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Prezados irmãos e irmãs!

Prossigamos as catequeses sobre a misericórdia na Sagrada Escritura. Em vários trechos fala-se dos poderosos, dos reis, dos homens que estão “no alto”, e também da sua arrogância e dos seus abusos. A riqueza e o poder são realidades que podem ser boas e úteis para o bem comum, se forem postas ao serviço dos pobres e de todos, com justiça e caridade. Mas quando, como muitas vezes acontece, são vividas como privilégio, egoísmo e prepotência, transformam-se em instrumentos de corrupção e morte. Foi o que aconteceu no episódio da vinha de Nabot, descrito no capítulo 21 do primeiro Livro dos Reis, sobre o qual hoje meditaremos.

Nesse texto narra-se que o rei de Israel, Acab, quer comprar a vinha de um homem chamado Nabot, porque aquela vinha confina com o palácio real. A proposta parece legítima, até generosa, mas em Israel as propriedades rurais eram consideradas quase inalienáveis. Com efeito, o livro do Levítico prescreve: “A terra não se venderá para sempre, porque a terra é minha, e vós estais na minha casa como estrangeiros ou hóspedes” (Lv 25,23). A terra é sagrada, porque constitui um dom do Senhor que, como tal, deve ser guardado e preservado, pois é sinal da bênção divina que passa de geração em geração, e garantia de dignidade para todos. Compreende-se assim a resposta negativa de Nabot ao rei: “Deus me livre de te ceder a herança dos meus pais!” (1Rs 21, 3).

O rei Acab reage a essa rejeição com amargura e indignação. Sente-se ofendido – ele é o rei, o poderoso – diminuído na sua autoridade de soberano e frustrado na possibilidade de satisfazer o seu desejo de posse. Vendo-o tão abatido, a sua esposa Jezabel, uma rainha pagã que tinha aumentado os cultos idolátricos e mandava matar os profetas do Senhor (cf. 1Rs 18,4) – não era feia, mas maldosa! – decide intervir. As palavras com as quais se dirige ao rei são muito significativas. Escutai a maldade que está por detrás dessa mulher: “Não és tu, porventura, o rei de Israel? Vamos! Come, não te incomodes. Eu dar-te-ei a vinha de Nabot de Jezrael” (v. 7). Ela põe em evidência o prestígio e o poder do rei que, segundo o seu modo de ver, são postos em discussão pela rejeição de Nabot. Um poder que, ao contrário, ela considera absoluto e mediante o qual todos os desejos do rei se tornam uma ordem. O grande santo Ambrósio escreveu um livrinho sobre esse episódio. Chama-se “Nabot”. Seria bom lê-lo neste tempo de Quaresma. É muito bonito e deveras concreto.

Autoridade sem misericórdia leva à morte

Recordando tudo isso, Jesus diz-nos: “Sabeis que os chefes das nações as subjugam, e que os grandes as governam com autoridade. Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, que se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se o primeiro entre vós, que se faça vosso escravo” (Mt 20,25-27). Se perdermos a dimensão do serviço, o poder transforma-se em arrogância, tornando-se domínio e opressão. É precisamente isso que acontece no episódio da vinha de Nabot. Sem escrúpulos, a rainha Jezabel decide eliminar Nabot e põe em ação o seu plano. Serve-se das aparências enganadoras de uma legalidade perversa: em nome do rei, envia cartas aos anciãos e aos notáveis da cidade, ordenando que falsas testemunhas acusem publicamente Nabot de ter amaldiçoado a Deus e ao rei, um crime que devia ser punido com a morte. Assim, assassinando Nabot, o rei pode apoderar-se da sua vinha. E não se trata de uma história de outros tempos, mas é uma história também dos nossos dias, dos poderosos que, por terem mais dinheiro, exploram os pobres, exploram o povo. É a história do tráfico de pessoas, do trabalho escravo, dos simples que labutam clandestinamente, com um salário mínimo, para enriquecer os poderosos. É a história dos políticos corruptos, que querem cada vez mais! Por isso eu dizia que seria bom ler esse livro de santo Ambrósio, porque se trata de um livro de atualidade.

Eis para onde leva o exercício de uma autoridade sem respeito pela vida, sem justiça e sem misericórdia. E eis para onde leva a sede de poder: torna-se ganância que deseja possuir tudo. A esse propósito, há um texto do profeta Isaías que é particularmente iluminador. Nele, o Senhor alerta contra a avidez os ricos latifundiários que querem possuir cada vez mais casas e terrenos. E assim diz o profeta Isaías:

“Ai de vós, que ajuntais casa a casa / e que acrescentais campo a campo / até que não haja mais lugar / e que sejais os únicos / proprietários da terra” (Is 5,8).

E o profeta Isaías não era comunista! No entanto, Deus é maior do que a malvadez e os jogos sujos feitos pelos seres humanos. Na sua misericórdia envia o profeta Elias para ajudar Acab a converter-se. Agora viremos a página, e como continua a história? Deus vê esse crime e bate também à porta do coração de Acab; e o rei, posto diante do seu pecado, compreende, humilha-se e pede perdão. Como seria bom se os poderosos exploradores de hoje fizessem o mesmo! O Senhor aceita o seu arrependimento; no entanto, um inocente foi assassinado, e a culpa cometida terá consequências inevitáveis. Com efeito, o mal praticado deixa os seus vestígios dolorosos, e a história dos homens traz as suas feridas.

Também neste caso, a misericórdia indica a via mestra que deve ser percorrida. A misericórdia pode curar as chagas e inclusive mudar a história. Abre o teu coração à misericórdia! A misericórdia divina é mais forte do que o pecado dos homens. É mais forte, esse é o exemplo de Acab! Nós conhecemos o seu poder, quando recordamos a vinda do Inocente Filho de Deus que se fez homem para destruir o mal com o seu perdão. Jesus Cristo é o verdadeiro rei, mas o seu poder é completamente diferente. O seu trono é a cruz. Ele não é um rei que mata, mas, ao contrário, dá a vida. O seu ir ao encontro de todos, sobretudo dos mais frágeis, derrota a solidão e o destino de morte para o qual leva o pecado. Com a sua proximidade e ternura, Jesus Cristo leva os pecadores ao espaço da graça e do perdão. É nisso que consiste a misericórdia de Deus.

Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 24 de fevereiro de 2016

 

 

 

Amados irmãos e irmãs,

Falando da misericórdia divina, evocamos várias vezes a figura de família que ama os seus filhos, os ajuda, cuida deles, os perdoa. E como pai, educa-os e corrige-os quando erram, favorecendo o seu crescimento no bem.

