Tu és Pedro, e eu te darei as chaves do Reino dos céus.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-20
Prezados irmãos e irmãs,
Hoje queremos meditar sobre um aspecto da misericórdia bem representado pelo trecho do Evangelho de Lucas que ouvimos. Trata-se de algo que aconteceu a Jesus, quando era hóspede de um fariseu chamado Simão. Ele quis convidar Jesus à sua casa porque tinha ouvido falar bem dele, como de um grande profeta. E enquanto se encontravam sentados para almoçar, entra uma mulher conhecida por todos na cidade como uma pecadora. Sem proferir palavra, ela lança-se aos pés de Jesus e começa a chorar; as suas lágrimas molham os pés de Jesus e ela enxuga-os com os seus cabelos; depois, beija-os e unge-se com um bálsamo perfumado que trouxera consigo.
Ressalta-se o confronto entre as duas figuras: Simão, o zeloso servidor da lei, e a pecadora anônima. Enquanto o primeiro julga os outros com base nas aparências, a segunda, com os seus gestos, exprime com sinceridade o que tem no seu coração. Não obstante tenha convidado Jesus, Simão não quer comprometer-se nem empenhar a sua vida com o Mestre; a mulher, pelo contrário, confia-se plenamente a Ele, com amor e veneração.
O fariseu não concebe que Jesus se deixe “contaminar” pelos pecadores. Ele pensa que se fosse realmente um profeta deveria reconhecê-los e mantê-los à distância, para não ser manchado por eles, como se fossem leprosos. Esta atitude é típica de um certo modo de compreender a religião, e é motivada pela constatação de que Deus e o pecado se opõem radicalmente um ao outro. Mas a Palavra de Deus ensina-nos a distinguir entre o pecado e o pecador: não podemos ceder a compromissos com o pecado, enquanto os pecadores – isto é, todos nós! – somos como doentes, que devem ser curados, e para os curar é necessário que o médico se aproxime deles, que os examine, que os toque. E naturalmente, para ser curado, o enfermo deve reconhecer que precisa do médico!
Depois da queda, levantar no Senhor
Entre o fariseu e a pecadora, Jesus escolhe esta última. Livre de preconceitos que impedem a misericórdia de se manifestar, Jesus deixa-a agir. Ele, o Santo de Deus, deixa-se tocar por ela sem ter medo de ser contaminado. Jesus é livre, porque está próximo de Deus, Pai misericordioso. É esta proximidade a Deus, Pai misericordioso, que confere a liberdade a Jesus. Aliás, entrando em relação com a pecadora, Jesus põe fim àquela condição de isolamento à qual o juízo impiedoso do fariseu e dos seus – que a exploravam – a condenava: “Os teus pecados são-te perdoados” (v. 48). Portanto, agora a mulher pode ir “em paz”. O Senhor viu a sinceridade da sua fé e da sua conversão; por isso, diante de todos, Ele proclama: “A tua fé te salvou” (v. 50). De um lado, a hipocrisia do doutor da lei; do outro, a sinceridade, a humildade e a fé da mulher. Todos nós somos pecadores, mas muitas vezes caímos na tentação da hipocrisia de nos considerarmos melhores do que os outros, e dizemos: “Olha para o teu pecado...”. Ao contrário, todos nós devemos olhar para os nossos pecados, as nossas quedas, os nossos erros, e olhar para o Senhor. Esta é a linha de salvação: a relação entre o “eu” pecador e o Senhor. Se me sinto justo, esta relação de salvação não se verifica.
Nesta altura, uma surpresa ainda maior acomete todos os comensais: “Quem é este homem que até perdoa os pecados?” (v. 49). Jesus não dá uma resposta explícita, mas a conversão da pecadora salta aos olhos de todos, demonstrando que nele resplandece o poder da misericórdia de Deus, capaz de transformar os corações.
A pecadora ensina-nos o vínculo entre fé, amor e reconhecimento. Foram-lhe perdoados “numerosos pecados” e por isso ela ama muito; “mas a quem pouco se perdoa, pouco ama” (v. 47). Até o próprio Simão deve admitir que ama mais quem mais foi perdoado. Deus incluiu todos no mesmo mistério de misericórdia; e deste amor, que sempre nos precede, todos nós aprendemos a amar. Como recorda São Paulo: “Em Cristo, pelo seu sangue temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça, que Ele derramou abundantemente sobre nós” (Ef 1,7-8). Nesse texto, o termo “graça” é praticamente sinônimo de misericórdia, e diz-se que é “abundante”, ou seja, vai além da nossa expectativa, porque realiza o plano salvífico de Deus para cada um de nós.
Caros irmãos, reconheçamos o dom da fé, demos graças ao Senhor pelo seu amor tão grandioso e imerecido! Deixemos que o amor de Cristo seja derramado sobre nós: o discípulo haure deste amor e nele se funda; deste amor cada um pode nutrir-se, alimentar-se. Assim, no amor grato que por nossa vez derramamos sobre os nossos irmãos, as nossas casas, a família e a sociedade transmite-se a todos a misericórdia do Senhor.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 20 de abril de 2016
Amados irmãos e irmãs,
Hoje meditamos sobre a parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,25-37). Um doutor da Lei põe Jesus à prova com a seguinte pergunta: “Mestre, que devo fazer para ter a vida eterna?” (v. 25). Jesus diz-lhe que responda ele mesmo, e ele responde-lhe perfeitamente: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu pensamento; e ao teu próximo como a ti mesmo” (v. 27). E Jesus conclui: “Faz isto e viverás!” (v. 28).
Então, aquele homem faz outra pergunta, que se torna muito preciosa para nós: “Quem é o meu próximo?” (v. 29), e quer dizer: “Os meus parentes? Os meus compatriotas? Quantos pertencem à minha religião?...”. Em síntese, deseja uma regra clara que lhe permita classificar os outros em “próximos” e “não próximos”, naqueles que podem tornar-se próximos e em quantos não podem tornar-se tais.
