Quarta, 19 Abril 2023 20:37

A caminhada Pascal

Na Páscoa todos se põem a caminho. Uma caminhada que começou na madrugada do primeiro dia da semana e terminou na certeza de que Jesus estava vivo.

Primeiro foram às mulheres que acorreram ao túmulo, para, incrédulas com a morte, tentarem entender o que havia acontecido. Em seguida, com o murmúrio que começava a crescer, são os próprios discípulos João e Pedro que também vão testemunhar o sepulcro vazio. Em todo caso, a Ele ninguém tinha visto ainda!

Mas essa espera acabou, pois, como soubemos em seguida, Ele já estava no meio de nós. É bem verdade que Maria disse não o haver reconhecido de imediato, mas depois quando ele a chamou pelo nome, tudo se esclareceu. Era Ele, o Mestre, senhor da vida e da morte.

Algo semelhante aconteceu com dois irmãos que estavam indo embora de Jerusalém (Lc 24,13). A caminho de Emaús eles encontraram um desconhecido, mas após convidá-lo para a ceia, ao cair da noite, o reconheceram ao partir do pão. Era o Senhor que estava vivo!

Neste mundo e no outro Deus continua nos amando. Se a Ressurreição é demasiada elevada para os nossos sentidos, Jesus forja outros caminhos, lembrando de coisas que havia feito quando estava conosco. Ora nos chamando pelo nome com o mesmo carinho que sempre fizera, ora, abençoando a partilha como de costume.

A páscoa nos coloca em outra ordem do discipulado. A boa nova, desde aquele dia, é anunciar que Jesus continua vivo. Um anúncio que os próprios discípulos tiveram que reaprender. Precisaram ser reevangelizados. Uma reevangelização que começou com o anúncio de Maria Madalena e as outras Marias.

Em cada encontro o Ressuscitado pede que caminhemos. Ficar parado não é uma opção! A Boa nova é esta: Ele está vivo! Agora é tempo de ir contar aos outros.

A Páscoa supera a imobilidade que o medo da morte impõe. O estar trancado em casa, no primeiro momento, por medo de também ser morto, perde o sentido quando testemunhamos o Cristo vivo.

O temor se transforma em coragem. A coragem advém sempre de algum acontecimento. O passar do medo à coragem, da reclusão ao campo aberto, mais uma vez, é testemunho de que a Ressurreição apareceu aos olhos de todos como um evento que abriu novos horizontes. É o próprio Ressuscitado que alarga esse horizonte.

A alegria da vitória sobre a morte abre inúmeras possibilidades para o anuncio do Reino de Deus. A começar pelos que primeiro testemunharam e perderam o medo da morte. Pedro, confiante no Ressuscitado, prega às multidões, relembrando que o mesmo Jesus crucificado está vivo. Essa pregação gerou comoção e adesão, a ponto de os convertidos perguntarem imediatamente: “e nós, o que devemos fazer”? (At 2,37)

É essa a disposição esperada de quem passou a acreditar, continuar fazendo o caminho daquele que o começou. A missão Pascal ensina que os discípulos assumem, agora, o protagonismo; o próprio Mestre os preparou. Por isso, Pedro e João ao adentrarem o templo e escutando um irmão doente que lhe pedia uma esmola, responderam dizendo: “não temo ouro nem prata, mas o que temos lhe damos, em nome de Jesus: levanta-te e anda”! (At 3,5)

Assim, tudo aquilo que era próprio do Mestre se torna comum aos discípulos após a Ressurreição! Principalmente, o compromisso de ir até o fim do mundo para testemunhar a sua presença no meio de nós.

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos

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