Quarta, 20 Janeiro 2016 16:54

A educação dos filhos

 

“Meu Filho, porque agiste assim conosco? Teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura!” (Lc 2,48)


Pais aflitos, à procura de um Filho, pelo visto tranquilamente sossegado no seu admirável mundo novo, bem no coração da cidade santa de Jerusalém. Pais aflitos procuram o Filho, como quem tem de aprender a ser pai e a ser mãe, agora de outra maneira. E o Filho, já crescido, que, sem se darem conta, deixara de ser Menino Jesus, surpreende os pais com uma declaração de independência: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” Maria e José partilham assim a aflição e a procura dos pais de hoje: pais com dúvidas sobre o modo correto de educar, pais atentos e com vontade de fazer o melhor que sabem e podem, mas ainda assim, pais perdidos no mar desconhecido do relacionamento com os filhos, desde a infância, mas, sobretudo, a partir da adolescência.

Eu gostaria, hoje, de me pôr na pele desses pais aflitos e ajudar, com algumas sugestões, a atravessar esse mar desconhecido e tumultuoso do relacionamento com os filhos. E, à luz do Evangelho de hoje, abrir horizontes de esperança e de confiança, na sua missão educativa.

1º. Intervir na infância. A criança estabelece relações de proximidade, vínculos de afetividade, de respeito e de autoridade, já a partir do útero e desde o leite materno. A ligação com os filhos é, por isso, a base mais segura para o desenvolvimento da sua capacidade de conhecer, de amar e de se relacionar. Mais vale a presença atenta, simples e gratuita dos pais, que todos os presentes bem embrulhados.

2º. Os pais devem desenvolver, desde o nascimento, uma empatia calorosa com os filhos, em que se conjuguem, de modo equilibrado, o amor e a disciplina, a proteção e o controle, a compreensão e a correção, a atenção a cada um e o sentido do outro. A autoridade dos pais constrói-se nessa relação.

3º. A esse respeito, importa compreender e aceitar que cada filho é único, diferente na ordem do nascimento, da saúde, do temperamento, da inteligência, do sucesso. Mas também é verdade que, não obstante as acentuadas diferenças, os filhos são iguais. E são iguais porque são irmãos. E são irmãos não em função daquilo que são ou daquilo que têm, mas em função daquilo que primeiro lhes foi dado e feito, em função de um Amor que está na sua origem: o amor dos pais e o amor de Deus. A experiência do amor é antes de mais a experiência de ser amado!

4º. Os pais têm de aprender a estabelecer limites para os filhos, desde o nascimento. O mesmo olhar que cuida e protege, também proíbe, censura, adverte, corrige, de modo que a criança não se sinta o centro do mundo e o rei da casa, até se tornar o tirano da família. Sem limites, a criança incha de importância e chega à adolescência incapaz de perceber que “o mundo está muito para além do seu umbigo”!

5º. Para tomar consciência dos seus limites e para saber como se comportar, a criança precisa também de regras, rotinas, horários, hábitos e disciplina, rituais e tradições. Ambiente organizado, regras claras, responsabilidades atribuídas, são o modo mais eficaz para favorecer a autonomia e consolidar a autoestima dos filhos; as festas de família, as festas religiosas, a celebração dos aniversários, merecem ser assinalados e ajudam a família a crescer na sua identidade e proximidade. Também a esse respeito nos dão um belo exemplo “os pais de Jesus que iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa”.

6º. Um diálogo, de cinco minutos, com os filhos vale mais do que dezenas de horas no psicólogo. Os pais são, sem dúvida, os melhores terapeutas dos filhos, pela simples razão de serem quem os conhece melhor. Esse diálogo ganha, sempre que diminuir a crítica e se preferir a apreciação estimulante. Quanto ao diálogo com as crianças, por que não retomar a tradição de ler ou contar uma história a elas? Muitas vezes, tensas e caladas, as crianças conseguem, por esse meio, exprimir emoções, afetos, vivências.

7º. É importante dialogar, explicar, justificar atitudes e comportamentos, em relação aos filhos. Mas há situações, na infância e talvez mais ainda na adolescência, que não são discutíveis nem negociáveis: um filho não pode usar linguagem obscena em nenhuma circunstância; as questões de saúde e de segurança dos filhos são inegociáveis e por isso quando os pais não têm conhecimento certo do programa, da companhia e do destino, têm de dizer “não”, mesmo correndo o risco de que o seu filho seja o único a não participar em tal atividade. Nesse campo das “saídas”, mais vale, aos pais, pecar por rigor do que falhar por desleixo. Maria e José “começaram a procurar Jesus entre os parentes e conhecidos. E, não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à sua procura”. Em caso nenhum, a democracia na família derruba a hierarquia. Assim, o normal é que sejam os pais a ter a última palavra. Vede como, apesar da sua resposta ousada e surpreendente, o adolescente Jesus “desceu então com Maria e José para Nazaré e era-lhes submisso”.

8º. Por causa de um “não”, os pais têm, muitas vezes, de suportar o desamor temporário dos seus filhos, porque a criação de um limite e a frustração daí resultante são essenciais para o futuro da criança, sobretudo na adolescência. Educar não é estar sempre a premiar e a gratificar os filhos, muito menos esperar que os filhos nos confirmem como bons pais e nos alimentem do afeto; educar é fazer a pessoa sair de si mesma, fazê-la olhar o outro, acolher os outros. E isso implica conduzir, frustrar, transmitir valores. Custe o que custar.

9º. Importante, sempre, é responsabilizar os filhos por atividades adequadas à sua idade: arrumar o quarto, pôr a mesa, etc. Também o adolescente, precisamente porque não é nenhum doente e muito menos um demente, deve ser estimulado a responsabilizar-se por tarefas, a assumir responsabilidades, a fazer opções. Assim aprende a ser adulto.

10º. Não posso esquecer, por último, como é importante melhorar a comunicação entre a escola e a família, entre a família e a Igreja, entre a família e Deus. Nenhuma família pode, por si só, dar tudo o que os filhos precisam para crescer, como Jesus, em sabedoria, em estatura e em graça! Contai conosco. Contamos convosco. Deus esteja com todos vós e abençoe as nossas famílias!

 

Dom Washington Cruz
Arcebispo de Goiânia

 

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