O Trabalho humano

Vamos iniciar uma série de artigos considerando alguns aspectos do trabalho humano, como o construtor da ordem temporal querida por Deus.

O papa Francisco tem chamado a atenção para o homem materializado dos dias de hoje. E esse homem nessa situação, quando projeta a sociedade do futuro, o faz pensando apenas em uma acumulação de recursos materiais, em um bem-estar material, em uma sociedade bem equipada, um mundo onde dominaria a técnica, onde o trabalho seria para o progresso tecnológico, onde o homem atingiria todas as suas conquistas através do trabalho técnico, a técnica seria a medida do homem.

Nós também pensamos assim, porque temos um lado materialista bastante forte e esquecemos que uma sociedade evoluída materialmente pode estar cheia de problemas humanos. O papa Francisco lembra-nos das “periferias existenciais” que são situações humanas degradantes que ocorrem em sociedades desenvolvidas.

Já temos experiências que em muitos países, dito “estados sociais”, houve recursos materiais abundantes, mas a verdade sobre o homem ficou esquecida, assim também ficou esquecida a questão sobre a dignidade do trabalho, que é a chave da questão social.

O mundo idealizado pelo capitalismo liberal materialista e individualista, o mundo novo que o trabalho criará será um mundo projetado pelo homem na medida humana; a medida dos egoísmos humanos. A ideologia liberal aplicada de uma forma pura e genuína já enganou a muitos com o sonho do progresso.

O mundo do futuro imaginado pelas teorias coletivistas materialistas será um mundo no qual o homem trabalhador não valerá pelo que é – pessoa humana – mas pelo que faz. Isso é muito perigoso, porque ele será apenas uma força produtiva, isso e pode trazer sérias consequências, poderá haver uma concepção utilitarista do homem, logo as crianças e os idosos, e os doentes, valerão muito pouco porque não têm rendimento econômico.

As teorias materialistas quer que trabalhemos não para nós e para os nossos filhos, mas para um futuro, é uma ideologia que criou um mundo de homens sonhadores que desprezam o real.

É preciso valorizar adequadamente o trabalho humano, e a luz da correta noção de trabalho deve orientar o relacionamento das partes envolvidas no processo produtivo; com isso se remunerará convenientemente os trabalhadores e se conseguirá uma ordem social mais justa.

O problema atual das concepções modernas do trabalho é que não levam em conta o que a Revelação nos diz. Falam-nos apenas de uma nova construção do mundo que se realizará exclusivamente pelo trabalho e o esforço humano feito sem a ajuda de Deus.

Não levam em conta para nada a ordem divina querida por Deus, no fundo colocam o trabalho mais como algo para ser realizados por gigantes do que pelos homens. Lembramos o Gênesis que diz que o homem foi feito para trabalhar e que dominaria a natureza “O Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para o cultivar e guardar” (Gn 2,15 ) . Ou seja, o homem está para dominar o que foi criado por Deus.

Em uma festa de São José, 19 de março, o papa Francisco disse que “a figura de São José nos remete à dignidade e importância do trabalho, pois foi com seu pai adotivo que Jesus aprendeu a trabalhar. De fato, o trabalho enche o homem de dignidade e, em certo sentido o assemelha a Deus que como se lê na Bíblia ‘trabalha sempre” (Jo 5, 17)”.

 

Dom Levi Bonatto

Bispo auxiliar de Goiânia e Secretário do Regional Centro-Oeste