É assim que Deus é apresentado no primeiro capítulo do profeta Isaías, no qual o Senhor, como pai afetuoso, mas também atento e severo, se dirige a Israel acusando-o de infidelidade e corrupção, para reconduzi-lo ao caminho da justiça. O nosso texto começa assim: “Ouvi, ó céus, e presta ouvidos, tu, ó terra, / porque fala o Senhor: / Criei filhos e cuidei deles, / mas eles prevaricaram contra mim. / O boi conhece o seu possuidor, / e o jumento, a manjedoura do seu dono, / mas Israel não tem conhecimento, / o meu povo não entende” (1,2-3).

Deus, mediante o profeta, fala ao povo com a amargura de um pai desiludido: fez crescer os seus filhos, e agora eles revoltaram-se contra Ele. Até os animais são fiéis ao seu dono e reconhecem a mão que os alimenta; ao contrário, o povo já não reconhece Deus, recusa compreender. Mesmo se ferido, Deus deixa falar o homem, e apela-se à consciência desses filhos degenerados para que se corrijam e se deixem amar de novo. Eis o que Deus faz! Vem ao nosso encontro para que nos deixemos amar por Ele, pelo nosso Deus.

A relação pai-filho, à qual com frequência os profetas fazem referência ao falar da relação da aliança entre Deus e o seu povo, desvirtuou-se. A missão educativa dos pais tem por finalidade fazê-los crescer na liberdade, torná-los responsáveis, capazes de realizar obras de bem para si e para os outros. Ao contrário, por causa do pecado, a liberdade torna-se pretensão de autonomia, pretensão de orgulho, e o orgulho leva à contraposição e à ilusão de autossuficiência.

Caminho para o perdão e a conversão

Eis então que Deus chama o seu povo: “Erraste o caminho”. Afetuosa e amargamente diz o “meu” povo. Deus nunca nos renega; nós somos o seu povo, o mais malvado dos homens, a mais maldosa das mulheres, os mais malvados dos povos são seus filhos. E este é Deus: nunca, nunca nos renega! Diz sempre: “Vem, filho”. É esse o amor do nosso Pai; essa é a misericórdia de Deus. Ter um pai assim que nos dá esperança, nos dá confiança. Essa pertença deveria ser vivida na confiança e na obediência, com a consciência de que tudo é dom que vem do amor do Pai. E ao contrário, eis a vaidade, a estultícia e a idolatria.

Por isso agora o profeta dirige-se diretamente a esse povo com palavras severas a fim de ajudá-lo a compreender a gravidade da sua culpa: “Ai da nação pecadora [...], dos filhos corruptos! / Deixaram o Senhor, / blasfemaram do Santo de Israel, / voltaram para trás” (v. 4).

A consequência do pecado é um estado de sofrimento, do qual sofre as consequências também o país, devastado e desertificado, a ponto que Sião – ou seja, Jerusalém – se torna inabitável. Onde há a recusa de Deus, da sua paternidade, deixa de haver possibilidade de vida, a existência perde as suas raízes, tudo parece pervertido e aniquilado. Todavia, também esse momento doloroso é em vista da salvação. A prova é dada para que o povo possa experimentar a amargura de quem abandona Deus, e, por conseguinte, confrontar-se com o vazio desolador de uma escolha de morte. O sofrimento, consequência inevitável de uma decisão autodestruidora, deve fazer refletir o pecador a fim de abri-lo à conversão e ao perdão.

Corações abertos à misericórdia

É este o caminho da misericórdia divina: Deus não nos trata segundo as nossas culpas (cf. Sl 103,10). A punição torna-se o instrumento para provocar e refletir. Compreende-se assim que Deus perdoa o seu povo, concede a graça e não destrói tudo, mas deixa sempre aberta a porta à esperança. A salvação implica a decisão de ouvir e deixar-se converter, mas permanece sempre dom gratuito. Por conseguinte, o Senhor na sua misericórdia, indica um caminho que não é o dos sacrifícios rituais, mas antes o da justiça. O culto é criticado não por ser inútil em si mesmo, mas porque, em vez de expressar a conversão, pretende substituí-la; e torna-se assim busca da própria justiça, criando a enganadora convicção que aquilo que salva são os sacrifícios e não a misericórdia divina que perdoa o pecado. Para compreendê-la bem: quando alguém está doente vai ao médico; quando alguém se sente pecador vai ter com o Senhor. Mas se em vez de ir ao médico, procura o curandeiro não se restabelece. Muitas vezes não vamos ao encontro do Senhor, mas preferimos percorrer veredas erradas, procurando fora d’Ele uma justificação, uma justiça, uma paz. A Deus, diz o profeta Isaías, não agrada o sangue de touros e de cordeiros (v. 11), sobretudo se a oferta é feita com mãos manchadas com o sangue dos irmãos (v. 15). Mas eu penso que alguns benfeitores da Igreja vêm com a oferta – “Tome esta oferta para a Igreja” – que é fruto do sangue de tanta gente explorada, maltratada, escravizada com o trabalho mal pago! Eu diria a estas pessoas: “Por favor, leva de volta contigo o teu cheque, queima-o”. O povo de Deus, isto é, a Igreja, não precisa de dinheiro sujo, precisa de corações abertos à misericórdia de Deus. É preciso aproximar-se de Deus com mãos purificadas, evitando o mal e praticando o bem e a justiça. Admirável o modo como o profeta termina: “... cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; / praticai o que é reto; / ajudai o oprimido; / fazei justiça ao órfão; / tratai da causa das viúvas” (vv. 16-17).

Pensai nos tantos refugiados que desembarcam na Europa e não sabem para onde ir. Então, diz o Senhor, os pecados, mesmo que sejam vermelho escarlate, eles se tornarão brancos como a neve, e cândidos como a lã, e o povo poderá alimentar-se dos bens da terra e viver em paz (v. 19).

Eis o milagre do perdão de Deus; o perdão que Deus, como Pai, deseja doar ao seu povo. A misericórdia de Deus é oferecida a todos, e essas palavras do profeta são válidas também hoje para todos nós, chamados a viver como filhos de Deus.

