Teve início na tarde desta sexta-feira, 29 de outubro e continua na manhã deste sábado, 30, a Reunião Anual de Avaliação e Planejamento do Regional Centro-Oeste da CNBB. O encontro conta com a participação dos bispos e coordenadores de pastorais, movimentos e organismos. O secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Dom Joel Portella, conduz uma reflexão sobre a Ação Evangelizadora no Pós-Pandemia. Além do estudo, os participantes também avaliam durante o evento, a caminhada pastoral do regional ao longo de 2021 e fazem planejamento das iniciativas que deverão ser realizadas em 2022.
Em sua apresentação, Dom Joel disse que a reflexão sobre o pós-pandemia e a ação pastoral passam necessariamente pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) - documento 109 da CNBB. “Pandemia; o que vamos entender por ela; e o que significa o retorno ao novo normal”. A partir desses três aspectos, o bispo enfatizou que a pandemia não se trata apenas do aspecto viral e de saúde. “É óbvio que a evangelização está ligada a tudo o que diz respeito ao ser humano, mas quando falamos em pandemia precisamos alargar o horizonte”, explicou.
Conforme Dom Joel, a pandemia do novo coronavírus, que já está no mundo há um ano e nove meses, precisa ser pensada de forma contextualizada, uma vez que ela evidenciou problemas que já existiam e continuam a estar entre nós. Esse contexto, segundo o bispo, é o mundo em crise, a mudança de época e a construção de um novo mundo. “O vírus encontrou nosso mundo em uma profunda crise. O mundo todo atualmente passa por transformações muito radicais, mudanças que há poucas décadas não imaginávamos. É por isso que hoje falamos que o vírus chegou em um tempo histórico de mudança de época. O mundo tem se mostrado cada vez mais incapaz de resolver os grandes problemas da humanidade”, afirmou. Os valores da atualidade expressam bem esses problemas que sofremos e precisamos superar para poder vencer a pandemia. Dom Joel citou alguns deles: sujeito individual, fechado em si e não relacional. “As consequências da indiferença e do afastamento de Deus trazem efeitos negativos”, completou. Ele pontuou ainda que são várias os efeitos trazidos pela indiferença. “Esquecimento de Deus, violência e falta de amor ao próximo como a um irmão e não como uma ameaça. “Temos um desafio evangelizador muito grande. Esses três exemplos e muitos outros fazem emergir aquilo que o papa vai chamar de gemidos”.
A pandemia afetou todas as dimensões da vida, segundo Dom Joel. Por isso ela pode ser chamada de multipandemia: ética, sanitária, econômica, ambiental, informacional, religiosa, política e educacional. “A multipandemia acelerou processos que já estavam em crise, todos os questionamentos, dúvidas, incertezas que já marcavam a humanidade. O ser humano se encontra hoje abatido num processo de crise”. Ele destacou algumas dimensões da vida que foram afetadas. “Primeiro ela afetou a crença na capacidade infinita do ser humano nos trazendo a experiência da fragilidade, da finitude e da morte; depois nos trouxe um desequilíbrio na relação entre o indivíduo e o grupal, entre o presencial e o virtual; trouxe o reaparecimento do que existe de melhor e de pior no ser humano, fez surgir muita generosidade e muito egoísmo”. Dom Joel voltou a frisar que a pandemia está muito além da dimensão da saúde. “É uma questão de existência, é uma questão de sentido. Não só de álcool 70”.
Ação Pastoral
O secretário geral da CNBB completou sua fala dizendo que a Igreja tem uma missão indispensável a cumprir. “Quando o ser humano começa a se perguntar quem sou eu, como vou lidar com as grandes questões do mundo, a nossa responsabilidade de apesentar Jesus Cristo aparece. Nossa missão é mostrar as implicações do encontro com Jesus Cristo. Ao colocar os óculos da evangelização temos que pensar a pandemia nos seus aspectos existenciais. A pandemia é mais do que uma questão viral e tem afetado as pessoas e povos de diferentes países em graus diferentes”. O bispo provocou os participantes da reunião sobre a ação da Igreja em tempo de pandemia. “Até que ponto estamos conseguindo traduzir a realidade de cruz e ajudando as pessoas a conviver com tudo aquilo que nós somos? A pandemia pôs uma batata quente em nossas mãos”.
A Igreja tem uma riqueza a apresentar, na visão do bispo. “A diversidade permite romper com concepções. A beleza da Igreja está exatamente nisso: A unidade na pluralidade. A diversidade quando acontece na configuração pastoral permite a riqueza de dimensões. Isso é a beleza de uma pastoral que precisa responder a esses rumos do mundo novo”.
Tempos de sinodalidade
Outro ponto muito importante nestes tempos de pandemia e que ajudará muito a dimensão pastoral é o Sínodo convocado pelo papa Francisco. Dom Joel salientou que o mundo precisa da capacidade do Sínodo de construir unidade. “O Sínodo é o povo caminhando junto em um único rumo. Criança, idoso, jovens, e quando vamos olhando nos detalhes, gente conversando um com o outro, a sinodalidade é a capacidade de construir unidade em meio a essa diversidade de pontos, ritmos e perspectivas. A Sinodalidade requer boa dose de humildade e o Espírito Santo sopra em todo canto, inclusive em quem pensa diferente. Tempo de nos escutarmos uns aos outros para juntos escutarmos o Espírito”. Dom Joel fez votos de que o Sínodo nos ajude a sermos mais próximos em um tempo em que nos afastamos. “O grande segredo é permitir que na crise surja o que há de melhor, inclusive no âmbito pastoral. E o critério é a palavra fundamental hoje: proximidade”.
A reunião da Avaliação Anual do Regional continua neste sábado, das 9h às 12h.