Estamos começando o Tempo Comum, depois de celebrarmos o Natal e vivermos o tempo do Natal. Nós temos a primeira semana do Tempo Comum, mas não temos o primeiro Domingo do Tempo Comum, pois neste se celebra a Epifania do Senhor como foi neste ano de 2024 ou o Batismo de Jesus, quando não é celebrado na segunda-feira depois da Epifania do Senhor.
O que é o Tempo Comum? É uma sequência de 33 ou 34 semanas, na qual a Igreja não celebra nenhuma festa extraordinária, mas se celebra constantemente “O” extraordinário que é Jesus. A cor litúrgica desse tempo é a cor verde, verde da esperança, verde de quem sabe que Deus está conosco no cotidiano. É o tempo de perseverar na fé, de acompanhar a missionariedade de Jesus, que incansavelmente caminha nos povoados, vilarejos, sinagogas, cidades, anunciando o Reino de Deus e fazendo muitos milagres com o intuito de despertar a fé no coração e na vida dos ouvintes. Depois interrompemos para os 40 dias da quaresma e os 50 dias da Páscoa. Em seguida recomeçamos o Tempo Comum até a Festa de Cristo Rei no mês de novembro.
É o tempo ordinário, do trabalho, da vida de família, de carregar o peso de cada dia, mas sempre lembrando que Deus está conosco e vivenciando a Páscoa semanal em cada domingo.
Jesus, em Mc 1,15, disse: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo” e Ecl 3,1: “Há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu”.
A nossa vida se desenvolve no tempo e somente quando a pessoa recupera o sentido do transcurso do tempo, estará preparada para bem viver, afinal, “não temos tempo, somos tempo. Nós não temos o tempo; o tempo é o que somos, pois quando não somos, já não há tempo que valha a pena”.
O Tempo Comum nos conduz à concepção de que o extraordinário só é concebido por causa do ordinário, pois se tudo fosse extraordinário o próprio extraordinário perderia a relevância. Podemos ver que o Tempo Comum nos convida a caminhar na esperança e nos prepara para celebrarmos os tempos fortes da Igreja, que são os tempos da Quaresma, da Páscoa, do Advento e do Natal.
O extraordinário deve a sua importância ao ordinário e o ordinário existe e subsiste por causa do extraordinário. Vivemos o ordinário olhando para o extraordinário que aconteceu. De forma que o ordinário não é menos importante ou sem relevância, mas somente quem vive bem o ordinário ou o Comum, poderá celebrar devidamente o extraordinário que são os tempos fortes da Igreja.
Imaginemos quão diferente é a participação daquele fiel que vem à Igreja somente no dia de um matrimônio, um batizado, a procissão da sexta-feira da paixão e se confessa no mutirão de confissões uma vez por ano, daquele outro cristão que participa dessas mesmas celebrações, mas com o diferencial que caminha na Igreja diariamente ou ao menos semanalmente. O entendimento e compreensão da própria caminhada deste segundo o predispõe e abre caminho para o extraordinário que será celebrando com muito mais fervor, fé e consciência do sagrado. E para o primeiro, o extraordinário se converte em algo ordinário ou até mesmo um peso, que revela todo o esvaziamento do extraordinário.
É no Tempo Comum que Jesus chama os seus discípulos e os envia em missão e ao mesmo tempo vai revelando o mistério da Sua pessoa. O Tempo Comum é como uma chuva mansa que cai e dá tempo para o solo absorvê-la em maior quantidade, diferentemente daquela chuva torrencial que, devido à sua abundância, pouco é retido.
Que Maria Santíssima interceda e nos ajude a viver o cotidiano da nossa vida, o Comum, com fé, esperança e amor e assim o Ordinário nos conduza ao Extraordinário.
Um feliz tempo comum, a você que leu este artigo. Deus o abençoe e boa missão.
Fraternalmente em Cristo,
Dom Dilmo Franco de Campos
Bispo Auxiliar de Anápolis.