“Entre nós está e não o conhecemos! Entre nós está e nós o desprezamos!”
(Música: Seu nome é Jesus Cristo)
O papa Francisco, ao propor o I Dia Mundial dos Pobres, nos convida a direcionarmos os nossos olhares para a realidade de tantos irmãos e irmãs que vivem a experiência da pobreza nas suas diversas dimensões. Ele, uma vez mais, nos propõe trazermos para o centro de nossa atenção aquelas pessoas que estão no centro da atenção de Deus: os pobres.
É preciso, nessa oportunidade, fazer um questionamento: por que foi necessário o papa propor um dia para olhar e recordar, em nossas celebrações e reflexões, a realidade daqueles que todos os dias esbarram em nós nos diversos momentos e lugares em que vivemos e frequentamos? Estão em nossas ruas, nos semáforos, nas calçadas, nos abrigos, nas rodoviárias, nos presídios, nas casas de recuperação, nos orfanatos, nas filas dos hospitais e postos de saúde das periferias, nos subempregos.
O Santo Padre, segundo nos parece, não teve o intuito de apenas olhar, uma vez mais, para a realidade da pobreza dos irmãos e irmãs, mas de nos ajudar a entender que, em cada um deles, Jesus Cristo se faz presente com sua carência, sua necessidade, sua aflição, sua fome, sua sede, sua nudez, sua falta de moradia, sua enfermidade, seu encarceramento, sua penúria. E essa presença de Cristo, nos pobres, questiona a Sua presença naqueles que têm condições de ajudar solidariamente, de provocar mudanças sociais, de reformar estruturas de injustiça e conformismo com a pobreza.
Três elementos para este dia: olhar, recordar, atuar. Olhar é trazer para dentro de si uma realidade muitas vezes ignorada. Inclusive existe um ditado popular que diz que “o que os olhos não veem, o coração não sente”. A partir do olhar da realidade, é preciso recordar, dar de novo ao coração aquela realidade para que o coração, tornando-se inquieto, leve a uma ação concreta. O coração, biblicamente, é o lugar símbolo da vontade, do querer. “Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt 6,21). Precisamos, portanto, diante do olhar sobre a realidade dos pobres, recordar o mandamento de Cristo (Jo 13,35) e seu ensinamento sobre o juízo (Mt 25,34-46), como nos fala São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”. A partir daí, devemos agir em favor da mudança da realidade, interferindo na vida de cada um, pela caridade, e na vida da sociedade, pela mobilização em favor de políticas públicas humanizadas.
Que esse Dia dos Pobres, que celebramos pela primeira vez, nos faça olhar para nossas comunidades, nossas Igrejas, e ver o que já tem sido feito e o que precisa ainda ser realizado em favor dos irmãos e irmãs empobrecidos, superando o mero assistencialismo e passando para atitudes de promoção das pessoas, a fim de que tenham seus direitos respeitados e possam resgatar sua dignidade de filhos e filhas de Deus. Alguns irmãos e irmãs, como o filho pródigo, vivem na penúria e necessitam de alguém que, pela caridade e solidariedade, apontem-lhes o caminho de volta para casa, pois a casa do homem é o coração de Deus, onde não existem filhos rejeitados e nem abandonados.
Dom Moacir Silva Arantes
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia