Quarta, 25 Janeiro 2017 09:58

Que não se esgote a nossa capacidade de confiar em Deus


Estimados irmãos e irmãs!

Entre as figuras femininas que o Antigo Testamento nos apresenta, sobressai a de uma grande heroína do povo: Judite. O livro bíblico que tem o seu nome descreve a imponente campanha militar do rei Nabucodonosor que, reinando em Nínive, amplia os confins do império derrotando e subjugando todos os povos ao seu redor. O leitor entende que se encontra diante de um inimigo grande e invencível, que semeia morte e destruição, e chega até à Terra Prometida, pondo em perigo a vida dos filhos de Israel.

Com efeito, o exército de Nabucodonosor, sob a guia do general Holofernes, impõe o cerco a uma cidade da Judeia, Betúlia, interrompendo o fornecimento de água, minando assim a resistência da população.

A situação torna-se dramática a tal ponto que os habitantes da cidade vão ter com os anciãos para lhes pedir que se rendam aos inimigos. As suas palavras são desesperadas: “Agora não há ninguém para nos socorrer, e Deus entregou-nos nas mãos deles, para morrermos de sede, na miséria extrema. Chegaram a dizer isto: “Deus entregou-nos nas mãos deles; o desespero daquela gente era grande. Entregai toda a cidade em cativeiro ao povo de Holofernes e a todo o seu exército” (Jt 7,25-26). O fim já parece iniludível, esgotou-se a capacidade de se confiar a Deus. E quantas vezes nós chegamos a situações limite, quando nem sequer sentimos a capacidade de ter confiança no Senhor. É uma tentação horrível! E, paradoxalmente, parece que para fugir da morte não há outra coisa a fazer, a não ser entregar-se nas mãos de quem mata. Sabem que esses soldados entrarão para saquear a cidade, raptar as mulheres como escravas e depois matar todos os outros. É exatamente esse “o limite”.

E diante de tanto desespero, o chefe do povo procura propor um pretexto de esperança: resistir mais cinco dias, à espera da intervenção salvífica de Deus. Mas é uma esperança frágil, que o leva a concluir: “Mas se esses cinco dias passarem sem que nos venha o socorro, então farei segundo o que dizeis” (7,25). Pobrezinho: estava sem saída. Concedem cinco dias a Deus – e nisso consiste o pecado – são concedidos cinco dias a Deus para intervir; cinco dias de espera, mas já na perspectiva do fim. Concedem cinco dias a Deus para os salvar, mas sabem que não têm confiança, esperam o pior. Na realidade, no meio do povo, já ninguém é capaz de esperar. Estavam desesperados.

É nessa situação que Judite entra em cena. Viúva, mulher de grande beleza e sabedoria, fala ao povo com a linguagem da fé. Corajosa, repreende o povo na cara (dizendo): “Agora tentais o Senhor Todo-Poderoso [...]. Não, irmãos, não provoqueis o Senhor nosso Deus! Se não quiser ajudar-nos nestes cinco dias, Ele tem o poder, nos dias que quiser, para nos ajudar ou então para nos exterminar diante dos nossos inimigos. [...] Por isso, aguardando a salvação da sua parte, supliquemos-lhe que venha em nosso auxílio e Ele escutará a nossa voz, se bem lhe aprouver” (8,13.14-15.17). É a linguagem da esperança! Batamos à porta do Coração de Deus, Ele é Pai e pode salvar-nos! Aquela mulher, viúva, corre o risco de fazer má figura diante dos outros! Mas é corajosa, vai em frente! Esta é a minha opinião: as mulheres são mais corajosas do que os homens (aplausos na sala).

Confiar na vontade de Deus

E com a força de um profeta, Judite repreende os homens do seu povo para os reconduzir à confiança em Deus; com o olhar de um profeta, ela vê mais além do horizonte limitado proposto pelos chefes e que o medo torna ainda mais restrito. Sem dúvida Deus intervirá – afirma ela – enquanto a proposta dos cinco dias de espera é um modo para o tentar e para se subtrair à sua vontade. O Senhor é Deus de salvação – e crê nisto – independentemente da forma que ela assuma. Libertar-se dos inimigos e deixar viver é salvação, mas nos seus planos insondáveis também a entrega à morte pode ser salvação. Como mulher de fé, ela sabe isso. Depois, conhecemos o fim, como termina a história: Deus salva.

Caros irmãos e irmãs, nunca coloquemos condições a Deus, mas, ao contrário, deixemos que a esperança vença os nossos receios. Confiar em Deus quer dizer entrar nos seus desígnios sem nada pretender, aceitando inclusive que a sua salvação e o seu auxílio cheguem a nós de modo diverso das nossas expectativas. Pedimos ao Senhor vida, saúde, afetos, felicidade; e é justo fazê-lo, mas com a consciência de que até da morte Deus sabe haurir vida, que é possível experimentar a paz, inclusive na doença e que até na solidão pode haver serenidade e bem-aventurança no pranto. Não somos nós que podemos ensinar a Deus o que Ele deve fazer, aquilo de que temos necessidade. Ele sabe-o melhor do que nós e devemos ter confiança, porque os seus caminhos e os seus pensamentos são diferentes dos nossos.

A senda que Judite nos indica é a via da confiança, da espera na paz, da oração e da obediência. É o caminho da esperança. Sem fáceis resignações, fazendo tudo o que está ao nosso alcance, mas permanecendo sempre no sulco da vontade do Senhor, porque – bem sabemos – ela rezou muito, falou tanto ao povo e depois partiu com coragem para procurar o modo de se aproximar do chefe do exército e conseguiu cortar-lhe a cabeça, degolá-lo. É intrépida na fé e nas obras. E procura sempre o Senhor! Com efeito, Judite tem um plano, coloca-o em prática com sucesso e leva o povo à vitória, mas sempre com a atitude de fé de quem aceita tudo das mãos de Deus, convicta da sua bondade.

Desse modo, uma mulher cheia de fé e de coragem dá nova força ao seu povo em perigo mortal e leva-o pelos caminhos da esperança, apontando-o também a nós. Quanto a nós, se tivermos um pouco de memória, quantas vezes ouvimos palavras sábias e corajosas de pessoas humildes, de mulheres simples que na opinião de alguns – sem as desprezar – eram ignorantes... Mas são palavras da sabedoria de Deus! As palavras das avós... Quantas vezes as avós sabem pronunciar a palavra certa, uma palavra de esperança, porque têm a experiência da vida, sofreram muito, confiaram em Deus e o Senhor concede-nos a graça de nos dar o conselho da esperança. E, percorrendo esses caminhos, será alegria e luz pascal confiar-nos ao Senhor com as palavras de Jesus: “Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42). Essa é a prece da sabedoria, da confiança e da esperança.

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 25 de janeiro de 2017

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