O mês da Bíblia tem a grande vantagem de lembrar a todos a centralidade da Palavra no caminho espiritual de cada discípulo de Jesus e naturalmente no caminho eclesial.
Lembrando o versículo 105 do Salmo 118 que orientou meu serviço como bispo na Igreja: “Tua Palavra é lâmpada para os meus pés” e tendo presente o prólogo do Evangelho de João” , desejo sublinhar alguns aspectos da Palavra.
- Ela é eterna, desde o princípio. É a origem de tudo o que existe e nada do que há, existe sem ela. Ela é Deus: imutável, estável, sólido e seguro. Deus não é opinião que muda conforme as circunstâncias e os tempos. Ele é segurança e estabilidade.
- Ela é criativa e fonte de toda existência. Isso tem consequências muito profundas e fortes. Quer dizer que se eu existo por causa da Palavra, somente me entendo a luz dela e nela. Cada desvio de procura se paga caro e acaba frustrando. Como são eternamente atuais as reflexões de Santo Agostinho no livro das Confissões a respeito disso! Quem se procura em Deus se encontra.
- A Palavra é Luz que ilumina, é lâmpada que não permite pisar em falso, torna toda a existência luminosa, mesmo quando se carrega uma cruz pesada. O próprio Cristo define-se a LUZ do mundo, sem a qual a experiência humana é treva, escuridão, morte, insegurança, medo, pavor de tudo. A Palavra como luz esclarece toda questão, também a mais complexa.
- A Palavra não é um livro, uma doutrina, é uma pessoa: Jesus de Nazaré que se fez carne e veio morar entre nós. Cristo como Palavra torna-se sacramento eficaz em tudo o que ele diz e faz. Cada gesto dele, cada palavra, ação, silêncio, ira, lágrima, emoção, tudo é expressão da Palavra que habita entre nós. Que consequências exigentes para o nosso caminho espiritual!
Destas simples pinceladas dá de entender que o mês da Bíblia é uma grande oportunidade para redescobrir o Verbo da vida que se tornou Carne, Caminho, Verdade, Vida, Porta das ovelhas, Pão da Vida, Água que mata a sede, Ressurreição etc.
Como seria pobre reduzir o mês de setembro a alguns estudos bíblicos ou eventos litúrgicos – às vezes estrambólicos – deixando em segundo lugar a relação pessoal com o Mestre; o esforço de ir até Ele para saber onde mora, como fizeram os primeiros vocacionados; de se colocar aos pés dele como Maria e escutar o que ele tem para nos dizer ; de acatar a preciosa orientação da Mãe que gerou a Palavra: “fazei tudo o que Ele vos disser”.
Naturalmente para alcançar uma relação pessoal com a Palavra que possa amadurecer e fazer crescer, é preciso privilegiar momentos fortes que favoreçam isso. Daí a necessidade de se inteirar com as propostas específicas de sua paróquia e diocese que visam orientar no conhecimento e na oração da Palavra.
Como é bom valorizar também ainda mais a Lectio Divina, leitura orante da Palavra. Temos tudo a ganhar e chegaremosr a concretizar o que São Tiago pede: “Não sejais simples ouvintes da palavra, mas praticantes.
Dom Carmelo Scampa
Bispo emérito de São Luís de Montes Belos