Tu és Pedro, e eu te darei as chaves do Reino dos céus.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-20
Há um mês falecia o arcebispo emérito de Goiânia, Dom Antonio Ribeiro de Oliveira. Em memória a este que foi um dos precursores da Igreja no Regional Centro-Oeste, os bispos de Goiás e do Distrito Federal, reunidos no Conselho Episcopal Regional (Conser), prestaram suas homenagens ao irmão no episcopado. “Toda a trajetória de Dom Antonio é fruto da família, celeiro de vocações”, destacou em sua homilia o presidente da celebração, o bispo de Anápolis e vice-presidente do regional, Dom João Wilk.
Dom João comentou a história do irmão no episcopado, que começou no Seminário Santa Cruz, quando esta casa ainda tinha suas instalações em Silvânia (GO), época em que era bispo de Goiás, Dom Emanuel Gomes de Oliveira. Lembrou também o episcopado de Dom Antonio ao lado do primeiro arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Gomes dos Santos. “Nosso querido Dom Antonio imprimiu a marca profunda do Concílio Vaticano II na Igreja do Centro-Oeste, nos transmitindo a visão positiva deste grande acontecimento eclesial”, disse. Ainda conforme ele, marcou a pastoral de Dom Antonio, “a Igreja comunidade, povo de Deus”, bem como sua passagem pelas dioceses de Goiás e Itumbiara, como administrador, e pela Diocese de Ipameri, como bispo diocesano, de 1975 a 1985.
Algumas impressões pessoais sobre o homenageado também foram expressas por Dom João Wilk. “Dom Antonio suscitava o entusiasmo nas comunidades e tinha sua base toda centrada na palavra de Deus. Exercia a caridade com o povo e os padres. Certa vez, aqui na sede do regional, falava sobre a relação com os padres e comentava que nunca suspendeu um sacerdote de suas funções. Aquilo me deixou curioso, mas depois fui refletir a respeito e entendi que essa atitude extrema deve ser o último remédio porque é uma decisão que causa muito sofrimento ao bispo e ao padre e Dom Antonio era assim, tinha uma consideração muito forte pelo sacerdócio e um valor profundo à pessoa humana”.
O vice-presidente do regional também comentou que o arcebispo emérito de Goiânia era um homem de oração, inteligente e discreto, incapaz de se colocar em evidência, sempre atento a tudo e corajoso nos tempos difíceis. Em algumas oportunidades tinha dificuldades com a classe política, mas era muito dedicado à unidade da Igreja. “Era um pastor de pregações simples, mas profundas. Em uma Assembleia Geral da CNBB, certa vez, ele explicava o significado da imagem do Divino Pai Eterno. Foi uma fala tão profunda que despertou até em mim a devoção. Ele era ainda o banco de dados do regional e da história eclesial de Goiás”, disse.
Dom João Wilk comentou também ter perguntado ao irmão se ele estava escrevendo suas memórias, mas Dom Antonio respondeu que tentava e não conseguia. Mas disse que falava e uma secretária transcrevia. Os dois bispos estiveram juntos, pela última vez, em janeiro, por ocasião do falecimento de uma irmã de Dom Antonio, religiosa salesiana que vivia em Anápolis. Sobre o falecimento do arcebispo emérito, Dom João disse ter recebido a notícia em uma celebração. “Eu rezava uma missa e senti o peso da notícia como se sente o peso da morte de um irmão, de um familiar querido. Peço a Deus que Dom Antonio interceda por nós para que saibamos transmitir o mesmo amor que ele cultivou pela Igreja”, completou.
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Nos dias 1º e 2 de março, diversos bispos do Regional Centro-Oeste estiveram na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Auxiliadora, para rezar, se despedir e celebrar missas pelo arcebispo emérito de Goiânia, Dom Antonio Ribeiro de Oliveira, 90 anos, que faleceu no dia 28 de fevereiro, após sofrer um infarto. Durante esses dias, alguns bispos foram entrevistados e deixaram sua homenagem mensagem final ao irmão no episcopado, para que seu legado continue a frutificar sobre a sociedade e no seio da Igreja.
