A última Lectio Divina (Leitura Orante da Bíblia) promovida pelo Setor Juventude da Arquidiocese de Goiânia, durante a Quaresma, aconteceu no dia 8 de abril, sob orientação do bispo auxiliar Dom Moacir Arantes. Os seis encontros tiveram o objetivo de preparar os jovens para a vivência da Quaresma, bem como para a Semana Santa.
“Em tudo aquilo que vivemos, somos chamados a voltar para a casa do Pai”, começou Dom Moacir ao refletir sobre a parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). Ele comentou que, por mais confortável que seja um lugar, não há no mundo melhor aconchego do que o lar. O filho pródigo, ou o filho gastador, tinha um coração inquieto porque não havia encontrado a Deus. Conforme o bispo, nós somos seduzidos pelas experiências do mundo, como o protagonista da parábola. Em seu coração inquieto, ele fez um percurso existencial que nós fazemos também. “O filho deixa o lugar da graça, onde tem tudo e nada falta, e vai para o mundo, toma a herança que não é sua e segue seu caminho. O que ele fez foi tomar a vida que não é sua, que não lhe pertence, e o pai, no imenso amor que tem, o permite ir”, refletiu Dom Moacir, que continuou: “O amor de Deus é tão grande que ele nos permite amá-lo e não querê-lo, embora ele nos ame e nos queira”.
Ao sair em busca da “vida plena” que deseja, o jovem encontra amigos, gasta o dinheiro, vive os prazeres do mundo. Mas quando o dinheiro acaba, tudo o que ele tinha também se finda: saúde, alegria, graça, amigos. “A alma do moço se esvazia porque ele não está mais ligado à fonte, que é o pai. As coisas não têm sabor, a vida não é mais vida. Ele vive na penúria, na fome, e sofre a pior realidade que um judeu pode imaginar”. Mas nem tudo estava perdido porque o jovem caiu em si (v.17), lembrou-se da casa do pai. Dom Moacir traduziu aquela que poderia ter sido a reflexão do jovem naquele momento. “Existe um lugar onde há vida; talvez eu não consiga viver nele, mas pelo menos ao redor, poder sentir o cheiro, viver como empregado, escravo de meu pai”. Neste momento, o moço sai em oração, ensaiando como dizer ao pai que está arrependido. “É uma oração porque ele faz como nós, ao se preparar para a confissão: “Pai, eu tenho fome e necessidades, preciso de ti”.
Dom Moacir disse que o pecado está sempre a conspirar contra nós. “O filho decide voltar, mas o pecado coloca em seu coração muitos medos e ele se lembra do relacionamento que tinha com o irmão, com os empregados que tratava mal”. O pai, por sua vez, está todo dia a esperar o filho, da mesma forma que Deus nos espera. “Será que ele volta hoje? Será que ele agora vai abandonar o caminho dos porcos? O filho não sabia que aquele seria o último dia de trevas e tristeza em sua vida. Judeu não tem o hábito de correr, mas, no dia do encontro, ele corre porque Deus rompe todas as barreiras para nos ter. “Quantas vezes as pessoas desistem na última hora, por isso o pai corre, não espera. Não dá tempo nem de o moço rezar a oração que tanto ensaiou no caminho”.
A alegria da volta do filho é muito maior que a dor que o pecado lhes causou. Segundo Dom Moacir, o pior momento dele foi o melhor de Deus. A festa foi a consequência de tudo. O filho mais velho, porém, não entrou na casa. Ver o irmão voltar depois de esbanjar os bens do pai lhe provoca a ira. O novilho cevado que o pai manda matar ao filho mais novo era cobiçado pelo mais velho (v.27). “O pecado nos faz juízes, nos faz querer ser melhor que os outros. E o pai sai duas vezes para recuperar os filhos. O filho mais velho, entretanto, mesmo morando com o pai, está distante dele, não faz as suas vontades”. Segundo o bispo, o mais velho não foi capaz de buscar o mais novo. “Hoje somos chamados a vencer o pecado que há no irmão mais velho”. O filho mais velho é ainda “aquele eu contaminado pelo pecado que não quer que o eu busque o pai”.
Dom Moacir também refletiu sobre o que seria o pensamento do pai ao reencontrar o filho: “Não sei por onde andou, quais foram seus pensamentos, olhares, palavras, desde a última confissão. Mas sei de uma coisa: não importa aonde andou, mas onde quer estar. E é isso que Deus pede: voltar para casa”. Independentemente de qualquer pecado, Deus nos quer e só o amor é capaz disso. Precisamos permitir que o Pai nos coloque as sandálias, o anel, as roupas novas”, completou.
Como proposta de ação para a semana, o bispo pediu a vivência profunda da Semana Santa, de modo que o tempo de trabalho espiritual seja redobrado. Ele disse também que não é justo transformar em lazer essa semana, porque para os cristãos não se trata de feriado”.