Tu és Pedro, e eu te darei as chaves do Reino dos céus.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-20
Ser missionário é uma vocação da pessoa cristã. O missionário não é apenas alguém que fala de Deus, mas principalmente anuncia a partir Dele. Quem vive em comunhão profunda com Deus através da oração, mesmo sem dizer muitas palavras torna-se uma presença evangelizadora na sociedade e se faz mensagem.
Olhando para Nossa Senhora, se percebe que ela, embora tenha vivido quase no silêncio, se tornou um ícone de evangelização. Ela viveu em comunhão profunda com o Pai e acolheu a sua divina vontade, a ponto de se tornar a Mãe de Jesus, o grande missionário do Pai.
Outubro é para a Igreja o mês do rosário e o mês missionário. Podemos dizer que é um mês especial para despertar a vocação missionária nos devotos de Nossa Senhora. A oração do Rosário ajuda a formar e a fortalecer o discípulo missionário de Jesus. São muitos os testemunhos de pais que formaram nos seus filhos a consciência e a fidelidade cristã a partir da oração do Rosário. Muitos dos devotos da Virgem Maria que têm o costume de rezar o terço se tornam missionário visitando as famílias. São muitas as visitas que acontecem nos lares por causa da devoção do Rosário.
Recordo-me com alegria do meu tempo de adolescente em que eu era chamado, nas casas, para rezar o terço e as novenas de Nossa Senhora. Muitas vezes uma imagem peregrina da Virgem percorria as casas nas zonas rurais e as pessoas se tornavam visitadoras umas das outras, acompanhadas da presença da Mãe de Jesus. Eu era um pequeno missionário junto daquele povo.
No mês de outubro cultivemos a profunda devoção do Santo Rosário e permitamos que Nossa Senhora desperte em nós o desejo de irmos ao encontro dos irmãos que estão afastados. Esse deslocamento missionário deve ser para anunciar a alegria do evangelho. É tempo de alegremente sermos missionários marianos.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo Diocesano de Uruaçu-GO e presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB
A “A Igreja, por sua natureza, é missionaria”, afirmou com muita ênfase, o Concílio Vaticano II no Decreto “Ad gentes”. A missão leva para frente o processo que tem seu início na Trindade Santa: o Pai envia o Filho; o Filho envia o Espirito; Cristo envia os Apóstolos. Cada um, pelo batismo, é um enviado para transmitir a Boa-Nova e a Vida em plenitude para todos, com a coragem de ir até os extremos confins da terra. Temos documentos do Magistério riquíssimos, produzidos nestes últimos anos, suficientes para criar consciência missionária, compromisso e entusiasmo em todos. Não é necessário repetir o que já faz parte do nosso patrimônio teológico e diria até espiritual e pastoral de nossa vida.
É mais urgente transformar as intuições conciliares, as pistas da “Evangelii Nuntiandi” do Beato Paulo VI e os reiterados apelos do papa Francisco para nos tornarmos uma “Igreja em saída”, uma Igreja não para si, mas para o mundo, “fermento” que sabe deixar o espaço necessário para que Cristo levede a massa.
Adentrando numa reflexão mais concreta percebemos que a maioria de nossas comunidades trabalham somente para si, zelam de quem já as acompanham, pouquíssimo fazem pelo enorme e preocupante número dos afastados. Seria necessário somente ler as programações anuais de nossas Igrejas particulares para perceber isso com clareza.
Se depois olhamos os novos “areópagos” da cultura moderna com o olhar de Cristo Pastor, como não concluir que caminhamos por estradas paralelas!?
O Evangelho não é repetitivo, não é conjunto de palestras, não é conjunto de eventos atrativos etc., mas radical e criativa novidade que exige de cada um sair da rotina cansativa e desgastante de sempre ou da loucura de invenções bizarras e exotéricas, típicas de alguns grupos. A criatividade sadia é já um forte desafio para a nova evangelização e nem sempre estamos preparados e dispostos a isso.
Mas não seria suficiente a capacidade de “adaptar” a verdade de sempre ao hoje, se faltasse o testemunho pessoal e comunitário. Parece-me que imperam ainda muitas palavras bonitas e poucos gestos proféticos entre nós. Terá por acaso terminado em nosso país, a época dos mártires, dos profetas? Deus não queira, mas há muitos envolvimentos no que é típico do mundo e certo afastamento do que é próprio do Evangelho. Será que é somente pessimismo de quem está chegando ao fim da linha ou há algo de verdadeiro nisso? Papa Francisco fala forte sobre muito assuntos concretos. Determinadas falas parecem até ofensivas, mas se a gente medita percebe que estamos longe da radicalidade evangélica.
A missão obriga cada um a se renovar pessoalmente, para servir às nossas comunidades de maneira mais ousada; exige uma enorme vontade de sair da “toca” que criamos e na qual nos encontramos bem; exige sair do ninho e aprender a voar alto.
Além disso, talvez tenha chegado a hora de juntar nossas forças para dar algum sinal concreto que queremos ser uma Igreja em saída, missionária. Precisamos deixar para trás tudo o que é “chover no molhado”, por ser um simples repetir daquilo que já sabemos e sempre dizemos. Isso como Regional Centro-Oeste. Há tentativas louváveis de alguma diocese neste sentido, mas nem todas as nossas Igrejas particulares tem condições de assumir sozinhas, por exemplo, uma missão “ad gentes” ou também “ad intra”. Por que não estudar juntos o problema e não dar algum passo concreto como regional?
Outro problema: nem todas as nossas Igrejas têm um presbitério numeroso e qualificado. Por que não nos ajudar um pouco mais também nessa área? Que adianta falar de “comunhão e partilha” se isso tudo não passa de teoria e na prática eu quero mostrar que caminho melhor do que meu vizinho e não me importa se ele está eclesialmente capengando? Que Igreja missionaria é essa? Aliás, que Igreja é essa?
O mês Missionário proporciona muitos subsídios para refletir, mas não oferece a vontade de agir, temos que encontrá-la em nós mesmos.
Deus queira que outubro não seja um mês temático entre tantos, que deixa a Igreja como está.
Dom Carmelo Scampa
Bispo de São Luís de Montes Belos
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