Dom Washington Cruz – arcebispo de Goiânia
Dom Antonio vai deixar um vazio na vida da Igreja. Ele carregava na mente e no coração toda a história de Goiás, desde 1800 até nossos dias. Dom Antonio estudou e viveu bem toda a sua vida aqui. Conhece não só a vida religiosa, mas também a vida política, social, do estado, portanto, esse será o vazio, mas que será preenchido no céu. Dom Antonio representou para nós um pai e um pastor. À medida que ia passando os anos, ia amadurecendo e passando essa paternidade espiritual que não era só para o povo, mas era para os bispos, os padres, os religiosos, religiosas. Ele era um bom pai. Não era vovô, porque ele também era capaz de dizer palavras fortes.
Dom Levi Bonatto – bispo auxiliar de Goiânia
A Igreja vai sentir o vazio, a dor e a fragilidade por perder um filho tão nobre como Dom Antonio Ribeiro de Oliveira. Mas essa dor será compensada porque ele será recebido no céu por Nossa Senhora. Para mim foi marcante, nos dois anos de convivência com Dom Antonio, vê-lo sempre rezando sozinho, aos pés do Santíssimo, na Capela de sua casa, pelas necessidades da Igreja, povo de Deus. De fato ele foi um homem de oração.
Dom José Silva Chaves – bispo emérito de Uruaçu-GO
Dom Antonio foi um grande bispo dedicado ao povo de Deus. Homem de firmeza na exposição do Evangelho, que deixou a sua marca indelével aqui em Goiás. Nós, Igreja, temos um grande sentimento por perdermos um grande colega, um grande amigo, e vamos dizer também: um grande pastor zeloso.
Dom Messias dos Reis Silveira – presidente do regional e bispo diocesano de Uruaçu
Dom Antonio Ribeiro foi um bispo de grande importância para o nosso regional. Ele participou do Concílio Vaticano II, de toda aquela reflexão que com certeza trouxe muito conhecimento e experiência para o Regional Centro-Oeste. Aqui ele exerceu o seu ministério com grande zelo. Dom Antonio é conhecido por ser o bispo da conciliação e isso é muito importante nos tempos atuais em que temos tantos desentendimentos e tantas intrigas. No episcopado, sentimos que ele foi muito querido e respeitado pelos bispos. Não há muito tempo, ele esteve lá na sede do regional presidindo uma missa para nós em que falava da importância da relação do bispo com o clero e do clero com as pessoas. Ele dizia que assim como não pode existir os galhos da árvore sem o tronco, também não pode existir o tronco sem os galhos para que os frutos possam aparecer. Nisso percebemos que a comunhão norteava a sua mentalidade e o seu ministério. Ele foi, sem dúvida alguma, um homem da comunhão. Hoje agradecemos a Deus por ter enviado este homem tão bom, tão santo, para o nosso regional, para a Igreja no Brasil, especialmente onde ele viveu boa parte de sua missão e terminou na Arquidiocese de Goiânia, portanto, agradecemos a Deus por ter enviado este dom tão especial aqui para o nosso meio. Hoje é o dia de colocar a semente na terra. Jesus disse que se o grão de trigo não cair e não morrer ele permanecerá só um grão de trigo, mas se morrer produzirá muitos frutos. Como Dom Antonio termina sua vida, ele agora desaparece do nosso meio, mas os frutos continuarão a aparecer. Ele evangelizou muito durante a sua vida, mas continuará também evangelizando após sua morte através de suas obras, das palavras e mensagens deixadas entre nós.
Dom Adair José Guimarães – bispo de Rubiataba-Mozarlândia-GO
Dom Antonio é um ícone da história da Igreja de Goiás e do Centro-Oeste. A sua partida deste mundo deixa para nós uma lacuna, um vazio muito grande porque ele incorporou e internalizou toda a história da Igreja. Das mãos dele, da mente dele, do coração dele, brotaram muitos projetos de ajuda, melhoria da Igreja no Regional Centro-Oeste, inclusive a criação de novas dioceses. Foi um homem escolhido para o episcopado ainda jovem, com 35 anos de idade e por isso teve uma folha extensa de serviços pastorais prestados à Igreja do Centro-Oeste. Dom Antonio deixa um legado muito grande do seu testemunho como um pastor, homem goiano, de linguagem goiana, jeitão goiano que soube também alcançar o coração desse povo e realizou um grande trabalho como bispo, como sacerdote e por isso, para nós, é uma grande perda. Com certeza vai ser uma recorrência permanente da parte da Igreja no Centro-Oeste para buscar nos seus ensinamentos que ficaram, no seu testemunho dado, elementos vigorosos para a continuidade da missão evangelizadora da Igreja. A Dom Antonio nossa imorredoura gratidão pelo seu testemunho de pai e pastor, de bispo, sacerdote, irmão que carinhosamente sempre estendeu as mãos para ajudar as pessoas e a Igreja e rezemos pelo descanso eterno de sua bondosa alma, que ele seja associado na glória dos santos e dos anjos para interceder por nós e por toda nossa Igreja.