E Jesus responde com uma parábola, que põe em cena um sacerdote, um levita e um samaritano. Os primeiros dois são figuras ligadas ao culto do templo; o terceiro é um judeu hebreu cismático, considerado como um estrangeiro, pagão e impuro, ou seja, o samaritano. Ao longo do caminho de Jerusalém para Jericó, o sacerdote e o levita deparam-se com um homem moribundo, que os salteadores tinham atacado, roubado e abandonado. Em situações semelhantes, a Lei do Senhor previa a obrigação de o socorrer, mas ambos passam sem parar. Estavam com pressa. O sacerdote talvez tenha olhado para o relógio, dizendo: “Mas eu chegarei tarde à Missa... Devo celebrar a Missa”. E o outro disse: “Mas não sei se a Lei me permite fazer isto, porque aí há sangue, e eu ficarei impuro...”. Vão por outro caminho e não se aproximam. E aqui a parábola oferece-nos um primeiro ensinamento: não é automático que quantos frequentam a casa de Deus e conhecem a sua misericórdia saibam amar o próximo. Não é automático! Tu podes conhecer a Bíblia inteira, podes conhecer todas as rubricas litúrgicas, podes conhecer toda a teologia, mas do conhecer não nasce espontaneamente o amar: o amar segue outro caminho; é necessária a inteligência, mas também algo mais... O sacerdote e o levita veem, mas ignoram; olham, mas não preveem. E, no entanto, não existe culto autêntico se ele não se traduzir em serviço ao próximo. Nunca podemos esquecer: diante do sofrimento de tantas pessoas extenuadas pela fome, pela violência e pelas injustiças, não podemos permanecer espectadores. O que significa ignorar o sofrimento do homem? Significa ignorar Deus! Se não me aproximo daquele homem, daquela mulher, daquela criança, daquele idoso ou daquela idosa que sofre, não me aproximo de Deus.
Cuidar do outro como Deus cuida de nós
Mas vamos ao âmago da parábola: o samaritano, ou seja, precisamente o desprezado, aquele em quem ninguém teria apostado algo e que, no entanto, também ele, tinha os seus compromissos e os seus afazeres, mas quando viu o homem ferido, não foi além como os outros dois, que estavam ligados ao templo, mas “encheu-se de compaixão” (v. 33). Assim reza o Evangelho: “encheu-se de compaixão”, isto é, o seu coração, as suas vísceras comoveram-se! Eis a diferença. Os outros dois “viram”, mas os seus corações permaneceram fechados, insensíveis. Ao contrário, o coração do samaritano estava sintonizado com o coração do próprio Deus. Com efeito, a “compaixão” é uma característica essencial da misericórdia de Deus. Deus tem compaixão de nós. O que significa? Padece ao nosso lado, sente os nossos próprios sofrimentos. Compaixão quer dizer “padecer com”. O verbo indica que as vísceras se movem e estremecem à vista do mal do homem. E nos gestos e ações do bom samaritano reconhecemos o agir misericordioso de Deus em toda a história da salvação. É a mesma compaixão com a qual o Senhor vem ao encontro de cada um de nós: Ele não nos ignora, conhece as nossas dores, sabe como temos necessidade de ajuda e de consolação. Aproxima-se de nós e nunca nos abandona. Cada um de nós deve levantar esta pergunta e responder no seu coração: “E eu creio? Acredito que o Senhor tem compaixão de mim, tal como sou, pecador, com tantos problemas e situações?”. Pensemos nisto, e a resposta é: “Sim!”. Mas cada um deve olhar para o próprio coração, se tem fé nesta compaixão de Deus, do Deus bom que se aproxima de nós, que nos cura e nos acaricia. E se o rejeitarmos, Ele espera-nos: é paciente, está sempre ao nosso lado.
O samaritano comporta-se com verdadeira misericórdia: cura as feridas daquele homem, transporta-o para uma hospedaria, cuida pessoalmente dele e provê a sua assistência. Tudo isto nos ensina que a compaixão, a caridade, não é um sentimento incerto, mas significa cuidar do outro até pagar pessoalmente por ele. Significa comprometer-se dando todos os passos necessários para “se aproximar” do outro até se identificar com ele: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Eis o Mandamento do Senhor.
Concluindo a parábola, Jesus inverte a questão do doutor da Lei e pergunta-lhe: “Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” (v. 36). A resposta é finalmente inequívoca: “Aquele que foi misericordioso para com ele” (v. 27). No início da parábola, para o sacerdote e para o levita o próximo era o moribundo; no final, o próximo é o samaritano que se fez próximo. Jesus inverte a perspectiva: não classifiques os outros para ver quem é próximo e quem não é. Tu podes tornar-te próximo de quem quer que se encontre em necessidade, e sê-lo-ás se no teu coração sentires compaixão, ou seja, se tiveres a capacidade de padecer com o outro.
Essa parábola é para todos nós uma dádiva maravilhosa, mas também um compromisso! A cada um de nós, Jesus repete aquilo que disse ao doutor da Lei: “Vai, e também faz o mesmo!” (v. 37). Somos todos chamados a percorrer o mesmo caminho do bom samaritano, que é a figura de Cristo: Jesus debruçou-se sobre nós, fez-se nosso servo, e foi assim que nos salvou, para que também nós pudéssemos amar-nos como Ele nos amou, do mesmo modo.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 27 de abril de 2016
Amados irmãos e irmãs,
Hoje desejo refletir convosco sobre um aspeto importante da misericórdia: a reconciliação. Deus nunca deixou de oferecer o seu perdão aos homens: a sua misericórdia faz-se sentir de geração em geração. Muitas vezes pensamos que os nossos pecados afastam o Senhor de nós: na realidade, pecando, somos nós que nos afastamos d’Ele, mas Ele, ao ver-nos em perigo, vem-nos procurar ainda mais. Deus nunca se resigna à possibilidade de encontrar em nós algum sinal de arrependimento pelo mal cometido.
Unicamente com as nossas forças não conseguimos reconciliar-nos com Deus. O pecado é deveras uma expressão de recusa do seu amor, com a consequência de nos fecharmos em nós próprios, iludindo-nos que encontramos mais liberdade e autonomia. Mas longe de Deus já não temos uma meta, e como peregrinos neste mundo tornamo-nos “errantes”. Um modo de dizer comum é que, quando pecamos, nós “voltamos as costas a Deus”. É precisamente assim; o pecador só vê a si mesmo e deste modo pretende ser autossuficiente; por isso, o pecado aumenta cada vez mais a distância entre nós e Deus, e esta pode tornar-se um abismo. Contudo, Jesus vem procurar-nos como um bom pastor que não se contenta enquanto não encontra a ovelha perdida, como lemos no Evangelho (cf. Lc 15,4-6). Ele reconstrói a ponte que nos une ao Pai e nos permite reencontrar a dignidade de filhos. Com a oferta da sua vida reconciliou-nos com o Pai e deu-nos a vida eterna (cf. Jo 10, 15).
