Terça, 16 Mai 2017 18:57

“Comunicar esperança e confiança no nosso tempo”, convida o papa no 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais

Por ocasião do 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado neste dia 28 de maio, como de costume, o papa divulga mensagem. Neste ano traz como tema, “Não tenhas medo, que eu estou contigo” (Is 43,5) e lema, “Comunicar esperança e confiança no nosso tempo”. No texto, Francisco convoca todos “a uma comunicação construtiva”, que rejeita preconceitos e promove a cultura do encontro. O pontífice lembra que a informação é um resultado seletivo e cabe aos profissionais “decidir qual material fornecer”, evidentemente sem com isso promover uma desinformação que ignora, por exemplo, os dramas do sofrimento. Segundo Francisco, esse é o desafio diário dos comunicadores. A mensagem do papa é muito importante, de modo especial em nosso tempo, porque ele nos oferece uma contribuição à busca de um estilo comunicativo aberto e criativo, que inspira abordagens propositivas.

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O 51ª DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Tema: “Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5).
Comunicar esperança e confiança, no nosso tempo

 

28 de maio de 2017

Graças ao progresso tecnológico, o acesso aos meios de comunicação possibilita a muitas pessoas ter conhecimento quase instantâneo das notícias e divulgá-las de forma capilar. Essas notícias podem ser boas ou más, verdadeiras ou falsas. Os nossos antigos pais na fé já falavam da mente humana como uma pedra de moinho que, movida pela água, não pode ser parada. Quem está encarregado do moinho, porém, tem a possibilidade de decidir se moer o grão ou o joio. A mente do homem está sempre em ação e não pode parar de “moer” o que recebe, mas cabe a nós decidir qual material fornecer (cf. Cassiano o Romano, Carta a Leôncio Igumeno).

Gostaria que esta mensagem pudesse chegar como um encorajamento a todos aqueles que diariamente, seja no âmbito profissional seja nas relações pessoais, “moem” tantas informações para oferecer um pão perfumado e bom a quantos se alimentam dos frutos da sua comunicação. A todos quero exortar a uma comunicação construtiva, que, rejeitando os preconceitos contra o outro, promova uma cultura do encontro por meio da qual se possa aprender a olhar, com convicta confiança, a realidade.

Creio que há necessidade de romper o círculo vicioso da angústia e deter a espiral do medo, resultante do hábito de se fixar a atenção nas “notícias más” (guerras, terrorismo, escândalos e todo o tipo de falimento nas vicissitudes humanas). Não se trata, naturalmente, de promover desinformação onde seja ignorado o drama do sofrimento, nem de cair num otimismo ingênuo que não se deixe tocar pelo escândalo do mal. Antes, pelo contrário, queria que todos procurássemos ultrapassar aquele sentimento de mau-humor e resignação que muitas vezes se apodera de nós, lançando-nos na apatia, gerando medos ou a impressão de não ser possível pôr limites ao mal. Aliás, num sistema comunicador onde vigora a lógica de que uma notícia boa não desperta a atenção, e por conseguinte não é uma notícia, e onde o drama do sofrimento e o mistério do mal facilmente são elevados a espetáculo, podemos ser tentados a anestesiar a consciência ou cair no desespero.

Gostaria, pois, de dar a minha contribuição à busca de um estilo comunicador aberto e criativo, que não seja disposto a conceder ao mal um papel protagonista, mas procure evidenciar as possíveis soluções, inspirando uma abordagem propositiva e responsável nas pessoas a quem se comunica a notícia. A todos queria convidar a oferecer aos homens e mulheres do nosso tempo relatos permeados pela lógica da “boa notícia”.

A boa notícia

A vida do homem não se reduz a uma crônica asséptica de eventos, mas é história, e uma história à espera de ser contada através da escolha de uma chave interpretativa capaz de selecionar e reunir os dados mais importantes. Em si mesma, a realidade não tem um significado unívoco. Tudo depende do olhar com a qual é percebida, dos “óculos” com os quais escolhemos vê-la: mudando as lentes, também a realidade parece diversa. Por onde, então, podemos iniciar para ler a realidade com “óculos” juntos?

Para nós, cristãos, os óculos adequados para decifrar a realidade só podem ser os da boa notícia: partir da Boa Notícia por excelência, ou seja, o “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1, 1). É com estas palavras que o evangelista Marcos começa a sua narração: com o anúncio da “boa notícia”, que tem a ver com Jesus; mas, mais do que uma informação sobre Jesus, a boa notícia é o próprio Jesus. Com efeito, ao ler as páginas do Evangelho, descobre-se que o título da obra corresponde ao seu conteúdo e, principalmente, que este conteúdo é a própria pessoa de Jesus.

