Tu és Pedro, e eu te darei as chaves do Reino dos céus.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 16,13-20
Prezados irmãos e irmãs!
Na catequese de hoje, gostaria de contemplar convosco uma figura de mulher que nos fala da esperança vivida no pranto. A esperança vivida no pranto! Trata-se de Raquel, esposa de Jacó e mãe de José e de Benjamin, aquela que, como nos descreve o Livro do Gênesis, morre ao dar à luz o seu segundo filho, ou seja, Benjamin.
O profeta Jeremias refere-se à Raquel, dirigindo-se aos israelitas no exílio para os consolar com palavras cheias de comoção e de poesia; ou seja, toma o pranto de Raquel, mas dá esperança:
Eis o que diz o Senhor: “Ouve-se em Ramá uma voz / lamentações e amargos soluços. / É Raquel que chora os filhos, / recusando ser consolada / porque já não existem” (Jr 31,15).
Nesses versículos, Jeremias apresenta essa mulher do seu povo, a grande matriarca da sua tribo, numa realidade de dor e pranto, mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva de vida impensada. Raquel, que na narração do Gênesis morrera dando à luz e assumira aquela morte para que o filho pudesse viver, é agora representada pelo profeta estando viva em Ramá, lá onde se reuniam os deportados, e chora os filhos que num certo sentido faleceram a caminho do exílio; filhos que, como ela mesma diz, “já não existem”, pois desapareceram para sempre.
E por isso Raquel não quer ser consolada. Essa sua rejeição exprime a profundidade da sua dor e a amargura do seu pranto. Diante da tragédia da perda dos filhos, uma mãe não pode aceitar palavras ou gestos de consolação, que são sempre inadequados, nunca capazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode nem quer ser cicatrizada. Uma dor proporcional ao amor.
Qualquer mãe sabe tudo isso; e são tantas, ainda hoje, as mães que choram, que não se resignam à perda de um filho, inconsoláveis diante de uma morte impossível de aceitar. Raquel encerra em si mesma a dor de todas as mães do mundo, de todos os tempos, e as lágrimas de cada ser humano que chora perdas irreparáveis.
Essa rejeição de Raquel que não quer ser consolada ensina-nos também quanta delicadeza nos é pedida face à dor de outrem. Para falar de esperança a quem está desesperado, é necessário compartilhar o seu desespero; para enxugar uma lágrima do rosto de quem sofre, é preciso unir ao seu o nosso pranto. Somente assim as nossas palavras podem ser realmente capazes de dar um pouco de esperança. E se não posso proferir palavras assim, com o pranto, com a dor, é melhor o silêncio, a carícia, o gesto, sem palavras.
Lágrimas, sementes de esperança
E Deus, com a sua delicadeza e o seu amor, responde ao pranto de Raquel com palavras autênticas, não fingidas. Com efeito, assim prossegue o texto de Jeremias:
“Eis o que diz o Senhor, respondendo àquele pranto: Cessa de gemer, / enxuga as tuas lágrimas! / As tuas penas receberão a recompensa / – oráculo do Senhor. / Voltarão (os teus filhos) da terra inimiga. / Desponta no teu futuro a esperança / – oráculo do Senhor. / Os teus filhos voltarão para a sua terra” (Jr 31,16-17).
Precisamente devido ao pranto da mãe, ainda há esperança para os filhos, que voltarão a viver. Essa mulher, que tinha aceitado morrer no momento do parto para que o filho pudesse viver, com o seu pranto é agora princípio de vida nova para os filhos exilados, prisioneiros, desterrados. À dor e ao pranto amargo de Raquel, o Senhor responde com uma promessa que agora pode ser para ela motivo de verdadeira consolação: o povo poderá regressar do exílio e viver a sua relação com Deus na fé, livre. As lágrimas geraram esperança. E isso não é fácil de entender, mas é verdade. Muitas vezes, na nossa vida, as lágrimas semeiam esperança, são sementes de esperança.
Como sabemos, esse texto de Jeremias é retomado depois pelo evangelista Mateus e aplicado ao massacre dos inocentes (cf. 2,16-18). Um texto que nos põe diante da tragédia do assassinato de seres humanos indefesos, do horror do poder que despreza e suprime a vida. As crianças de Belém morreram por causa de Jesus. E Ele, por sua vez, Cordeiro inocente, viria a morrer por todos nós. O Filho de Deus entrou na dor dos homens. Não podemos esquecer isso. Quando alguém vem conversar comigo e me dirige perguntas difíceis, como, por exemplo: “Diga-me, padre, porque as crianças sofrem?”, realmente eu não sei o que responder. E digo apenas: “Olha para o Crucificado: Deus ofereceu-nos o seu Filho. Ele sofreu e talvez ali encontres uma resposta”. Mas não existem respostas aqui [mostra a sua cabeça]. Somente olhando para o amor de Deus que dá o seu Filho, que oferece a sua vida por nós, poderá indicar algum caminho de consolação. E por isso dizemos que o Filho de Deus entrou na dor dos homens; compartilhou e aceitou a morte; a sua Palavra é definitivamente verbo de consolação, porque nasce do pranto.
