Neste artigo vamos refletir sobre a recente encíclica do papa Francisco Laudato Si' (Louvado Seja), porque ela está sendo considerada não como um documento ecológico, mas social. Nela, ao falar do cuidado da casa comum, o papa diz que a degradação do meio ambiente atinge a todos e terá consequências futuras afetando o bem-comum.
Por tratar-se de um tema complexo e com conceitos científicos, nota-se que muitas outras pessoas ajudaram o Romano Pontífice a escrevê-la, mas o “pai da encíclica” é claramente o papa Francisco. O processo de elaboração se deu por diálogo e consultas, escrita e reescrita.
Outro fator importante e o que se lê nas notas de rodapé são os contributos dos seus antecessores, principalmente São João Paulo II e o papa emérito Bento XVI, que em diferentes oportunidades manifestaram-se sobre os temas abordados na encíclica.
Com certeza podemos dizer que a encíclica reúne o pensamento do papa Francisco, que já foi manifestado na sua primeira homilia enquanto pontífice a 19 de março de 2013.
Por outro lado, a Laudato Si não significa propriamente a ecologia católica, mas em vez disso é a mais recente da série de encíclicas que desenvolvem a Doutrina Social da Igreja. Essa encíclica pode ser lida como a Rerum Novarum de 2015.
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Como as anteriores encíclicas sociais, lança a luz eterna do Evangelho, da fé cristã, sobre as circunstâncias desafiantes e sobre as mudanças dos nossos tempos. Procura evangelizar o povo de Deus, orientando-o a enfrentar as dificuldades que vão surgindo na caminhada rumo “à vida, à vida em abundância” (Jo 10,10).
Não podemos ficar indiferentes e devemos estar unidos por uma preocupação comum. Se não houver mudanças na condução do meio ambiente, a nossa casa comum pode ficar sem condições de ser habitada. O papa volta a falar do destino comum dos bens: é uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos (n. 93); Deus deu a terra a todos os homens.
A encíclica não é “eco” ou “verde”, mas com o seu ponto de partida nas questões mais urgentes da degradação ambiental procura levar-nos a uma “conversão ecológica”, pois podemos considerar que são os nossos pecados de egoísmo e consumismo que destroem a solidariedade com outros povos e a boa guarda do nosso lar comum.
Essa conversão seria criar em todos novos hábitos de consumo e de convivência, que necessariamente trará alguns sacrifícios, como renunciar a muitos produtos que o mercado oferece. Dessa forma, recomenda-se viver um ensinamento muito claro da Igreja chamada à virtude da temperança, que é consumir o suficiente para viver uma vida sóbria e modesta.
“Laudato Si encaminha-nos para viver numa maior harmonia com Deus, conosco mesmos, com o nosso vizinho e com a terra.” (Pe. Michael Czerny, S.J. )
Dom Levi Bonatto
Bispo auxiliar de Goiânia
Secretário do Regional Centro-Oeste