Depois do encontro com líderes religiosos na cidade de Ur, terra de Abraão, o Papa Francisco voltou a Bagdá e presidiu neste sábado (06/03) a Santa Missa na Catedral Caldeia de São José. Na sua primeira homilia no Iraque o Papa falou sobre a sabedoria, o testemunho e as promessas.
Francisco iniciou afirmando que a “a sabedoria foi cultivada nestas terras desde tempos muito antigos. E comenta que com o livro da Sabedoria aprendemos uma perspectiva invertida sobre os privilegiados pela sabedoria: “Para o mundo, quem tem menos é descartado e quem tem mais é privilegiado; para Deus, não: quem tem mais poder é sujeito a um exame rigoroso, enquanto os últimos são os privilegiados de Deus”.
As Bem-aventuranças
E continuou: “Jesus, a Sabedoria em pessoa, completa esta inversão no Evangelho: não num momento qualquer, mas no início do primeiro discurso, com as Bem-aventuranças”. E explica que a inversão é total pois os pobres, os que choram, os perseguidos são declarados bem-aventurados. Explicando:
“Para Deus não é maior quem tem, mas quem é pobre em espírito; não quem pode tudo sobre os outros, mas quem é manso com todos; não quem é aclamado pelas multidões, mas quem é misericordioso com o irmão”
O amor é a nossa força
“A proposta de Jesus é sapiente, porque o amor, que é o coração das Bem-aventuranças, embora pareça frágil aos olhos do mundo, na realidade vence". “O amor é a nossa força, a força de tantos irmãos e irmãs que também aqui foram vítimas de preconceitos e ofensas, sofreram maus tratos e perseguições pelo nome de Jesus”. Concluindo o pensamento o Papa explica que enquanto a glória e vaidade no mundo passam o amor permanece.
Viver as bem-aventuranças
“Mas como se vivem as Bem-aventuranças?” Questionou o Papa logo explicando que simplesmente “exigem o testemunho diário”.
“Para se tornar bem-aventurado, não é preciso ser herói de vez em quando, mas testemunha todos os dias. O testemunho é o caminho para encarnar a sabedoria de Jesus. É assim que se muda o mundo: não com o poder nem com a força, mas com as Bem-aventuranças”
Testemunhar o amor de Jesus, como descreve São Paulo, em primeiro lugar é considerar que ‘a caridade é paciente’. Trata-se de um termo que exprime, na Bíblia, a paciência de Deus. Francisco esclarece que o homem ao longo da história continuou a trair a aliança pelas suas fraquezas, mas o Senhor nunca o abandonou, permaneceu sempre fiel, perdoou, recomeçou.
“A paciência de recomeçar sempre é a primeira qualidade do amor, porque o amor não se indigna, mas sempre recomeça”
“Quem ama não se fecha em si mesmo, quando as coisas correm mal, mas responde ao mal com o bem, lembrando-se da sabedoria vitoriosa da cruz” .
Força humilde do amor
Finalizando seu pensamento sobre a sabedoria e testemunha o Papa orientou: “Como reajo eu às situações funestas? À vista das adversidades, apresentam-se sempre duas tentações. A primeira é a fuga: fugir, virar as costas, desinteressar-se. A segunda é reagir, como irritados, com a força”. E pondera:
“Nem a fuga nem a espada resolveram coisa alguma. Ao contrário, Jesus mudou a história. Como? Com a força humilde do amor, com o seu paciente testemunho. O mesmo somos nós chamados a fazer; assim Deus realiza as suas promessas”
Na segunda parte de sua homilia falou sobre as promessas:
“A sabedoria de Jesus, encarnada nas Bem-aventuranças, pede o testemunho e oferece a recompensa, contida nas promessas divinas. De fato, vemos que a cada Bem-aventurança segue uma promessa: quem as vive terá o reino dos céus, será consolado, saciado, verá a Deus”.
Promessas através das nossas fraquezas
Mas como se realizam? O Papa respondeu: “Através das nossas fraquezas. Deus faz bem-aventurados aqueles que percorrem até ao fim o caminho da sua pobreza interior. Esta é a estrada; não há outra. Citando exemplos de Abraão, Moisés, Maria e Pedro que viveram a promessa através das nossas fraquezas e foram bem-aventurados o Pontífice afirmou:
“Às vezes, queridos irmãos e irmãs, podemos sentir-nos incapazes, inúteis. Não lhe demos crédito, pois Deus quer fazer maravilhas precisamente através das nossas fraquezas”. “É certo que somos provados, muitas vezes caímos, mas não devemos esquecer que, com Jesus, somos bem-aventurados".
As bem-aventuranças são para todos
Por fim o Papa concluiu: “Querida irmã, querido irmão, talvez olhes para as tuas mãos e te pareçam vazias, talvez sintas insinuar-se no coração a desconfiança e penses que a vida é injusta contigo. Se tal suceder, não temas! As Bem-aventuranças são para ti, para ti que estás na aflição, com fome e sede de justiça, perseguido”.
“Aqui, onde na antiguidade surgiu a sabedoria, nestes tempos se levantaram tantas testemunhas, muitas vezes transcuradas nos noticiários mas preciosas aos olhos de Deus; testemunhas que, vivendo as Bem-aventuranças, ajudam Deus a realizar as suas promessas de paz”.