Quarta, 05 Abril 2017 15:57

A prática do bem espalha a luz da Ressurreição

Queridos irmãos e irmãs!

A Primeira Carta do apóstolo Pedro tem em si uma carga extraordinária! É preciso lê-la uma, duas, três vezes para compreender esta carga extraordinária: ela consegue infundir grande consolação e paz, fazendo entender como o Senhor está sempre ao nosso lado e nunca nos abandona, sobretudo nos momentos mais delicados e difíceis da nossa vida. Mas qual é o “segredo” desta Carta, e de modo particular do trecho que acabamos de ouvir (cf. 1 Pd 3, 8-17)? Esta é uma pergunta. Sei que hoje abrireis o Novo Testamento, procurareis a primeira Carta de Pedro, lereis devagarinho, para entender o segredo e a força desta Carta. Qual é o segredo desta Carta?

O segredo consiste no fato que este escrito afunda as suas raízes diretamente na Páscoa, no coração do mistério que celebramos, fazendo com que compreendamos toda a luz e a alegria que brotam da morte e ressurreição de Cristo, que ressuscitou verdadeiramente, e esta é uma linda saudação para fazermos no Tempo Pascal: “Cristo ressuscitou! Cristo ressuscitou!”, como muitos povos fazem. Recordar-nos de que Cristo ressuscitou, está vivo entre nós e habita em cada um de nós. É por isso que São Pedro nos convida com vigor a adorá-lo nos nossos corações (cf. v. 16). O Senhor começou a habitar ali no momento do nosso Batismo, e dali continua a renovar a nós e à nossa vida, enchendo-nos com o seu amor e a plenitude do seu Espírito. Eis então porque o Apóstolo nos recomenda a dizer a razão da esperança que está em nós (cf. v. 16): a nossa esperança não é um conceito, nem um sentimento, não é um telemóvel, nem uma porção de riquezas! A nossa esperança é uma Pessoa, é o Senhor Jesus que reconhecemos vivo e presente em nós e nos nossos irmãos, porque Cristo ressuscitou. Os povos eslavos quando se cumprimentam, em vez de dizer “bom dia”, “boa noite”, nos dias de Páscoa saúdam-se com a expressão “Cristo ressuscitou!”, Christos voskrese! dizem entre si; e sentem-se felizes por isso! Este é o “bom dia” e a ‘boa noite” que se desejam: “Cristo ressuscitou!”.

Compreendemos então que desta esperança não se deve dizer só a razão teórica, com palavras, mas sobretudo com o testemunho da vida, e isto deve acontecer quer no âmbito da comunidade cristã, quer fora dela. Se Cristo está vivo e habita em nós, no nosso coração, então devemos também deixar que se torne visível, sem escondê-lo, e que aja em nós. Isto significa que o Senhor Jesus deve tornar-se cada vez mais o nosso modelo: modelo de vida e que devemos aprender a comportar-nos como Ele se comportou. Fazer o que fez Jesus. Portanto, a esperança que habita em nós não pode permanecer escondida dentro de nós, no nosso coração: seria uma esperança débil, que não tem a coragem de sair e se mostrar: mas a nossa esperança, como se lê no Salmo 33 citado por Pedro, deve necessariamente desabrochar e sair, tomando a forma bonita e inconfundível da doçura, do respeito e da benevolência pelo próximo, chegando até a perdoar quem nos faz mal.

Perdão: caminho de esperança

Uma pessoa que não tem esperança não consegue perdoar, não consegue dar a consolação do perdão nem obter a consolação de perdoar. Sim, porque assim fez Jesus, e assim continua a fazer através de quantos lhes oferecem espaço no próprio coração e na vida, na consciência de que o mal não se vence com o mal, mas com a humildade, a misericórdia e a mansidão. Os mafiosos pensam que o mal pode ser derrotado com o mal, e assim praticam a vingança e muitas outras coisas que todos sabemos. Mas não sabem o que é a humildade, a misericórdia e a mansidão. E por quê? Porque os mafiosos não têm esperança. Pensai nisto.

Eis por que São Pedro afirma que “é melhor sofrer praticando o bem do que fazendo o mal” (v. 17): não significa que é bom sofrer, mas que quando sofremos pelo bem, estamos em comunhão com o Senhor, o qual aceitou sofrer e ser crucificado pela nossa salvação.

Quando também nós, nas situações mais simples e nas mais importantes da nossa vida, aceitamos sofrer pelo bem, é como se espalhássemos ao nosso redor as sementes da ressurreição, sementes de vida e fizéssemos resplandecer na escuridão a luz da Páscoa. É por isso que o Apóstolo nos exorta a responder sempre “desejando o bem” (v. 9): a bênção não é uma formalidade, não é só um sinal de cortesia, mas um grande dom que nós primeiro recebemos e depois temos a possibilidade de partilhar com os irmãos. É o anúncio do amor de Deus, um amor sem medida, que não se esgota, que nunca falta e que constitui o fundamento verdadeiro da nossa esperança.

Queridos amigos, compreendamos também porque o Apóstolo Pedro nos chama “bem-aventurados”, se devêssemos sofrer pela justiça (cf. v. 13). Não é só por uma razão moral nem ascética, mas porque cada vez que desempenhamos a parte dos últimos e dos marginalizados ou não respondemos ao mal com o mal, mas perdoando, sem vingança, perdoando e abençoando, sempre que fazemos isso resplandecemos como sinais vivos e luminosos de esperança, tornando-nos assim instrumentos de consolação e de paz, segundo o coração de Deus. E assim vamos em frente com a doçura, a mansidão, com o ser amável e praticando o bem também àqueles que não nos querem bem ou nos fazem mal. Em frente!

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 5 de abril de 2017

 

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