Bendito o que vem em nome do Senhor (Sl 118, 26)
No sábado, 13 de agosto, monsenhor Moacir Silva Arantes, 47 anos, nomeado bispo auxiliar de Goiânia pelo papa Francisco, no dia 11 de maio, será ordenado na igreja matriz de São Bento, em sua terra natal, Itapecerica (MG), sob imposição das mãos do bispo emérito de Divinópolis (MG), Dom José Belvino do Nascimento e dos bispos co-ordenantes, Dom José Carlos de Souza Campos, diocesano de Divinópolis e Dom Washington Cruz, arcebispo de Goiânia e responsável pelo pedido ao papa de um segundo bispo auxiliar.
Filho de Bento Alves Arantes e Irene Pinto de Araújo, monsenhor Moacir é o 13º de 15 irmãos. Formou-se em filosofia e teologia em Belo Horizonte e foi ordenado padre em 14 de agosto de 1999. Já foi administrador, vigário e pároco em seis municípios da Diocese de Divinópolis, bem como reitor dos seminários diocesanos, membro do conselho presbiteral e coordenador da Pastoral das Vocações e ministérios da diocese. Foi assessor eclesiástico da Pastoral Familiar no Regional Leste 2 (Espírito Santo e Minas Gerais) e por último assessor nacional da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Vocação
Monsenhor Moacir sentiu o desejo de ser padre, por volta dos 20 anos de idade, segundo sua mãe, Irene Pinto de Araújo, 86 anos. Aos 22 ingressou no seminário. “Levei um susto quando ele disse a primeira vez que ia ser padre”, contou em entrevista. Dona Irene revelou que não quis interferir na escolha do filho, mas sempre respondia a ele que seria uma “maravilha” ter um padre na família. Ela contou ainda que resolveu fazer uns testes para saber se o jovem Moacir realmente tinha vocação. “Ele sempre me dizia que seria padre e, para testá-lo, eu dizia que ele não ia ser, que havia muitas meninas querendo namorá-lo, mas contrariado, ele dizia que seria sacerdote. Na última vez que fiz esse teste ele meu deu uma resposta que jamais esquecerei. “Mamãe, eu serei padre e cuidarei muito bem das ovelhas que a mim forem confiadas”. Sobre o filho agora ser bispo, Dona Irene não tem muita noção do que seja, mas disse que continuará rezando pelo filho. “Uai! Sempre falaram que ele seria bispo nas paróquias onde ele passou. Até os irmãos ele sempre diziam e ele respondia que não. Vou continuar rezando por ele como sempre fiz, pois o Moacir já andou nesse mundo todo e hoje não existem mais distâncias, não é? ”.
Bispo auxiliar
Conforme o Código de Direito Canônico, Artigo 3, Cân. 403, § 1, “Quando as necessidades pastorais da diocese o aconselharem, sejam constituídos um ou vários bispos auxiliares, a pedido do bispo diocesano...”. Como o próprio nome diz, cabe aos auxiliares colaborarem na ação pastoral da Igreja particular, em funções concordes com o diocesano em trabalho e espírito. Com pouco mais de 2,4 milhões de habitantes nos 27 municípios de sua abrangência territorial, segundo dados do IBGE de 2015, a Arquidiocese de Goiânia há tempos precisa de um segundo bispo auxiliar, conforme Dom Washington. “Há muito tempo eu peço um segundo bispo auxiliar, sonho que se realizou com a chegada de Dom Levi, mas para minha surpresa, Dom Waldemar, que estava em Goiânia nesse ministério desde março de 2010, foi transferido para a Diocese de Luziânia (GO). Espero que agora os dois auxiliares permaneçam conosco”, brincou o arcebispo.
Avançar para águas mais profundas
Por ocasião da cerimônia de recepção do monsenhor Moacir, no dia 11 de maio, na Cúria Metropolitana de Goiânia, Dom Washington disse que, com dois auxiliares, a Arquidiocese terá mais capacidade de corresponder às exigências pastorais. “Agora a nossa vida eclesial deverá ser engrandecida”. O arcebispo ainda declarou que o novo auxiliar veio de encomenda por já ter tido experiência em algumas áreas pastorais que muito precisa essa Igreja particular. “A família necessita de urgente atenção, hoje, na Igreja de Goiânia, e o novo bispo foi assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB. Outro desafio são os seminários e ele já foi reitor de seminário. Temos também desafios com a PUC Goiás e ele também entende de educação e poderá ajudar, pois dirigiu uma universidade paroquial em Divinópolis”. Dom Levi também se mostrou otimista. “Com três bispos, considerando a dimensão da Arquidiocese de Goiânia, podemos vislumbrar novos horizontes e desafios, caminhar para desenvolver uma Igreja mais moderna e alçar voos mais altos. É isso que a Santa Sé espera de nós”.