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 2 de março de 2016

 

Sábado, 12 Março 2016 13:07

O serviço como misericórdia ao próximo

 

Amados irmãos e irmãs,

Estamos na Páscoa, mistério central da nossa fé. O Evangelho de João – como ouvimos – narra que antes de morrer e de ressuscitar por nós, Jesus realizou um gesto que ficou gravado na memória dos discípulos: o lava-pés. Um gesto inesperado e perturbador, a ponto que Pedro não queria aceitá-lo. Gostaria de analisar as palavras finais de Jesus: “Entendeis o que vos tenho feito? [...] Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros” (13,12.14). Desse modo Jesus indica aos seus discípulos o serviço como o caminho a percorrer para viver a fé n’Ele e dar testemunho do seu amor. O próprio Jesus aplicou a si a imagem do “Servo de Deus”, usada pelo profeta Isaías. Ele, que é o Senhor, faz-se servo!

Lavando os pés aos apóstolos, Jesus quis revelar o modo de agir de Deus em relação a nós, e dar o exemplo do seu “mandamento novo” (Jo 13,34) de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou, ou seja, dando a vida por nós. O próprio João o escreve na sua Primeira Carta: “Nisto, conhecemos a caridade: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. [...] Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (3,16.18).

Por conseguinte, o amor é o serviço concreto que prestamos uns aos outros. O amor não são palavras, são obras e serviço; um serviço humilde, feito no silêncio, recolhido, como o próprio Jesus disse: “não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mt 6,3). Ele significa pôr à disposição os dons que o Espírito Santo nos dispensou, para que a comunidade possa crescer (cf. 1Cor 12,4-11). Além disso, expressa-se na partilha dos bens materiais, para que ninguém esteja em necessidade. A partilha e a dedicação a quem está em necessidade é um estilo de vida que Deus sugere também a muitos não cristãos, como caminho de humanidade autêntica.

Caminho da misericórdia: rezar, confessar e servir

Por fim, não esqueçamos que lavando os pés aos discípulos e pedindo-lhes para fazerem o mesmo, Jesus nos convidou também a confessar reciprocamente as nossas faltas e a rezar uns pelos outros a fim de nos sabermos perdoar de coração. Neste sentido, recordamos as palavras do santo bispo Agostinho quando escrevia: “Que o cristão não desdenhe de fazer o que Cristo fez. Porque quando o corpo se inclina até aos pés do irmão, também no coração se acende, ou se já existia alimenta-se, o sentimento de humildade” [...] Perdoemo-nos reciprocamente as nossas faltas e rezemos pelas culpas uns dos outros, de modo que de alguma maneira nos lavaremos os pés mutuamente. O amor, a caridade é o serviço, ajudar os outros, servir os outros. Há tanta gente que passa a vida assim, no serviço dos outros. Na semana passada recebi uma carta de uma pessoa que me agradecia pelo Ano da Misericórdia; pedia-me que rezasse por ela, para que pudesse estar mais próxima do Senhor. Essa pessoa passa a vida a cuidar da mãe e do irmão: a mãe é idosa e está acamada, lúcida, mas não se pode mover, e o irmão é deficiente, está numa cadeira de rodas. A vida dessa pessoa consiste em servir, ajudar. E isso é amor! Quanto te esqueces de ti mesmo e pensas nos outros, isso é amor! E com o lava-pés o Senhor ensina-nos a servir, ou melhor: servos, como Ele foi servo para nós, para cada um de nós.

Portanto, queridos irmãos e irmãs, ser misericordiosos como o Pai significa seguir Jesus pelo caminho do serviço. Obrigado.

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 12 de março de 2016

 

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje gostaria de refletir brevemente sobre a Viagem Apostólica que realizei recentemente à Polônia.

A ocasião da visita foi a Jornada Mundial da Juventude, 25 anos depois daquela histórica celebrada em Częstochowa após a queda da “cortina de ferro”. Nestes 25 anos a Polônia mudou, a Europa mudou e também o mundo mudou, e esta JMJ tornou-se um sinal profético para a Polônia, a Europa e o mundo. A nova geração de jovens, herdeiros e continuadores da peregrinação iniciada por São João Paulo II, ofereceram a resposta ao desafio de hoje, deram um sinal de esperança e este sinal chama-se fraternidade. Porque, precisamente neste mundo de guerra, são necessários fraternidade, proximidade, diálogo e amizade. E este é o sinal da esperança: quando existe fraternidade.

Iniciemos precisamente dos jovens, que foram o primeiro motivo desta Viagem. Mais uma vez responderam ao chamado: provenientes de todo o mundo – alguns deles ainda estão aqui! (indicou os peregrinos na Sala) – uma festa de cor, de rostos diversos, de línguas, de histórias diferentes. Não sei como fazeis: falais línguas diferentes mas conseguis compreender-vos! E por quê? Porque sentem a mesma vontade de caminhar juntos, de construir pontes de fraternidade. Trouxeram inclusive as suas feridas, com as suas dúvidas, mas sobretudo com a alegria de se encontrar; e mais uma vez formaram um mosaico de fraternidade. Podemos falar de um mosaico de fraternidade. Uma imagem emblemática das Jornadas Mundiais da Juventude é a extensão multicor de bandeiras que tremulam: com efeito, na JMJ, as bandeiras das nações ficam ainda mais bonitas, por assim dizer “purificam-se”, e até as bandeiras de nações em conflito entre si tremulam uma ao lado da outra. Isso é lindo! Também aqui há bandeiras... mostrai-as!

Assim, no seu grande encontro jubilar, os jovens do mundo acolheram a mensagem da Misericórdia para levá-la a toda parte em obras espirituais e corporais. Agradeço a todos os jovens que foram a Cracóvia! Agradeço também aos que se uniram a nós de todas as partes da Terra! Porque em muitos países se realizaram pequenas JMJ em ligação com Cracóvia. O dom que recebestes se torne resposta diária ao chamado do Senhor. Dirijo uma recordação cheia de afeto a Susanna, a jovem romana que faleceu imediatamente depois de ter participado na JMJ, em Viena. O Senhor, que certamente a recebeu no Céu, conforte os seus familiares e amigos.

Sinal de paz à Polônia, à Europa e ao mundo

Nesta Viagem visitei o Santuário de Częstochowa. Diante da imagem de Nossa Senhora, recebi o dom do olhar da Mãe, que de maneira particular é Mãe do povo polonês, daquela nobre nação que tanto sofreu e, com a força da fé e da sua mão materna, sempre se levantou. Acabei de cumprimentar alguns poloneses aqui. Sois muito bons! Lá, sob aquele olhar, compreende-se o sentido espiritual do caminho deste povo, cuja história está ligada de modo inseparável à Cruz de Cristo. Lá sente-se a fé do santo povo fiel de Deus, que conserva a esperança através das provações; e preserva também aquela sabedoria que é equilíbrio entre tradição e inovação, entre memória e futuro. E hoje a Polônia recorda a toda a Europa que não pode existir um futuro para o continente sem os seus valores fundantes, os quais por sua vez põem no centro a visão cristã do homem. Entre tais valores está a misericórdia, da qual foram apóstolos especiais dois grandes filhos da terra polonesa: santa Faustina Kowalska e São João Paulo II.

