A Igreja, que é o Reino de Cristo, contempla, no final do ano litúrgico, o seu Senhor como Pantocrator e Rei do Universo.
O Verbo que se fez carne, é a Plenitude universal; o Amor- Doação-Serviço o rosto visível do Deus Invisível; o anunciador do Reinado do Pai em nosso meio; aquele que dá constantemente o Espírito para continuar a obra ele até os confins da terra. Não existe em Cristo Rei sinal de poderes, prepotência, domínio. É o rei servidor que “dá a vida” e reina do alto da cruz.
O contemplamos com gratidão também porque dele continuamos a receber a missão de anunciar a primazia de Deus no mundo e a fraternidade entre os seres humanos, onde a “paz, a justiça, a unidade, a santidade e a verdade” fazem parte do compromisso cotidiano do discípulo.
Estamos a serviço do Reino de Deus, que é universal, vivendo radicalmente no Reino de Cristo que é a Igreja.
A lógica de Cristo é que estejamos no mundo como “sal, luz e fermento, comprometidos, como membros do Povo de Deus – que é o povo messiânico sacerdotal, profético e de servidores – em proclamar não um Deus estático, mas dinâmico, presente e atuante na história. Ele espalha sementes de sua presença em qualquer canto, portanto não somente na Igreja: descobrir e reconhecer essas sementes e fazê-las crescer é nossa tarefa.
O Reino se constrói quando se supera a tentação de se tornar seita, autorreferenciais e incapazes de reconhecer que a na vinha do Senhor existem também pessoas que “não são dos nossos, mas que profetizam” como aconteceu no acampamento de Moisés. O Reino se constrói quando se faz referência à Palavra de Deus, encarnando-a no hoje.
A fidelidade
Hoje é condição indispensável para não trabalhar por estradas paralelas. A fidelidade à Palavra não permite de cair em visões parciais ou unilaterais de mundo e de Igreja como infelizmente acontece. A Escritura é nossa contemporânea, capaz de fazer brotar as sementes do Verbo.
No dia de Cristo Rei se celebra também o dia do leigo, dessa porção privilegiada do Povo de Deus que através do trabalho específico na família, na cultura, na política, na economia, na vida real, faz o Reino crescer e se firmar. Sem o apostolado do leigo não se realiza o projeto e o sonho de Deus: restaurar tudo em Cristo, por Cristo e com Cristo. O campo específico de trabalho do leigo é o mundo, não o altar ou sacristia, como lembrava sabia mente São Paulo VI na Evangelii nuntiandi.
Também na festa de Cristo Rei a Igreja no Brasil inicia o ano vocacional, estímulo para todos, consagrados ou não, a serem agentes do Evangelho na condição específica da própria vocação.
Como igreja temos a obrigação de testemunhar claramente e a todos que somos o sinal mais claro da solidariedade e de unidade a ser construída. Deus se serve dessa nossa unidade para fazer novas todas as coisas. E para realizar isso com segurança e firmeza contamos com o “auxílio” permanente da Palavra de Jesus e a presença fortificante do Espírito. A Igreja, portanto, é a porção consciente da humanidade onde os valores do Reino se vivenciam de forma radical e lúcida.
É urgente superar divisões, polarizações, diferenças, tensões e oposições para “sermos um”.
O compromisso é grande e empolgante: precisa sonhar; acreditar que tudo o que é positivo vale muito mais das atitudes sorrateiras e míopes de quem confunde bem-estar efêmero do momento com o futuro que é prometido. Vale a pena meditar o texto bíblico das Bem-aventuranças (Mateus 5): é a estrada mestra para alcançar a felicidade do Reino.
Vale a pena também reler o texto de Mateus 25 para entender melhor como se acelera a vinda do Reino, como se constrói e como nele se pode entrar. Está na hora de acordar porque são demais aqueles que no mundo sofrem, “tem fome, tem sede, são nus, doentes, estrangeiros, migrantes, excluídos, sem rumo e direção.” Eles não estão dispostos a escutar de nós palavras românticas ou em ver ações paliativas e auto gratificantes. Quem sofre tem pressa e obriga à ação. Ser igreja ativa e atuante que acredita que a gloria de Deus é o homem vivo, como dizia São Cipriano, é o caminho do Reino de Deus.