A Igreja preocupa-se com o bem estar de todo ser humano e por isso desenvolveu a Doutrina Social da Igreja que é o conjunto de ensinamentos relativos à vida social, apresentados pela Igreja para inspirar a boa conduta cristã dos fiéis e de todas as pessoas de boa vontade.
Ela foi surgindo aos poucos, fruto de um trabalho conjunto e sequencial e o seu conteúdo foi sendo elaborado através das Encíclicas Pontifícias a partir do século XIX.
A Encíclica “Rerum Novarum” escrita em 1892, pelo Papa Leão XIII pode ser apresentada como o primeiro documento desta doutrina. Era necessário, na época, que a Igreja se pronunciasse principalmente a respeito da Revolução Industrial e o tratamento que os operários estavam sofrendo nas indústrias. Tivemos outras grandes encíclicas como a “Quadragésimo Anno” de Pio XI e “Mater et Magistra” e Pacis in Terris de João XXIII.
Esse corpo de ensinamentos não apresenta somente conteúdos históricos, mas também princípios e orientações morais para a vida social, econômica, e política que mantêm a sua validade ao longo do tempo.
A Doutrina Social da Igreja não deve confundir-se com o que se denomina “pensamento social católico” que é uma contribuição sobre a vida social procedente de diversas escolas do pensamento católico. Os documentos dessa doutrina são apresentados com alguns elementos básicos. O primeiro são os Princípios de Reflexão, que constituem os seus elementos fundamentais. Sublinham as bases que se hão de respeitar para construir uma convivência social segundo os critérios universais que possam ser aceitos por todos. Depois temos os Critérios de Juízos que avaliam a realidade social. Esses critérios estão fundamentados sobre os Princípios de Reflexão e interpretam ou permitem avaliar sistemas e estruturas sociais como instituições, realizações práticas e situações concretas que ocorrem na sociedade. E, finalmente, as Diretrizes de ação que servem para orientar a atividade dos cristãos na vida social.
Os apoios da Doutrina Social da Igreja estão bem definidos. A principal fonte é a Sagrada Escritura. Muitos textos bíblicos já são sociais ou deduzem-se da concepção implícita do ser humano. Isto se verifica tanto no Antigo como no Novo Testamento. Também podemos falar da Tradição, visto que os Padres da Igreja sempre aplicaram os trechos da Sagrada Escritura para os problemas da época. E ainda o Magistério da Igreja porque ela recebeu de Cristo a autoridade divina de interpretar autenticamente a Revelação e a Lei Moral.
Algumas pessoas criticam a ação da Igreja na ordem temporal, achando que ela deve permanecer somente no âmbito espiritual, mas é legítima essa atuação desde que baseada em princípios evangélicos. O próprio Cristo responde a questão: “Assim como o Pai me enviou, assim eu vos envio a vós”, (Jo, 20, 21) Estas palavras relacionadas com outras, exprimem que a Igreja há de prolongar a missão de Cristo no mundo.
A ordem temporal está contaminada pelo pecado original, e isto faz com que surjam fatores que são desfavoráveis ao desenvolvimento humano e por isso é necessária a mediação da Igreja para viver-se a justiça e a caridade.
A missão da Igreja é igual à de Cristo, é sobrenatural e tem por fim a salvação dos homens, mas inclui também a reta ordenação das realidades temporais, pois esta é uma forma de manifestar-se a caridade.
Dom Levi Bonatto
Bispo auxiliar de Goiânia
Secretário do Regional Centro-Oeste