Esperar o Senhor vigilante

Estamos iniciando mais um ano litúrgico com o tempo do Advento. “O tempo do Advento tem uma dupla característica: é o tempo de preparação para a solenidade do Natal, na qual se recorda a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, e, simultaneamente, é o tempo no qual, através desta recordação, o espírito é conduzido à espera da segunda vinda de Cristo no final dos tempos” (Novo Calendário Romano, 39). Preparando-nos para celebrar a grande solenidade do Natal, o ano litúrgico, com a celebração do Advento, quer colocar o nosso coração na dinâmica da espera, quer que o cristão esteja sempre esperando o seu Senhor que vem, que esteja sempre vigilante.

A Palavra de Deus deste primeiro domingo do Advento (Lc 21, 25-28. 34-36) quer suscitar nos nossos corações a espera vigilante do Senhor. O Evangelho se inicia com a linguagem apocalíptica, que talvez nos cause pavor, mas é uma forma, um tipo de linguagem para falar da vinda do Filho do Homem. Não devemos nos preocupar com a linguagem, mas, sim, com a mensagem: a vinda do Filho do Homem.

O Filho do Homem, um dos títulos dados a Jesus Cristo, veio até a nossa história há mais de dois mil anos. Ele veio, realizou a nossa salvação, foi ao Pai e permanece de uma forma nova no meio de nós: por meio da Palavra, dos Sacramentos, principalmente da Eucaristia, que é o Seu Corpo e Seu Sangue, também por meio da comunidade reunida, no irmão necessitado que bate à nossa porta. Pode ainda ser encontrado na oração e de tantos outros modos. O caminho da fé implica, sempre, essa capacidade de encontrar o Senhor na vida do dia a dia. Ele vai Se dando a nós na história concreta do dia a dia por meio de instrumentos frágeis e quase imperceptíveis. Mas, um dia Ele voltará para cada um de nós e para a história.

Jesus nos fala dessa segunda vinda: “Então verão o Filho do Homem vindo numa nuvem com poder e grande glória” (Lc 21, 27). O Filho do Homem é Jesus ressuscitado na Sua manifestação gloriosa final. Ele, na Sua primeira vinda, veio na humildade, no esvaziamento. Agora, no final, Ele virá como o ressuscitado, Aquele que foi constituído Senhor de tudo. Ele voltará com poder e glória para julgar a história. A história tem uma determinação Crística. Tudo foi criado por meio de Cristo, Ele foi Aquele que Se encarnou, realizou a nossa salvação. Ele voltará para julgar a história. A vida do discípulo de Jesus Cristo é buscar configurar a vida a Ele. O nosso crescimento é rumo a Ele. O cristão é aquele que vai buscando moldar a vida, a existência segundo Cristo, que vai crescendo rumo à estatura de Cristo (Ef 4, 13).

Por isso, o Senhor quer que estejamos vigilantes na Sua volta. Não são as preocupações deste mundo que devem preencher o coração do homem, da mulher de fé. O nosso coração deve estar voltado para o Senhor. Somos exortados a estar acordados e orando para ficar de pé diante do Filho do Homem. Que a Virgem Maria, mulher vigilante, ajude-nos a crescer na vigilância.

Cardeal Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília-DF