E na cruz será Ele, Filho agonizante, quem dará uma renovada fecundidade à sua Mãe, confiando-lhe o discípulo João e tornando-a Mãe do povo dos fiéis. A morte é derrotada, cumprindo-se assim a profecia feita por Jeremias. Também as lágrimas de Maria, como as de Raquel, geraram esperança e vida nova. Obrigado!
Audiência Geral. Praça São Pedro, 4 de janeiro de 2017
Amados irmãos e irmãs!
O trecho do evangelho de João que ouvimos (cf. 4, 6-15) narra o encontro de Jesus com uma mulher samaritana. O que surpreende desse encontro é o diálogo muito conciso entre a mulher e Jesus. Isso permite-nos frisar hoje um aspeto muito importante da misericórdia, que é precisamente o diálogo.
O diálogo permite que as pessoas se conheçam e compreendam as exigências uns dos outros. Antes de tudo, ele é um sinal de grande respeito, porque coloca as pessoas numa atitude de escuta e na condição de compreender os aspetos melhores do interlocutor. Em segundo lugar, o diálogo é expressão de caridade, porque, mesmo sem ignorar as diferenças, pode ajudar a procurar e a partilhar o bem comum. Além disso, o diálogo convida-nos a pormo-nos diante do outro vendo-o como um dom de Deus, que nos interpela e nos pede para ser reconhecido.
Muitas vezes nós não nos encontramos com os irmãos, mesmo vivendo ao lado deles, sobretudo quando fazemos prevalecer a nossa posição sobre a do outro. Não dialogamos quando não ouvimos o suficiente ou quando tendemos a interromper o outro para demonstrar que temos razão. Mas quantas vezes, quantas vezes estamos a ouvir uma pessoa e impedimos que continue a falar dizendo: “Não, não! Não é assim!” e não deixamos que a pessoa acabe de explicar o que pretende dizer. E isso impede o diálogo: esta é agressão. O verdadeiro diálogo, ao contrário, necessita de momentos de silêncio, nos quais captar o dom extraordinário da presença de Deus no irmão.
Queridos irmãos e irmãs, dialogar ajuda as pessoas a humanizar as relações e a superar as incompreensões. Há tanta necessidade de diálogo nas nossas famílias, e como se resolveriam mais facilmente as questões se aprendêssemos a ouvirmo-nos reciprocamente! É assim no relacionamento entre marido e esposa, e entre pais e filhos.
Promoção da cultura do encontro
Quanta ajuda pode vir também do diálogo entre os professores e os seus alunos; ou entre dirigentes e trabalhadores, para descobrir as exigências melhores do trabalho.
Também a Igreja vive de diálogo com os homens e as mulheres de todos os tempos, para compreender as necessidades que estão no coração de cada pessoa e para contribuir para a realização do bem comum. Pensemos no grande dom da criação e na responsabilidade que todos temos de salvaguardar a nossa casa comum: o diálogo sobre um tema tão central é uma exigência iniludível. Pensemos no diálogo entre as religiões, para descobrir a verdade profunda da sua missão no meio dos homens, a fim de contribuir para a construção da paz e de uma rede de respeito e de fraternidade (cf. Enc. Laudato si’, 201).
Para concluir, todas as formas de diálogo são expressão da grande exigência de amor de Deus, que vai ao encontro de todos e lança em cada um a semente da sua bondade, para que possa colaborar na sua obra criadora. O diálogo derruba os muros das divisões e das incompreensões; cria pontes de comunicação e não permite que alguém se isole, fechando-se no seu pequeno mundo. Não vos esqueçais: dialogar significa ouvir o que me diz o outro e dizer com mansidão aquilo que penso. Se as coisas correrem assim, a família, o bairro, o lugar de trabalho serão melhores. Mas se eu não deixo que o outro diga tudo o que tem no coração e começo a gritar — hoje grita-se muito — esta relação não terá bom êxito; o relacionamento entre marido e esposa, entre pais e filhos não terá bom êxito. Ouvir, explicar, com mansidão, não agredir o outro, não gritar, mas ter um coração aberto.
Jesus sabia bem o que a samaritana, uma grande pecadora, tinha no coração; não obstante, não lhe negou a possibilidade de se expressar, deixou que falasse até ao fim, e entrou pouco a pouco no mistério da sua vida. Este ensinamento é válido também para nós. Através do diálogo, podemos fazer crescer os sinais da misericórdia de Deus e fazer deles instrumento de acolhimento e de respeito.
Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 22 de outubro de 2016
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje gostaria de refletir brevemente sobre a Viagem Apostólica que realizei recentemente à Polônia.
A ocasião da visita foi a Jornada Mundial da Juventude, 25 anos depois daquela histórica celebrada em Częstochowa após a queda da “cortina de ferro”. Nestes 25 anos a Polônia mudou, a Europa mudou e também o mundo mudou, e esta JMJ tornou-se um sinal profético para a Polônia, a Europa e o mundo. A nova geração de jovens, herdeiros e continuadores da peregrinação iniciada por São João Paulo II, ofereceram a resposta ao desafio de hoje, deram um sinal de esperança e este sinal chama-se fraternidade. Porque, precisamente neste mundo de guerra, são necessários fraternidade, proximidade, diálogo e amizade. E este é o sinal da esperança: quando existe fraternidade.
