O papa Francisco recebeu na manhã desta quinta-feira, 10, na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 130 novos bispos que participam, nesta semana, do curso anual promovido pela Congregação para os Bispos e pela Congregação para as Igrejas Orientais.
“Vocês são bispos da Igreja, chamados e consagrados recentemente. Vieram de um encontro irrepetível com o Ressuscitado. Atravessando os muros de sua impotência, o Senhor os alcançou com a sua presença, mesmo conhecendo suas falhas e abandonos, fugas e traições. Não obstante isso, Ele veio no Sacramento da Igreja e soprou sobre vocês. Este é um hálito que deve ser conservado, um sopro que abala a vida que nunca será a mesma de antes, mas que também dá serenidade e consola como a brisa suave”, frisou Francisco.
Os bispos são testemunhas do Ressuscitado
O papa recordou aos bispos que eles “são testemunhas do Ressuscitado”. “Esta é a sua primeira e insubstituível tarefa. Esta é a riqueza que a Igreja transmite também através de mãos frágeis. Foi-lhes confiada a pregação da realidade que sustenta todo o edifício da Igreja: Jesus ressuscitou! Aquele que subordinou a própria vida ao amor, não podia permanecer na morte. Deus Pai ressuscitou Jesus! Também nós ressuscitaremos com Cristo”, frisou.
Francisco sublinhou que os homens se esqueceram da eternidade. Segundo ele, “muitos são sequestrados pelo cálculo cínico da própria sobrevivência e se tornaram indiferentes, impermeáveis à possibilidade de vida que não morre. Todavia, somos investidos de perguntas cujas respostas vêm do futuro definitivo”.
“Penso nos desafios dramáticos como a globalização que aproxima o que está distante e por outro lado separa quem está perto. Penso no fenômeno da migração que abala os nossos dias. Penso no ambiente natural, jardim que Deus deu como moradia ao ser humano e outras criaturas, ameaçado pela míope e predatória exploração. Penso na dignidade e no futuro do trabalho humano do qual não usufruem inteiras gerações. Penso na desertificação das relações, na falta de responsabilidade difundida, no desinteresse pelo futuro e no fechamento crescente. Penso no esmorecimento de muitos jovens e na solidão de muitos idosos”, disse ainda o papa.
“Não quero me concentrar nesta agenda de tarefas, pois não quero espantá-los. Vocês estão ainda em lua de mel!”, disse ainda Francisco. Como Bispo de Roma quero entregar vocês, mais uma vez, aos cuidados da alegria do Evangelho. Os discípulos se alegraram quando encontraram vivo o Pastor que aceitou morrer pelo seu rebanho. Vocês também devem se alegrar quando se consomem por suas Igrejas Particulares. Recordem-se sempre de que o Evangelho os protege. Não tenham medo de ir a qualquer lugar e permanecer com aqueles que o Senhor lhes confiou. Nenhum âmbito da vida humana deve ser excluído do interesse do coração do pastor. Não negligenciem as várias realidades de seu rebanho. Não renunciem aos encontros, se dediquem à pregação da Palavra viva do Senhor e convidem todos para a missão.”
Bispos pedagogos, guias espirituais e catequistas
O papa convidou os bispos a serem pedagogos, guias espirituais e catequistas daqueles que frequentam suas comunidades e recebem a Eucaristia, guiando-os ao conhecimento do mistério que professam, ao esplendor do rosto divino escondido na Palavra que talvez estejam acostumados a ouvir, mas sem perceber a sua força. “Não poupem energia em acompanhá-los na subida do Monte Tabor. Cuidem de seus sacerdotes para que despertem o encanto de Deus nas pessoas a fim de que sintam sempre o desejo de permanecer em Sua presença, sintam saudade de Sua companhia”, disse ainda Francisco.
Bispos mistagogos
Francisco recordou em seu discurso aos bispos “as pessoas batizadas, mas que não vivem as exigências do Batismo. Algumas se distanciaram porque se desiludiram com as promessas da fé ou porque muito exigente lhes pareceu o caminho para alcançá-las. Vocês bispos são capazes de interceptar seu caminho. Se façam de viajantes aparentemente perdidos, perguntando o que aconteceu na Jerusalém de suas vidas e, discretamente, deixem elas abrir o seu coração. Não se escandalizem com suas dores ou suas decepções. Aqueçam os seus corações com a escuta humilde e interessada ao seu verdadeiro bem para que os seus olhos se abram e possam voltar ao Senhor.”
Bispos missionários
“Como pastores missionários da salvação gratuita de Deus, busquem também aqueles que não conhecem Jesus ou o recusou”, disse ainda o papa. “Não podemos prescindir dos irmãos que estão distantes. Vendo em nós o Senhor que os interpela, talvez tenham a coragem de responder ao seu convite divino. Se isso acontecer, as nossas comunidades serão enriquecidas e o nosso coração de pastor se alegrará. Este horizonte deve prevalecer em seu olhar de pastores no iminente Ano Jubilar da Misericórdia que em breve iremos celebrar”, concluiu o papa Francisco.