É Natal, o nosso coração está exultante: Deus jamais abandona seu povo! Ele envia seu Filho, revestido da nossa fragilidade, para dar sentido à nossa caminhada. O Natal é a festa da encarnação de Deus. Não é simplesmente a recordação de um fato histórico importante, com a celebração do aniversário natalício de alguém que marcou a história da humanidade, mas um fato inaudito na nossa caminhada. Deus se faz humano, se faz pequeno, entra na nossa história não como um ser extraterrestre. Ele se aproxima de nós na ternura de uma criança. O contemplamos no menino entregue carinhosamente à humanidade, que ergue os seus bracinhos para ser acolhido e abraçado por nós. Como não ficar cheios de ternura diante de uma criancinha que nos estende os braços? Para o escritor Rubem Alves, “Deus cansou-se de ser Deus na solidão dos céus infinitos e concluiu que era muito melhor ser homem, ainda que nascendo entre os bichos, ainda que tendo de morrer. Deus tornou-se homem, revelando que não existe coisa mais alta no universo que ser homem e mulher” (Sete Vezes Rubem, p. 449).
No Natal celebramos o mistério de um Deus que se torna humano, sem deixar de ser divino, tem carne e ossos, vem ao nosso encontro desprovido de majestade, em tudo é semelhante a nós, menos no pecado. Que nos convoca a estabelecer novas relações humanas e com os outros seres da criação divina. Que nos convida a tocar a sua carne na carne sofredora do irmão (Cf. Evangelii Gaudium n 270). O mistério do Natal nos motiva a sair de nós e ir ao encontro do outro (Cf. Evangelii Gaudium n. 87), a superar o medo de sermos invadidos (Cf. Evangelii Gaudium n. 88). O papa Francisco constata a sede atual do sagrado, mas nos adverte quanto ao risco de saciá-la nas propostas alienantes, ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro (Cf. Evangelii Gaudium n. 89). Não obstante o desejo que algumas pessoas alimentam de um Cristo puramente espiritual, sem carne nem cruz, o mistério da encarnação do Filho de Deus nos convida a relações humanas, “a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com os seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa, permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura” (Evangelii Gaudium n. 88). O papa constata que a piedade popular consegue viver a fé concreta na relação com Jesus, com os santos, com Maria, que têm carne, têm rostos. Fé tátil: toca, se emociona, se deixa tocar por Deus e pela dor da pessoa que sofre (Cf. Evangelii Gaudium n. 90). Francisco nos convida “a descobrir Jesus no rosto dos outros, na sua voz, nas suas reivindicações; e aprender também a sofrer, num abraço com Jesus crucificado, quando recebemos agressões injustas, sem nos cansarmos jamais de optar pela fraternidade” (Evangelii Gaudium n. 91).
No Natal resplandece intensamente a Luz que ilumina nossa vida e renova a nossa esperança. O nascimento de Jesus inunda nossos olhos de uma luz nova, a luz do amor, que ilumina sem cessar nossa caminhada e nos encoraja na construção de um mundo melhor. Como afirma o papa Francisco, “cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus. Cada vez que os nossos olhos se abrem para reconhecer o outro, ilumina-se mais a nossa fé para reconhecer a Deus” (Evangelii Gaudium n. 272). Feliz Natal!
Dom Jeová Elias
Bispo diocesano de Goiás