“Reconciliai-vos com Deus!” (2Cor 5,20): a admoestação que o apóstolo Paulo dirigiu aos primeiros cristãos de Corinto é válida hoje, com o mesmo vigor e convicção, para todos nós. Deixemo-nos reconciliar com Deus! Este Jubileu da Misericórdia é um tempo de reconciliação para todos. Muitas pessoas gostariam de se reconciliar com Deus mas não se sentem dignas, ou não querem admiti-lo nem sequer a si mesmas. A comunidade cristã pode e deve favorecer o retorno sincero a Deus de quantos sentem a sua nostalgia. Sobretudo quantos realizam o “ministério da reconciliação” (2Cor 5,18) estão chamados a ser instrumentos dóceis ao Espírito Santo para que onde abundou o pecado possa superabundar a misericórdia de Deus (cf. Rm 5,20). Ninguém fique distante de Deus por causa de obstáculos postos pelos homens! E isso é válido também ‒ e realço este aspeto ‒ para os confessores ‒ é válido para eles: por favor, não ponhais obstáculos às pessoas que querem reconciliar-se com Deus. O confessor deve ser um pai! Está no lugar de Deus Pai! O confessor deve acolher as pessoas que vão ter com ele para se reconciliarem com Deus e ajudá-las no caminho desta reconciliação que estamos a fazer. É um ministério muito bonito: não é uma sala de tortura nem um interrogatório, não, é o Pai que recebe e acolhe esta pessoa e perdoa. Deixemo-nos reconciliar com Deus! Todos nós! Que este Ano Santo seja o tempo favorável para redescobrir a necessidade da ternura e da proximidade do Pai e voltar para Ele de todo o coração.
Novas criaturas pelo Sacramento da Reconciliação
Fazer a experiência da reconciliação com Deus permite descobrir a necessidade de outras formas de reconciliação: nas famílias, nos relacionamentos interpessoais, nas comunidades eclesiais, assim como nas relações sociais e internacionais. Alguém me dizia, nos dias passados, que no mundo há mais inimigos do que amigos, e penso que tem razão. Mas não, construamos pontes de reconciliação também entre nós, começando pela própria família. Quantos irmãos discutiram e se afastaram unicamente pela herança. Isto não está bem! Este é o ano da reconciliação com Deus e entre nós! Com efeito, a reconciliação é também um serviço à paz, ao reconhecimento dos direitos fundamentais das pessoas, à solidariedade e ao acolhimento de todos.
Então, aceitemos o convite a deixar-nos reconciliar com Deus, para nos tornarmos novas criaturas e podermos irradiar a sua misericórdia entre os irmãos, no meio do povo.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 30 de abril de 2016
Queridos irmãos e irmãs!
Todos nós conhecemos a imagem do Bom Pastor, que carrega sobre os ombros a ovelha tresmalhada. Esse ícone representa sempre a solicitude de Jesus pelos pecadores e a misericórdia de Deus que não se resigna a perder alguém. A parábola é narrada por Jesus, para levar a compreender que a sua proximidade em relação aos pecadores não deve escandalizar, mas, ao contrário, suscitar em todos uma séria reflexão sobre o nosso modo de viver a fé. A narração vê, por um lado, os pecadores que se aproximam de Jesus para o ouvir e, por outro, os doutores da lei, os escribas desconfiados, que se afastam dele por causa deste comportamento. Afastam-se porque Jesus se aproxima dos pecadores. Eles eram orgulhosos, soberbos, julgavam-se justos.
A nossa parábola move-se em volta de três personagens: o pastor, a ovelha tresmalhada e o resto do rebanho. No entanto, quem age é unicamente o pastor, não as ovelhas. Portanto, o pastor é o único verdadeiro protagonista e tudo depende dele. Uma pergunta introduz a parábola: “Quem de vós, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até a encontrar?” (v. 4). Trata-se de um paradoxo que induz a duvidar do comportamento do pastor: é sábio abandonar as noventa e nove por uma única ovelha? E além disso não na segurança de um aprisco, mas no deserto? Em conformidade com a tradição bíblica, o deserto é lugar de morte, onde é difícil encontrar alimento e água, sem abrigo e à mercê das feras e dos salteadores. O que podem fazer noventa e nove ovelhas indefesas? Contudo o paradoxo continua, afirmando que o pastor, depois de ter encontrado a ovelha, “a carrega sobre os ombros cheio de júbilo e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: “Regozijai-vos comigo!” (v. 6). Portanto, tem-se a impressão de que o pastor não volta ao deserto para recuperar o rebanho inteiro! Orientado para aquela única ovelha, parece esquecer-se das outras noventa e nove. Mas na realidade não é assim! O ensinamento que Jesus nos quer transmitir é, ao contrário, que nenhuma ovelha se pode perder. O Senhor não pode resignar-se ao fato de que até uma única pessoa possa extraviar-se. A ação de Deus é aquela de quem vai à procura dos filhos perdidos para depois fazer festa e rejubilar com todos porque voltou a encontrá-los. Trata-se de um desejo irrefreável: nem sequer noventa e nove ovelhas podem impedir o pastor e mantê-lo fechado no redil. Ele poderia raciocinar assim: “Faço o balanço: tenho noventa e nove, perdi uma mas não se trata de uma grande perda”. Mas ele vai em busca daquela, porque cada uma é muito importante para ele, e aquela é a mais necessitada, a mais abandonada, a mais descartada; assim, ele vai à sua procura. Todos estamos avisados: a misericórdia pelos pecadores é o estilo com que Deus age, e a esta misericórdia Ele é absolutamente fiel: nada e ninguém poderá desviá-lo da sua vontade de salvação. Deus não conhece a nossa atual cultura do descartável, Deus não tem nada a ver com isso. Deus não descarta pessoa alguma; Deus ama todos, procura todos: um por um! Ele não conhece a expressão “descartar as pessoas”, porque Ele é todo amor e toda misericórdia.
Deus procura-nos até ao último instante
A grei do Senhor está sempre a caminho: ela não possui o Senhor, não pode iludir-se de o aprisionar nos nossos esquemas e nas nossas estratégias. O pastor será encontrado onde estiver a ovelha perdida. Portanto, o Senhor deve ser procurado onde Ele mesmo nos quer encontrar, não onde nós mesmos pretendemos encontrá-lo! De nenhum outro modo será possível reunir o rebanho, a não ser seguindo o caminho traçado pela misericórdia do pastor. Enquanto vai em busca da ovelha tresmalhada, ele suscita as outras noventa e nove a fim de que participem na reunificação da grei. Então não apenas a ovelha carregada nos ombros, mas o rebanho inteiro seguirá o pastor até à sua casa para fazer festa com “amigos e vizinhos”.
