Vivemos um tempo de profundas mudanças que muitos têm chamado de uma mudança de época. Um tempo de grandes transformações no modo de ver a realidade e de interagir com ela. Tais transformações afetam profundamente o homem e suas estruturas, e a família não está isenta, ela é profundamente afetada.
Neste tempo de mudanças, percebemos a presença de luzes e sombras. São luzes a maior liberdade de expressão, os avanços e as conquistas das ciências, a promoção e a valorização da mulher, a superação de preconceitos e racismos, o melhor reconhecimento dos direitos da criança e do idoso, a revolução da ternura proposta pelo papa Francisco, as novas metodologias de ação pastoral envolvendo crianças, jovens, casais e idosos, a disponibilidade de casais e famílias para viverem com profundidade sua experiência religiosa em encontros, comunidades paroquiais, comunidades de vida e grupos pastorais. São sombras: o individualismo exacerbado (cada pessoa considerada como uma ilha ou “cada um no seu quadrado”, ou cada pessoa se conduzindo por seus interesses particulares colocados como absolutos), os fundamentalismos religiosos e políticos, a crise de fé, a solidão (grande pobreza contemporânea), a predominância do financeiro sobre o humano, a banalização e relativização da vida, a mentalidade utilitarista, hedonista e pragmática, e tantas outras realidades.
Nesse contexto, a Igreja é chamada, por meio de sua Ação Evangelizadora, a dizer uma palavra de verdade e de esperança, a transmitir segurança e confiança. Isso ela faz fundando-se em sua convicção profunda sobre os grandes valores da vida humana, do matrimônio e da família, construídos considerando-se o projeto de Deus (o Evangelho da Vida, do Matrimônio e da Família). Tais valores ainda se constituem como uma resposta diante das buscas e aspirações que atravessam a existência humana.
Para que isso se concretize, urge construirmos uma Ação Evangelizadora conjunta, por meio da Pastoral Familiar e de todos os movimentos, serviços, institutos e comunidades de Vida que têm a família como sua missão. Essa Ação Evangelizadora precisa acolher as pessoas em sua existência concreta, fomentar o desenvolvimento de suas legítimas buscas e aspirações, encorajar o seu desejo de Deus e a sua vontade de sentir-se plenamente parte de uma Igreja viva e comprometida, apresentar a beleza da vida humana (desde a fecundação até o seu término natural), do matrimônio cristão e da família.
Continuaremos, nestes artigos, refletindo sobre essa Ação Evangelizadora e o compromisso da Igreja e de cada um de seus membros (leigos, religiosos, sacerdotes), nos diversos movimentos e pastorais, institutos e comunidades. É tempo de ouvir o chamado de Cristo dirigido aos discípulos, em seu tempo, e dirigido a nós em nosso tempo: “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5,4). É preciso ir ao encontro das pessoas em suas realidades familiares e seus relacionamentos, e mostrar que cada pessoa e cada família é chamada, por Deus, a ser uma luz para um mundo que luta contra as trevas. Deus criou a luz para colocar ordem na criação, criou a família para dar ordenamento também à vida do homem e da mulher.
Dom Moacir Arantes
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia
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