E, enfim, essa viagem teve também o horizonte do mundo, um mundo chamado a responder ao desafio de uma guerra “aos pedaços” que o está ameaçando. O grande silêncio da visita a Auschwitz-Birkenau foi mais eloquente do que qualquer palavra. Naquele silêncio ouvi, senti a presença de todas as almas que por lá passaram; senti a compaixão, a misericórdia de Deus, que algumas almas santas souberam levar até àquele abismo. Naquele grande silêncio, rezei por todas as vítimas da violência e da guerra. Naquele lugar compreendi mais do que nunca o valor da memória, não só como lembrança de eventos passados, mas como advertência e responsabilidade para o hoje e o amanhã, a fim de que a semente do ódio e da violência não brote nos sulcos da história. E nesta memória das guerras e de tantas feridas, de tantos sofrimentos vividos, há muitos homens e mulheres de hoje, que sofrem as guerras, tantos irmãos e irmãs nossos. Observando tal crueldade no campo de concentração, pensei nas crueldades de hoje, que são semelhantes: não tão concentradas como ali, mas em todo o mundo; este mundo que está doente de crueldade, de sofrimento, de guerra, de ódio, de tristeza. É por isso que sempre vos peço a oração: que o Senhor nos dê a paz!

Por tudo isso, agradeço ao Senhor e à Virgem Maria. Exprimo novamente a minha gratidão ao presidente da Polônia e às demais autoridades, ao cardeal arcebispo de Cracóvia e a todo o episcopado polonês, a todos os que, de mil modos, tornaram possível este evento que ofereceu um sinal de fraternidade e paz à Polônia, à Europa e ao mundo. Gostaria de agradecer também aos jovens voluntários, que durante mais de um ano trabalharam a fim de preparar este evento; e também aos que trabalham nos meios de comunicação: obrigado por terdes feito com que esta Jornada fosse vista em todo o mundo. E não posso esquecer Anna Maria Jacobini, uma jornalista italiana que perdeu a vida lá. De repente. Rezemos por ela, que faleceu quando desempenhava o seu serviço. Obrigado!

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 3 de agosto de 2016

 

 

Queridos irmãos e irmãs!

O trecho do Evangelho de Lucas que acabamos de ouvir (7,11-17) apresenta-nos um milagre de Jesus deveras grandioso: a ressurreição de um jovem. No entanto, o núcleo dessa narração não é o milagre, mas a ternura de Jesus para com a mãe desse jovem. Aqui a misericórdia assume o nome de grande compaixão por uma mulher que tinha perdido o marido e que agora leva ao cemitério o seu único filho. Essa grande dor da mãe comove Jesus e provoca o milagre da ressurreição.

Ao introduzir esse episódio, o Evangelista hesita sobre muitos pormenores. Na porta da cidade de Naim – uma aldeia – encontram-se dois grupos numerosos que provêm de direções opostas e que nada têm em comum. Jesus, seguido pelos discípulos e por uma multidão prepara-se para entrar no povoado, enquanto sai o triste cortejo que acompanha o defunto, com a mãe viúva e muitas pessoas. Junto da porta os dois grupos cruzam-se cada um indo pela própria estrada, mas é então que São Lucas comenta o sentimento de Jesus: “Vendo-a [a mulher], o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores! E aproximando-se, tocou no caixão, e os que o levavam pararam” (vv. 13-14). Grande compaixão guia as ações de Jesus: é Ele que para o cortejo ao tocar o caixão e, movido por profunda misericórdia por esta mãe, decide enfrentar a morte, por assim dizer, cara a cara. E a enfrentará, definitivamente, face a face, na Cruz.

Durante este Jubileu, seria bom que, ao atravessar a Porta Santa, a Porta da Misericórdia, os peregrinos se recordassem deste episódio do Evangelho, ocorrido na porta de Naim. Quando Jesus vê esta mãe em lágrimas, ela entrou no seu coração! Cada um chega à Porta Santa trazendo a própria vida, com as suas alegrias e sofrimentos, os projetos e as falências, as dúvidas e os temores, para a apresentar à misericórdia do Senhor. Estamos certos de que, junto da Porta Santa, o Senhor se faz próximo para encontrar cada um de nós, para trazer e oferecer a sua poderosa palavra consoladora: “Não chores!” (v. 13). Esta é a Porta do encontro entre a dor da humanidade e a compaixão de Deus. Atravessando o limiar, realizamos a nossa peregrinação dentro da misericórdia de Deus que, como ao jovem morto, repete a todos: “Ordeno-te, levanta-te!” (v. 14). A cada um de nós diz: “Levanta-te”. Deus quer-nos em pé. Criou-nos para estar em pé: por isso, a compaixão de Jesus leva àquele gesto da cura, a sarar-nos, do qual a palavra-chave é: “Levanta-te! Põe-te em pé, como Deus te criou!”. Em pé. “Mas, padre, caímos tantas vezes” — “Em frente, levanta-te!”. Essa é a palavra de Jesus, sempre. Ao atravessar a Porta Santa, procuremos ouvir no nosso coração esta palavra: “Levanta-te!”. A palavra poderosa de Jesus pode fazer com que nos levantemos e provocar também em nós a passagem da morte para a vida. A sua palavra faz-nos reviver, doa esperança, encoraja os corações cansados, abre para uma visão de mundo e de vida que vai além do sofrimento e da morte. Na Porta Santa está gravado para cada um o inesgotável tesouro da misericórdia de Deus!

A misericórdia começa no coração

Ao ouvir a palavra de Jesus, “sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua mãe” (v. 15). Essa frase é muito bonita: indica a ternura de Jesus: “Entregou-o à sua mãe”. A mãe reencontra o filho. Recebendo-o das mãos de Jesus ela torna-se mãe pela segunda vez, mas o filho que agora lhe foi restituído não recebeu a vida dela. Mãe e filho recebem assim a respetiva identidade graças à palavra poderosa de Jesus e ao seu gesto amoroso. Deste modo, especialmente no Jubileu, a mãe Igreja recebe os seus filhos reconhecendo neles a vida doada pela graça de Deus. É em virtude desta graça, a graça do Batismo, que a Igreja se torna mãe e que cada um de nós se torna seu filho.

