Uma tradição pastoral já consagrada, aqui no Brasil, dá ao mês de setembro um grande relevo ao santo livro da Bíblia. Isto porque, no dia 30 deste mês, comemora-se São Jerônimo, sacerdote e doutor da Igreja, que traduziu dos originais para o latim quase todos os livros sagrados. Dentre os colaboradores do papa São Dâmaso foi um dos teólogos mais preparados e conceituados.
Após a tradução dos Setenta – tradução da bíblia hebraica feita por 72 representantes de diversos grupos de Israel – muitas divergências dogmáticas surgiram, a ponto de se fazer necessária uma nova tradução latina da Palavra de Deus. O papa Dâmaso, em 384 D.C., confiou então a São Jerônimo a tarefa de redigir uma tradução latina do Antigo e do Novo Testamento.
Na Bíblia, encontramos abundantemente o Plano, o desígnio salvífico de Deus para toda a humanidade. O evangelista João termina o seu Evangelho afirmando de forma hiperbólica: “Há muitas coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seriam escritos” (Jo 21,25).
A transmissão da revelação divina é universal, destinada a todos os homens e mulheres, em todas as línguas e culturas, para todos os contextos. Porque “Deus quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Por isso, é necessário que Cristo seja anunciado a todos os homens, segundo o seu próprio mandamento: “Ide, pois, a todas as nações. Fazei com que todos os povos se tornem meus discípulos” (Mt 28,19).
A Bíblia nos aproxima de Deus. Há quem a leia como um cientista que busca as verdades acerca do homem, da sociedade e de Deus. A Bíblia não é uma tese científica. Nela não encontraremos esboçadas razões de natureza pragmática. A Bíblia é o resultante de uma expressão literária da fé de um povo. Todo o conteúdo da revelação que ali está expressa é também linguagem da cultura. E da cultura de uma sociedade localizada num lugar específico (na região do Oriente Médio), num tempo específico (aproximadamente entre 1.000 anos antes de Cristo e 100 anos depois de seu nascimento). E também mediada pelas experiências individuais daqueles através de quem Deus falou, seja por meio dos profetas, dos evangelistas ou dos apóstolos. Portanto, para compreendermos a Bíblia em sua inteireza, é necessário que tenhamos boas informações acerca das culturas de dentro das quais os livros foram escritos. E absorver o que é essencial nas narrativas contidas nos livros sagrados.
Espera-se que este mês da Bíblia seja um tempo oportuno para que todos encontremos em suas páginas uma consequente orientação para o tempo presente. Afinal, a Bíblia é um rico tesouro de fé transmitida de geração em geração. Sua riqueza é infinita e sua atualidade é fascinante. É o próprio Deus quem nos fala.
Dom Washington Cruz
Arcebispo de Goiânia