Tu és Pedro, e eu te darei as chaves do Reino dos céus.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-20
A Igreja, a cada ano, nos faz acompanhar o mistério de Cristo, o Deus Conosco que é o esperado das nações; o Deus que vem; Aquele que anuncia o Reino e, por meio dos diferentes sinais, o confirma como presente entre nós; Aquele que enfrenta a hostilidade de quem não o aceita; Aquele que enfrenta a Morte e ressuscita; Aquele que envia seu Espírito para levar ao pleno cumprimento o mistério da vida plena. Sem dúvida nenhuma, o mistério pascal é o ponto mais alto, a fonte e a plenitude de tudo.
A Igreja como mestra sábia, por meio do Tríduo Pascal, como num filme, focaliza e celebra cada momento marcante daquele que se tornou para todos, Vida Plena.
O Tríduo inicia com a celebração da Santa Ceia, que torna presente a Eucaristia, fazendo memória do Senhor até que ele volte. É uma celebração solene, contextualizada num clima de despedida, num contexto de doação e de serviço, simbolizado pelo Lava-pés. É a celebração que também lembra a instituição do sacerdócio, isto é, do ministério de quem está principalmente ligado à Eucaristia.
Na noite da despedida a Igreja prolonga, de forma solene, sua ação de graças e adoração para quem nos amou até o fim, permanecendo em oração até a meia noite.
O segundo grande momento do Tríduo Pascal é a celebração da Paixão e morte de Cristo. Naquele dia a Igreja não celebra a Eucaristia, mas se alimenta com a escuta da palavra, sobretudo da narração da paixão segundo João, a mais rica de detalhes pascais. Reza pelas necessidades da Igreja e do mundo. Neste ano, nossas Igrejas do Regional Centro-Oeste fazem uma oração especial pelo Brasil que passa por inúmeras dificuldades; se prostra em adoração diante do Crucificado e se alimenta do Corpo de quem se entregou por nós.
O Sábado Santo é um dia sem celebração: é o dia do silêncio, da espera, da meditação profunda sobre o que foi celebrado na Quinta e na Sexta-feira Santa. Enfim, o grande momento do Tríduo Pascal é a Vigília, rica de símbolos, gestos, leituras da Palavra que relembram as grandes maravilhas de Deus na história; é a noite do novo nascimento pela celebração do Sacramento do Batismo, a Páscoa personalizada por cada um; é a noite da renovação do compromisso de seguir Cristo, Luz que ilumina e conduz todo ser humano.
Nada de difícil e de não conhecido celebraremos durante o Tríduo Pascal, mas simplesmente o itinerário do Mestre que, esvaziando-se a si mesmo, se deu para que tivéssemos vida. É o momento para revigorar a fé pessoal em Cristo Jesus. É o momento para nos sentir o novo povo de Deus reunido pelo sangue do Cordeiro. É o momento de tornar a “alegria da pertença” plena porque “Deus amou tanto o mundo que deu o seu filho único”.
Se a luz do ressuscitado de fato destruirá e apagará a escuridão que ainda nos envolve, a Páscoa será vida nova e os votos que trocamos terão seu sentido profundo.
Dom Carmelo Scampa
Bispo diocesano de São Luís de Montes Belos
Narra o autor sagrado que, ao ver Jerusalém, num dia daqueles, após longo percurso desde Nazaré, Jesus chora sobre a cidade. Certamente por seu coração de Filho do Deus Altíssimo, sabedor de tudo o que estava prestes a lhe acontecer e conhecedor profundo das mentes e dos mistérios humanos, Nosso Senhor Jesus Cristo chora por toda a humanidade desfigurada pelo pecado, decaída pelo peso do distanciamento de Deus.
Entrando em Jerusalém, colocado, por seu próprio querer, sob o lombo de um animal, a multidão acorre. Certamente, dentre todos, muitos dos que haviam sido por Ele curados ou que souberam de seus prodígios e Palavras ou que talvez até mesmo com Ele percorreram distâncias até chegar àquele importante centro cultural, religioso e político do judaísmo. Aquela multidão hoje proclama: “Glória a vós, Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor”. Não tardarão alguns poucos dias para que essa mesma multidão proclamasse na praça, ante as autoridades romanas, ante os olhos de Jesus, capturado e humilhado: Tolle, tolle. Crucifige eum. “Crucifica-o, crucifica-o”.
A grande teologia do Domingo de Ramos, dessa intitulada “entrada triunfal de Jesus em Jerusalém”, milhares de vezes encenada e celebrada em tantas paróquias, em nossa Arquidiocese e ao redor do mundo, traz um ensinamento profundo e grave, o qual sintetizo com um trecho da pregação de Santo Afonso Maria de Ligório: “Ah, meu Senhor, chorastes então sobre Jerusalém , mas chorastes também sobre a minha ingratidão e perdição; chorastes ao ver a ruína que eu a mim mesmo causava, expulsando-Vos de minha alma e obrigando-Vos a condenar-me ao inferno. Peço-Vos, deixai que eu chore, pois que a mim compete chorar ao lembrar-me da injúria que Vos fiz ofendendo-Vos. Pai Eterno, pelas lágrimas que vosso Filho então derramou por mim, dai-me a dor de meus pecados, já que os detesto mais que qualquer outro mal e resolvido estou a amar-Vos para o futuro, de todo o coração”.
