O Sínodo evidencia também a indignação dos jovens diante das injustiças, das discriminações sociais, dos escândalos, com o apelo a aumentar a presença feminina na Igreja e favorecer uma pastoral sensível à “igualdade de gênero”.
Realizou-se na tarde de quinta-feira (11/10) na Sala do Sínodo, no Vaticano, a décima Congregação Geral do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens. Uma assembleia concentrada, à escuta, empática e em alguns momentos comovida, sobretudo quando os jovens tomaram a palavra, com aquele desejo de ser “luz verdadeira na escuridão”, agentes do Evangelho na esfera pública.
Na qualidade de auditores, provenientes de várias partes do mundo, ofereceram um instantâneo vivo da realidade deles chamando a atenção para o direito à paz e à estabilidade, muitas vezes dado por óbvio, mas do qual muitos são privados.
O drama dos jovens iraquianos
Foi significativo o testemunho de um iraquiano, convidando o Papa a visitar seu martirizado país onde os cristãos são uma minoria. Ele falou de uma realidade diária de ameaças, sequestros, assassinatos, fugas, como a dos 120 mil fiéis da Planície de Nínive sob a ameaça do autodenominado Estado Islâmico (EI). O grande temor é de que perdendo a confiança no futuro, um dia o Iraque possa esvaziar-se de cristãos.
Olhar para os jovens de todas as culturas
Entre os pronunciamentos dos bispos foi evidenciada a ameaça do fundamentalismo religioso e da corrupção que paira no horizonte de fé e esperança dos jovens. Como responder ao desejo de justiça inscrito no coração dos jovens?
Os prelados propõem investir sobretudo numa boa formação cristã e humana, mas dizem “não” a uma abordagem exclusivamente “ocidental”. Foi feito um convite a uma mudança cultural: é preciso uma maior atenção ao tema da migração, da pobreza e da perda das raízes culturais que aflige tantos jovens nos países do sul do mundo.
Deve-se haurir desses lugares também o alegre testemunho de fé: em alguns países africanos, por exemplo, a aspiração de um jovem à vida consagrada ou sacerdotal é uma alegria para a família e a sociedade.
Mais presença feminina, menos clericalismo
O Sínodo evidencia também a indignação dos jovens diante das injustiças, das discriminações sociais, dos escândalos, com o apelo a aumentar a presença feminina na Igreja e favorecer uma pastoral sensível à “igualdade de gênero”.
Foi observado que as mulheres podem contribuir para romper aqueles “círculos clericais fechados” que podem ter contribuído para o ocultamento dos abusos. Foi evocado o escotismo, que oferece um testemunho de abordagem aberta a todos, sem discriminação de sexo, raça ou religião. Na Sala do Sínodo foi também colocado o drama dos muitos migrantes considerados “irregulares”, com a recomendação à Igreja a ser voz dos mais vulneráveis.
Delegados fraternos: ecumenismo vivo
Por fim, na Sala do Sínodo, a intervenção dos delegados fraternos designados das respectivas Igrejas e Comunidades Eclesiais ainda não plenamente em comunhão com a Igreja Católica. Após a intervenção do diretor do Escritório Ecumênico Metodista, Rev. Tim Macquiban, que na manhã desta quinta-feira havia evidenciado o valor dos movimentos laicais, na parte da tarde outros seis expoentes de várias confissões cristãs tomaram a palavra.
Representando o Patriarcado Ecumênico, o metropolita dos “dardanéis” nos EUA, Nikitas Lulias, invocou uma nova onda de frescor, um novo sopro do Espírito que ajude os cristãos a apresentar a fé aos jovens sem fórmulas rígidas, no respeito pela verdade do Evangelho.
Por sua vez, o delegado da Igreja Ortodoxa Romena, o bispo Atanasio de Bogdania, evidenciou a necessidade de favorecer aos jovens, mediante oração e ascese, uma relação pessoal de amizade com Cristo em tempos caracterizados por “mestres improvisados que se autoproclamam detentores da verdade.
Em nome da Federação Luterana Mundial, a jovem alemã Julia Braband recordou que os jovens não são somente o futuro, mas o presente da Igreja. Por conseguinte, devem ser olhados nos olhos, ouvidos e feitos partícipes.
O representante valdense da Comunidade Mundial das Igrejas Reformadas, Marco Alfredo Fornerone, ressaltou a “surpreendente proximidade” com o Sínodo vivida durante estes dias no Vaticano, com o convite a “ousar verdadeiramente a abertura à escuta”, porque “a realidade é mais importante do que a ideia”, observou.
Uma jovem presença feminina, representando o Conselho Mundial de Igrejas, Martina Viktorie Kopecka, focou a atenção no chamado feito por Deus a todos os jovens a ser mediadores e pontes na convicção de que “todos somos filhos amados de Deus”.
Por fim, o bispo anglicano de Nairóbi, no Quênia, Joel Waweru Mwangi, manifestou apreço pela escuta dos jovens por parte da Igreja católica e do Papa. Os efeitos da destruição da família serão catastróficos como as mudanças climáticas, e como cristãos somos chamados a denunciá-los, advertiu.
A importância da família e dos formadores, raízes das quais como ramos de uma árvore os jovens necessitam para crescer, ressoou constantemente nos pronunciamentos dos padres sinodais.
Fonte: Vatican News