Esta boa notícia, que é o próprio Jesus, não se diz boa porque nela não se encontra sofrimento, mas porque o próprio sofrimento é vivido num quadro mais amplo, como parte integrante do seu amor ao Pai e à humanidade. Em Cristo, Deus fez-Se solidário com toda a situação humana, revelando-nos que não estamos sozinhos, porque temos um Pai que nunca pode esquecer os seus filhos. “Não tenhas medo, que Eu estou contigo” (Is 43, 5): é a palavra consoladora de um Deus desde sempre envolvido na história do seu povo. No seu Filho amado, esta promessa de Deus – “Eu estou contigo” – assume toda a nossa fraqueza, chegando ao ponto de sofrer a nossa morte. N’Ele, as próprias trevas e a morte tornam-se lugar de comunhão com a Luz e a Vida. Nasce, assim, uma esperança acessível a todos, precisamente no lugar onde a vida conhece a amargura do falimento. Trata-se duma esperança que não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5) e faz germinar a vida nova, como a planta cresce da semente caída na terra. Visto sob esta luz, qualquer novo drama que aconteça na história do mundo torna-se cenário possível também duma boa notícia, uma vez que o amor consegue sempre encontrar o caminho da proximidade e suscitar corações capazes de se comover, rostos capazes de não se abater, mãos prontas a construir.

A confiança na semente do Reino

Para introduzir os seus discípulos e as multidões nesta mentalidade evangélica e entregar-lhes os “óculos” adequados para se aproximar da lógica do amor que morre e ressuscita, Jesus recorria às parábolas, nas quais muitas vezes se compara o Reino de Deus com a semente, cuja força vital irrompe precisamente quando morre na terra (cf. Mc 4, 1-34). O recurso a imagens e metáforas para comunicar a força humilde do Reino não é um modo de reduzir a sua importância e urgência, mas a forma misericordiosa que deixa, ao ouvinte, o “espaço” de liberdade para a acolher e aplicar também a si mesmo. Além disso, é o caminho privilegiado para expressar a dignidade imensa do mistério pascal, deixando que sejam as imagens – mais do que os conceitos – a comunicar a beleza paradoxal da vida nova em Cristo, onde as hostilidades e a cruz não anulam, mas realizam a salvação de Deus, onde a fraqueza é mais forte do que qualquer poder humano, onde o fracasso pode ser o prelúdio da maior realização de cada coisa no amor. Precisamente assim, de fato, amadurece se aprofunda a esperança do Reino de Deus: “É como um homem que lançou a semente na terra; ele dorme e acorda, de noite ou de dia, mas a semente germina e cresce” (Mc 4, 26-27).

O Reino de Deus já está entre nós, como uma semente escondida ao olhar superficial e cujo crescimento acontece no silêncio. Mas quem tem olhos, tornados limpos pelo Espírito Santo, consegue vê-lo germinar e não se deixa roubar a alegria do Reino por causa do joio sempre presente.

Os horizontes do Espírito

A esperança baseada na boa notícia que é Jesus faz-nos erguer os olhos e nos impulsiona a contemplá-lo no contexto litúrgico da Festa da Ascensão. Embora pareça que o Senhor se distancie de nós, na verdade se alargam os horizontes da esperança. De fato, todo homem e toda mulher, em Cristo, que eleva a nossa humanidade ao Céu, pode ter plena liberdade para “entrar no santuário pelo sangue de Jesus, caminho novo e vivo que Ele inaugurou através do véu, quer dizer, pela sua carne” (Hb 10,19-20). Através “da força do Espírito Santo”, podemos ser “testemunhas” e comunicadores de uma humanidade nova, redimida, “até os confins da terra” (cf. At 1,7-8).

A confiança na semente do Reino de Deus e na lógica da Páscoa não pode deixar de moldar também o nosso modo de comunicar. Tal confiança que nos torna capazes de atuar – nas mais variadas formas em que acontece hoje a comunicação – com a persuasão de que é possível enxergar e iluminar a boa notícia presente na realidade de cada história e no rosto de cada pessoa.

Quem, com fé, se deixa guiar pelo Espírito Santo, torna-se capaz de discernir em cada evento o que acontece entre Deus e a humanidade, reconhecendo como Ele mesmo, no cenário dramático deste mundo, esteja compondo a trama de uma história de salvação. O fio com o qual se tece esta história sagrada é a esperança e o seu tecedor só pode ser o Espírito Consolador. A esperança é a mais humilde das virtudes, porque permanece escondida nas dobras da vida, mas é semelhante ao fermento que faz levedar toda a massa.

Nós a alimentamos lendo sempre novamente a Boa Notícia, o Evangelho que foi “reimpresso” em tantas edições nas vidas dos Santos, homens e mulheres que se tornaram ícones do amor de Deus. Também hoje é o Espírito a semear em nós o desejo do Reino, através de muitos “canais” vivos, através de pessoas que se deixam conduzir pela Boa Notícia no meio do drama da história, e são como que faróis na escuridão deste mundo, que iluminam a rota e abrem novos caminhos de confiança e esperança.

Vaticano, 24 de janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano de 2017.

Francisco



Testemunha e anuncia o Evangelho de Jesus Cristo, promovendo a comunhão e a participação ativa no processo comunicacional e consolidando a missão da Igreja por meio da comunicação. "É a pastoral do ser e estar em comunhão com a comunidade. É a pastoral da acolhida, da participação, das inter-relações humanas, da organização solidária e do planejamento democrático do uso de recursos e instrumentos de comunicação” (Doc. 75 – Igreja e Comunicação - CNBB)

 

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