Dom Guilherme Antônio Werlang – bispo de Ipameri-GO
Nosso sentimento é difícil de expressar. De um modo, sentimos a dor, o vazio, a perda, porque ele irá fazer falta para todos nós. Porque Dom Antonio, junto com Dom Gilberto Pereira Lopes, são as duas colunas mestras sobre as quais foi construída e edificada a Diocese de Ipameri, em suas duas primeiras décadas. De outro, é um sentimento de louvor a Deus, de ação de graças por tudo aquilo que Dom Antonio viveu e testemunhou com sua fé autêntica, firme, e por tudo que fez pelos mais pobres, na defesa pela justiça, então nós temos esse sentimento duplo, da falta. Mas é um sentimento também de esperança porque nós acreditamos nesse Evangelho que ele anunciou, que ele pregou, de que Jesus é a ressurreição e a vida. De que na casa do Pai existem muitas moradas e nós podemos dizer com certeza que ele já se encontra junto de Deus. Podemos rezar por ele, em sufrágio de sua alma, mas com certeza também podemos pedir pela sua intercessão por esta sua Igreja que está presente no Centro-Oeste, inclusive no Regional Norte 3 (Tocantins e norte de Goiás) que na época em que ele foi presidente do nosso regional, ainda fazia parte do Centro-Oeste. Ele é também um dos poucos padres conciliares que ainda tínhamos vivos. Tudo isso se mistura neste momento, mas nós, como Diocese de Ipameri, e certamente como Arquidiocese de Goiânia, e como Regional Centro-Oeste, entregamos a Deus aquele que de Deus nós recebemos como pastor que nos conduziu. Só podemos louvar e bendizer o Senhor tantas maravilhas que ele fez por meio de um dos mais humildes servos. Dom Antonio é sem dúvida uma das maiores personalidades já nascidas no Centro-Oeste brasileiro. É uma das luzes que brilham mais fortes e essa luz haverá de continuar a brilhar porque seu testemunho continuará vivo entre nós.
Bispos que participaram da missa das exéquias de Dom Antonio
Dom Messias dos Reis Silveira, bispo diocesano de Uruaçu
e presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB
Dom Levi Bonatto, bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia
Dom Moacir Silva Arantes, bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia
Dom André de Witte, bispo diocesano de Rui Barbosa, na Bahia
Dom Antônio Fernando Brochini, bispo diocesano de Itumbiara
Dom Carmelo Scampa, bispo diocesano de São Luís de Montes Belos
Dom Eugênio Lambert Adrian Rixen, bispo diocesano de Goiás
Dom Guilherme Antônio Werlang, bispo diocesano de Ipameri
Dom João Wilk, bispo diocesano de Anápolis
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida, bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília
Dom Valdir Mamede, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília
Dom Adair José Guimarães, bispo diocesano de Rubiataba-Mozarlândia
O lema episcopal “Para que todos sejam um”, do querido arcebispo emérito de Goiânia, Dom Antonio Ribeiro de Oliveira, ressoou nos dias 10 a 12 de junho, por ocasião das celebrações dos seus 90 anos de vida. Atendendo ao pedido do nosso arcebispo Dom Washington Cruz, a data foi celebrada em três grandes momentos. A Reunião Mensal de Pastoral, que normalmente aborda mais de um tema, desta vez homenageou o emérito.
Naquela ocasião, Dom Washington lembrou os inúmeros mártires do início da Igreja, que deram suas vidas pela causa do Evangelho. Pontuou que o episcopado de Dom Antonio foi marcado pelo sofrimento, pelas injustiças, que muitas vezes só Deus sabia o que se passava em seu coração que suportava tudo por amor a Cristo. O bispo emérito de Uruaçu, Dom José Chaves, também deixou sua homenagem a Dom Antonio. Todas as palavras do bispo de Uruaçu foram voltadas para o ministério episcopal. “O bispo é essencialmente um missionário, encarregado da expansão do reino de Cristo: reino da luz, reino da fé, reino do amor”, disse.