Iniciemos precisamente dos jovens, que foram o primeiro motivo desta Viagem. Mais uma vez responderam ao chamado: provenientes de todo o mundo – alguns deles ainda estão aqui! (indicou os peregrinos na Sala) – uma festa de cor, de rostos diversos, de línguas, de histórias diferentes. Não sei como fazeis: falais línguas diferentes mas conseguis compreender-vos! E por quê? Porque sentem a mesma vontade de caminhar juntos, de construir pontes de fraternidade. Trouxeram inclusive as suas feridas, com as suas dúvidas, mas sobretudo com a alegria de se encontrar; e mais uma vez formaram um mosaico de fraternidade. Podemos falar de um mosaico de fraternidade. Uma imagem emblemática das Jornadas Mundiais da Juventude é a extensão multicor de bandeiras que tremulam: com efeito, na JMJ, as bandeiras das nações ficam ainda mais bonitas, por assim dizer “purificam-se”, e até as bandeiras de nações em conflito entre si tremulam uma ao lado da outra. Isso é lindo! Também aqui há bandeiras... mostrai-as!
Assim, no seu grande encontro jubilar, os jovens do mundo acolheram a mensagem da Misericórdia para levá-la a toda parte em obras espirituais e corporais. Agradeço a todos os jovens que foram a Cracóvia! Agradeço também aos que se uniram a nós de todas as partes da Terra! Porque em muitos países se realizaram pequenas JMJ em ligação com Cracóvia. O dom que recebestes se torne resposta diária ao chamado do Senhor. Dirijo uma recordação cheia de afeto a Susanna, a jovem romana que faleceu imediatamente depois de ter participado na JMJ, em Viena. O Senhor, que certamente a recebeu no Céu, conforte os seus familiares e amigos.
Sinal de paz à Polônia, à Europa e ao mundo
Nesta Viagem visitei o Santuário de Częstochowa. Diante da imagem de Nossa Senhora, recebi o dom do olhar da Mãe, que de maneira particular é Mãe do povo polonês, daquela nobre nação que tanto sofreu e, com a força da fé e da sua mão materna, sempre se levantou. Acabei de cumprimentar alguns poloneses aqui. Sois muito bons! Lá, sob aquele olhar, compreende-se o sentido espiritual do caminho deste povo, cuja história está ligada de modo inseparável à Cruz de Cristo. Lá sente-se a fé do santo povo fiel de Deus, que conserva a esperança através das provações; e preserva também aquela sabedoria que é equilíbrio entre tradição e inovação, entre memória e futuro. E hoje a Polônia recorda a toda a Europa que não pode existir um futuro para o continente sem os seus valores fundantes, os quais por sua vez põem no centro a visão cristã do homem. Entre tais valores está a misericórdia, da qual foram apóstolos especiais dois grandes filhos da terra polonesa: santa Faustina Kowalska e São João Paulo II.
E, enfim, essa viagem teve também o horizonte do mundo, um mundo chamado a responder ao desafio de uma guerra “aos pedaços” que o está ameaçando. O grande silêncio da visita a Auschwitz-Birkenau foi mais eloquente do que qualquer palavra. Naquele silêncio ouvi, senti a presença de todas as almas que por lá passaram; senti a compaixão, a misericórdia de Deus, que algumas almas santas souberam levar até àquele abismo. Naquele grande silêncio, rezei por todas as vítimas da violência e da guerra. Naquele lugar compreendi mais do que nunca o valor da memória, não só como lembrança de eventos passados, mas como advertência e responsabilidade para o hoje e o amanhã, a fim de que a semente do ódio e da violência não brote nos sulcos da história. E nesta memória das guerras e de tantas feridas, de tantos sofrimentos vividos, há muitos homens e mulheres de hoje, que sofrem as guerras, tantos irmãos e irmãs nossos. Observando tal crueldade no campo de concentração, pensei nas crueldades de hoje, que são semelhantes: não tão concentradas como ali, mas em todo o mundo; este mundo que está doente de crueldade, de sofrimento, de guerra, de ódio, de tristeza. É por isso que sempre vos peço a oração: que o Senhor nos dê a paz!
Por tudo isso, agradeço ao Senhor e à Virgem Maria. Exprimo novamente a minha gratidão ao presidente da Polônia e às demais autoridades, ao cardeal arcebispo de Cracóvia e a todo o episcopado polonês, a todos os que, de mil modos, tornaram possível este evento que ofereceu um sinal de fraternidade e paz à Polônia, à Europa e ao mundo. Gostaria de agradecer também aos jovens voluntários, que durante mais de um ano trabalharam a fim de preparar este evento; e também aos que trabalham nos meios de comunicação: obrigado por terdes feito com que esta Jornada fosse vista em todo o mundo. E não posso esquecer Anna Maria Jacobini, uma jornalista italiana que perdeu a vida lá. De repente. Rezemos por ela, que faleceu quando desempenhava o seu serviço. Obrigado!
Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 3 de agosto de 2016
Queridos irmãos e irmãs!
O trecho do Evangelho de Lucas que acabamos de ouvir (7,11-17) apresenta-nos um milagre de Jesus deveras grandioso: a ressurreição de um jovem. No entanto, o núcleo dessa narração não é o milagre, mas a ternura de Jesus para com a mãe desse jovem. Aqui a misericórdia assume o nome de grande compaixão por uma mulher que tinha perdido o marido e que agora leva ao cemitério o seu único filho. Essa grande dor da mãe comove Jesus e provoca o milagre da ressurreição.