Um padre do povo
O bispo diocesano de Divinópolis, Dom José Carlos Souza Campos, em entrevista à Rádio Santa Cruz AM, daquela diocese, disse que o novo bispo sempre foi um sacerdote exemplar. “Monsenhor Moacir fez um ótimo trabalho em todas as paróquias em que trabalhou e, sua experiência paroquial foi, sem dúvida, fundamental para a sua nomeação”. Ele ainda ressaltou que o novo bispo tem como qualidades o cuidado com as pessoas, sempre se mantendo próximo, e a experiência nos diversos trabalhos em que se dedicou. “Além de trabalhar em várias comunidades e como reitor nos seminários, nos últimos anos tem demonstrado um amor muito grande pelas famílias, por isso foi chamado a trabalhar na Comissão da CNBB para a Vida e a Família, portanto, trata-se de uma pessoa que tem zelo pelas pastorais, com as famílias e certamente isso teve um peso grande em sua nomeação”. A leiga Geralda Maria das Neves Pereira (Taninha), 59 anos, conhece monsenhor Moacir há 16, e com ele trabalhou na Pastoral Familiar, no Movimento de Cursilhos de Cristandade e no Conselho de Pastoral da Paróquia Nossa Senhora da Piedade, em Pará de Minas. Ela diz que a maior virtude do novo bispo é o amor pelo que faz com dedicação, humildade, profunda espiritualidade e sensibilidade ao próximo. “Nele sentimos o amor de Jesus, principalmente pelos pobres e marginalizados. Ele se sensibiliza pela dor do seu povo e ajuda a aliviar os seus fardos”. Como pessoa, completa, “é daqueles amigos que não nos deixa sair da sua presença sem nos sentirmos melhores. ”
Um homem piedoso e de oração
Dom José Belvino do Nascimento, bispo que ordenou padre Moacir em 1999, é o mesmo que vai ordenar o novo irmão no episcopado. Logo que foi divulgada a nomeação ele concedeu entrevista em que declarou nutrir muita admiração por monsenhor Moacir e destacou algumas de suas qualidades. “Primeiro: ele é muito inteligente e estudioso. Segundo: é um homem muito piedoso, de oração, que reflete a união com Deus”, elogiou. O bispo emérito também exaltou a simplicidade do novo bispo auxiliar de Goiânia e desejou que ele seja um pastor dedicado a cumprir a missão da Igreja. “Monsenhor Moacir está indo para uma cidade muito grande, carente, e irá fazer muito bem ao povo de lá. Desejo que ele seja feliz não mais carregando uma cruz de padre, mas um cruzeiro de bispo que é mais pesado e peço a Deus lhe dê alegria, força e santidade para cumprir sua missão”.
Um padre simples
Como o francês São João Maria Vianney, Padroeiro dos Padres celebrado no último dia 4 de agosto, conhecido por ter se dedicado ao povo simples como pároco, monsenhor Moacir também se realizava em paróquias pequenas. Mas os projetos de Deus nem sempre são os nossos e à medida que o tempo foi passando, ele foi assumindo novas funções e, quando chegou a notícia de sua nomeação respondeu ao núncio apostólico que era apenas mais uma transferência em sua vida, só que diferente porque feita pelo papa. Na cerimônia de sua recepção em Goiânia, por ocasião de sua nomeação, o bispo eleito abriu o coração e falou do espírito que o traz a esse novo serviço da Igreja. “Meu único desejo e vontade neste tempo em que eu estiver aqui é colaborar e contribuir com aquilo que nós temos e sabemos que ainda é muito pouco, mas pertence agora a esta Arquidiocese pelo tempo que Deus desejar. Contem comigo naquilo que eu posso ser útil e espero contar com a ajuda de todos, sobretudo de Dom Antonio, Dom Washington e Dom Levi porque sou padre há 17 anos e agora começo um novo aprendizado”.
Entrevista
“Venho para servir”
Ouvido, monsenhor Moacir disse como ele vê sua nomeação para bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia e como pretende servir nesta porção do Povo de Deus. Comenta ainda sobre os desafios pastorais de hoje e da necessidade de uma Igreja em saída.
Nomeação
Eu sinceramente me confio às mãos de Deus. Penso que quando nós nos colocamos a serviço, não escolhemos nem o serviço, nem aonde servir nem a quem servir. Nós estamos a serviço da Arquidiocese auxiliando Dom Washington, aonde for necessário e pertinente. Vivi algumas experiências em vista do meu ministério pastoral, muito voltadas para a família. Acompanhei também uma faculdade que a paróquia possuía, mas sempre trabalhei na dimensão do pastoreio. O que eu sou é padre e com o meu ministério nós vamos nos construindo a partir das necessidades que forem surgindo e onde for necessária minha atuação, ali eu estarei. Aquilo que eu não souber eu aprenderei. Mas eu venho para servir a todos aqueles que Deus colocar em meu caminho.
Desafios pastorais
Vivemos um tempo em que o grande desafio é ajudar as pessoas a conhecerem, acolherem e viverem o projeto de Deus, tanto na vida pessoal quanto nos relacionamentos que precisam ser evangelizados e nos projetos humanos que estão sendo construídos. Precisamos colocar a boa alma em todos as ações e construções humanas e eu sinto que o grande desafio primeiro é ser um testemunho daquilo que Deus realizou em minha vida e que pode realizar na vida de tantas outras pessoas. Ser um testemunho de que Deus está presente e agindo e nós não precisamos ter medo. Ele tem um projeto para cada pessoa, de cada comunidade e em toda situação a sua presença pode ser iluminadora. Então, nosso grande desafio é carregar justamente essa luz para os diversos ambientes começando na família que é a base da construção do ser humano e da sociedade, por isso, nosso grande desafio é evangelizar os relacionamentos, e a convivência das pessoas.
Igreja Missionária
O Santo Padre nos tem pedido e a Igreja no Brasil tem se proposto a olhar para fora, ver as diversas realidades para entender que dentro dela há algo muito enriquecedor a ser oferecido. Nós precisamos de fato estar na constante atividade de sairmos porque temos algo para levar, oferecer à sociedade e não podemos nos fechar privando as pessoas desse anúncio. O caminho da Igreja deve ser percebido, visto e reconhecido como um sinal que Cristo deixou que pode nos conduzir ao Reino de Deus e à construção de novas situações até mesmo em nossa sociedade.