Em sua 12ª Viagem Apostólica Internacional, o papa Francisco voltou a visitar o novo continente. Desta vez, o México, nos dias 13 a 17 de fevereiro, após uma rápida passagem por Havana, capital de Cuba, onde esteve com o Patriarca de Moscou e de todas a Rússia, Kirill. O encontro histórico, após 962 anos de separação entre as Igrejas Católica Romana e Ortodoxa Russa, resultou na troca de presentes e assinatura, entre os seus líderes, de uma declaração comum, cujo foco foi a perseguição que sofrem os cristãos no Oriente Médio e outros aspectos em que podem testemunhar juntos os valores cristãos.
Acolhida: música e alegria
Francisco foi acolhido na Cidade do México com uma grande recepção à moda mexicana, com música e alegria, no início da noite de sexta-feira (12). Milhares de fiéis aguardavam o papa na pista do aeroporto. Acolhido pelo presidente Peña Nieto e pela primeira-dama, mesmo sem discursos, o pontífice pôde deixar seu carinho a todos os mexicanos no abraço das crianças. Ele saiu do tapete vermelho, vestiu o chapéu mexicano e se aproximou do público. Foi uma pequena mostra do que seria a 12ª Viagem Apostólica.
Jovens: principal riqueza
No sábado (13), Francisco falou de sua alegria por estar em terras mexicanas, país que ocupa “um lugar especial no coração das Américas”. Declarou que estava ali “como missionário de misericórdia e de paz, mas também como um filho que quer prestar homenagem à sua mãe, a Virgem de Guadalupe, e deixar-se olhar por Ela”. O pontífice não se esqueceu de mencionar as riquezas naturais do México e sua importante localização geográfica, mas, sobretudo, destacou que a principal riqueza do país são os jovens. “Isto permite pensar e projetar um futuro, um amanhã. Isto dá esperança e abertura ao futuro. Um povo rico de juventude é um povo capaz de se renovar, de se transformar.” Ainda aos jovens, no dia 16, o papa pediu que eles não largassem a mão de Jesus, jamais, que valorizassem suas vidas e nunca fossem mercadorias alheias, mercadorias do narcotráfico.
Corrupção: detrimento social
Cada um ali presente, conforme disse o papa, tem responsabilidades pela construção do México. E exortou para o mal que causa a corrupção na vida social. “A experiência demonstra-nos que quando se busca o caminho do privilégio ou do benefício para poucos em detrimento do bem de todos, mais cedo ou mais tarde, a vida em sociedade transforma-se num terreno fértil para a corrupção, o tráfico de drogas, a exclusão das culturas diferentes, a violência e até o tráfico humano, o sequestro e a morte, que causam sofrimento e travam o desenvolvimento.”
Combate ao narcotráfico: apoio da Igreja
Na Catedral da Cidade do México, um longo e intenso discurso marcou o encontro do papa com os bispos mexicanos, no fim da manhã de sábado (13). Dividiu sua reflexão em quatro pontos, sempre inspirados em Nossa Senhora de Guadalupe e pediu coragem para enfrentar a chaga do tráfico de drogas. “A amplitude e complexidade do fenômeno exigem uma coragem profética e um projeto pastoral sério e qualificado para contribuir, gradualmente, a tecer aquela delicada rede humana, sem a qual todos estaríamos, desde o início, derrotados por tal ameaça insidiosa”.
Episcopado: conservar a comunhão
Afirmando que “não há necessidade de ‘príncipes’, mas de uma comunidade de testemunhas do Senhor na qual Cristo é a sua única luz, o papa disse que o México e a sua vasta e multiforme Igreja têm necessidade de bispos servidores e guardiães da unidade construída sobre a Palavra do Senhor, alimentada com o seu Corpo e guiada pelo seu Espírito que é o alento vital da Igreja”.
Santuário de Deus: rosto dos que sofrem
No Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, o papa pôs-se a rezar e venerar o ícone da virgem em oração após a santa missa. Ali, ele recordou durante sua homilia que como mulher do sim, Maria dedicou sua vida totalmente a Deus e aos irmãos e que ela visitou o povo mexicano na pessoa do índio Juan Diego. Francisco acrescentou que também hoje Maria continua a fazer-se presente junto de todos nós, especialmente daqueles que sentem que “não valem nada”. Ele disse ainda que na construção do santuário da vida, das nossas comunidades, sociedades e culturas, ninguém pode ser deixado de fora.
Hospital do Câncer: mensagem de esperança
O papa visitou o Hospital Infantil Federico Gomez, na Cidade do México, no domingo (14). A estrutura, referência nacional no tratamento do câncer infantil, principalmente leucemia, atende mais de 255 mil crianças por ano e são registrados mais de 6 mil internações. A média de cura das crianças com a doença chega a 80%.
Quaresma: tempo de desmascarar tentações
Na segunda missa da Viagem Apostólica ao México, em Ecatepec, o papa afirmou que a Quaresma é tempo de desmascarar três tentações: a riqueza, a vaidade e a pior delas –advertiu – o orgulho. Recorrendo ao Evangelho, Francisco pediu que todos prestassem atenção para não “tentar dialogar com o demônio”, porque ele vence sempre. “Até que ponto nos acostumamos a um estilo de vida que considera a riqueza, a vaidade e o orgulho como a fonte e a força de vida?”
Esperança à região mais pobre: Chiapas
O estado de Chiapas, apesar de seus grandes recursos naturais, é um dos menos desenvolvidos do país, com grande pobreza e analfabetismo. Cerca de 36% de seus habitantes falam exclusivamente a sua própria língua indígena. Por isso, o papa entregou um documento que autoriza o uso das línguas locais nas celebrações eucarísticas, tseltal, ch’ol e tsotsil. Esta foi a principal mensagem do pontífice naquele estado: “o mundo de hoje precisa reaprender o valor da gratuidade”, disse, enaltecendo a riqueza e valores dos povos indígenas, que muito têm a nos ensinar diante da ganância do lucro e do domínio despótico do homem sobre os bens da criação.
Prisões: sintoma de como estamos na sociedade
No último dia de sua viagem (17), o papa Francisco visitou em Ciudad Juárez, o Centro de Readaptação Social nº 3 (CeReSo). Em seu discurso sublinhou que celebrar o Jubileu da Misericórdia com os detentos “é o caminho que devemos urgentemente empreender para romper o ciclo vicioso da violência e da delinquência”. Afirmou que “a misericórdia divina lembra-nos que as prisões são um sintoma de como estamos na sociedade; em muitos casos são um sintoma de silêncios e omissões provocados pela cultura do descarte. São sintomas duma cultura que deixou de apostar na vida, duma sociedade que foi abandonando os seus filhos”.
Despedida: justiça aos migrantes
Na Missa de encerramento da Viagem Apostólica ao México, ao abordar o fenômeno global das migrações forçadas, o papa Francisco condenou as graves injustiças perpetradas contra milhares de migrantes que fogem da pobreza e da violência e, com frequência, acabam nas mãos de traficantes de seres humanos. “Aqui em Ciudad Juárez concentram-se milhares de migrantes da América Central e de outros países, sem esquecer tantos mexicanos que procuram também passar para ‘o outro lado’. Uma passagem, um caminho carregado de injustiças terríveis: escravizados, sequestrados, objetos de extorsão, muitos irmãos nossos acabam vítimas do tráfico humano”, recordou Francisco. Mais de 200 mil pessoas acompanharam a homilia do Papa em Ciudad Juarez.