O que é, afinal, vocação? Pessoalmente diria: ser si mesmo e estar no seu devido lugar.
Cada ser humano não se inventou, é fruto de um plano que vem de Deus, portanto de fora de nós, e deve encontrar seu específico lugar neste plano.
Tarefa delicada e urgente para a Pastoral da Igreja é ajudar, sobretudo, a juventude a se conhecer, elaborar um projeto de vida, se entregar na direção que Deus indica para cada um sem medo ou hesitações porque Deus proporciona os meios necessários para que isso aconteça de forma serena e segura.
No Brasil o mês de agosto é conhecido como Mês Vocacional, tempo propício para trabalhar, despertar e acompanhar todas as comunidades a se preocuparem de modo especial com as vocações consagradas. E por que não fazer referência a Maria neste Ano Mariano? É um modelo e exemplo exímio a ser imitado por todos.
Mas antes disso gostaria que pensássemos com muita responsabilidade eclesial sobre o número de seminaristas e padres que temos, sobre a diminuição preocupante das vocações femininas, sobre as defecções de numerosos presbíteros e cada diocese em números significativos de padres que abandonaram o ministério. Precisamos refletir sobre o por que e juntos encontrar caminhos de soluções mais maduras e não paliativos insignificantes.
É urgente pensar também sobre a qualidade dos consagrados e consagradas, sem cair em visões irrealistas que machucam o povo sério e fiel. Mas voltemos ao ícone mais excelente de vocacionada que pode nos empolgar e orientar. Maria é pessoa séria, planejada, livre, normal em sua vida. O que será nem imagina, mas Deus sabe o que quer dela e a alcança de forma imprevisível. Porque pessoa “normal” e de fé não coloca resistências, se entrega e o “plano planejado” acontece. Se ela não aceitasse acabaria chafurdando o coreto. Por isso que digo que vocação é entrar a fazer parte do plano de Deus, mas no próprio lugar estabelecido por ele.
Maria, porque séria e normal, tem suas inquietações, suas dúvidas, suas perguntas a fazer: “como pode acontecer isso, se eu não conheço homem?” Cada vocação, também a matrimonial, conhece dúvidas e inquietações. Daí a necessidade de uma Pastoral Vocacional iluminada, preparada, presente na vida de cada um, capaz de iluminar, discernir, encorajar, estimular. Parece-me que nestes últimos anos a PV perdeu intensidade, se industrializou com cursos, encontros, especializações de toda ordem, perdendo, porém, o vital corpo a corpo que de fato ajuda as pessoas em suas reais e pessoais dificuldades.
Maria acata o que Deus quer e não volta atrás. “Faça-se em mim o que você quiser”. É destas pessoas determinadas, fortes, lúcidas, que precisamos em nossas comunidades, casas de formação, em nossa Igreja.
Maria, portanto, como outros personagens bíblicos, deve ser um ponto de referência para o nosso trabalho vocacional. Mas é bom aproveitar do Mês Vocacional para refletir também sobre que tipo de consagrados queremos para a Igreja de hoje. Não é de qualquer um que precisamos, mas o modelo que incarna o Cristo Pastor, sobretudo os vocacionados à vida sacerdotal e religiosa. As insistências, até excessivas do papa Francisco sobre a figura do padre não são sem sentido.
A Igreja de hoje não precisa de figurinos eclesiásticos de outros tempos, mas de pessoas que se doam pelas ovelhas, as conhecem, infundem esperanças, são próximas, como diz papa Francisco, “tem o cheiro das ovelhas”. A escassez de ministros consagrados não pode levar ninguém a incentivar pessoas que nunca deveriam entrar em seminários e conventos, mas deve nos obrigar a procurar aqueles que de fato Deus chama para ser o prolongamento de sua ação ministerial.
Como seria útil trabalhar com afinco para que o Mês Vocacional não seja somente um período entre os outros, mas uma oportunidade providencial para reativar as vocações consagradas, cuidando seja do número como da qualidade.
Dom Carmelo Scampa
Bispo de São Luís de Montes Belos-GO