Ao introduzir esse episódio, o Evangelista hesita sobre muitos pormenores. Na porta da cidade de Naim – uma aldeia – encontram-se dois grupos numerosos que provêm de direções opostas e que nada têm em comum. Jesus, seguido pelos discípulos e por uma multidão prepara-se para entrar no povoado, enquanto sai o triste cortejo que acompanha o defunto, com a mãe viúva e muitas pessoas. Junto da porta os dois grupos cruzam-se cada um indo pela própria estrada, mas é então que São Lucas comenta o sentimento de Jesus: “Vendo-a [a mulher], o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: Não chores! E aproximando-se, tocou no caixão, e os que o levavam pararam” (vv. 13-14). Grande compaixão guia as ações de Jesus: é Ele que para o cortejo ao tocar o caixão e, movido por profunda misericórdia por esta mãe, decide enfrentar a morte, por assim dizer, cara a cara. E a enfrentará, definitivamente, face a face, na Cruz.
Durante este Jubileu, seria bom que, ao atravessar a Porta Santa, a Porta da Misericórdia, os peregrinos se recordassem deste episódio do Evangelho, ocorrido na porta de Naim. Quando Jesus vê esta mãe em lágrimas, ela entrou no seu coração! Cada um chega à Porta Santa trazendo a própria vida, com as suas alegrias e sofrimentos, os projetos e as falências, as dúvidas e os temores, para a apresentar à misericórdia do Senhor. Estamos certos de que, junto da Porta Santa, o Senhor se faz próximo para encontrar cada um de nós, para trazer e oferecer a sua poderosa palavra consoladora: “Não chores!” (v. 13). Esta é a Porta do encontro entre a dor da humanidade e a compaixão de Deus. Atravessando o limiar, realizamos a nossa peregrinação dentro da misericórdia de Deus que, como ao jovem morto, repete a todos: “Ordeno-te, levanta-te!” (v. 14). A cada um de nós diz: “Levanta-te”. Deus quer-nos em pé. Criou-nos para estar em pé: por isso, a compaixão de Jesus leva àquele gesto da cura, a sarar-nos, do qual a palavra-chave é: “Levanta-te! Põe-te em pé, como Deus te criou!”. Em pé. “Mas, padre, caímos tantas vezes” — “Em frente, levanta-te!”. Essa é a palavra de Jesus, sempre. Ao atravessar a Porta Santa, procuremos ouvir no nosso coração esta palavra: “Levanta-te!”. A palavra poderosa de Jesus pode fazer com que nos levantemos e provocar também em nós a passagem da morte para a vida. A sua palavra faz-nos reviver, doa esperança, encoraja os corações cansados, abre para uma visão de mundo e de vida que vai além do sofrimento e da morte. Na Porta Santa está gravado para cada um o inesgotável tesouro da misericórdia de Deus!
A misericórdia começa no coração
Ao ouvir a palavra de Jesus, “sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua mãe” (v. 15). Essa frase é muito bonita: indica a ternura de Jesus: “Entregou-o à sua mãe”. A mãe reencontra o filho. Recebendo-o das mãos de Jesus ela torna-se mãe pela segunda vez, mas o filho que agora lhe foi restituído não recebeu a vida dela. Mãe e filho recebem assim a respetiva identidade graças à palavra poderosa de Jesus e ao seu gesto amoroso. Deste modo, especialmente no Jubileu, a mãe Igreja recebe os seus filhos reconhecendo neles a vida doada pela graça de Deus. É em virtude desta graça, a graça do Batismo, que a Igreja se torna mãe e que cada um de nós se torna seu filho.
Diante do jovem ressuscitado e restituído à mãe, “apoderou-se de todos o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: um grande profeta surgiu entre nós: Deus dirigiu o olhar para o seu povo”. Por conseguinte, quanto Jesus fez não é uma ação de salvação destinada à viúva e ao seu filho, nem um gesto de bondade limitado àquela cidadezinha. No socorro misericordioso de Jesus, Deus vai ao encontro do seu povo, n’Ele aparece e continuará a aparecer à humanidade toda a graça de Deus. Celebrando este Jubileu, que desejei que fosse vivido em todas as Igrejas particulares, isto é, em todas as Igrejas do mundo, e não só em Roma, é como se toda a Igreja espalhada pelo mundo se unisse no único canto de louvor ao Senhor. Também hoje a Igreja reconhece que recebe a visita de Deus. Por isso, encaminhando-se rumo à Porta da Misericórdia, cada um sabe que se encaminha para a porta do coração misericordioso de Jesus: de fato é Ele a verdadeira Porta que leva à salvação e nos restitui a uma vida nova. A misericórdia, quer em Jesus quer em nós, é um caminho que começa do coração para chegar às mãos. O que isso significa? Jesus olha para ti, cura-te com a sua misericórdia, dizendo-te: “Levanta-te!” e o teu coração renova-se. O que significa realizar um caminho a partir do coração até às mãos? Quer dizer que com o coração novo, sarado por Jesus, posso realizar as obras de misericórdia através das mãos, procurando ajudar, curar muitos necessitados. A misericórdia é um caminho que tem início no coração e chega às mãos, isto é, às obras de misericórdia.