Deveríamos ponderar com frequência sobre essa parábola, porque na comunidade cristã há sempre alguém que falta, tendo partido e deixado um lugar vazio. Às vezes isso é desanimador e leva-nos a acreditar que se trata de uma perda inevitável, uma doença sem remédio. É então que corremos o perigo de nos fecharmos dentro de um redil, onde não haverá cheiro de ovelhas, mas fedor de fechado! E os cristãos? Não devemos viver fechados, porque teremos em nós o mau cheiro dos lugares fechados. Nunca! Devemos sair, sem nos fecharmos em nós mesmos, nas pequenas comunidades, na paróquia, considerando-nos “justos”. Isto acontece quando falta o impulso missionário que nos leva ao encontro dos outros. Na visão de Jesus, não existem ovelhas perdidas definitivamente, mas só ovelhas que devem ser encontradas. Devemos compreender bem isto: para Deus ninguém está definitivamente perdido. Nunca! Deus procura-nos até ao último instante. Pensai no bom ladrão; mas só na visão de Jesus ninguém está definitivamente perdido. Portanto, a perspectiva é totalmente dinâmica, aberta, estimulante e criativa. Impele-nos a sair à procura, para empreender um caminho de fraternidade. Nenhuma distância pode manter afastado o pastor; e nenhum rebanho pode renunciar a um irmão. Encontrar quem está perdido é a alegria do pastor e de Deus, mas é também o júbilo de toda a grei! Todos nós somos ovelhas reencontradas e reunidas pela misericórdia do Senhor, chamados a congregar juntamente com Ele o rebanho inteiro!
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 4 de maio de 2016
Amados irmãos e irmãs!
Hoje queremos meditar sobre a parábola do Pai misericordioso. Ela fala de um pai e dos seus dois filhos, e leva-nos a conhecer a misericórdia infinita de Deus. Comecemos pelo fim, ou seja, pela alegria do coração do Pai, que diz: “Façamos uma festa. Este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado” (vv. 23-24). Com essas palavras o pai interrompeu o filho mais jovem no momento em que confessa a sua culpa: “Já não sou digno de ser chamado teu filho...” (v. 19). Mas essa expressão é insuportável para o coração do pai, que ao contrário se apressa a devolver ao filho os sinais da sua dignidade: a roupa bonita, o anel, o calçado. Jesus não descreve um pai ofendido e ressentido, um pai que, por exemplo, diz ao filho: “Vais pagar”: não, o pai abraça-o, espera por ele com amor. Ao contrário, a única coisa que o pai quer é que o filho esteja diante dele, são e salvo, é o que o torna feliz, e por isso faz festa. A recepção do filho que volta é descrita de modo comovedor: “Ainda estava longe, quando o seu pai o viu e, movido de compaixão, correu ao seu encontro, lançou-se ao seu pescoço e beijou-o” (v. 20). Quanta ternura; viu-o de longe: o que significa isso? Que o pai subia continuamente ao terraço para perscrutar a estrada a ver se o filho voltava; aquele filho que tinha feito de tudo, mas o pai esperava-o. Como é bonita a ternura do Pai! A misericórdia do pai é transbordante, incondicional e manifesta-se ainda antes que o filho fale. Sem dúvida, o filho sabe que errou e reconhece-o: “Pequei... Trata-me como a um dos teus servos” (v. 19). Mas estas palavras dissolvem-se diante do perdão do pai. O abraço e o beijo do seu pai levam-no a entender que foi sempre considerado filho, não obstante tudo. Este ensinamento de Jesus é importante: a nossa condição de filhos de Deus é fruto do amor do coração do Pai; não depende dos nossos méritos, nem dos nossos gestos, e, portanto ninguém no-la pode tirar, nem sequer o diabo! Ninguém nos pode privar desta dignidade.
Esta palavra de Jesus anima-nos a nunca desesperar. Penso nas mães e nos pais em apreensão quando veem os filhos afastar-se seguindo por caminhos perigosos. Penso nos párocos e catequistas que às vezes se interrogam se o seu trabalho foi em vão. Mas penso também em quantos estão na prisão e têm a impressão de que a sua vida acabou; naqueles que fizeram escolhas erradas e não conseguem olhar para o futuro; em todos os que têm fome de misericórdia e perdão, e julgam que não o merecem... Em qualquer situação da vida, não devo esquecer que nunca deixarei de ser filho de Deus, filho de um Pai que me ama e espera a minha volta. Até na pior situação da vida, Deus espera-me, Deus quer abraçar-me, Deus aguarda-me.
Na parábola há outro filho, o mais velho; também ele tem necessidade de descobrir a misericórdia do pai. Ele permaneceu sempre em casa, mas é muito diverso do pai! As suas palavras carecem de ternura: “Há muitos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma... E agora que voltou este teu filho” (vv. 29-30). Vemos o desprezo: nunca diz “pai”, nunca diz “irmão”, só pensa em si mesmo, gaba-se de ter permanecido sempre ao lado do pai e de o ter servido; e no entanto nunca viveu esta proximidade com alegria. E agora acusa o pai porque nunca lhe deu um cabrito para fazer festa. Coitado do pai! Um filho foi embora e o outro nunca permaneceu realmente próximo dele! O sofrimento do pai é como o de Deus, o de Jesus quando nos afastamos ou porque vamos embora ou porque estamos perto, mas sem o estar deveras.
Reconhecer-se irmãos e filhos de Deus
Também o filho mais velho precisa de misericórdia. Inclusive os justos, aqueles que se julgam justos, têm necessidade de misericórdia. Este filho representa cada um de nós, quando nos perguntamos se vale a pena labutar tanto, se depois nada recebemos em troca. Jesus recorda-nos que não permanecemos na casa do Pai para receber uma recompensa, mas porque temos a dignidade de filhos corresponsáveis. Não se trata de “negociar” com Deus, mas de seguir Jesus que se entregou incondicionalmente na cruz.
“Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Convinha, porém, fazer festa...” (vv. 31-32). Assim diz o Pai ao filho mais velho. A sua lógica é a da misericórdia! O filho mais jovem pensava que merecia um castigo por causa dos seus pecados, e o filho mais velho esperava uma recompensa pelos seus serviços. Os dois irmãos não falam entre si, vivem histórias diferentes, mas ambos raciocinam segundo uma lógica alheia a Jesus: se fizeres o bem, receberás uma recompensa, se fizerem o mal serás punido; esta não é a lógica de Jesus, não! Esta lógica é invertida pelas palavras do pai: “Convinha, porém, fazer festa, pois este teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado” (v. 31). O pai recuperou o filho perdido e agora pode inclusive restituí-lo ao seu irmão! Sem o filho mais jovem, também o filho mais velho deixa de ser um “irmão”. A maior alegria para o pai é ver que os seus filhos se reconheçam irmãos.
Os filhos podem decidir se querem unir-se à alegria do pai ou rejeitá-la. Devem interrogar-se sobre os próprios desejos e sobre a sua visão da vida. A parábola termina deixando o final suspenso: não sabemos o que o filho mais velho decidiu fazer. E isto é um estímulo para nós. Este Evangelho ensina-nos que todos temos necessidade de entrar na casa do Pai e participar da sua alegria, na festa da misericórdia e da fraternidade. Irmãos e irmãs, abramos o nosso coração para sermos “misericordiosos como o Pai”!
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 11 de maio de 2016
Caros irmãos e irmãs!
Entre os numerosos aspetos da misericórdia, há um que consiste em sentir piedade ou dó de quantos têm necessidade de amor. A pietas – a piedade – é um conceito presente no mundo greco-romano, no qual indicava, contudo, um gesto de submissão aos superiores: antes de tudo, a devoção devida aos deuses, depois o respeito dos filhos pelos pais, sobretudo pelos idosos. Hoje, ao contrário, devemos estar atentos a não identificar a piedade com aquele pietismo, bastante difundido, que é somente uma emoção superficial e ofende a dignidade do outro. Do mesmo modo, a piedade também não pode ser confundida com a compaixão que sentimos pelos animais que vivem ao nosso lado; com efeito, às vezes temos este sentimento pelos animais, mas permanecemos indiferentes diante dos sofrimentos dos irmãos. Quantas vezes vemos pessoas muito apegadas a gatos e a cães, mas que não ajudam o vizinho, a vizinha em necessidade... Assim não pode ser!
A piedade da qual queremos falar é uma manifestação da misericórdia de Deus. É um dos sete dons do Espírito Santo que o Senhor oferece aos seus discípulos para os tornar “dóceis, na obediência pronta, às inspirações divinas” (Catecismo da Igreja Católica, 1830). Nos Evangelhos é muitas vezes citado o clamor espontâneo que as pessoas doentes, endemoninhadas, pobres ou aflitas dirigem a Jesus: “Tem piedade!” (cf. Mc 10,47-48; Mt 15,22; 17,15). A todos Jesus respondia com o olhar da misericórdia e com o alívio da sua presença. Em tais invocações de ajuda, ou súplicas de piedade, cada um manifestava inclusive a própria fé em Jesus, chamando-lhe “Mestre”, “Filho de Davi”, “Senhor”. Intuíam que nele havia algo extraordinário, que os podia ajudar a sair da condição de tristeza em que se encontravam. Sentiam nele o amor do próprio Deus. E até quando a multidão se aglomerava, Jesus ouvia aquelas invocações de piedade e sentia compaixão, principalmente quando via pessoas sofredoras e feridas na sua dignidade, como no caso da hemorroíssa (cf. Mc 5,32). Ele chamava as pessoas a terem confiança nele e na sua Palavra (cf. Jo 6,48-55). Para Jesus, sentir piedade equivale a compartilhar a tristeza de quantos o encontram, mas ao mesmo tempo a agir pessoalmente para a transformar em alegria.
Também nós somos chamados a cultivar em nós atitudes de piedade diante de tantas situações da vida, libertando-nos da indiferença que impede o reconhecimento das exigências dos irmãos que nos circundam, e livrando-nos da escravidão do bem-estar material (cf. 1Tm 6,3-8).
Contemplemos o exemplo da Virgem Maria, que cuida de cada um dos seus filhos e para nós crentes é ícone da piedade. Dante Alighieri exprime-o na prece a Nossa Senhora, posta no ápice do Paraíso: “Em ti misericórdia, em ti piedade [...] em ti se reúne toda a bondade que existe na criatura” (XXXIII, 19-21). Obrigado!
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 14 de maio de 2016
Para entender o dom da Piedade
É preciso esclarecer logo que este dom não se identifica com ter compaixão de alguém, ter piedade do próximo, mas indica a nossa pertença a Deus e a nossa ligação profunda com Ele, uma ligação que dá sentido a toda a nossa vida e que nos mantém sadios, em comunhão com Ele, mesmo nos momentos mais difíceis e conturbados. Esta ligação com o Senhor não deve ser entendida como um dever ou uma imposição. É uma ligação que vem de dentro. Trata-se de uma relação vivida com o coração: é a nossa amizade com Deus, dada a nós por Jesus, uma amizade que muda a nossa vida e nos enche de entusiasmo, de alegria. Por isso, o dom da piedade suscita em nós antes de tudo a gratidão e o louvor. É este, na verdade, o motivo e o sentido mais autêntico do nosso culto e da nossa adoração. Quando o Espírito Santo nos faz perceber a presença do Senhor e todo o seu amor por nós, aquece-nos o coração e nos move quase naturalmente à oração e à celebração. Piedade, então, é sinônimo de autêntico espírito religioso, de intimidade filial com Deus, daquela capacidade de rezar a Ele com amor e simplicidade que é própria das pessoas humildes de coração. O dom da piedade significa ser realmente capaz de alegrar-se com quem está na alegria, de chorar com quem chora, de estar próximo a quem está sozinho ou angustiado, de corrigir quem está no erro, de consolar quem está aflito, de acolher e socorrer quem está precisando. Há uma relação muito estreita entre o dom da piedade e a mansidão. O dom da piedade que nos dá o Espírito Santo nos faz mansos, nos faz tranquilos, pacientes, em paz com Deus, a serviço dos outros com mansidão.
Trecho da Audiência Geral do papa Francisco, de 4 de junho de 2014
Estimados irmãos e irmãs!