Diante do jovem ressuscitado e restituído à mãe, “apoderou-se de todos o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: um grande profeta surgiu entre nós: Deus dirigiu o olhar para o seu povo”. Por conseguinte, quanto Jesus fez não é uma ação de salvação destinada à viúva e ao seu filho, nem um gesto de bondade limitado àquela cidadezinha. No socorro misericordioso de Jesus, Deus vai ao encontro do seu povo, n’Ele aparece e continuará a aparecer à humanidade toda a graça de Deus. Celebrando este Jubileu, que desejei que fosse vivido em todas as Igrejas particulares, isto é, em todas as Igrejas do mundo, e não só em Roma, é como se toda a Igreja espalhada pelo mundo se unisse no único canto de louvor ao Senhor. Também hoje a Igreja reconhece que recebe a visita de Deus. Por isso, encaminhando-se rumo à Porta da Misericórdia, cada um sabe que se encaminha para a porta do coração misericordioso de Jesus: de fato é Ele a verdadeira Porta que leva à salvação e nos restitui a uma vida nova. A misericórdia, quer em Jesus quer em nós, é um caminho que começa do coração para chegar às mãos. O que isso significa? Jesus olha para ti, cura-te com a sua misericórdia, dizendo-te: “Levanta-te!” e o teu coração renova-se. O que significa realizar um caminho a partir do coração até às mãos? Quer dizer que com o coração novo, sarado por Jesus, posso realizar as obras de misericórdia através das mãos, procurando ajudar, curar muitos necessitados. A misericórdia é um caminho que tem início no coração e chega às mãos, isto é, às obras de misericórdia.

Disse que a misericórdia é um caminho que vai do coração às mãos. No coração recebemos a misericórdia de Jesus que nos doa o perdão de tudo, porque Deus perdoa tudo e levanta-nos, dá-nos a vida nova e contagia-nos com a sua compaixão. Do coração perdoado e com a compaixão de Jesus, começa o caminho rumo às mãos, isto é, para as obras de misericórdia. Dizia-me um bispo outro dia que na sua catedral e noutras igrejas fez portas de misericórdia de entrada e de saída. Perguntei o porquê e a resposta foi: “Porque uma porta é para entrar, pedir perdão e obter a misericórdia de Jesus; a outra é a porta da misericórdia em saída, para levar a misericórdia aos outros, com as nossas obras de misericórdia. Como é inteligente esse bispo! Também nós façamos o mesmo com o caminho que vai do coração às mãos: entremos na igreja pela porta da misericórdia, a fim de receber o perdão de Jesus, que nos diz “Levanta-te! Vai, vai!”; e com este “vai!” – em pé – saiamos pela porta de saída. É a Igreja em saída: o caminho da misericórdia que vai do coração às mãos. Percorrei esse caminho!

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 10 de agosto de 2016

 

Quarta, 17 Agosto 2016 12:39

Jesus quer permanecer conosco!

Caros irmãos e irmãs!

Hoje queremos meditar sobre o milagre da multiplicação dos pães. No início da narração feita por Mateus (cf. 14,13-21), Jesus acaba de receber a notícia da morte de João Batista, e de barca atravessa o lago, “para se retirar num lugar deserto” (v. 13). No entanto as pessoas compreendem e precedem-no a pé, de tal modo que, “quando desembarcou, vendo [Jesus] uma grande multidão, encheu-se de compaixão por ela e curou os seus doentes” (v. 14). Jesus era assim: tinha sempre compaixão, pensava sempre nos outros. Impressiona a determinação do povo, que tem medo de ser deixado sozinho, como que abandonado. Depois da morte de João Batista, profeta carismático, confia-se a Jesus, de quem o próprio João tinha dito: “Aquele que virá depois de mim é mais poderoso do que Eu” (Mt 3,11). Assim, a multidão segue-o por toda a parte para o ouvir e para lhe levar os enfermos. E ao ver isso, Jesus comove-se. Jesus não é insensível, não tem um coração indiferente. Jesus é capaz de se comover. Por um lado, Ele sente-se ligado àquela multidão e não quer que ela vá embora; por outro, tem necessidade de momentos de solidão e de oração, com o Pai. Muitas vezes passa a noite em oração com o seu Pai.

Por conseguinte, também naquele dia o Mestre dedicou-se à multidão. A sua compaixão não é um sentimento indefinido; ao contrário, mostra toda a força da sua vontade de estar próximo de nós e de nos salvar. Jesus ama-nos em grande medida e quer permanecer perto de nós.

Ao cair da noite, Jesus preocupa-se em dar de comer a todas aquelas pessoas, cansadas e famintas, e cuida de quantos o seguem. E quer que os seus discípulos se tornem partícipes disso. Com efeito, diz-lhes: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (v. 16). E demonstrou-lhes que os poucos pães e peixes que tinham, com a força da fé e da oração, podiam ser compartilhados com toda aquela multidão. Jesus realiza um milagre, o milagre da fé e da oração, suscitado pela compaixão e pelo amor. Assim, Jesus “partiu os pães e deu-os aos seus discípulos, que os distribuíram ao povo” (v. 19). O Senhor vai ao encontro das necessidades dos homens, mas deseja tornar cada um de nós concretamente partícipe da sua compaixão.

Cristãos, a serviço da vida e da comunhão

Agora, meditemos sobre o gesto de bênção de Jesus: Ele “tomou os cinco pães e os dois peixes e, elevando os olhos ao céu, abençoou-os. Em seguida, partiu os pães e deu-os...” (v. 19). Como se vê, trata-se dos mesmos sinais que Jesus fez durante a última Ceia; e são também os mesmos gestos que cada sacerdote cumpre quando celebra a Sagrada Eucaristia. A comunidade cristã nasce e renasce continuamente desta comunhão eucarística. Por isso, viver a comunhão com Cristo é totalmente oposto ao permanecer passivo e alheio à vida de todos os dias, mas, ao contrário, insere-nos cada vez mais no relacionamento com os homens e as mulheres do nosso tempo, para lhes oferecer o sinal concreto da misericórdia e da atenção de Cristo. Enquanto nos alimenta de Cristo, a Eucaristia que celebramos também nos transforma gradualmente em corpo de Cristo e alimento espiritual para os irmãos. Jesus quer alcançar cada um, para levar a todos o amor de Deus. Por isso, faz de cada crente um servidor da misericórdia. Jesus viu a multidão, encheu-se de compaixão por ela e multiplicou os pães; e assim faz a mesma coisa com a Eucaristia. Quanto a nós, crentes, que recebemos esse pão eucarístico, somos levados por Jesus a oferecer esse serviço ao próximo, com a sua própria compaixão. Esse é o percurso.

