Advento e Natal: Tempo de espera e de esperança

A Igreja que é mãe e mestra educa o povo de Deus propondo a celebração do único mistério de Cristo por etapas significativas e marcantes, todas caracterizadas por algo de peculiar: Advento, Quaresma, Páscoa, Pentecostes, Tempo Comum.

O Advento, tempo que precede o Natal de Jesus é o tempo da espera e da esperança. Mas espera de que e de quem? Naturalmente do Filho de Deus que se fez carne e veio habitar no meio de nós. O que é óbvio na teoria não é evidente na prática da vida. A primeira parte do Advento visa despertar a consciência cristã da chegada última e definitiva do verbo incarnado que será o juiz da história e da humanidade inteira. Esta realidade não parece interessar mais o homem contemporâneo e em nossas igrejas também não se dá suficiente importância ao assunto. Prevalece uma visão romântica do nascimento histórico de Jesus e tudo gira principalmente ao redor do presépio.

Numa sociedade distraída e cada vez mais afastada dos valores evangélicos, o interesse se concentra sobre um “aqui e agora” banalizado e reduzido ao econômico, ao bem estar. A tentação de ocultar o futuro, a morte, a dor, o sofrimento, o juízo divino são muito mais fortes. A mensagem do Advento, portanto, é importante para equilibrar a espiritualidade e manter vivo o espírito de espera e de esperança que dá total sentido à existência humana.
O prólogo do Evangelho de São João nos assevera que “ tudo foi feito por Cristo e nada do que existe, existe sem ele”. Eu me entendo a não ser em Cristo. Empobrecer a vida, reduzindo-a a aspectos materiais, significa se autocondenar à não compreensão de si mesmo e não encontrar aquela paz que desejamos porque o Cristo é a nossa paz.

Naturalmente o Advento, sobretudo depois do dia 17 de dezembro, quer propor a nossa atenção ao nascimento de jesus, a palavra eterna que se fez carne no seio da Virgem Maria e veio habitar no meio de nós. Quantas provocações de suma importância nos são propostas!

1. O Deus invisível se fez acessível e visível na história humana, dando-nos a prova maior de um amor atento às realidade que vem de Deus, mas que se corromperam e precisavam ser recuperadas e restauradas. Natal é proximidade, misericórdia, presença, comunhão, consideração profunda de um Deus, que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. Natal é contar para sempre com o Divino pastor que procura a ovelha perdida, como o Divino Samaritano que recupera nossa vida ameaçada.

2. O Deus eterno se fez história, se fez homem, assumiu a condição limitada da natureza humana. A encarnação abre leques maravilhosos para viver cada acontecimento como história de salvação, para acolher cada ser humano como imagem de Deus, para ver na escuridão da noite a luz que “vindo ao mundo ilumina todo ser humano”. Se pudéssemos dar mais força a isso em nossa espiritualidade pessoal e eclesial como seria transformadora a nossa presença e ação pastoral na história! Como é empobrecedora uma visão desencarnada da fé e da religião! O verbo de encarnou, deixou rastos de luz no mundo e saber reconhecer “as sementes do verbo” presentes em cada homem, presente e realidade é sinal de vivência no mistério da reencarnação.

3. O Deus todo poderoso se fez pobre, foi colocado numa manjedoura, se manifestou a simples pastores. Não despertou a curiosidades dos grandes, foi simplesmente despercebido. Vale a pena reler a mensagem do Papa Francisco sobre a riqueza do presépio, recentemente publicada e vale a pena dar sentido maior às escolhas do Verbo da vida também em nosso caminho Pastoral. A tentação de seguir a lógica mundana é forte: Queremos ser notados, reconhecidos, perdendo desta forma, do “fermento” que misturando-se na massa a fermenta.

4. O verbo do Pai se manifesta imediatamente como centro da história: a eles acorrem os pastores, os pobres, mas também os sábios do Oriente porque é a luz que ilumina, e a verdade que convence, é a resposta aos anseios mais profundos do ser humano. Em nenhum outro há vida e salvação a não ser nele. Reduzir, portanto, o menino de Belém a um dos grandes da história é não reconhecê-lo e anunciá-lo como único salvador. Que miopia insustentável.

A Igreja, peregrina neste mundo é chamada a cultivar mais a convicção de seu caminho rumo ao encontro com seu senhor e a viver na expectativa de sua chegada. É também convidada a viver na alegria porque o Senhor vem para salvar.

5. Bom Advento e Feliz Natal pra todos.

 

Dom Carmelo Scampa

Bispo de São Luís de Montes Belos