Disse que a misericórdia é um caminho que vai do coração às mãos. No coração recebemos a misericórdia de Jesus que nos doa o perdão de tudo, porque Deus perdoa tudo e levanta-nos, dá-nos a vida nova e contagia-nos com a sua compaixão. Do coração perdoado e com a compaixão de Jesus, começa o caminho rumo às mãos, isto é, para as obras de misericórdia. Dizia-me um bispo outro dia que na sua catedral e noutras igrejas fez portas de misericórdia de entrada e de saída. Perguntei o porquê e a resposta foi: “Porque uma porta é para entrar, pedir perdão e obter a misericórdia de Jesus; a outra é a porta da misericórdia em saída, para levar a misericórdia aos outros, com as nossas obras de misericórdia. Como é inteligente esse bispo! Também nós façamos o mesmo com o caminho que vai do coração às mãos: entremos na igreja pela porta da misericórdia, a fim de receber o perdão de Jesus, que nos diz “Levanta-te! Vai, vai!”; e com este “vai!” – em pé – saiamos pela porta de saída. É a Igreja em saída: o caminho da misericórdia que vai do coração às mãos. Percorrei esse caminho!
Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 10 de agosto de 2016
Prezados irmãos e irmãs!
Ouvimos um trecho do Evangelho de Mateus (11,2-6). A intenção do evangelista consiste em fazer-nos entrar mais profundamente no mistério de Jesus, para compreender a sua bondade e a sua misericórdia. O episódio é o seguinte: João Batista manda os seus discípulos ao encontro de Jesus – João estava na prisão – para lhe dirigir uma pergunta muito clara: “És Tu aquele que deve vir, ou devemos esperar por outro?” (v. 3). Era precisamente o momento da escuridão... João Batista esperava ansiosamente o Messias e, na sua pregação, já o descrevera com expressões fortes, como um juiz que finalmente teria instaurado o reino de Deus e purificado o seu povo, recompensando os bons e castigando os maus. E pregava assim: “O machado já está posto à raiz das árvores: toda a árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo” (Mt 3,10). Agora Jesus dá início à sua missão pública com um estilo diferente; João sofre porque se encontra numa dupla obscuridade: na escuridão do cárcere e de uma cela, e naquela do coração. Não entende o estilo de Jesus e quer saber se é precisamente Ele o Messias, ou então se deve esperar por outro.
E à primeira vista a resposta de Jesus não parece corresponder à interrogação de João Batista. Com efeito, Jesus diz: “Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres... Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de escândalo!” (vv. 4-6). Aqui a intenção do Senhor Jesus torna-se clara: Ele responde que é o instrumento concreto da misericórdia do Pai, que vai ao encontro de todos, levando a consolação e a salvação, e deste modo manifesta o juízo de Deus. Os cegos, os coxos, os leprosos e os surdos recuperam a sua dignidade e já não vivem excluídos por causa da sua enfermidade, os mortos voltam a viver, enquanto aos pobres é anunciada a Boa Notícia. E esta torna-se a síntese do agir de Jesus, que desta forma torna visível e tangível a ação do próprio Deus.
A mensagem que a Igreja recebe desta narração da vida de Cristo é muito clara. Deus não mandou o seu Filho ao mundo para punir os pecadores, nem para aniquilar os malvados. Pelo contrário, é-lhes dirigido o convite à conversão, a fim de que, vendo os sinais da bondade divina, possam encontrar o caminho de volta. Como diz o Salmo: “Se tiverdes em conta os nossos pecados, Senhor / Senhor, quem poderá subsistir diante de vós? / Mas é em Vós que se encontra o perdão... / e é assim que vos temeremos” (130, 3-4).
Não reduzir Deus aos próprios interesses
A justiça que João Batista punha no centro da sua pregação, em Jesus manifesta-se em primeiro lugar como misericórdia. E as dúvidas do Precursor simplesmente antecipam a perplexidade que Jesus suscitará em seguida com os seus gestos e com as suas palavras. Então compreende-se a conclusão da resposta de Jesus. Ele diz: “Bem-aventurado aquele para quem eu não for ocasião de escândalo!” (v. 6). Escândalo significa “obstáculo”. Por isso, Jesus chama a atenção para um perigo particular: se os obstáculos à crença são sobretudo as suas ações de misericórdia, isto significa que temos uma imagem falsa do Messias. Ao contrário, bem-aventurados aqueles que, diante dos gestos e das palavras de Jesus, dão glória ao Pai que está no Céu.
A admoestação de Jesus é sempre atual: ainda hoje o homem constrói imagens de Deus que lhe impedem de sentir a sua presença real. Alguns modelam uma fé “particular” que reduz Deus ao espaço limitado dos próprios desejos e das próprias convicções. Mas esta fé não é conversão ao Senhor que se revela; ao contrário, impede-lhe de estimular a nossa vida e a nossa consciência. Outros reduzem Deus a um ídolo falso; usam o seu nome santo para justificar os seus interesses ou até o ódio e a violência. Para outros ainda, Deus é somente um refúgio psicológico no qual se sentir seguro nos momentos difíceis: trata-se de uma fé fechada em si mesma, impermeável à força do amor misericordioso de Jesus que impele rumo aos irmãos. E outros ainda consideram Cristo apenas um bom mestre de ensinamentos éticos, um dos tantos da história. Há finalmente aqueles que sufocam a fé numa relação puramente intimista com Jesus, anulando o seu impulso missionário, capaz de transformar o mundo e a história. Nós cristãos acreditamos no Deus de Jesus Cristo, e o nosso desejo consiste em crescer na experiência viva do seu mistério de amor.