A narração da multiplicação dos pães e dos peixes conclui-se com a constatação de que todos ficaram saciados e com a recolha dos pedaços que sobraram (cf. v. 20). Quando Jesus, com a sua compaixão e o seu amor nos concede uma graça, perdoa os pecados, abraça-nos e ama-nos, não faz as coisas pela metade, mas completamente. Como aconteceu aqui: todos ficaram saciados. Jesus enche o nosso coração e a nossa vida com o seu amor, o seu perdão, a sua compaixão. Portanto, Jesus permitiu que os seus discípulos cumprissem a sua ordem. Desse modo, eles descobrem o caminho que devem percorrer: dar de comer ao povo e mantê-lo unido; ou seja, permanecer ao serviço da vida e da comunhão. Portanto, invoquemos o Senhor, para que torne a sua Igreja sempre capaz desse serviço santo e para que cada um de nós possa ser instrumento de comunhão na própria família, no trabalho, na paróquia e nos grupos de pertença, um sinal visível da misericórdia de Deus que não quer deixar ninguém na solidão e na necessidade, a fim de que desçam a comunhão e a paz entre os homens, e a comunhão dos homens com Deus, porque essa comunhão é vida para todos.

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 17 de agosto de 2016

Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho que ouvimos apresenta-nos uma figura que sobressai pela sua fé e coragem. Trata-se da mulher que Jesus curou da sua perda de sangue (cf. Mt 9, 20-22). Passando pelo meio da multidão, aproxima-se de Jesus pelas costas para tocar a orla do seu manto. “Dizia consigo mesma: se eu tocar a sua túnica, serei curada” (v. 21). Quanta fé! Como era grande a fé desta mulher! Ela raciocina assim porque se sente animada por tanta fé e tanta esperança e, com um pouco de astúcia, realiza o que tem no seu coração. O desejo de ser salva por Jesus é tão grande que a impele além das prescrições estabelecidas pela lei de Moisés. Com efeito, desde há muitos anos essa pobre mulher não só está doente, mas é também considerada impura, porque sofre de hemorragias (cf. Lv 15,19-30). Por isso, é excluída das liturgias, da vida conjugal, dos relacionamentos normais com o próximo. O evangelista Marcos acrescenta que ela já tinha consultado muitos médicos, esgotando os seus meios para os pagar e suportando curas dolorosas, mas só tinha piorado. Era uma mulher descartada da sociedade. É importante considerar esta condição – de descarte – para compreender o seu estado de espírito: ela sente que Jesus pode libertá-la da enfermidade e da condição de marginalização e de indignidade em que se encontra há anos. Em síntese: sabe, sente que Jesus pode salvá-la.

Este caso faz refletir sobre o modo como esta mulher é muitas vezes vista e representada. Todos estamos alertas, inclusive as comunidades cristãs, contra visões da feminilidade, deturpadas por preconceitos e suspeitas lesivas da sua dignidade intangível. Nesse sentido, são precisamente os Evangelhos que restabelecem a verdade e reconduzem a um ponto de vista libertador. Jesus admirou a fé dessa mulher que todos evitavam, transformando a sua esperança em salvação. Não sabemos qual é o seu nome, mas as poucas linhas com que os Evangelhos descrevem o seu encontro com Jesus delineiam um itinerário de fé capaz de restabelecer a verdade e a grandeza da dignidade de cada pessoa. No encontro com Cristo abre-se para todos, homens e mulheres de qualquer lugar e tempo, o caminho da libertação e da salvação.

O Evangelho de Mateus diz que quando a mulher tocou o manto de Jesus, Ele “virou-se”, “viu-a” (v. 22) e depois dirigiu-lhe a palavra. Como dizíamos, devido à sua condição de exclusão, a mulher agiu às escondidas, por detrás de Jesus, com um pouco de medo, para não ser vista porque era uma descartada. Mas Jesus a vê e o seu olhar não é de reprovação. Ele não diz: “Vai embora, és uma descartada!”, como se dissesse: “Tu és uma leprosa, vai embora!”. Não, não a repreende, mas o olhar de Jesus é cheio de misericórdia e ternura. Ele sabe o que aconteceu e procura o encontro pessoal com ela, aquilo que no fundo a própria mulher desejava. Isso significa que Jesus não apenas a recebe, mas também a considera digna de tal encontro, a ponto de lhe conceder a sua palavra e a sua atenção.

O pecado não nos torna descartáveis para Deus

Na parte central da narração, o termo salvação é repetido três vezes. “Se eu tocar a sua túnica, serei curada. Jesus virou-se, viu-a e disse: ‘Ânimo, minha filha, a tua fé te salvou!’. E a partir daquele instante, a mulher foi salva” (vv. 21-22). A expressão “Ânimo, minha filha” manifesta toda a misericórdia de Deus por aquela pessoa e por cada pessoa descartada. Quantas vezes nos sentimos interiormente descartados por causa dos nossos pecados, pois cometemos muitos, tantos... E o Senhor diz-nos: “Coragem, vem! Para mim tu não és um descartado, uma descartada. Ânimo, minha filha! Tu és um filho, uma filha!”. E esse é o momento da graça, o instante do perdão, o tempo da inclusão na existência de Jesus, na vida da Igreja. É o momento da misericórdia. Hoje a todos nós, pecadores, que somos grandes ou pequenos pecadores, mas todos o somos, a todos o Senhor diz: “Coragem, vem! Já não és um descartado, já não és uma descartada: eu perdoo-te, abraço-te!”. Essa é a misericórdia de Deus. Devemos ter a coragem de ir ao seu encontro, pedir perdão pelos nossos pecados e seguir em frente, com coragem, como fez essa mulher. Depois, a “salvação” adquire múltiplas conotações: antes de tudo, restitui a saúde à mulher; em seguida, liberta-a das discriminações sociais e religiosas; além disso, realiza a esperança que ela trazia no coração, anulando os seus temores e o seu desânimo; finalmente, a restitui à comunidade, livrando-a da necessidade de agir às escondidas. E esse último elemento é importante: uma pessoa descartada age sempre às escondidas, de vez em quando ou durante a vida inteira; pensemos nos leprosos daquela época, nos desabrigados de hoje... pensemos nos pecadores, em nós, pecadores: fazemos sempre algo às escondidas, temos necessidade de fazer alguma coisa secretamente, porque nos envergonhamos daquilo que somos... Ele livra-nos disso, Jesus liberta-nos, põe-nos de pé: “Levanta-te, vem, permanece em pé!”. Do mesmo modo como Deus nos criou: Deus criou-nos de pé, não humilhados. De pé. A salvação que Jesus oferece é total, reintegra a vida da mulher na esfera do amor de Deus e, ao mesmo tempo, restabelece-a na sua plena dignidade.

