Sexta, 03 Fevereiro 2017 17:31

Cardeal Dom João Braz de Aviz aos consagrados: “Que não falte a esperança e a coragem”

A Igreja celebrou nesta quinta-feira (2) o Dia Mundial da Vida Consagrada. Na ocasião, o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica e arcebispo emérito de Brasília, cardeal Dom João Braz de Aviz, destaca que o desafio dos consagrados é fazer-se pequeno diante do outro, por isso ele pede que não falte a esperança e a coragem.

“Temos que, como Maria, como Simeão e Ana, saber reconhecer o que Deus quer de nós. A maneira mais concreta de fazer isso é fazer como o Senhor fez: abaixar-se, ser pequeno. Se nós queremos realmente perceber o que Deus quer de nós em cada momento e também nesse momento da história, precisamos saber abaixar-nos”, disse.

Dom João destaca que é preciso fazer isso diante de Deus e que isso vem até de uma forma natural, tendo em vista a relação, Criador-criatura, ou seja, reconhecer-se pequeno por ser criatura. O problema está em fazer-se pequeno diante dos outros. “É ali que está o amor entre iguais e que exige de nós uma mudança”, diz.

O cardeal comenta ainda o tema do próximo Sínodo dos Bispos, em 2018, sobre juventude e discernimento vocacional. Ele afirma que a sua Congregação está estudando a questão da escassez de vocações, mas também o alto índice de abandono. Todos os anos, revelou, cerca de 2 mil consagrados abandonam seus institutos. Trata-se de desistências que ocorrem em todas as faixas etárias, sendo grande parte inclusive depois dos votos perpétuos.

“Estas coisas todas estão fazendo a gente procurar de novo o sentido dessa vocação mais a fundo e com mais coerência. É o que nós estamos fazendo oficialmente, estamos agora com um grande material e querendo caminhar com todas as nossas conferências religiosas no mundo justamente no aprofundamento disso”, explica o cardeal.

Diminui número de religiosos no mundo

Cerca de 2,3 mil religiosos e religiosas abandonam o ministério todos os anos, uma realidade que o papa Francisco já apelidou de “hemorragia” na Vida Consagrada, conforme o Vaticano.

Em entrevista publicada no dia 1º de fevereiro, no jornal L’Osservatore Romano, o secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, Dom José Rodríguez Carballo, frisou que, apesar de uma parte dos religiosos abandonar os hábitos “para casar”, a primeira causa para o abandono é “a perda da fé”, são as “questões espirituais”.

“Entre 2015 e 2016 tivemos cerca de 2,3 mil abandonos, incluindo 271 decretos de demissão de institutos, 518 dispensas do celibato concedidas pela Congregação para o Clero, de 141 sacerdotes religiosos em diferentes dioceses e 332 dispensas de votos de religiosas contemplativas”, explicou o bispo.

No dia 28 de janeiro, o papa recebeu em audiência os membros desses organismos, na sequência de uma assembleia plenária dedicada precisamente ao tema da “fidelidade e dos abandonos”. Na ocasião, Francisco destacou a importância deste debate e alertou para uma “hemorragia que enfraquece a vida consagrada e a própria vida da Igreja“.

Para Dom José Rodríguez Carballo, quando o papa fala em hemorragia “quer dizer que se trata de um problema importante, não só pelo número, mas também pela idade em que se verificam os abandonos”. “A maior parte acontece com religiosos e religiosas com idades entre os 30 e os 50 anos”, adiantou.

O secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada revelou ainda que a maior parte das saídas acontecem entre as religiosas. De acordo com os dados do último Anuário Pontifício, no ano 2000, o número de religiosas em todo o mundo era de 800 mil, e em 2014 passou para cerca de 683 mil; também em 2014, os religiosos não-sacerdotes eram 54. 559.

Para Dom José Rodríguez Carballo, a questão do abandono na Vida Consagrada está muito relacionada com a fragilidade dos compromissos que hoje afeta a sociedade. “Vivemos num tempo de zapping em que não assumimos compromissos a longo prazo”, aponta o responsável católico, que destacou ainda o traço de facilidades que marca a cultura atual. “Num mundo onde tudo é fácil não há lugar para o sacrifício, nem para a renúncia, nem para outros valores. Por isso, abraçar uma vocação é ir contra a corrente”, assinalou.

Com Rádio Vaticano e Agência Ecclesia



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