Por conseguinte, comprometamo-nos a não opor obstáculo algum à ação misericordiosa do Pai, mas peçamos o dom de uma fé grande para nos tornarmos, também nós, sinais e instrumentos de misericórdia.
Audiência Jubilar do papa Francisco. Praça São Pedro, 7 de setembro de 2016
Caros irmãos e irmãs!
A parábola evangélica que há pouco ouvimos (cf. Lc 18,1-8) contém um ensinamento importante: “A necessidade de orar sempre, sem nunca se cansar” (v. 1). Portanto, não se trata de rezar às vezes, quando tenho vontade. Não! Jesus diz que é preciso “orar sempre, sem se cansar”. E cita o exemplo da viúva e do juiz.
O juiz é uma personalidade poderosa, chamada a emitir sentenças com base na Lei de Moisés. Por isso, a tradição bíblica recomendava que os juízes fossem pessoas tementes a Deus, dignas de fé, imparciais e incorruptíveis (cf. Ex 18,21). Ao contrário, este juiz “não temia a Deus, nem respeitava pessoa alguma” (v. 2). Era um juiz iníquo, sem escrúpulos, que não tinha em consideração a Lei, mas fazia o que queria, segundo o próprio interesse. Uma viúva vai ter com ele para obter justiça. As viúvas, juntamente com os órfãos e com os estrangeiros, eram as categorias mais frágeis da sociedade. Os direitos que lhes eram assegurados pela Lei podiam ser espezinhados com facilidade porque, dado que eram pessoas sós e indefesas, dificilmente podiam fazer-se valer: uma pobre viúva, ali sozinha, ninguém a defendia, podiam ignorá-la, sem lhe fazer justiça. Do mesmo modo também o órfão, o estrangeiro, o migrante: naquela época esta problemática era muito acentuada. Diante da indiferença do juiz, a viúva recorre à sua única arma: continuar insistentemente a importuná-lo, apresentando-lhe o seu pedido de justiça. E é precisamente com essa perseverança que ela alcança a sua finalidade. Com efeito, numa certa altura o juiz atende-a, mas não porque é impelido pela misericórdia, nem porque a consciência lho impõe; ele simplesmente admite: “Dado que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, senão ela não cessará de me molestar” (v. 5). Desta parábola Jesus haure uma dupla conclusão: se a viúva conseguiu convencer o juiz desonesto com os seus pedidos insistentes, tanto mais Deus, que é Pai bom e justo, “fará justiça aos seus escolhidos, que clamam por Ele dia e noite”; e além disso, não os “fará esperar muito tempo”, mas agirá “imediatamente” (vv. 7-8).
Por isso Jesus exorta a rezar “sem se cansar”. Todos nós sentimos momentos de cansaço e de desânimo, sobretudo quando a nossa oração parece ineficaz. Mas Jesus tranquiliza-nos: diversamente do juiz desonesto, Deus atende os seus filhos de modo imediato, embora isto não signifique que o faça segundo os tempos e modos que nós gostaríamos. A oração não é uma varinha mágica! Ela ajuda a conservar a fé em Deus, a confiar em Deus até quando não compreendemos a sua vontade. Nisto, o próprio Jesus – que rezava muito! – serve-nos de exemplo.
A oração preserva a fé
A Carta aos Hebreus recorda que “nos dias da sua vida mortal, [Ele] dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade” (5,7). À primeira vista esta afirmação parece improvável, porque Jesus morreu na cruz. E no entanto a Carta aos Hebreus não se engana: Deus salvou verdadeiramente Jesus da morte, vencendo-a com uma vitória completa, mas o caminho que teve de percorrer para a alcançar passou através da própria morte! A referência à súplica que Deus atendeu remete para a oração de Jesus no Getsêmani. Tomado pela angústia incumbente, Jesus reza ao Pai para que o livre do cálice amargo da paixão, mas a sua prece está permeada de confiança no Pai e Ele entrega-se incondicionalmente à sua vontade: “Contudo – diz Jesus – não se faça o que Eu quero, mas sim o que Tu queres” (Mt 26,39). O objeto da oração passa para segundo plano; o que importa antes de tudo é a relação com o Pai. Eis o que faz a oração: transforma o desejo, modelando-o segundo a vontade de Deus, qualquer que ela seja, porque quem ora aspira em primeiro lugar à união com Deus, que é Amor misericordioso.
A parábola conclui-se com uma pergunta: “Mas quando vier o Filho do Homem, acaso encontrará fé sobre a terra?” (v. 8). E com esta interrogação estamos todos alertados: não devemos desistir da oração, mesmo que não seja correspondida. É a prece que preserva a fé, pois sem ela a fé vacila! Peçamos ao Senhor uma fé que se faz oração incessante, perseverante, como a da viúva da parábola, uma fé que se alimenta do desejo da sua vinda. E na prece experimentamos a compaixão de Deus que, como um Pai, vem ao encontro dos seus filhos cheio de amor misericordioso.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 25 de maio de 2016.