Em síntese, não é o manto tocado pela mulher que lhe confere a salvação, mas a palavra de Jesus recebida na fé, capaz de consolá-la, curá-la e restabelecê-la na relação com Deus e com o seu povo. Jesus é a única nascente de bênçãos da qual brota a salvação para todos os homens, e a fé constitui a disposição fundamental para acolhê-la. Com o seu comportamento cheio de misericórdia, mais uma vez, Jesus indica à Igreja o caminho a percorrer para ir ao encontro de cada pessoa, para que cada um possa ser curado no corpo e no espírito, recuperando a dignidade de filho de Deus. Obrigado!

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 31 de agosto de 2016

 

Prezados irmãos e irmãs!

Ouvimos um trecho do Evangelho de Mateus (11,2-6). A intenção do evangelista consiste em fazer-nos entrar mais profundamente no mistério de Jesus, para compreender a sua bondade e a sua misericórdia. O episódio é o seguinte: João Batista manda os seus discípulos ao encontro de Jesus – João estava na prisão – para lhe dirigir uma pergunta muito clara: “És Tu aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?” (v. 3). Era precisamente o momento da escuridão... João Batista esperava ansiosamente o Messias e, na sua pregação, já o descrevera com expressões fortes, como um juiz que finalmente teria instaurado o reino de Deus e purificado o seu povo, recompensando os bons e castigando os maus. E pregava assim: “O machado já está posto à raiz das árvores: toda a árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo” (Mt 3,10). Agora Jesus dá início à sua missão pública com um estilo diferente; João sofre porque se encontra numa dupla obscuridade: na escuridão do cárcere e de uma cela, e naquela do coração. Não entende o estilo de Jesus e quer saber se é precisamente Ele o Messias, ou então se deve esperar por outro.

E à primeira vista a resposta de Jesus não parece corresponder à interrogação de João Batista. Com efeito, Jesus diz: “Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres... Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de escândalo!” (vv. 4-6). Aqui a intenção do Senhor Jesus torna-se clara: Ele responde que é o instrumento concreto da misericórdia do Pai, que vai ao encontro de todos, levando a consolação e a salvação, e deste modo manifesta o juízo de Deus. Os cegos, os coxos, os leprosos e os surdos recuperam a sua dignidade e já não vivem excluídos por causa da sua enfermidade, os mortos voltam a viver, enquanto aos pobres é anunciada a Boa Notícia. E esta torna-se a síntese do agir de Jesus, que desta forma torna visível e tangível a ação do próprio Deus.

A mensagem que a Igreja recebe desta narração da vida de Cristo é muito clara. Deus não mandou o seu Filho ao mundo para punir os pecadores, nem para aniquilar os malvados. Pelo contrário, é-lhes dirigido o convite à conversão, a fim de que, vendo os sinais da bondade divina, possam encontrar o caminho de volta. Como diz o Salmo: “Se tiverdes em conta os nossos pecados, Senhor / Senhor, quem poderá subsistir diante de vós? / Mas é em Vós que se encontra o perdão... / e é assim que vos temeremos” (130, 3-4).

Não reduzir Deus aos próprios interesses

A justiça que João Batista punha no centro da sua pregação, em Jesus manifesta-se em primeiro lugar como misericórdia. E as dúvidas do Precursor simplesmente antecipam a perplexidade que Jesus suscitará em seguida com os seus gestos e com as suas palavras. Então compreende-se a conclusão da resposta de Jesus. Ele diz: “Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de escândalo!” (v. 6). Escândalo significa “obstáculo”. Por isso, Jesus chama a atenção para um perigo particular: se os obstáculos à crença são sobretudo as suas ações de misericórdia, isto significa que temos uma imagem falsa do Messias. Ao contrário, bem-aventurados aqueles que, diante dos gestos e das palavras de Jesus, dão glória ao Pai que está no Céu.

A admoestação de Jesus é sempre atual: ainda hoje o homem constrói imagens de Deus que lhe impedem de sentir a sua presença real. Alguns modelam uma fé “particular” que reduz Deus ao espaço limitado dos próprios desejos e das próprias convicções. Mas esta fé não é conversão ao Senhor que se revela; ao contrário, impede-lhe de estimular a nossa vida e a nossa consciência. Outros reduzem Deus a um ídolo falso; usam o seu nome santo para justificar os seus interesses ou até o ódio e a violência. Para outros ainda, Deus é somente um refúgio psicológico no qual se sentir seguro nos momentos difíceis: trata-se de uma fé fechada em si mesma, impermeável à força do amor misericordioso de Jesus que impele rumo aos irmãos. E outros ainda consideram Cristo apenas um bom mestre de ensinamentos éticos, um dos tantos da história. Há finalmente aqueles que sufocam a fé numa relação puramente intimista com Jesus, anulando o seu impulso missionário, capaz de transformar o mundo e a história. Nós cristãos acreditamos no Deus de Jesus Cristo, e o nosso desejo consiste em crescer na experiência viva do seu mistério de amor.

Por conseguinte, comprometamo-nos a não opor obstáculo algum à ação misericordiosa do Pai, mas peçamos o dom de uma fé grande para nos tornarmos, também nós, sinais e instrumentos de misericórdia.

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 7 de setembro de 2016

Prezados irmãos e irmãs!

O trecho que ouvimos fala-nos da misericórdia de Deus que se realiza na Redenção, ou seja, na salvação que nos foi oferecida mediante o sangue do seu Filho Jesus (cf. 1Pd 1, 18-21). A palavra “redenção” é pouco utilizada e, no entanto, é fundamental, porque indica a libertação mais radical que Deus podia ter alcançado para nós, para a humanidade inteira e para toda a criação. Parece que o homem de hoje já não gosta de ser libertado e salvo por uma intervenção de Deus; com efeito, o homem contemporâneo ilude-se com a própria liberdade, como força para obter tudo. E chega a vangloriar-se disto, mas na realidade não é assim! Quantas ilusões são vendidas sob o pretexto da liberdade, e quantas novas formas de escravidão são criadas nos nossos dias em nome de uma falsa liberdade! Existem tantos escravos: “Faço isto porque o quero, uso drogas porque gosto, sou livre, faço isto e aquilo”. Trata-se de escravos! Tornam-se escravos em nome da liberdade. Todos nós vimos pessoas deste tipo que, no final, ficam arrasadas. Precisamos que Deus nos liberte de todas as formas de indiferença, egoísmo e autossuficiência.

