No mês de novembro se reflete muito sobre o encontro com Deus na morte. Muitas pessoas vão aos cemitérios, fazem suas orações pelos falecidos. É uma oportunidade propícia para se pensar na fugacidade da vida neste mundo. Uma vez criado, o ser humano caminha para a eternidade. Ele nasce no caminho da ressurreição.
A vida se desenvolve na dinâmica da acolhida e da despedida. Quando nasce uma criança ela é acolhida por aqueles que a esperam. Ela entra no convívio da família e recebe o amor das pessoas. Essa acolhida vai se estendendo na Igreja através do Batismo, na vizinhança através das relações sociais, na escola, na sociedade em seus mais variados níveis. Enquanto vai se dando essa acolhida também acontecem despedidas. Filhos deixam os pais para estudar, trabalhar, ou viver uma vocação específica no matrimônio, na vida consagrada, ou no sacerdócio. Acolhida e despedida é uma dinâmica constante para quem vive. Quem participa de despedidas, para não sofrer muito, precisa dar liberdade para a pessoa partir e se alegrar com o seu futuro.
A morte é uma despedida. Na morte temos que nos despedir da pessoa que amamos. Temos que deixá-la partir para um encontro definitivo com Deus. É preciso olhar para o futuro e não querer aprisionar a pessoa no passado, ou nas boas experiências que se viveu.
A pessoa humana traz dentro de si a certeza de que um dia a morte chegará para ela. Quem está vivo pode ser surpreendido a qualquer momento pela notícia do falecimento de uma pessoa amada. As notícias modificam os nossos sentimentos, nos deixam alegres, ou tristes. A notícia da morte nos causa um espanto. Em geral, o sofrimento dos enlutados é sempre muito grande e precisa ser administrado.
Quando chega a morte, não se pode negar a dor, pois ela é sinal de vida. Somente os vivos sentem dor. Não se pode negar a morte e a dor do luto. Existem pessoas que no dia da morte de um parente próximo se comportam como se não tivesse acontecido nada. Ficam como se estivessem anestesiadas. É preciso viver a perda. É preciso chorar, ou se emocionar. É preciso viver o momento das lágrimas. Quem não faz isso acaba retardando os sentimentos que vão se manifestar posteriormente como uma dor, mais grave, causada por um ferimento que se infeccionou.
Não dá para passar pelo luto sem sofrer, sem a dor, mas é possível iluminar essa travessia com a fé. É preciso nestas horas procurar avistar longe, olhar para o futuro que Deus reserva aos seus filhos. O futuro de cada um é a eternidade.
Deus como pai, todos os dias, assiste a morte de milhares de seus filhos, mas ele não sofre, pois para Ele a morte não é o fim, mas chamada para a plenitude da vida. A morte é uma oportunidade para renovar nossa fé na vida eterna.
Numa família quando algum membro recebe um prêmio todos se alegram. Na morte somos chamados a acolher o prêmio da vida plena oferecida por Deus, a quem se foi. Olhando nesta dimensão se pode dizer que os enlutados precisam contemplar a alegria da salvação dada aos que partem rumo ao encontro com Cristo na eternidade.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo da Diocese de Uruaçu – GO
Presidente do Regional Centro-Oeste da CNBB