Cristo Ressuscitou de verdade e está vivo. É uma certeza absoluta e se assim não fosse, nossa fé seria inútil. Não somente está vivo, mas caminha conosco! É outra certeza absoluta confirmada pelo próprio Cristo: “Eu estarei com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28, 20). Cristo Ressuscitado atua como Luz do Mundo: é aquele que afugenta as trevas, liberta de qualquer escravidão e morte, restitui a cada um a alegria do viver e as verdadeiras razões para viver.
Naturalmente um mistério tão grande não pode se reduzir a celebração litúrgica sem entrar na alma e vida concreta da comunidade cristã que acredita nele.
Daí a necessidade de uma mudança pessoal-comunitária-eclesial.
1. A Páscoa mexe com minha vida concreta, não poucas vezes marcada pelas trevas, insignificância, desvios de toda natureza, me indicando o caminho da luz, da aliança, de vida plena. “Deixa a luz do céu entrar...”, cantamos. Sem esse passo indispensável, realizado, sobretudo na celebração do Sacramento da misericórdia, a Páscoa não tem efeitos concretos em nenhum ser humano.
2. Mas tem também o aspecto comunitário e social. Cristo rompe as cadeias, ilumina a história, obriga a uma passagem radical na existência coletiva. Diante do cenário político, econômico atual, o que dizer para concretizar a Páscoa? Diante de um clima de violência insuportável como o nosso, como fazer acontecer a Páscoa? Diante de um mundo de mentiras cada vez mais sofisticadas, o que fazer para que Cristo seja o Vivente e o Senhor do ontem, do hoje e do amanhã? Diante da desagregação sempre mais preocupante da instituição familiar, como celebrar e fazer acontecer a Páscoa? O elenco dos problemas que nos afligem é interminável. Tantos desses problemas concretizam a morte. Páscoa, ao contrário, é vida plena para todos.
3. O perigo que corremos é que a tradição nos arraste e satisfaça; terminada a Semana Santa, terminará para muitos tudo e tudo ficará como estava. O potencial do Ressuscitado ficará arquivado até a próxima edição. Que pena se sentir obrigado a admitir: é isso aí mesmo que irá acontecer. A Páscoa de 2016, mais que as demais, obriga a assumir a “luta e a defesa pela vida, pela verdade, pela justiça, pela dignidade humana”.
4. Poderíamos limitar nossa reflexão somente ao contexto sócio-político e achar que é somente naquela área que deve acontecer a Páscoa? Nossa Igreja precisa também de uma sacudida forte para sair da sonolência eclesial, da inércia pastoral, da rotineira celebração daquilo que sempre se fez sem se dar conta que algo de novo aconteceu com a ressurreição de Cristo! A comunidade do Ressuscitado deve ter mais coragem em anunciá-lo e proclamá-lo presente na história, deve se sentir mais envolvida com a missão que lhe foi entregue, tornando-se cada vez mais uma Igreja em saída, para usar palavras queridas ao papa Francisco.
“Levantai-vos e vamos”. Feliz Páscoa!
Dom Carmelo Scampa
Bispo diocesano de São Luís de Montes Belos