As palavras do apóstolo Pedro exprimem muito bem o sentido da nova condição de vida à qual somos chamados. Fazendo-se um de nós, o Senhor Jesus não assume apenas a nossa condição humana, mas também nos eleva à possibilidade de ser filhos de Deus. Mediante a sua morte e ressurreição Jesus Cristo, Cordeiro sem mancha, venceu a morte e o pecado para nos libertar do seu domínio. Ele é o Cordeiro que foi sacrificado por nós, a fim de que nós pudéssemos receber uma vida nova, feita de perdão, amor e alegria. São bonitas estas três palavras: perdão, amor e alegria. Tudo aquilo que Ele assumiu foi também redimido, libertado e salvo. Sem dúvida, é verdade que a vida nos põe à prova e às vezes por este motivo nós sofremos. No entanto, nesses momentos, somos convidados a fixar o nosso olhar em Jesus Crucificado, que sofre por nós e conosco, como prova certa de que Deus não nos abandona. Contudo, nunca podemos esquecer que nas angústias e nas perseguições, assim como nas dores quotidianas, somos sempre libertados pela mão misericordiosa de Deus que nos eleva a Si, conduzindo-nos a uma vida nova.

O amor de Deus é ilimitado: podemos descobrir sinais sempre novos que indicam a sua atenção por nós e sobretudo a sua vontade de nos alcançar e de nos preceder. Não obstante seja marcada pela fragilidade do pecado, a nossa vida inteira encontra-se sob o olhar de Deus que nos ama. Quantas páginas da Sagrada Escritura nos falam da presença, da proximidade e da ternura de Deus por cada homem, de forma particular pelos mais pequeninos, pobres e atribulados! Deus tem uma grande ternura, um amor profundo pelos mais pequeninos, pelos mais frágeis, pelos descartados da sociedade. Quanto mais carências temos, tanto mais o seu olhar sobre nós se enche de misericórdia. Ele sente uma compaixão piedosa por nós, porque conhece as nossas fraquezas. Conhece os nossos pecados e perdoa-nos; perdoa-nos sempre! Ele é deveras bom, o nosso Pai é muito bom!

Por isso, estimados irmãos e irmãs, abramo-nos a Ele e acolhamos a sua graça porque, como reza o Salmo, “a misericórdia se encontra no Senhor / nele é copiosa a redenção” (130 [129], 7).

OLHO: Quanto mais carências temos, tanto mais o seu olhar sobre nós se enche de misericórdia. Ele sente uma compaixão piedosa por nós, porque conhece as nossas fraquezas

Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 10 de setembro de 2016

No sábado (22) a Pastoral Familiar do Regional Centro-Oeste da CNBB (Goiás e Distrito Federal) se reuniu em assembleia, que aconteceu na sede da organização, em Goiânia, para eleger sua nova comissão executiva. Leônidas e Maria Dóris Magalhães, da Arquidiocese de Goiânia, é o novo casal coordenador. Já a vice-coordenação ficou com o casal Neto e Altina Rodrigues, da Arquidiocese de Brasília.

Os coordenadores da gestão passada (2013-2016), Vagner Alves e Neuza Maria Ribeiro, continuam na comissão executiva, como tesoureiros. Entrevistado, o casal destacou aquilo que ele nomeia como principal conquista nos últimos três anos. “Antes não havia uma comissão executiva e percebemos que trabalhando com esse modelo, conseguimos pensar melhor as linhas de trabalho, programar os eventos e as reuniões”, disse Vagner. Aponta também como expressiva a participação do regional no Congresso Nacional da Pastoral Familiar, em São Luís (MA), em 2014, com a participação de 42 pessoas, e no Congresso Regional em Brasília, em setembro deste ano, com a participação de 384.

Dom João Wilk, bispo de Anápolis e referencial para a Pastoral Familiar no regional, comenta em entrevista que a assembleia é um momento importante para a continuidade da caminhada, uma vez que proporciona avaliar, prestar contas, aprovar o regimento da pastoral e realizar a eleição da nova comissão executiva. Do triênio de trabalhos concluídos, ele destaca o 5º Congresso Regional, que aconteceu em Brasília, nos dias 23 a 25 de setembro. “Foi um evento prático, bem organizado e eficiente com palestrantes que apresentaram alto nível de conhecimento e testemunho pessoal”, pontuou. Dom João vê com esperança o Ano Vocacional Mariano, abraçado pelo regional em 2017, que terá a participação da Pastoral Familiar na organização e promoção, além das demais atividades que estão sendo planejadas pela comissão executiva.

Misericórdia e Família

Com relação ao Ano da Misericórdia, o bispo comenta que foram tomadas diversas decisões, algumas executadas pelas dioceses, outras pelo regional ao longo de todo o ano, além do estabelecimento dos compromissos permanentes. “Nas Câmaras Municipais decidimos estar atentos, vigiar os projetos em tramitação contrários e a favor da família cristã, sabendo que essa instituição enfrenta ideologias opostas ao modelo tradicional composto pelo homem, mulher e filhos”.

Coordenadores regionais pela segunda vez, Léo e Maria Dóris veem a coordenação da pastoral, no atual contexto, como um papel que requer bastante responsabilidade, isso porque a instituição família está entre as principais preocupações da Igreja em todo o mundo. “O mundo está com os olhos voltados para a família, a evangelização dos seus membros desde a infância, a valorização do Sacramento do Matrimônio”, diz Dóris. Ela afirma que o formato da equipe executiva adotado pelo regional é positivo para o desenvolvimento de mais ações pastorais, que consequentemente poderão trazer resultados mais eficientes. Acerca dos eventos, ela destaca o congresso regional, em Goiânia, e o Congresso Nacional a ser realizado no próximo ano, em Cuiabá (MT), no qual deverão ir representantes de todas as dioceses do regional. “Vamos trabalhar sempre observando as orientações da Igreja, na busca da evangelização mais eficiente à família para que ela seja como o modelo da Sagrada Família de Nazaré em cada diocese do regional”, destaca Dóris.

Novo casal coordenador da Pastoral Familiar: Leônidas e Maria Dóris

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Dom Marcony Vinícius Ferreira

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E-mail: padrefc@outlook.com

 

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