O mistério da encarnação do verbo eterno do Pai se renova a cada ano e traz certezas irrenunciáveis para nossa existência como também estímulos fortes para nosso agir pastoral.
Em primeiro lugar o Natal traz a certeza de um amor que não tem limites e que somente Deus pode nos garantir. É bonita a palavra de São João que afirma “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu próprio Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17).
Em cada Natal isso se manifesta. O Deus amigo, Emanuel (Deus conosco), aquele “que revogou o decreto contra nós”, como lembra o Profeta Sofonias, vem ao nosso encontro para que tenhamos vida e vida plena.
A certeza de um amor sólido, permanente e incondicional de Deus com cada pessoa humana é extremamente importante porque estimula a amar, a corresponder ao que se recebe gratuitamente. Longe de nós pensar que a misericórdia e solidariedade de Deus nos coloque em atitudes relaxadas e relativistas. Quem se sente amado ama e vai instaurando uma relação de amizade profunda e duradoura com quem o ama. Ao mesmo tempo, o Natal é estímulo a trilhar o mesmo caminho do Filho de Deus que se “fez carne veio habitar no meio de nós” (Jo 1,14).
Deus não salva com decretos que vêm de cima para baixo, mas se fazendo gente como nós, assumindo a nossa natureza, com seus limites e condicionamentos de toda natureza. A lei da encarnação é exigente e não permite de assumir no caminho pessoal e pastoral, atitudes descomprometidas ou de cunho romântico.
Jesus se faz homem num contexto especifico, seja geográfico, como religioso, cultural e político. Não foge no seu agir de Messias e Redentor do cotidiano que limita e que as vezes é contraditório. Vai se inserindo decididamente na realidade concreta para transformá-la por dentro.
Que estímulo grande para O nosso agir pastoral. É assumindo a realidade concreta que se apresenta para nós hoje que podemos realizar o processo de mudanças, rumo ao Reino definitivo que é exigido.
O agir pastoral é determinado pela realidade histórica concreta que eu vivo nesta Igreja Particular, neste Regional, nesta paróquia, nesta família, neste contexto político, econômico, cultural, etc.
Não é fazendo planos preestabelecidos que nós iremos imitar o jeito de agir do verbo da vida, mas assumindo a realidade e nos deixando conduzir por ela. Tudo naturalmente à luz da Palavra iluminadora e orientadora de Deus.
O Natal é luz, vida plena, esperança, que não decepciona, celebração do amor eterno que descendo do céu vai ao encontro da ovelha que se perdera e a reconduz à sua dignidade original, é solidariedade plena, a confiança de Deus para conosco.
Reduzir o Natal a algo de marginal, seria pecado imperdoável e incapacidade de perceber o que de verdadeiramente novo está acontecendo.
Dom Carmelo Scampa
bispo de São Luís de Montes Belos-GO