Um dos pontos altos da Reunião Mensal foi a apresentação do vídeo produzido pelo Vicariato para a Comunicação (Vicom) que mostra fotos da trajetória do arcebispo emérito, relembra momentos no seminário e com sua família e apresenta “Dom Antonio por ele mesmo”, por meio de uma entrevista.
Coroou a reunião, o lançamento do livro “Dom Antonio Ribeiro de Oliveira – 90 anos”, edição da Divisão de Comunicação da PUC Goiás e organização do Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC). Além da biografia, de autoria do historiador Antônio César Caldas Pinheiro, a publicação traz os discursos de Dom Antonio em momentos marcantes de sua trajetória episcopal.
Missas
Duas missas em ação de graças marcaram as celebrações pelos 90 anos de Dom Antonio. A primeira, no dia 10, foi celebrada na Catedral Metropolitana, igreja em que foi pároco por quatro anos. Durante a homilia, Dom Washington Cruz agradeceu pelas graças que Deus concede a todos, à Igreja, a cada fiel em particular e ao emérito pelo episcopado “Para que todos sejam um”, o qual disse ter sido uma inspiração divina, pois a Igreja deseja corresponder ao desejo de unidade de Cristo. Ele ainda agradeceu a presença de Dom Antonio na Arquidiocese, como grande anunciador do Evangelho. Ao fim da Santa Missa, ele recebeu homenagem da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), entregue pelo deputado estadual Bruno Peixoto. E em meio aos últimos fogos de artifício que riscaram o céu, festejando a data, Dom Antonio disse que seu grande sentimento era de gratidão, por chegar a essa idade cercado de tanto carinho, que isso o enchia de alegria. Ele ainda recebeu os cumprimentos de todos os presentes que desejaram prestar-lhe homenagens.
A celebração festiva contou também com a presença do bispo auxiliar de Goiânia, Dom Levi Bonatto, e de bispos de outras dioceses: Dom Afonso Fioreze, Diocese de Luziânia; Dom Waldemar Passini Dalbello, bispo coadjutor da Diocese de Luziânia; Dom João Wilk, Diocese de Anápolis; Dom Eugênio Rixen, Diocese de Goiás e Dom José da Silva Chaves, bispo emérito da Diocese de Uruaçu. Grande parte do clero da Arquidiocese de Goiânia, religiosos e religiosas, autoridades políticas, o reitor da PUC Goiás, Prof. Wolmir Amado, e outros representantes da instituição, além dos fiéis leigos, também estiveram presentes.
Em Trindade, Dom Antonio presidiu missa na manhã do domingo (12), no Santuário Basílica do Divino Pai Eterno. Refletiu sobre o Evangelho de Lucas 7,36-8,3, em que Jesus perdoa os pecados da mulher pecadora porque ela mostrou muito amor ao filho de Deus. “A Igreja está no mundo para continuar a missão de Jesus”, enfatizou em sua homilia. Para isso, continuou o arcebispo emérito, “Jesus deixou o Sacramento da Confissão para que os pecados sejam perdoados e, neste Ano da Misericórdia, somos chamados ao arrependimento de coração”. Por fim, ele rendeu graças ao Divino Pai Eterno pelos seus 90 anos. “Não vou me cansar de agradecer pelo meu ministério sacerdotal a serviço do povo cristão. Por isso, me dirijo ao coração de cada um pedindo que me ajudem a agradecer o dom da vida, o meu sacerdócio e o meu episcopado para que pela misericórdia do Pai Eterno eu possa chegar ao caminho da salvação”.
Após a celebração, o reitor do Santuário-Basílica, padre Edinísio Pereira agradeceu a Deus por celebrar os 90 anos de Dom Antonio e lembrou as palavras motivadoras do aniversariante sobre sua juventude para as coisas de Deus, apesar da calvície e cabelos brancos. Também presente ali, o governador de Goiás, Marconi Perillo, agradeceu por poder compartilhar em Trindade a vida do emérito de Goiânia, “homem tão importante para a capital, Goiás, Ipameri e Orizona”. “Que Deus o abençoe e continue lhe dando saúde”, concluiu. Logo depois um café da manhã foi oferecido pelos Missionários Redentoristas aos amigos e familiares do aniversariante.
Por Fúlvio Costa e Talita Salgado
Fotos: Caio Cézar
Reportagem completa na edição 109, de 19 de junho de 2016, do Jornal Encontro Semanal.
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