Amados irmãos e irmãs!
Na semana passada ouvimos a parábola do juiz e da viúva, sobre a necessidade de rezar com perseverança. Hoje, com outra parábola, Jesus quer ensinar-nos qual é a atitude certa para rezar e invocar a misericórdia do Pai; como devemos rezar; a atitude correta para orar. É a parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc 18, 9-14).
Ambos os protagonistas vão ao templo para orar, mas agem de modos muitos diferentes, obtendo êxitos opostos. O fariseu reza “de pé” (v. 11) e usa muitas palavras. A sua é uma prece de ação de graças a Deus, mas na realidade é uma manifestação dos próprios méritos, com sentido de superioridade em relação aos “outros homens”, qualificados como “ladrões, injustos, adúlteros”, como, por exemplo — e indica aquele outro que estava ali — “o publicano” (v. 11). Mas este é o problema: o fariseu reza a Deus, mas na verdade olha para si mesmo. Ora por si mesmo! Em vez de ter diante dos olhos o Senhor, tem um espelho. Não obstante esteja no templo, não sente a necessidade de se prostrar diante da majestade de Deus; está de pé, sente-se seguro, como se fosse o dono do templo! E enumera as boas obras realizadas: é irrepreensível, observa a Lei mais do que lhe é devido, jejua “duas vezes por semana” e paga o “dízimo” de tudo o que possui. Em síntese, mais do que rezar, o fariseu deleita-se com a sua observância dos preceitos. E, no entanto, a sua atitude e as suas palavras estão longe do modo de agir e de falar de Deus, que ama todos os homens, sem desprezar os pecadores. Ao contrário, o fariseu despreza os pecadores, inclusive quando indica o outro ali presente. Em suma, o fariseu que se sente justo descuida o mandamento mais importante: o amor a Deus e ao próximo.
Portanto, não é suficiente perguntar-nos quanto oramos, mas devemos interrogar-nos também como rezamos, melhor, como é o nosso coração: é importante examiná-lo para avaliar os pensamentos, os sentimentos, e extirpar a arrogância e a hipocrisia. Mas eu pergunto: é possível rezar com arrogância? Não! Com hipocrisia? Não! Só devemos orar pondo-nos diante de Deus tais como somos. Não como o fariseu, que rezava com arrogância e hipocrisia. Vivemos todos arrebatados pelo delírio do ritmo diário, muitas vezes à mercê de sensações, atordoados, confusos. É preciso aprender a encontrar o caminho do nosso coração, recuperar o valor da intimidade e do silêncio, pois é ali que Deus nos encontra e nos fala. Só a partir dali podemos por nossa vez encontrar os outros e falar com eles. O fariseu vai ao templo, sente-se seguro de si mesmo, mas não se dá conta de ter perdido o caminho do seu coração.
Ao contrário, o publicano — o outro — vai ao templo com espírito humilde e arrependido: “Mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito” (v. 13). A sua prece é muito breve, não longa como a do fariseu: “Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!”. Nada mais. Uma linda oração! Com efeito, os cobradores de impostos — chamados precisamente “publicanos” — eram considerados pessoas impuras, submetidas aos dominadores estrangeiros, eram desprezados pelo povo e em geral associados aos “pecadores”. A parábola ensina que a pessoa é justa ou pecadora não pela sua pertença social, mas pelo seu modo de se relacionar com Deus, pelo seu modo de se comportar com os irmãos. Os gestos de penitência e as poucas e simples palavras do publicano atestam a consciência acerca da sua condição miserável. A sua prece é essencial. Age com humildade, só está seguro de ser um pecador necessitado de piedade. Se o fariseu nada pedia porque já possuía tudo, o publicano só pode implorar a misericórdia de Deus. E isto é bonito: suplicar a misericórdia de Deus! Apresentando-se “de mãos vazias”, com o coração despojado e reconhecendo-se pecador, o publicano mostra a todos nós a condição necessária para receber o perdão do Senhor. No final é precisamente ele, tão desprezado, que se torna um ícone do autêntico crente.
Jesus conclui a parábola com uma sentença: “Digo-vos: ele — ou seja, o publicano — ao contrário do outro, voltou para casa justificado. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado” (v. 14). Qual deles é o corrupto? O fariseu. Ele é precisamente o ícone do corrupto que faz de conta que reza, mas só consegue pavonear-se diante de um espelho. É um corrupto e finge que reza. Assim, na vida, quem se considera justo e julga o próximo desprezando-o é um corrupto, um hipócrita. A soberba compromete todas as boas ações, esvazia a oração, afasta de Deus e do próximo. Se Deus prefere a humildade não é para nos aviltar: a humildade é, sobretudo uma condição necessária para sermos elevados por Ele, de modo a experimentarmos a misericórdia que preenche os nossos vazios. Se a prece do soberbo não alcançar o Coração de Deus, a humildade do miserável abre-o de par em par. Deus tem uma fragilidade: a debilidade pelos humildes. Diante de um coração humilde, Deus abre totalmente o seu Coração. É esta humildade que a Virgem Maria exprime no cântico do Magnificat: “Olhou para a humildade da sua serva [...] A sua misericórdia estende-se, de geração em geração, sobre os que o temem” (Lc 1,48.50). Que Ela, nossa Mãe, nos ajude a rezar com um coração humilde. E nós repitamos três vezes esta linda prece: “Ó Deus, tende piedade de mim, que sou pecador!”.