Hoje desejo meditar convosco sobre a parábola do homem rico e do pobre Lázaro. A vida destas duas pessoas parece correr por vias paralelas: as suas condições de vida são opostas e totalmente incomunicantes. O portão da casa do rico está sempre fechado ao pobre, que permanece ali, fora, procurando comer algumas migalhas que caem da mesa do rico. O rico veste-se com roupas de luto, enquanto Lázaro está coberto de chagas; cada dia o rico dá banquetes requintados, enquanto Lázaro morre de fome. Só os cães cuidam dele e vão lamber as suas feridas. Esta cena recorda a dura admoestação do Filho do homem no Juízo final: “Tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, estava [...] nu e não me revestistes” (Mt 25,42-43). Lázaro representa bem o grito silencioso dos pobres de todos os tempos e a contradição de um mundo em que riquezas e recursos imensos se encontram nas mãos de poucos.
Jesus diz que um dia aquele homem rico faleceu: os pobres e os ricos morrem, têm o mesmo destino, como todos nós, para isto não há exceção. E então aquele homem dirigiu-se a Abraão, suplicando-o com o apelativo de “pai” (vv. 24.27). Portanto, reivindica ser seu filho, pertencente ao povo de Deus. E, no entanto, durante a vida não demonstrou consideração alguma por Deus, ao contrário, fez de si mesmo o centro de tudo, fechado no seu mundo de luxo e de desperdício. Excluindo Lázaro, não teve em conta nem o Senhor, nem a sua lei. Ignorar o pobre significa desprezar a Deus! Devemos aprender bem isto. Ignorar o pobre significa desprezar a Deus! Há um pormenor na parábola que deve ser observado: o rico não tem um nome, mas somente um adjetivo: “o rico”; enquanto o nome do pobre é repetido cinco vezes, e “Lázaro” quer dizer “Deus ajuda”. Lázaro, que jaz diante da porta, é uma evocação viva ao rico, para se recordar de Deus, mas o rico não aceita tal evocação. Portanto, será condenado não pelas suas riquezas, mas por ter sido incapaz de sentir compaixão por Lázaro e de socorrê-lo.
Jesus vem ao nosso encontro pelos pobres
Na segunda parte da parábola, voltamos a encontrar Lázaro e o rico, depois da sua morte (vv. 22-31). No além, a situação inverteu-se: o pobre Lázaro é levado pelos anjos para o céu, para junto de Abraão, enquanto que o rico precipita no meio dos tormentos. Então, o rico “ergueu o olhar e viu Abraão à distância, e Lázaro ao seu lado”. Parece que ele vê Lázaro pela primeira vez, mas as suas palavras atraiçoam-no: “Pai Abraão – diz – compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas”. Agora, o rico reconhece Lázaro e pede-lhe ajuda, mas quando vivia fingia que não o via. Quantas vezes tantas pessoas fingem que não veem os pobres! Para elas, os pobres não existem. Antes, negava-lhe até as migalhas da sua mesa, e agora gostaria que ele lhe desse de beber! Ainda crê que pode aduzir direitos, devido à sua condição social precedente. Declarando que é impossível atender ao seu pedido, o próprio Abraão oferece a chave de toda a narração: explica que bens e males foram distribuídos de modo a compensar a injustiça terrena, e a porta que durante a vida separava o rico do pobre transformou-se num “grande abismo”. Enquanto Lázaro jazia diante da sua casa, para o rico havia a possibilidade de salvação, de abrir a porta de par em par e de ajudar Lázaro, mas agora que ambos faleceram, a situação tornou-se irreparável. Deus nunca é diretamente interpelado, mas a parábola alerta de maneira clara: a misericórdia de Deus por nós está vinculada à nossa misericórdia pelo próximo; quando esta falta, também aquela não encontra espaço no nosso coração fechado, não pode entrar. Se eu não escancarar a porta do meu coração ao pobre, aquela porta permanece fechada. Inclusive para Deus. E isto é terrível!
Nesta altura, o rico pensa nos seus irmãos, que correm o risco de ter o mesmo destino, e pede que Lázaro possa voltar ao mundo para os repreender. Mas Abraão responde: “Eles têm Moisés e os profetas; que os ouçam!”. Para nos convertermos, não devemos aguardar acontecimentos prodigiosos, mas abrir o nosso coração à Palavra de Deus, que nos chama a amar a Deus e ao próximo. A Palavra de Deus pode fazer renascer um coração que se tornou insensível e curá-lo da sua cegueira. O rico conhecia a Palavra de Deus, mas não permitiu que ela entrasse no seu coração, não a ouviu, e por isso foi incapaz de abrir os olhos e de sentir compaixão pelo pobre. Nenhum mensageiro nem mensagem alguma poderão substituir os pobres que encontramos no caminho, porque neles é o próprio Jesus que vem ao nosso encontro: “Todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25,40), diz Jesus. Assim, na inversão dos destinos que a parábola descreve está escondido o mistério da nossa salvação, na qual Cristo une a pobreza à misericórdia.
Caros irmãos e irmãs, ouvindo este Evangelho, todos nós, juntamente com os pobres da terra, podemos entoar com Maria: “Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos” (Lc 1,52-53).
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 18 de maio de 2016
Caros irmãos e irmãs!
A parábola evangélica que há pouco ouvimos (cf. Lc 18,1-8) contém um ensinamento importante: “A necessidade de orar sempre, sem nunca se cansar” (v. 1). Portanto, não se trata de rezar às vezes, quando tenho vontade. Não! Jesus diz que é preciso “orar sempre, sem se cansar”. E cita o exemplo da viúva e do juiz.
O juiz é uma personalidade poderosa, chamada a emitir sentenças com base na Lei de Moisés. Por isso, a tradição bíblica recomendava que os juízes fossem pessoas tementes a Deus, dignas de fé, imparciais e incorruptíveis (cf. Ex 18,21). Ao contrário, este juiz “não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma” (v. 2). Era um juiz iníquo, sem escrúpulos, que não tinha em consideração a Lei, mas fazia o que queria, segundo o próprio interesse. Uma viúva vai ter com ele para obter justiça. As viúvas, juntamente com os órfãos e com os estrangeiros, eram as categorias mais frágeis da sociedade. Os direitos que lhes eram assegurados pela Lei podiam ser espezinhados com facilidade porque, dado que eram pessoas sós e indefesas, dificilmente podiam fazer-se valer: uma pobre viúva, ali sozinha, ninguém a defendia, podiam ignorá-la, sem lhe fazer justiça. Do mesmo modo também o órfão, o estrangeiro, o migrante: naquela época esta problemática era muito acentuada. Diante da indiferença do juiz, a viúva recorre à sua única arma: continuar insistentemente a importuná-lo, apresentando-lhe o seu pedido de justiça. E é precisamente com essa perseverança que ela alcança a sua finalidade. Com efeito, numa certa altura o juiz atende-a, mas não porque é impelido pela misericórdia, nem porque a consciência lho impõe; ele simplesmente admite: “Dado que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me molestar” (v. 5). Desta parábola Jesus haure uma dupla conclusão: se a viúva conseguiu convencer o juiz desonesto com os seus pedidos insistentes, tanto mais Deus, que é Pai bom e justo, “fará justiça aos seus escolhidos, que clamam por Ele dia e noite”; e além disso, não os “fará esperar muito tempo”, mas agirá “imediatamente” (vv. 7-8).
