Terça, 09 Novembro 2021 20:33

Pastoral Carcerária de Goiás divulga nota denunciando tortura e maus-tratos no sistema penitenciário em Aparecida de Goiânia

Irmão Diego Vinício, coordenador da Pastoral Carcerária (PCR) no estado de Goiás, publicou artigo no site da Pastoral Carcerária Nacional em que afirma que mesmo a PCR não estando a realizar as visitas periódicas ao Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, as denúncias de maus-tratos e tortura continuam a chegar. No texto ele declara: "Há um ano essas denúncias vêm crescendo constantemente". As denúncias chegam à Pastoral Carcerária por meio dos familiares dos detentos que relatam ainda que há proibição da entrada de COBAL (complementação da alimentação dos detentos feita através de doações levadas pelas suas próprias famílias). Itens básicos como arroz, feijão, macarrão, estão proibidos, sendo permitidos apenas alimentos industrializados em quantidades limitadas. Familiares relatam também que há situações em que não há vasos sanitários nas celas. "Durante o banho de sol eles tinham que fazer as suas necessidades fisiológicas em um cano e no fim conviver com as fezes".

Leia artigo na íntegra, abaixo.

 

Tortura no Sistema Penitenciário em Aparecida de Goiânia-GO

Os Voluntários/as, e Agentes da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Goiânia e do estado de Goiás estão há mais de 21 meses sem realizarem as suas visitas semanais ao Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. Mesmo não realizando as visitas periódicas, as denúncias de maus-tratos e torturas chegam até nós. Periodicamente, há um ano essas denúncias vêm crescendo constantemente.

Elas relatam grande tensão no interior das penitenciárias, principalmente de Aparecida de Goiânia, entre os detentos, mas também entre os Agentes Prisionais, tensão gerada por fatos que podem gerar consequências bastante graves, como a eclosão de rebeliões e suas consequências quase sempre trágicas, não desejáveis pela sociedade, pela direção e pelas autoridades do Estado.

Os familiares nos procuram e relatam a rotina dentro do complexo, os detentos são tratados com: “facadas, afogamentos, choques, pauladas na cabeça. Entre outras violências praticadas”. Recentemente recebemos uma carta de um familiar que relatava que nem vaso sanitário eles tinham, durante o banho de sol eles tinham que fazer as suas necessidades fisiológicas em um cano e no fim conviver com as fezes.

Relataram ainda a proibição da entrada de COBAL (complementação da alimentação dos detentos feita através de doações levadas pelas suas próprias famílias), itens como arroz, feijão, macarrão e óleo, de agora em diante só permitindo produtos industrializados. Esta “colaboração” forçada das famílias, forçada pois o Estado é obrigado por lei a alimentar adequadamente aqueles que estão sob sua custódia, aliviava a fome dos internos, tendo em vista ser bastante limitada a alimentação que lhes são fornecida, apenas três vezes ao dia: café da manhã, almoço e jantar em porções reduzidas e com 3 ou 4 itens, sem muita qualidade.

Uma outra possibilidade de complementação da alimentação eram as cantinas, também fechadas sob a alegação de se estar sendo feita uma nova licitação para entrega a alguém selecionado pela administração superior.

Disseram ainda que nessa COBAL só é permitida a entrada de 2kg de peta, 2,5gr de bolachas, 250gr de muçarela, 250gr de mortadela, 1kg de pão de forma, 500gr de frutas (as que eles autorizam) 500gr de suco químico em pó. Só lembrando que esta COBAL não é permitida em todos os departamentos do sistema. Os familiares têm que retirar uma senha que é liberada as 00:00 horas pelo aplicativo do sistema, quinzenalmente. São liberadas 300 senhas para mais de 3 mil presos(as) e mesmo assim na hora de levar as COBAL ainda dá problema referente às senhas. Sem contar que as porções limitadas dos outros itens, sendo jogados ao lixo – à vista dos familiares – os excedentes de peso estabelecido pela administração, causando humilhação e constrangimento.

Os familiares que reclamam são suspensos das entregas de COBAL por desacato à autoridade. Como estamos há 21 meses sem realizarmos as visitas, todas essas denúncias chegam até nós por meio do site oficial da Pastoral Carcerária Nacional, cartas e e-mails e whatsapp enviados pelos os familiares dos detentos.

Para a Pastoral Carcerária, como preceitua a própria Constituição Brasileira, o respeito à pessoa é direito inalienável do ser humano, independentemente de suas falhas ou delitos cometidos, que condenado pela justiça deve ser isolado da sociedade visando a sua ressocialização/reeducação, objetivo que jamais será alcançado se submetido às práticas que podem ser caracterizadas como de tortura.

Acreditamos que estes fatos/procedimentos não se justificam, mesmo visando a segurança do Sistema Prisional, pois violam as Leis do País e castigam – em última análise – os familiares, mães, esposas e filhos, as maiores vítimas em quase em sua totalidade inocentes e desprotegidas diante do Estado. Ao mesmo tempo solicitamos a apuração dos fatos de tortura ocorrido e respeitando o tratamento digno estabelecido na legislação nacional e internacional.

A Pastoral Careceria juntamente com todos os familiares requere a volta das visitas presenciais, pois a mesma nos cobre no “O artigo 41, inciso X, da Lei de Execução Penal, assegura ao preso o direito de visita de parentes, em cumprimento aos princípios constitucionais da reintegração do preso à sociedade. Visa, igualmente, a manutenção do convívio entre o detento e sua família, entidade que é constitucionalmente protegida pelo Estado.”

Por esse motivo solicitamos a volta das visitas presenciais dos familiares.

 

Goiânia, 08 de novembro de 2021.
Ir. Diego Vinício Gomes de Almeida, C.Ss.R.
Coordenador Estadual do Estado de Goiás da Pastoral Carcerária

 

A Pastoral Carcerária é a presença de Cristo e de sua Igreja no sistema carcerário onde procura desenvolver todos os trabalhos que essa presença vem a exigir. A Pastoral mantém contatos e relações de trabalho e parceria com organismos dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, como também ONG’s locais, nacionais e internacionais. Tem por objetivo a evangelização e promoção da dignidade humana por meio da presença da Igreja nos cárceres através das equipes de pastoral na busca de um mundo sem cárceres!

Bispo referencial: Dom Nélio e Dom Jeová Elias
Coordenadora: Maria Margarida Onofre de Lira

 
Contatos: (11) 99161-8260



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