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 1º de junho de 2016
Queridos irmãos e irmãs!
Antes de dar início à catequese, gostaria de saudar um grupo de casais que celebram as bodas de ouro. Este sim que é “o vinho bom” da família! O vosso é um testemunho que os recém-casados — que saudarei mais tarde — e os jovens devem aprender. É um bonito testemunho. Obrigado pelo vosso testemunho. Depois de ter comentado algumas parábolas da misericórdia, hoje reflitamos sobre o primeiro dos milagres de Jesus, que o evangelista João chama “sinais”, porque Jesus não os realizou para suscitar admiração, mas para revelar o amor do Pai. O primeiro desses sinais prodigiosos é narrado precisamente por João (2,1-11) e realiza-se em Caná da Galileia. Trata-se de uma espécie de “portal de entrada”, no qual são esculpidas palavras e expressões que iluminam o inteiro mistério de Cristo e abrem o coração dos discípulos à fé. Vejamos algumas delas.
Na introdução encontramos a expressão “Jesus com os seus discípulos” (v. 2). Aqueles que Jesus tinha chamado para o seguir, uniu-os a si numa comunidade e então, como uma família única, tinham sido convidados para as núpcias. Dando início ao seu ministério público nas bodas de Caná, Jesus manifesta-se como o esposo do povo de Deus, anunciado pelos profetas, e revela-nos a profundidade da relação que nos une a Ele: é uma nova Aliança de amor. Qual é o fundamento da nossa fé? Um ato de misericórdia com o qual Jesus nos uniu a si. E a vida cristã é a resposta a este amor, é como a história de dois namorados. Deus e o homem encontram-se, procuram-se, acham-se, celebram-se e amam-se: exatamente como o amado e a amada no Cântico dos Cânticos. Todo o resto vem como consequência dessa relação. A Igreja é a família de Jesus sobre a qual derrama o seu amor; é esse amor que a Igreja conserva e deseja doar a todos.
No contexto da Aliança compreende-se também a observação de Nossa Senhora: “Já não têm vinho” (v. 3). Como é possível celebrar as núpcias e festejar se falta o que os profetas indicam como um elemento típico do banquete messiânico (cf. Am 9, 13-14; Gl 2, 24; Is 25, 6)? A água é necessária para viver, mas o vinho exprime a abundância do banquete e a alegria da festa. É uma festa de casamento na qual falta o vinho; os noivos envergonham-se disso. Mas imaginai terminar uma festa de casamento bebendo chá; seria uma vergonha. O vinho é necessário para a festa. Transformando em vinho a água das ânforas utilizadas “para a purificação ritual dos judeus” (v. 6), Jesus realiza um sinal eloquente: transforma a Lei de Moisés em Evangelho, portador de alegria. Como disse o próprio João noutro excerto: “A Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (1, 17).
Fazei o que ele vos disser
As palavras que Maria dirige aos servos coroam o quadro esponsal de Caná: “Fazei o que ele vos disser” (v. 5). É curioso: são as suas últimas palavras narradas pelos Evangelhos. São a sua herança que entregou a todos nós. Também hoje Nossa Senhora diz a todos nós: “Fazei o que ele — Jesus — vos disser”. Eis a herança que nos deixou: é bonito! Trata-se de uma expressão que evoca a fórmula de fé utilizada pelo povo de Israel no Sinai em resposta às promessas da aliança: “Faremos tudo o que o Senhor disser!” (Ex 19, 8). E com efeito em Caná os servos obedeceram. “Jesus ordena-lhes: Enchei as ânforas de água. Eles encheram-nas até cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram” (vv. 7-8). Nessas núpcias, foi deveras estabelecida uma Nova Aliança e aos servos do Senhor, isto é, a toda a Igreja, foi confiada a nova missão: “Fazei o que ele vos disser!”. Servir o Senhor significa ouvir e praticar a sua Palavra. Foi a recomendação simples mas essencial da Mãe de Jesus e é o programa de vida do cristão. Para cada um de nós, beber da ânfora equivale a confiar-nos à Palavra de Deus para sentir a sua eficácia na vida. Então, juntamente com o chefe dos serventes que experimentou a água que se transformou em vinho, que também nós possamos exclamar: “Guardaste o vinho melhor até agora” (v. 10). Sim, o Senhor continua a reservar aquele vinho bom para a nossa salvação, assim como continua a brotar do lado trespassado do Senhor.
A conclusão da narração soa como uma sentença: “Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (v. 11). As bodas de Caná representam muito mais do que a simples narração do primeiro milagre de Jesus. Como um relicário, Ele conserva o segredo da sua pessoa e a finalidade da sua vinda: o esperado Esposo dá início às núpcias que se realizam no Mistério pascal. Nessas bodas Jesus une a si os seus discípulos com uma Aliança nova e definitiva. Em Caná os discípulos de Jesus tornam-se a sua família e em Caná nasce a fé da Igreja. Para aquelas bodas todos somos convidados, a fim de que o vinho novo já não venha a faltar!
Audiência Geral do papa Francisco. Praça São Pedro, 8 de junho de 2016
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