Por isso Jesus exorta a rezar “sem se cansar”. Todos nós sentimos momentos de cansaço e de desânimo, sobretudo quando a nossa oração parece ineficaz. Mas Jesus tranquiliza-nos: diversamente do juiz desonesto, Deus atende os seus filhos de modo imediato, embora isto não signifique que o faça segundo os tempos e modos que nós gostaríamos. A oração não é uma varinha mágica! Ela ajuda a conservar a fé em Deus, a confiar em Deus até quando não compreendemos a sua vontade. Nisto, o próprio Jesus – que rezava muito! – serve-nos de exemplo.
A oração preserva a fé
A Carta aos Hebreus recorda que “nos dias da sua vida mortal, [Ele] dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade” (5,7). À primeira vista esta afirmação parece improvável, porque Jesus morreu na cruz. E no entanto a Carta aos Hebreus não se engana: Deus salvou verdadeiramente Jesus da morte, vencendo-a com uma vitória completa, mas o caminho que teve de percorrer para a alcançar passou através da própria morte! A referência à súplica que Deus atendeu remete para a oração de Jesus no Getsêmani. Tomado pela angústia incumbente, Jesus reza ao Pai para que o livre do cálice amargo da paixão, mas a sua prece está permeada de confiança no Pai e Ele entrega-se incondicionalmente à sua vontade: “Contudo – diz Jesus – não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres” (Mt 26,39). O objeto da oração passa para segundo plano; o que importa antes de tudo é a relação com o Pai. Eis o que faz a oração: transforma o desejo, modelando-o segundo a vontade de Deus, qualquer que ela seja, porque quem ora aspira em primeiro lugar à união com Deus, que é Amor misericordioso.
A parábola conclui-se com uma pergunta: “Mas quando vier o Filho do Homem, acaso encontrará fé sobre a terra?” (v. 8). E com esta interrogação estamos todos alertados: não devemos desistir da oração, mesmo que não seja correspondida. É a prece que preserva a fé, pois sem ela a fé vacila! Peçamos ao Senhor uma fé que se faz oração incessante, perseverante, como a da viúva da parábola, uma fé que se alimenta do desejo da sua vinda. E na prece experimentamos a compaixão de Deus que, como um Pai, vem ao encontro dos seus filhos cheio de amor misericordioso.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 25 de maio de 2016.
Amados irmãos e irmãs!
Na semana passada ouvimos a parábola do juiz e da viúva, sobre a necessidade de rezar com perseverança. Hoje, com outra parábola, Jesus quer ensinar-nos qual é a atitude certa para rezar e invocar a misericórdia do Pai; como devemos rezar; a atitude correta para orar. É a parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14).
Ambos os protagonistas vão ao templo para orar, mas agem de modos muitos diferentes, obtendo êxitos opostos. O fariseu reza “de pé” (v. 11) e usa muitas palavras. A sua é uma prece de ação de graças a Deus, mas na realidade é uma manifestação dos próprios méritos, com sentido de superioridade em relação aos “outros homens”, qualificados como “ladrões, injustos, adúlteros”, como, por exemplo — e indica aquele outro que estava ali — “o publicano” (v. 11). Mas este é o problema: o fariseu reza a Deus, mas na verdade olha para si mesmo. Ora por si mesmo! Em vez de ter diante dos olhos o Senhor, tem um espelho. Não obstante esteja no templo, não sente a necessidade de se prostrar diante da majestade de Deus; está de pé, sente-se seguro, como se fosse o dono do templo! E enumera as boas obras realizadas: é irrepreensível, observa a Lei mais do que lhe é devido, jejua “duas vezes por semana” e paga o “dízimo” de tudo o que possui. Em síntese, mais do que rezar, o fariseu deleita-se com a sua observância dos preceitos. E, no entanto, a sua atitude e as suas palavras estão longe do modo de agir e de falar de Deus, que ama todos os homens, sem desprezar os pecadores. Ao contrário, o fariseu despreza os pecadores, inclusive quando indica o outro ali presente. Em suma, o fariseu que se sente justo descuida o mandamento mais importante: o amor a Deus e ao próximo.
Portanto, não é suficiente perguntar-nos quanto oramos, mas devemos interrogar-nos também como rezamos, melhor, como é o nosso coração: é importante examiná-lo para avaliar os pensamentos, os sentimentos, e extirpar a arrogância e a hipocrisia. Mas eu pergunto: é possível rezar com arrogância? Não! Com hipocrisia? Não! Só devemos orar pondo-nos diante de Deus tais como somos. Não como o fariseu, que rezava com arrogância e hipocrisia. Vivemos todos arrebatados pelo delírio do ritmo diário, muitas vezes à mercê de sensações, atordoados, confusos. É preciso aprender a encontrar o caminho do nosso coração, recuperar o valor da intimidade e do silêncio, pois é ali que Deus nos encontra e nos fala. Só a partir dali podemos por nossa vez encontrar os outros e falar com eles. O fariseu vai ao templo, sente-se seguro de si mesmo, mas não se dá conta de ter perdido o caminho do seu coração.
