A festa do Corpo e do Sangue de Cristo nada mais e nada menos é que a celebração da Eucaristia, da Missa, realizada com mais solenidade, destaque e dando-lhe também certa publicidade com a procissão e todas aquelas atitudes típicas da piedade popular, como tapetes, coleta de alimentos, etc.
• Quem quer saber quando essa celebração nasceu e se espalhou na Igreja pode procurar na internet e encontrará detalhes interessantes.
• Quem quer ter uma síntese teológica sobre a Eucaristia procure o Catecismo da Igreja Católica e terá aí tudo o que é essencial a respeito do Sacramento Eucarístico.
• Quem quer saber mais do ponto de vista litúrgico, procure a introdução geral ao Missal Romano e suas curiosidades serão saciadas.
Nesta breve reflexão gostaria de destacar alguns pontos essenciais que poderiam enriquecer nossa espiritualidade e restituir à Eucaristia sua centralidade na ação pastoral da Igreja.
A tentação “pragmática” de fazer uma análise-leitura de como é reduzido o Sacramento chamado pelo Concilio de “fonte e ponto mais alto de toda a vida cristã”, é grande e poderia até ser mais atraente, mas não me deixo “seduzir” pela ideia.
1. A palavra de Deus, sobretudo os Evangelhos (Mt 26,26-29), fazem afirmações importantes, ligando a Eucaristia à Aliança. Quer dizer: a Eucaristia é a Páscoa que penetra em nossas existências, pessoal e eclesial. É a aliança confirmada. Para entender essa maravilhosa verdade, precisamos relembrar que toda a comunicação que Deus faz de si aos seres humanos, tem seu centro, sua plenitude, seu cumprimento em Jesus Cristo e de forma particular na Páscoa de Jesus, em sua paixão, morte e ressurreição, antecipado no símbolo da Ceia Pascal. E a Páscoa de Jesus que cumpre a revelação, nos alcança no rito simbólico da Missa que torna presente e contemporânea para nós a derradeira ceia e nela a morte e ressurreição de Jesus torna-a contemporânea para todos nós que a celebramos. Na Eucaristia, não somos nós que nos esforçamos de voltar, com o pensamento e a memória, àquilo que Jesus fez um dia com seus discípulos. Trata-se antes de uma memória viva: Jesus nos alcança entrando em nossa existência com a Páscoa.
2. A Eucaristia é a mais perfeita atuação da Igreja (1 Cor 10-11). Como cristãos, porque intimamente unidos a Cristo na Eucaristia, estamos intimamente unidos entre nós e em virtude do Sacramento da Eucaristia constituímos o Corpo de Cristo, quer dizer a Igreja. A Eucaristia, portanto, faz a Igreja. Lembra-nos o Concílio que “Esta Igreja de Cristo está verdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais dos fiéis que, unidos com seus pastores, são também elas no Novo Testamento, chamadas “Igrejas”. Nelas se celebra o mistério da Ceia do Senhor, a fim de que comendo e bebendo o corpo e o sangue do Senhor, toda a fraternidade se una intimamente… Nessas comunidades, muitas vezes pequenas e pobres, vivendo na dispersão, está presente Cristo por cuja virtude se consocia a Igreja una, santa, católica e apostólica” (L.G. n. 26). Quando celebramos a Eucaristia somos mais Igreja. Quantas observações práticas se poderiam fazer à luz disso!? Mas não vou cair na tentação.
3. A Eucaristia nos faz entrar no mistério do Pai (Jo 6, 26-70). A Missa é a celebração que contém em síntese o que há de mais essencial na vida da Igreja. Em outras palavras: a vida da Igreja é um desenvolvimento da Missa. Na Missa temos de forma completa e estritamente interligados entre si os três elementos fundamentais da Igreja: a PALAVRA DE DEUS, a OFERTA PASCAL de seu CORPO e de seu SANGUE, e A COMUNHÃO dos fiéis com o Ressuscitado, presente no meio de nós.
Se quiséssemos fazer referência a uma imagem bíblica, poderíamos pensar em Jesus que, depois da ressurreição, enquanto caminha com os dois discípulos de Emaús, explica para eles as Escrituras, parte o pão, fazendo daqueles dois discípulos tristes e fugitivos, uma nova comunidade de amigos e de apóstolos (Lc 24, 13-35). Da mesma forma em cada Eucaristia Jesus Ressuscitado está presente na proclamação da palavra, na explicação da mesma, oferece-se no pão e no vinho para nós, faz de nós uma comunidade de amigos e missionários.
Todos os elementos da vida da Igreja desenvolvem estas três linhas: palavra, oferta eucarística, comunhão. Não existe uma missa diferente. Portanto, Corpus Christi é isso tudo, feito de forma mais solene, pública e até emocionante, mas é aquilo que normalmente deveríamos viver e experimentar em cada celebração eucarística.
Dom Carmelo Scampa
Bispo diocesanos de São Luís de Montes Belos