Dom Messias: “O sofrimento de Cristo nos ensina a dar significado ao sofrimento humano”

 

A Semana Santa convida à vivência do Evangelho e contemplação dos últimos passos de Jesus na terra. O período é marcado pelo “homem das dores” (Is 53, 3) – Cristo, que derramou o seu sangue para que a reconciliação definitiva entre Deus e a humanidade acontecesse.

Para o presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB, dom Messias dos Reis Silveira, esse trajeto do filho de Deus até o calvário, tem muito a ensinar à humanidade. Entrevistado, ele destaca que a Via Crucis era a missão de Jesus, um caminho sem opções de desvio que no seu conjunto com a Ressurreição, fazem da Semana Santa o ponto alto da vida cristã.

A figura de Maria, conforme dom Messias, com o seu sofrimento, mas sempre iluminada pela fé, coroam esse processo da vitória de Cristo sobre a morte.

O que nos ensina o sofrimento e angústia vividos por Jesus na Semana Santa?

Dom Messias: O primeiro ensinamento é o amor de Deus pela humanidade a ponto de levar seu filho à morte de cruz. O sofrimento de Jesus nos ensina muito sobre o significado do sofrimento humano; ele nos revigora, nos amadurece e nos ilumina para atravessarmos as adversidades da vida.

Por que Deus confiou essa Missão tão difícil a Jesus?

Na verdade ele não enviou seu filho para sofrer, o sofrimento foi consequência da sua Missão. Jesus não teve a oportunidade de desviar como no caso das tentações, mas ele permaneceu fiel até o fim. Deus confiou a ele a Missão de revelar o seu rosto, o amor do Pai e permanecer junto aos seus filhos sabendo também das muitas libertações que são necessárias acontecer em todas as dimensões: pessoal, social. Deus confiou pela esperança de uma humanidade que pode ser melhor de tal forma que possa participar da sua glória.

O que faz da Semana Santa especial? O trajeto de Jesus ao calvário ou a sua Ressurreição?

Todo o conjunto. A morte como a Ressurreição estão interligados. Se a Missão parasse na morte tudo estaria frustrado, porém a morte sem Ressurreição não teria sentido. Para ela existir precisou existir a morte. Cristo morre confiante, entrega sua vida nas mãos do Pai que depois o ressuscita. A partir desse mistério central da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, se desenvolve toda essa realidade que vivenciamos: ser Igreja, continuidade da Missão de Cristo, o anúncio da Boa-Nova que ilumina a vida das pessoas. A morte de Cristo representa toda a morte que vem da humanidade. Quando o filho de Deus morre todos são chamados a viver a esperança partir de Jesus.

Que exemplo podemos colher da figura de Maria que acompanhou a angústia de Jesus até a cruz?

O maior exemplo é a fidelidade. Deus confiou essa Missão a Jesus e Maria acompanhou o seu filho até a morte e depois continuou com os discípulos. A Missão dela tem um grande significado: o de permanecer junto até o fim. As pessoas contemplam muito a dor de Maria e o seu sofrimento. Ela teve as dores que fazem parte do processo de vida humana, porém era um sofrimento iluminado pela fé. Trazia dentro de si a certeza de que era algo de Deus que estava acontecendo. Tinha a fé iluminada pela ação do Pai na sua vida e na vida de seu filho. Não era desespero, mas uma dor que tinha em seu fim a esperança.