Setembro é conhecido como o Mês da Palavra, a Palavra que ilumina e orienta os passos de um cristão maduro para trilhar o caminho do Espírito.
A apresentação que São João faz no prólogo de seu Evangelho é uma síntese maravilhosa do que a Palavra é e faz.
“No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus e a Palavra era Deus... tudo foi feito por ela e sem ela nada foi feito. O que foi feito nela era a vida e a vida era a luz dos homens”... (Jo 1,1-18). Poucas pinceladas para dizer grandes coisas.
1. A Palavra é a razão de ser de toda a realidade, é a razão e o sentido último de todas as coisas, portanto, é a razão última de minha vida assim como é em Deus. Deveria ser esta uma primeira mensagem da qual o cristão maduro deveria partir. Minha existência assim como ela é e toda a situação humana tem um sentido, tem um porquê, tem uma razão. E este sentido último está em Deus.
2. A Palavra é criadora, gera vida. Onde está este sentido último de toda a realidade, de todas as coisas, de minha situação humana? Está na dependência de Deus. Dependência a ser reconhecida no louvor e no respeito. Se a razão última de qualquer coisa é uma palavra criadora de Deus, este sentido de dependência total de Deus é a primeira atitude sobre a qual as outras se podem construir e sem a qual nenhuma disciplina espiritual pode ser construída.
3. A Palavra é sabedoria ordenadora. Em Deus está a razão última não só das coisas, mas do ser “aqui e agora”. Todas as coisas encontram o seu sentido na sabedoria ordenada de Deus. Como é importante na vida reconhecer isso. Esta consideração é muito ampla e esclarecedora porque partindo dela a gente entende que nenhuma situação humana é sem sentido, também as mais estranhas aparentemente e isso em nível pessoal, eclesial e social. Tudo tem um sentido na sabedoria divina.
4. A Palavra é luz e vida. Tudo tem um sentido e este sentido é luminoso, é vivificante. Isso apesar da escuridão da situação do momento, das provações e das angústias sofridas. Em cada realidade há um evangelho, uma boa notícia a ser decodificada.
5. Esta Palavra é Jesus Cristo. “E a Palavra se fez carne” (v. 14). A Palavra não é um livro, mas uma pessoa. Sem a confiança fundamental na sabedoria criadora que orienta as situações atuais e se manifesta em Cristo como “boa notícia” não existe esperança de mudar a si mesmo e não existe esperança para o mundo. É Cristo que revela as Palavras de Deus e que gera uma situação de verdade e de graça no mundo porque ele “é cheio de graça e verdade”.
A Palavra que queremos tornar ainda mais “lâmpada para nossos pés” (Sl 118) no Mês da Bíblia, vale a pena ser ouvida, meditada e conservada no coração, como fazia Maria.
Vale a pena ser testemunha com uma vida simples porque evangélica.
Vale a pena ser anunciada no “tempo oportuno e não oportuno” como diz Paulo a Timóteo porque ela tem poder de iluminar, transformar e gerar certezas que não decepcionam na vida de todos.
Seria uma pena reduzir o Mês da Bíblia a eventos bonitos, mas que acabam tirando da Palavra seu poder de produzir frutos.
Dom Carmelo Scampa
Bispo de São Luís de Montes Belos-GO