Entrevista com o cardeal Dom Sergio da Rocha
O cardeal Dom Sergio da Rocha, arcebispo de Brasília e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) concedeu entrevista à Assessoria de Comunicação do Regional Centro-Oeste. Em sua fala, ele destaca a atuação da Conferência por meio da colegialidade dos bispos, diante da realidade social brasileira, e fala também da relação do órgão permanente do episcopado com o povo de Deus nas milhares de comunidades espalhadas pelo Brasil e com a sociedade brasileira de um modo geral.
O que o senhor destacaria de mais relevante nestes 65 anos da CNBB?
A atuação da CNBB ao longo destes 65 anos tem se expressado em três grandes âmbitos: a) a colegialidade episcopal, isto é, a unidade no episcopado e a comunhão na Igreja do Brasil, pois a CNBB é, acima de tudo, um instrumento valioso de colegialidade entre os bispos e de unidade na Igreja; b) a animação da ação evangelizadora da Igreja no Brasil, com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e as Comissões Episcopais Pastorais, respeitando sempre o papel próprio dos Regionais e das Dioceses; c) a atuação profética frente aos problemas sociais que se abatem sobre o nosso povo, principalmente os mais pobres e fragilizados, colaborando na construção da justiça e da paz. Nestes três âmbitos, nestes 65 anos, temos inúmeras iniciativas com tantos frutos, que é difícil resumir. Em cada período da história da CNBB, temos aspectos especialmente relevantes da sua missão que poderiam ser ressaltados. Neste momento, agradecemos a Deus e a todos os que têm construído a história da CNBB, não apenas através de grandes iniciativas, mas por terem cuidado dela com tanta dedicação e generosidade, no seu dia a dia.
A Conferência sempre se posiciona a respeito de temas sociais e políticos do nosso país. Como o senhor avalia isso e como percebe os reflexos desses posicionamentos?
A CNBB tem contribuído para a construção da justiça e da paz, no Brasil, através do diálogo amplo e de pronunciamentos corajosos, especialmente em tempos de crise. Não adotamos posição político-partidária; estamos sempre dispostos a dialogar com todos pelo bem do povo brasileiro. A CNBB tem se pautado pela Palavra de Deus e pela Doutrina Social da Igreja. Graças a Deus, durante a sua história e nos dias de hoje, tem sido procurada e respeitada por autoridades, por movimentos sociais, por representantes das diversas organizações nacionais e internacionais.
A CNBB, como o próprio nome diz, é um órgão permanente dos bispos do Brasil. Que relação é preciso haver entre leigos, a sociedade de modo geral, e a Conferência?
Os pronunciamentos e iniciativas da CNBB resultam do episcopado brasileiro; são fruto de participação, de diálogo, de muita reflexão e discernimento conjunto, especialmente nas Assembleias Gerais e nos Conselhos Permanente e de Pastoral. Por isso, expressam o sentir do episcopado brasileiro e a comunhão na Igreja, e não apenas um grupo ou a presidência da CNBB. Assim sendo, espera-se dos membros da Igreja e das comunidades uma postura de acolhida, respeito e empenho para por em prática as diretrizes pastorais e iniciativas da CNBB.
O que é mais desafiante à CNBB hoje, na sua missão de colaborar na evangelização da Igreja no Brasil?
Um dos maiores desafios é dar a devida atenção à diversidade de situações que interpelam a missão evangelizadora da Igreja e exigem maior atenção e empenho. Basta olhar os campos da missão na realidade paroquial; são muitos e desafiadores. Nos âmbitos regional e nacional, as situações se multiplicam e se tornam ainda mais complexas e exigentes. A sociedade atual é plural e complexa. Isso não nos dispensa de buscar respostas, com o máximo empenho.
A Igreja n Brasil está para celebrar o Ano do Laicato. Qual a intenção deste Ano e o que podemos esperar dele?
O Ano do Laicato é uma iniciativa aprovada pelos bispos do Brasil, na Assembleia Geral, em 2016, quando foi elaborado o valioso documento “Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, Sal da Terra e Luz do Mundo”. A sua abertura ocorre na Solenidade de Cristo Rei, 26 de novembro, que tem sido o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas. Esperamos valorizar e promover, ainda mais, a participação do Laicato no interior da Igreja, nos Conselhos Paroquiais, pastorais, movimentos e serviços, mas também na sociedade, nos campos da política, da economia e da cultura. Necessitamos de uma presença muito maior dos fiéis leigos e leigas na sociedade, para serem, de fato, “sal da terra e luz do mundo”, como quer Jesus dos seus discípulos e como propõe a Igreja, hoje. Para isso, é indispensável que o Ano do Laicato seja vivido por todos, pastorais, movimentos, comunidades, paróquias e regionais da CNBB.