Há uma convicção longeva em nossa caminhada de fé que Deus só se mostra na sutileza: depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave, nela Deus se revelou. (Rs 19,12)
Assim aconteceu nestes dias após a Ressurreição. Primeiro foi Maria Madalena, que instigada pelo grande amor que sentia por Jesus, estava de vigília, chorando no lado de fora do túmulo. Os anjos tentaram acalentá-la, reacender a sua fé, mas não conseguiram. Nem a alta teologia dos anjos a convenceu. A conversa com o presumido jardineiro se conclui quando Jesus pronuncia o nome de Maria. Pronunciou daquele jeito íntimo que quem ouve reconhece logo. Embora não o identificasse por sua aparência, Maria exclamou: Mestre! O reconheceu e o reencontrou. Abraçou-o com tamanha força que não pretendia largá-lo mais.
Também os discípulos de Jesus, dos quais o nome de um nos foi revelado, um certo Cléofas, estavam marchando para fora de Jerusalém, rumo a Emaús, como bem faz questão de nos revelar o evangelista, ficava a 12 quilômetros de distância de Jerusalém. Enquanto se afastavam encontram-se com Jesus, mas não o reconheceram. Jesus lhes explicou a teologia da tradição, a Sagrada Escritura, e o desfeche providente da história de Israel. Embora se sentissem interessados e atentos, isso não foi suficiente para o reconhecerem.
Mas quando se sentaram à mesa com Ele, e Jesus tomou o pão, abençoou e distribuiu entre eles, seus olhos se abriram e eles gritaram: é o Senhor!
No terceiro encontro Jesus está de pé a beira do lago. Uma imagem bonita de um caminhante solitário na madrugada daquele dia.
Um estranho que pede comida, que constata a carência humana em nada ter a oferecer. Uma ordem amorosa que pede para não desanimar e lançar mais uma vez a rede à direita do barco.
Ao recolher os peixes, voltou à memória dos discípulos o modo assertivo e determinado com o qual Jesus sempre havia desenvolvido a sua missão. Voltou à memória como Ele animava os corações, curava os doentes e controlava as forças da natureza, pois, certa vez, ordenou ao mar que se acalmasse e ele se acalmou.
A pesca bem sucedida é o detalhe que faltava, por isso João exclamou, é o Senhor! Isso foi o suficiente para Pedro desnudo se recompor e continuar a Missão, jogando-se ao mar. Um mergulho que não teve volta, porque mesmo sem coragem de perguntar se era Ele, o sabiam e sentiam nos corações que era o Ressuscitado.
Doravante é em nome dEle que os discípulos farão milagres. A autoridade do Senhor passou aos discípulos e a nós, até aos dias de hoje. Entretanto para reconhecê-lo precisamos buscar nas sutilezas que estabelecem um laço indelével entre o mestre, nós e os fieis, a fim de que, a marca do Senhor que vive, seja real para todos aquele que o buscam.
As três exclamações nos Evangelhos desses dias, é uma profissão de fé fundada sobre particularidades da vida que só podem ser descobertas se vividas em comum-unidade e familiaridades com Aquele que não nos chamou de servos, mas de amigos.
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)