Ex-coordenador do Comire é enviado em missão para a Amazônia

 

No dia 5 de outubro, o presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB (Goiás e Distrito Federal), e bispo de Uruaçu (GO), Dom Messias dos Reis Silveira, presidiu a missa de envio do padre Marcelo Gualberto, para uma missão de três anos, a princípio, na Diocese de Alto Solimões (AM). A celebração, que foi concelebrada pelo bispo daquela diocese, Dom Adolfo Zon Pereira, aconteceu na Paróquia São Francisco de Assis, na cidade de Niquelândia (GO) onde o padre serviu por dois anos.

Semanas antes da partida, o missionário, que pertence à Diocese de Uruaçu e que já foi secretário nacional da Pontifícia Obra da Propagação da Fé, organismo oficial da Santa Sé para a cooperação missionária e que atualmente estava à frente da coordenação do Conselho Missionário Regional (Comire), concedeu entrevista ao site do Regional Centro-Oeste da CNBB, na qual relatou as motivações que o levam para a missão na Amazônia.

Padre Marcelo comentou que a ideia estava sendo amadurecida na Diocese de Uruaçu há quatro anos e meio. Depois que deixou a função de secretário nas Pontifícias Obras Missionárias (POM) há três anos, ele colocou o seu nome à disposição, caso a diocese abraçasse um projeto de envergadura missionária. Ele já esteve na Amazônia em algumas oportunidades: na Missão Jovem, promovida pela CNBB em 2015 e assessorando encontros da Juventude Missionária (JM) quando era secretário das POM.

A Paróquia São Paulo Apóstolo, no município de São Paulo de Olivença, onde o missionário irá atuar, está localizada no extremo oeste do Amazonas, a 940 km de distância de Manaus e 560 da sede diocesana que fica na cidade de Tabatinga, município vizinho da cidade de Letícia, na Colômbia, situado ainda na tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru e que faz limite com a Diocese de Cruzeiro do Sul (AC-AM) e a Prelazia de Tefé (AM), região de muitos desafios sociais. “Essa tríplice fronteira tem desafios imensos como o narcotráfico, a exploração de crianças, o tráfico de pessoas, além de toda a realidade indígena”, relatou. Segundo padre Marcelo, no Alto Solimões há cerca de 50 mil indígenas da etnia Tikuna, povo que vive nas florestas e também na zona urbana. Inclusive há uma paróquia exclusiva que os assiste. “É diante dessa realidade que temos presentes tantos desafios sociais, evangélicos e nós, como missionários, não podemos fugir dessa situação”, comentou. Por razões históricas, a diocese leva o nome de um dos principais rios do Amazonas.

Outra realidade gritante no Alto Solimões são as distâncias. A diocese é composta por oito paróquias presentes em oito municípios: Amaturá, Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Tabatinga e Tonantins. A região tem uma densidade demográfica de 1,4 h/km² (habitante por quilômetro quadrado), população de cerca de 190 mil habitantes e superfície de 145 mil km². Possui um dos menores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil. A renda per capita também é uma das menores do país, bem como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e a taxa de analfabetismo. A diocese possui ainda em torno de 400 comunidades de base, ribeirinhas que, para o sacerdote chegar é preciso enfrentar dias e até semanas de barco para visitar as famílias em florestas jamais tocadas pelo homem. “Para atender toda essa realidade, a diocese conta com quatro padres diocesanos e nós, da Diocese de Uruaçu, temos muito a contribuir, já que só diocesanos nós somos 52 sacerdotes”, comparou.

Caminhos da Missão

Entusiasmado, padre Marcelo disse que o objetivo é dar sequência ao projeto, logo após os três primeiros anos. “É com muita alegria que inicio essa missão. Estamos começando o projeto com um padre, mas a intenção é mais adiante ter uma alternância de sacerdotes que queiram fazer a experiência, ou mesmo leigos com experiências que possam somar. Tudo isso com um único objetivo: partilhar a vida com aquele povo”, declarou.

Questionado sobre o papel do missionário, Gualberto explicou o significado de partilhar a vida com os irmãos. “O missionário nunca sai para ensinar, mas para partilhar a vida, ou seja, aprender e colaborar com aquilo que sabe, colocando em comum todo o seu ser. É por isso que escolhi como lema dessa missão, a citação de Jeremias, ‘A quantos eu te enviar irás’ (1, 7). Coloco nas mãos de Deus essa missão e o que for melhor para a comunidade eu estou disposto a servir até quando a diocese achar necessário”.

Ouvido, o bispo de Uruaçu, Dom Messias, explicou qual o significado do envio do padre Marcelo em missão à Amazônia. “Há muito tempo os bispos da Amazônia têm feito apelo aos bispos do Brasil para que envie missionários para aquela região e nós estávamos nos preparando para esse momento que chegou. Recentemente celebramos o Congresso Eucarístico Nacional, em Belém (PA), com o tema, ‘Eucaristia e partilha na Amazônia missionária’, portanto, aqueles que têm contato com a Eucaristia são chamados a partilhar para ajudar aqueles que estão com tanta fome da Palavra de Deus, do Pão Eucarístico e da ação pastoral, por isso enviamos o padre Marcelo na esperança de colaborar para que o povo ali possa viver saciado”, justificou. O bispo também destacou que é desejo da diocese continuar o projeto com outros missionários no futuro. “Oxalá num futuro próximo tenhamos mais missionários para colaborar com o projeto. Se for da vontade de Deus, o faremos com alegria”, completou.

O bispo do Alto Solimões, ao fim da missa de envio do padre Marcelo, agradeceu a Dom Messias pela iniciativa. “Obrigado bispo, por nos dar esse presente. Padre Marcelo é um presente que Deus está nos enviando”. Ele assumiu a missão no último domingo, 16 de outubro.

O Regional Centro-Oeste da CNBB agradece ao padre Marcelo Gualberto por ter coordenado o Conselho Missionário Regional nos últimos meses. Muito obrigado e frutuosa missão!