O destaque que a Semana Santa recebe em nossa espiritualidade e em nossas atenções, já diz a importância que tem o Mistério Pascal na vida da Igreja. Ela começa com o Domingo dos Ramos e termina com a celebração da Ressureição. Destaque especial tem o tríduo, que é a Páscoa celebrada em três dias. O tríduo pascal começa com a Celebração da Santa Ceia, seguido da celebração da Paixão do Senhor na sexta feira; da Sepultura do Senhor no sábado santo e da Ressurreição do Senhor na Vigília e no dia de Páscoa.
Tudo isso faz parte da nossa bagagem catequética e espiritual e não precisamos de muitas informações adicionais. A grande semana é um modelo de como viver a Páscoa do Senhor todos os dias, sem nunca separar de forma ambígua a unidade do mistério, através de incentivos particulares a devoções pessoais ou culturais específicas de nossas regiões. O que mais podemos destacar da Semana Santa?
* Cristo se fez presença constante no meio de nós através da Eucaristia, "memorial" permanente da sua páscoa; se tornou presença contínua no meio dos seus; se fez alimento; se fez comunhão. A Eucaristia é o ponto mais alto e a fonte de toda a vida cristã. A celebração da Ceia do Senhor no dia de sua instituição adquire uma solenidade e importância ímpar e deveria animar e motivar diariamente o caminho da comunidade pascal que é a Igreja.
* Não menos provocativa é a celebração da Paixão que é a prova maior do amor que dá a vida; modelo de quem segue fielmente e até o sangue a vontade ao Pai e constantemente diz "se alguém quer me seguir carregue a sua cruz todos os dias e venha atrás de mim". A contemplação da Cruz é fundamental na vida do discípulo que quer chegar ao que Paulo dizia: "não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim". O olhar contemplativo do Crucificado na sexta-feira santa é carregado de profundos sentimentos que não podem se enfraquecer pelo resto do ano litúrgico.
* Muito iluminadora é também a contemplação da Sepultura do Senhor. O sábado santo é o dia do grande silêncio, da espera, o dia que prepara o encontro com o Vivente. Recuperar a dimensão do silêncio cheio de esperança na sociedade tumultuada e barulhenta, dispersiva e superficial de hoje, é urgente para não correr o risco de focalizar o que não constrói e esquecer a dinâmica importante do "grão de trigo caído por terra: se não morrer continua sendo simplesmente um grão de trigo sem permitir ao futuro de acontecer.
* Enfim, a celebração da Ressurreição motiva definitivamente o sentido verdadeiro da vida, da história, da esperança.
Cristo ressuscita e se torna Luz do mundo; Palavra que ilumina a história; Água que regenera no Batismo, realizando desta forma a Páscoa na vida pessoal de cada um; Eucaristia como celebração de Cristo Cordeiro imolado e glorificado, nossa Páscoa.
Como é densa a Semana Santa! Por isso deve se tornar o ponto de referência para uma espiritualidade adulta pelo resto do ano. Que pena quando o Mistério dos Mistérios se torna exterioridade, rubrica litúrgica, realização de eventos nem sempre expressão da Páscoa do Senhor. Que pena quando se desvincula o mistério de suas fases interligadas e complementares, sublinhando aspectos secundários, embora importantes, mas que riscam de enfraquecer a beleza do dom de Deus.
A Pascoa é um grito de vitória, de Paz, de Alegria. A morte foi vencida e a perspectiva que está diante de nós é de eternidade feliz, se assim não for "seríamos os mais miseráveis entre os homens".
Dom Carmelo Scampa
Bispo emérito de São Luís de Montes Belos