Ao contrário, o publicano — o outro — vai ao templo com espírito humilde e arrependido: “Mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito” (v. 13). A sua prece é muito breve, não longa como a do fariseu: “Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!”. Nada mais. Uma linda oração! Com efeito, os cobradores de impostos — chamados precisamente “publicanos” — eram considerados pessoas impuras, submetidas aos dominadores estrangeiros, eram desprezados pelo povo e em geral associados aos “pecadores”. A parábola ensina que a pessoa é justa ou pecadora não pela sua pertença social, mas pelo seu modo de se relacionar com Deus, pelo seu modo de se comportar com os irmãos. Os gestos de penitência e as poucas e simples palavras do publicano atestam a consciência acerca da sua condição miserável. A sua prece é essencial. Age com humildade, só está seguro de ser um pecador necessitado de piedade. Se o fariseu nada pedia porque já possuía tudo, o publicano só pode implorar a misericórdia de Deus. E isto é bonito: suplicar a misericórdia de Deus! Apresentando-se “de mãos vazias”, com o coração despojado e reconhecendo-se pecador, o publicano mostra a todos nós a condição necessária para receber o perdão do Senhor. No final é precisamente ele, tão desprezado, que se torna um ícone do autêntico crente.
Jesus conclui a parábola com uma sentença: “Digo-vos: ele — ou seja, o publicano — ao contrário do outro, voltou para casa justificado. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado” (v. 14). Qual deles é o corrupto? O fariseu. Ele é precisamente o ícone do corrupto que faz de conta que reza, mas só consegue pavonear-se diante de um espelho. É um corrupto e finge que reza. Assim, na vida, quem se considera justo e julga o próximo desprezando-o é um corrupto, um hipócrita. A soberba compromete todas as boas ações, esvazia a oração, afasta de Deus e do próximo. Se Deus prefere a humildade não é para nos aviltar: a humildade é, sobretudo uma condição necessária para sermos elevados por Ele, de modo a experimentarmos a misericórdia que preenche os nossos vazios. Se a prece do soberbo não alcançar o Coração de Deus, a humildade do miserável abre-o de par em par. Deus tem uma fragilidade: a debilidade pelos humildes. Diante de um coração humilde, Deus abre totalmente o seu Coração. É esta humildade que a Virgem Maria exprime no cântico do Magnificat: “Olhou para a humildade da sua serva [...] A sua misericórdia estende-se, de geração em geração, sobre os que o temem” (Lc 1,48.50). Que Ela, nossa Mãe, nos ajude a rezar com um coração humilde. E nós repitamos três vezes esta linda prece: “Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!”.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 1º de junho de 2016
Na manhã do dia 17 de setembro, o arcebispo Dom Washington Cruz recebeu das mãos do reitor do santuário nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padre João Batista de Almeida, a imagem peregrina da Padroeira do Brasil, após presidir a missa na basílica, concelebrada pelo bispo auxiliar, Dom Levi Bonatto, e pelos padres Rodrigo de Castro, coordenador arquidiocesano de pastoral; João Batista de Lima, Max Costa, Divino Antônio da Silva, Jonisoncley Santos, Márcio Celestino da Silva, Paulo Roberto e Vitor Simão.
A recepção da imagem aconteceu por ocasião da 13ª Romaria da Arquidiocese de Goiânia a Aparecida, que aconteceu de 14 a 19 de setembro e reuniu 538 romeiros, que foram ao Santuário Nacional em caravanas de ônibus e avião.
A missa de entrega da imagem peregrina foi, segundo Dom Washington Cruz, o momento mais alto da romaria, porque “em Aparecida, pela Eucaristia, Nossa Senhora nos oferece o fruto bendito do seu ventre.”, disse em sua homilia. O arcebispo também comentou que “o Santuário de Nossa Senhora Aparecida é memória viva das nossas origens, sinal visível de que Deus eleva os humildes”, e lembrou a todos os presentes ali que o chão que pisavam se tratava de “um dos lugares mais sagrados da piedade do nosso povo católico.”. Por fim, pediu “que recorramos muitas vezes a Nossa Senhora Aparecia, Rainha e Padroeira do Brasil, para que ajude nossa Pátria a vencer a crise política e econômica e a restaurar na vida pública os valores do Evangelho, que fazem grande uma nação e é o caminho para o progresso e para a paz verdadeira.”.
O reitor do santuário, padre João Batista, ao entregar a imagem para a Igreja de Goiânia, pediu que, nesse momento de preparação ao Jubileu dos 300 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora no Rio Paraíba, “a Mãe Aparecida visite todas as paróquias, comunidades, escolas, presídios, locais de recuperação de dependentes químicos, e todos os lugares onde as portas forem abertas e leveis a eles o Vosso Filho Jesus, nossa esperança, nossa razão de viver”.
Pela primeira vez no santuário, Ordália Dias dos Santos, que mora em Paraúna (GO), contou que foi a Aparecida agradecer à Padroeira do Brasil por ter intercedido pela sua vida, ainda na infância. “Tive depressão, gastrite e úlcera aos oito anos de idade. Fiquei em coma por três vezes e, nessas ocasiões, me veio a visão de uma mulher que me dizia: ‘volta’. No hospital, uma senhora que me acompanhava me disse que eu seria curada por Nossa Senhora Aparecida. Ela pediu para eu viver uma vida normal, estudar, formar e depois ir em romaria a Aparecida (SP) e agora, aos 47 anos de idade, eu estou aqui para agradecer o milagre de Nossa Senhora Aparecida que me deu a oportunidade de viver para cumprir minha missão aqui na terra”.
Imagem peregrina na Arquidiocese de Goiânia
Uma longa programação de visita da imagem jubilar de Nossa Senhora Aparecida está sendo organizada para visitar todas as paróquias e comunidades da Arquidiocese de Goiânia. A acolhida será no Santuário Basílica de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Matriz de Campinas), no dia 9 de outubro. No dia 12, ela visitará a Paróquia São João Batista, Colina Azul, em Aparecida de Goiânia, com recepção às 14h, na matriz; reza do ofício da Imaculada Conceição, às 15h, e carreata às 17h até a Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Matriz, de Aparecida de Goiânia) onde fica até dia 13. No mesmo dia até o dia 15, o ícone segue para a Paróquia Imaculada Conceição, do Setor Pontal Sul I; no dia 18, a peregrinação continua nas Paróquias Santa Cruz e Nossa Senhora da Penha; dia 19, na Cristo Rei; 20, na Santo Eugênio Mazenod; dia 21, na Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Jardim Tiradentes; 22, na Paróquia Divino Pai Eterno, na Vila Alzira, e 23, segue para Hidrolândia.
Bispo referencial
Dom Marcony Vinícius Ferreira
Coordenador: Pe. Fábio Carlos
Contato (62) 99439-6064
E-mail: padrefc@outlook.com
© 2025 CNBB Centro-Oeste - Todos os direitos reservados
Rua 93, nº 139, Setor Sul, CEP 74.083-120 - Goiânia - GO - 62 3223-1854