No segundo dia de trabalhos da Reunião do Conselho Episcopal Regional (CONSER), que aconteceu nos dias 25 a 28 de outubro, Dom Lindomar Rocha Mota, bispo de São Luís de Montes Belos (GO) e referencial para os Ministérios Ordenados (Comissão Regional de Diáconos) e (Organização dos Seminários e Institutos Filosófico e Teológico do Brasil) conferiu palestra aos bispos sobre “Pastoral e Missão na Formação Presbiteral”. Também participaram do momento, os reitores dos seminários maiores presentes no Regional Centro-Oeste da CNBB (estado de Goiás e Distrito Federal).
Dom Lindomar tomou como base de suas colocações as Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil – Documento 110 da CNBB. De acordo com o bispo, o espírito missionário dos futuros sacerdotes deve começar muito cedo, logo nos primeiros anos da formação presbiteral. Ele salientou que os seminaristas precisam estar no meio do povo, participar da vida da comunidade, sofrer e se alegrar com as famílias. “A conversão pastoral requer atitude constante de saída, favorecendo a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade e a passagem de uma pastoral de ‘mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”’, destacou citando o nº 19 do Documento 110.
Conforme afirmou, a missionariedade precisa ser acredita pelo missionário, pois não se trata de um ofício. Dom Lindomar explicou em três pontos que Jesus chama os discípulos e os envia pastores. No primeiro ponto ele destacou que “para que a pastoral seja missão é necessário servir a toda comunidade cristã e não somente aquela parte que me é mais simpática”. No segundo, ele afirmou que “em consequência da própria missão, se alguma preferência é cultivada que seja referida aos mais distantes, aos pobres em todos os sentidos”. E no último, o bispo apontou: “o pastor, ainda que localizado, como é a missão diocesana, não pode perder o sentido universal de toda a Igreja. Compreender que o amor de Cristo é universal e manifestá-lo em gestos concretos”.
Leia na íntegra o material que auxiliou o bispo na palestra
Diretrizes para a Formação dos Presbíteros da Igreja no Brasil
Documento 110 da CNBB
Apresentação para Bispos e formadores do
Regional Centro Oeste
Até pouco tempo usávamos apenas a designação “formação pastoral” para nos referirmos aos aspectos práticos da preparação do futuro sacerdote. As diretrizes que vigoram desde 2019, mas que ecoou as precedentes de 2010, acrescentaram a palavra missionária ao aspecto Pastoral, assim, definiu-se formação e atuação pastoral como missão, no sentido mais próprio da palavra.
Porque não é a penas uma questão de palavras, as diretrizes de 2019, no melhor espírito da Conferência de Aparecida, diz logo nos pontos introdutórios:
A conversão pastoral requer atitude constante de saída, favorecendo a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade e a passagem de uma pastoral de “mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”. Ela deve estimular e inspirar atitudes e iniciativas de autoavaliação das estruturas eclesiais, dentre as quais, as formativas, pois “falta espírito missionário em membros do clero, inclusive em sua formação” (19).
Esta fórmula visa excluir a operosidade técnica ou individualista da Ação pastoral. A pastoral é missão, e só pode ser dada a um discípulo e realizada por um discípulo (28).
A missionariedade faz ver que o cuidado com a grei não é, primordialmente, o desempenho de um ofício, algo a ser feito, mas algo em que se acredita.
A caridade pastoral não se expressa na eficiência, mas tem uma identidade sacramental, e está ligada à missão do sacerdote e dos batizados.
É por essa identidade sacramental que a missão pastoral alcança a sua credibilidade junto ao povo de Deus, não podendo ser reduzida a uma função!
A identidade missionária se justifica no conjunto da vida sacerdotal. Através dela, o enviado testemunha perante a comunidade a sua adesão típica aos valores evangélicos da pobreza nos bens a ele confiado, a santificação das horas, o acolhimento aos pequenos e pobres, a obediência, o seu abandono a providência de Deus...para, através destas atitudes justificar a sua dedicação pastoral.
Jesus Chama os discípulos e os envia pastores. Este eixo faz várias indicações para unir as duas virtudes, mas farei uma interpretação mais larga e trarei três considerações sobre este pressuposto:
1. Para que a pastoral seja missão é necessário servir a toda comunidade cristã e não somente aquela parte que me é mais simpática. O pastor reconhece o desafio de seu pastoreio e o toma como missão, evitando a tentação de servir apenas aos que estão em sintonia com ele. É importante considerar seriamente este princípio desde os primeiros passos da formação, mas que temos que ficar atentos durante toda a vida. É esse cuidado que preserva das subjetividades que reduzem o serviço a poucos e empobrece o coração.
2. Em segundo lugar, e em consequência da própria missão, se alguma preferência é cultivada que seja referida aos mais distantes, aos pobres em todos os sentidos. Aos que estão perdidos por causa da intolerância, as vezes de uma grei excessivamente seletiva, resultado de seleções pouco evangélica.
3. Em terceiro lugar, o pastor, ainda que localizado, como é a missão diocesana, não pode perder o sentido universal de toda a Igreja. Compreender que o amor de Cristo é universal e manifestá-lo em gestos concretos. A falta de universalidade pode limitar a caridade e levar a vivê-la de modo mesquinho.
Algumas questões a serem observadas como impedimento à missão, já a partir do processo formativo:
Excesso de zelo
Entusiasmo não equilibrado
Falta de relacionalidade
Incapacidade psicológica de partilhar
Imprudência habitual no falar e no agir
Apego e ânsia pelo poder
Solidão afetiva e ressentimentos vários
Autoritarismo
Para superar essas e outras questões semelhantes as diretrizes apontam que o caminho é “A formação pastoral-missionária, princípio unificador de todo o processo formativo, consiste na necessária qualificação específica para o ministério pastoral, sempre impregnado pela ação e condução do Espírito de Deus” (228).
O sentido de missão no exercício pastoral não é novidade, mas é bastante acentuado desde 2010. Ao observar e enfrentar as questões antecedentes, surge o compromisso da pastoral como um lugar de anuncio e caridade que exige coragem.
Entendendo a pastoral como missão chega-se a novos e alentadores resultados, tais como:
Superação da imobilidade e conservação;
Apresentação ou apologia do cansaço excessivo;
Exagerada dependência hierárquica;
Construção de uma consciência histórica;
Consciência social como impedimento de uma vida romantizada.