O apóstolo João narra essa “hora de Jesus” no diálogo que o Mestre teve com Felipe e André: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade, vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,23). Cada passo de Jesus, cada olhar dele para a multidão, cada gesto naquela profética entrada em Jerusalém estará carregado desse sentido transformador e redentor da semente que é lançada ao chão e que é preciso que morra para que produza muitos frutos.
Da morte redentora de Cristo nasce o mistério da Igreja, igualmente participante dos passos de sofrimento de Jesus em meio às multidões de ontem e de hoje. No choro de Jesus, também o choro da Igreja, por ver este mundo perdido de seus valores mais fundamentais e tão ávido por espetáculos pobres. Na consciência de Jesus, a consciência de toda a Igreja de estar marchando, com Ele, também hoje e até o final dos tempos, para os calvários, para o lugar do sofrimento, conscientes, Esposo e Esposa, da necessidade de sua entrega oblativa para a redenção do mundo.
Aqui realiza-se também, de modo admirável, o sacerdócio de Jesus. Desde já, Ele, como que se faz presente na “Preparação das Oferendas”, antecipadamente. Ele próprio está sendo trazido ao Altar da Cruz, nessa procissão festiva e antecipatória da Sua Paixão, Morte e Ressurreição, da qual a Igreja toma parte nas celebrações que logo virão na noite de Quinta-feira Santa e, sobremodo, na tarde da Sexta-feira da Paixão.
Possam nossas comunidades paroquiais, nesse dia festivo, participar de modo consciente e ativo desse salutar mistério do sofrimento de Cristo e de toda a Igreja para a salvação do mundo. Vinde, adoremos.
Dom Washington Cruz, CP
Arcebispo Metropolitano de Goiânia
A Semana Santa convida à vivência do Evangelho e contemplação dos últimos passos de Jesus na terra. O período é marcado pelo “homem das dores” (Is 53, 3) – Cristo, que derramou o seu sangue para que a reconciliação definitiva entre Deus e a humanidade acontecesse.
Para o presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB, dom Messias dos Reis Silveira, esse trajeto do filho de Deus até o calvário, tem muito a ensinar à humanidade. Entrevistado, ele destaca que a Via Crucis era a missão de Jesus, um caminho sem opções de desvio que no seu conjunto com a Ressurreição, fazem da Semana Santa o ponto alto da vida cristã.
A figura de Maria, conforme dom Messias, com o seu sofrimento, mas sempre iluminada pela fé, coroam esse processo da vitória de Cristo sobre a morte.
O que nos ensina o sofrimento e angústia vividos por Jesus na Semana Santa?
Dom Messias: O primeiro ensinamento é o amor de Deus pela humanidade a ponto de levar seu filho à morte de cruz. O sofrimento de Jesus nos ensina muito sobre o significado do sofrimento humano; ele nos revigora, nos amadurece e nos ilumina para atravessarmos as adversidades da vida.
Por que Deus confiou essa Missão tão difícil a Jesus?
Na verdade ele não enviou seu filho para sofrer, o sofrimento foi consequência da sua Missão. Jesus não teve a oportunidade de desviar como no caso das tentações, mas ele permaneceu fiel até o fim. Deus confiou a ele a Missão de revelar o seu rosto, o amor do Pai e permanecer junto aos seus filhos sabendo também das muitas libertações que são necessárias acontecer em todas as dimensões: pessoal, social. Deus confiou pela esperança de uma humanidade que pode ser melhor de tal forma que possa participar da sua glória.
O que faz da Semana Santa especial? O trajeto de Jesus ao calvário ou a sua Ressurreição?
Todo o conjunto. A morte como a Ressurreição estão interligados. Se a Missão parasse na morte tudo estaria frustrado, porém a morte sem Ressurreição não teria sentido. Para ela existir precisou existir a morte. Cristo morre confiante, entrega sua vida nas mãos do Pai que depois o ressuscita. A partir desse mistério central da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, se desenvolve toda essa realidade que vivenciamos: ser Igreja, continuidade da Missão de Cristo, o anúncio da Boa-Nova que ilumina a vida das pessoas. A morte de Cristo representa toda a morte que vem da humanidade. Quando o filho de Deus morre todos são chamados a viver a esperança partir de Jesus.
Que exemplo podemos colher da figura de Maria que acompanhou a angústia de Jesus até a cruz?
O maior exemplo é a fidelidade. Deus confiou essa Missão a Jesus e Maria acompanhou o seu filho até a morte e depois continuou com os discípulos. A Missão dela tem um grande significado: o de permanecer junto até o fim. As pessoas contemplam muito a dor de Maria e o seu sofrimento. Ela teve as dores que fazem parte do processo de vida humana, porém era um sofrimento iluminado pela fé. Trazia dentro de si a certeza de que era algo de Deus que estava acontecendo. Tinha a fé iluminada pela ação do Pai na sua vida e na vida de seu filho. Não era desespero, mas uma dor que tinha em seu fim a esperança.
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