O presidente apresentou as razões para a apresentação da proposta. Entre outras, as dificuldades com a confusão criada pela semelhança do nome da Comissão com várias instâncias que se ocupam com os temas de Justiça e Paz. Além disso, uma mudança poderia colaborar com a simplificação no modo de se referir ao trabalho da Comissão.

Um processo de reflexão sobre a questão já tem sido realizado há dois anos. Dom Werlang diz que, como resultado desse tempo de aprofundamento, duas sugestões foram apresentadas, com a devida fundamentação pastoral: Comissão Episcopal Pastoral para as Pastorais Sociais e Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sócio-Transformadora. Considerando o trabalho feito nas reformas do Vaticano e acolhendo o novo nome do Dicastério que se ocupa com temas sociais, uma terceira proposta seria: Comissão Episcopal Pastoral para o Desenvolvimento Humano Integral.

Os bispos do Conselho fizeram várias intervenções sobre as sugestões apresentadas. Outras propostas também foram indicadas. A segunda sugestão, considerando com uma correção nas palavras que representam melhor a ideia, acabou contando com a simpatia de grande parte dos que fizeram uso da palavra. Dom Werlang lembrou, no meio da discussão, que esta alternativa foi amplamente levada em conta no processo de discussão sobre o assunto e que se trata de uma solução muito eficiente.

Em seguida, os bispos reformulam as sugestões e foi realizada uma votação para a escolha do novo nome: Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora, Comissão Episcopal Pastoral para a Caridade Social , Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sócio-Caritativa. A alternativa que recebeu o maior número de votos para foi a primeira proposta e, portanto, torna-se o novo nome da Comissão: “Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora”.

Fonte: CNBB Nacional

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