Segunda, 25 Abril 2016 19:01

Servidores da Vinha do Senhor



Caríssimos irmãos e irmãs, o tema central da 54ª Assembleia Geral da CNBB, ocorrida de 6 a 15 de abril de 2016, em Aparecida – SP, foi: “Cristãos leigos e leigas, sujeitos na Igreja e na Sociedade”, com o lema “Sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14). Dos estudos e discussões do episcopado sobre o assunto tão relevante foi aprovado mais um documento dos bispos para iluminar o protagonismo do laicato na missão da Igreja em tempos tão exigentes. O Documento não trará grandes novidades, mas retoma a temática com renovado ardor, e acréscimo das decisões da V Conferência de Aparecida e disposições do magistério do papa Francisco.

Desde os primórdios da era cristã, em virtude do batismo, os fiéis leigos e leigas ocupam um lugar especial na ação missionária e evangelizadora da Igreja. Leigos, do grego, laikos, derivado do termo laós, significa povo. O uso desses termos no início da Comunidade Cristã se referia aos membros do “povo eleito em Cristo” que passava a fazer parte da Igreja. Enfim, os fiéis leigos e leigos têm direito na Igreja, porque são a Igreja, nela vivem seu batismo e se alimentam da Palavra, da Eucaristia e praticam a caridade.

Com as grandes mudanças sociais e econômicas ocorridas na sociedade a partir do pontificado de Leão XIII (1878 a 1903), dá-se o início de maior valorização ascendente do laicato. Em 1929 o papa Pio XI cria Ação Católica, grande movimento de leigos e leigas que se espalha por todos os cantos da terra. Em 1935 o cardeal Sebastião Leme, do Rio de Janeiro, funda a Ação Católica aqui no Brasil com o objetivo de “salvar as almas pela cristianização dos indivíduos, da família e da sociedade”.

O papa Pio XII (1939 a 1958) protagonizou grande atenção ao laicato durante seu pontificado. Ativamente favoreceu os congressos do apostolado de leigos e outros eventos de similar natureza em Roma que serviram de base para o Concílio Vaticano II, convocado por João XIII (25/12/1961) e concluído por Paulo VI (08/12/1965). No referido Concílio os fiéis leigos e leigas foram tidos em grande conta, inclusive com a promulgação do Decreto “Apostolicam Actuositatem” sobre o apostolado dos leigos. Esse documento é a base de sustentação para a teologia e a ação pastoral coerentes do laicato católico, “verdadeiro sujeito eclesial” (Aparecida, 497a).

Não pode haver um antagonismo entre a hierarquia e o laicato, mas uma justaposição de comunhão e autoajuda. Cabe a nós sacerdotes ocupar nosso lugar e incentivar os leigos e leigas a ocuparem o lugar devido a eles na Igreja e na sociedade. Os fiéis esperam de nós pastores o abnegado serviço de acompanhamento, atendimento às confissões e à direção espiritual, o ofício da liturgia com objetividade e o nosso testemunho de santidade e pobreza. Espera-se do laicato a fecundação do mundo, através do testemunho cristão nos diversos ambientes onde os fiéis vivem e a santificação no trabalho que ajuda a transformar as realidades de injustiças e morte em ambientes de paz e vida. A família é o grande campo de ação dos fiéis leigos e leigas, onde a pessoa humana recebe sua primeira formação humana e cristã e os valores do Evangelho.

O Concílio Vaticano II compreendeu, de forma eloquente, a visão da Igreja fundada na comunhão e o princípio da autoridade e da hierarquia eclesiástica na perspectiva do serviço e doação. Desta feita, todos os cristãos batizados tem igual dignidade diante de Deus, chamados à vocação universal, à santidade (Lumem Gentium, Cap. IV). Sem a busca da santificação a Igreja fica reduzida a uma ONG (Papa Francisco).

As grandes reformas da Igreja, ao longo da história, foram protagonizadas com o empenho dos fiéis leigos. Nestes tempos nota-se o afastamento sistemático do homem de Deus. Outro fato é a inserção do hedonismo de forma avassaladora no modus vivendis das pessoas e a crise generalizada da cultura e das instituições que alcança também a Igreja. Diante dessa realidade, vemos levantar um grande número de leigos e leigas (inclusive jovens) que desejam ajudar a Igreja no alcance da autenticidade. Esses fiéis querem a Igreja como anunciadora do Evangelho e dos valores inalienáveis da fé e da família através da espiritualidade e do empenho na vivência dos sacramentos e da liturgia. Inegavelmente é um sopro do Espírito Santo na Igreja de nossos tempos.

“A Igreja tem recebido apoio de leigos e leigas competentes nos diversos setores da sociedade: professores, políticos, juristas, médicos, cientistas, sociólogos, psicólogos, profissionais em diferentes áreas e artistas de todas as artes. Brilham com sua competência, sua fé e seu humanismo, e contribuem com o desenvolvimento integral da humanidade e a missão evangelizadora da Igreja” (Instrumento de Trabalho do Tema Central, n° 39). A Igreja é solícita a todos e a todas que nas nossas comunidades rurais e urbanas, nos movimentos, nas pastorais, nos grupos de rezas e novenas e nos diversos serviços de evangelização e catequese fazem brilhar o amor e a misericórdia de Deus.

 

Dom Adair José Guimarães

Bispo diocesano de Rubiataba-Mozarlândia

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