Quarta, 11 Janeiro 2017 12:26

Só a fé nos dá a segurança verdadeira

Amados irmãos e irmãs!

No passado mês de dezembro e na primeira parte de janeiro, celebramos o Tempo do Advento e depois o do Natal: um período do ano litúrgico que desperta a esperança no Povo de Deus. Esperar é uma necessidade primária do homem: esperar no futuro, acreditar na vida, o chamado “pensar positivo”. Mas é importante que essa esperança seja posta naquilo que pode deveras ajudar a viver e a dar sentido à nossa existência. É por isso que a Sagrada Escritura nos admoesta contra as falsas esperanças que o mundo nos apresenta, desmascarando a sua inutilidade e mostrando a sua insensatez. E faz isso de várias maneiras, mas sobretudo denunciando a falsidade dos ídolos nos quais o homem é continuamente tentado a pôr a sua confiança, fazendo deles objeto da sua esperança.

Em particular, os profetas e sábios insistem sobre isso, tocando um ponto nevrálgico do caminho de fé do crente. Porque fé significa confiar em Deus — quem tem fé, confia em Deus —, mas chega o momento em que, confrontando-se com as dificuldades da vida, o homem experimenta a fragilidade daquela confiança e sente a necessidade de certezas diversas, de seguranças tangíveis, concretas. Confio em Deus, mas a situação é um pouco crítica e eu preciso de uma certeza um pouco mais concreta. E está ali o perigo! Então somos tentados a procurar consolações até efêmeras, que parecem preencher o vazio da solidão e aliviar a fadiga do crer. E pensamos que as devemos encontrar na segurança que o dinheiro pode dar, nas alianças com os poderosos, na “mundanidade”, nas falsas ideologias. Por vezes procuramo-las num deus que se possa submeter aos nossos pedidos e magicamente intervir para mudar a realidade e torná-la como a queremos; um ídolo, precisamente, que como tal nada pode fazer, impotente e mentiroso. Mas nós gostamos dos ídolos, gostamos tanto!

Certa vez, em Buenos Aires, devia ir de uma igreja para outra, mil metros, mais ou menos. E fi-lo a pé. Há um parque no meio, e no parque havia pequenas mesinhas, mas muitas, tantas, onde estavam sentados os videntes. Estava cheio de gente, que fazia até a fila. Tu davas-lhe a mão e ele começava, mas, a conversa era sempre a mesma: há uma mulher na tua vida, há uma sombra que vem, mas tudo vai correr bem... E depois, pagavas. E isso te dá segurança? É a segurança de uma — permiti-me a palavra — de uma estupidez. Ir ao vidente ou à vidente que leem as cartas: isso é um ídolo! Isso é o ídolo, e quando nós lhes estamos tão afeiçoados: compramos falsas esperanças. Enquanto que na esperança da gratuidade, que Jesus Cristo nos trouxe, gratuitamente dando a vida por nós, por vezes não confiamos muito nela.

Um salmo cheio de sabedoria apresenta-nos de modo muito sugestivo a falsidade desses ídolos que o mundo oferece à nossa esperança e na qual os homens de todas as épocas são tentados a confiar. É o Salmo 115, que recita assim: “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. / Têm boca, mas não falam; olhos têm, mas não veem. / Têm ouvidos, mas não ouvem; narizes têm, mas não cheiram. / Têm mãos, mas não apalpam; pés têm, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. / A eles se tornem semelhantes os que os fazem, assim como todos os que neles confiam!” (vv. 4-8).

Esperança no Senhor da vida

O salmista apresenta-nos, de maneira também um pouco irônica, a realidade absolutamente efêmera desses ídolos. E devemos compreender que não se trata só de representações feitas de metal ou de outro material, mas também das que são construídas com a nossa mente, quando confiamos em realidades limitadas que transformamos em absolutas, ou quando reduzimos Deus aos nossos esquemas e às nossas ideias de divindade; um deus que se parece conosco, compreensível, previsível, precisamente como os ídolos dos quais fala o Salmo. O homem, imagem de Deus, fabrica para si mesmo um deus à sua própria imagem, e é até uma imagem mal feita: não ouve, não age e sobretudo não pode falar. Mas, nós ficamos mais contentes por ir ter com os ídolos do que com o Senhor. Muitas vezes sentimo-nos mais felizes com a esperança efêmera que esse falso ídolo nos dá, do que com a grande esperança certa que dá o Senhor.

À esperança num Senhor da vida que com a sua Palavra criou o mundo e conduz as nossas existências, contrapõe-se à confiança em simulacros mudos. As ideologias com a sua pretensão de absoluto, as riquezas — e isso é um grande ídolo —, o poder e o sucesso, a vaidade, com a sua ilusão de eternidade e de onipotência, valores como a beleza física e a saúde, quando se tornam ídolos aos quais sacrificar tudo, são realidades que confundem a mente e o coração, e em vez de favorecer a vida conduzem à morte. É mau e faz mal à alma ouvir aquilo que uma vez, há anos, escutei, na Diocese de Buenos Aires: uma mulher bondosa, muito bonita, gabava-se da beleza, comentava, como se fosse natural: “Ah, sim, tive que abortar porque a minha figura é muito importante”. São esses os ídolos, e levam-te pelo caminho errado e não te dão a felicidade.

A mensagem do Salmo é muito clara: se pusermos a esperança nos ídolos, tornamo-nos como eles: imagens vazias com mãos que não tocam, pés que não caminham, lábios que não podem falar. Não temos mais nada a dizer, tornamo-nos incapazes de ajudar, de mudar as coisas, incapazes de sorrir, de nos doarmos, incapazes de amar. E também nós, homens de Igreja, corremos esse risco quando nos “mundanizamos”. É necessário permanecer no mundo, mas defender-se das ilusões do mundo, que são esses ídolos que mencionei.

Como prossegue o Salmo, é preciso confiar e esperar em Deus, e Deus concederá a bênção. Diz assim o Salmo: “Israel, confia no Senhor [...] / Casa de Aarão, confia no Senhor [...] / Vós, os que temeis ao Senhor, confiai no Senhor [...] / O Senhor lembrou-se de nós; ele nos abençoará” (vv. 9.10.11.12).

O Senhor recorda-se sempre. Até nos maus momentos ele se recorda de nós. E essa é a nossa esperança. E a esperança não desilude. Nunca. Nunca. Os ídolos desiludem sempre: são fantasias, não são realidades.

Eis a maravilhosa realidade da esperança: se confiarmos no Senhor, tornamo-nos como Ele, a sua bênção transforma-nos em seus filhos, que partilham a sua vida. A esperança em Deus faz-nos entrar, por assim dizer, no raio de ação da sua recordação, da sua memória que nos bendiz e nos salva. E então pode brotar o aleluia, o louvor ao Deus vivo e verdadeiro, que por nós nasceu de Maria, morreu na cruz e ressuscitou na glória. E nesse Deus nós temos esperança, e esse Deus — que nunca é um ídolo — nunca desilude.

 

Audiência Geral. Praça São Pedro, 11 de janeiro de 2017

 

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