A Quaresma à luz da Páscoa

“Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15) é uma das palavras divina que acompanha o tempo quaresmal. Ela é uma exortação e uma provocação à liberdade dirigida a todas as pessoas. Nós, cristãos católicos, a fazemos ressoar em primeiro lugar para nós mesmos. Desta maneira, recordamo-nos que só em Deus encontramos salvação e vida feliz sem fim. Tomamos consciência que pecar é romper a aliança com Deus e, consequentemente, com as pessoas e a criação (cf. Gn 3). Deus é vida. Por isso, pecar é morrer. Converter-se é voltar para Deus. Portanto, converter-se é viver. Viver de modo humano é viver em comunhão ou em fraternidade.

Referindo-se à Quaresma como tempo litúrgico, as Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário nos dá a seguinte indicação: “o tempo da Quaresma visa preparar a celebração da Páscoa; a liturgia quaresmal, com efeito dispõe para a celebração do mistério pascal tanto os catecúmenos, pelos diversos graus de iniciação cristã, como os fiéis, pela comemoração do batismo e penitência” (n.27).

Falemos, então, da páscoa. Como palavra, “páscoa”, no seu sentido figurado, indica “saltar”, “passar”, perdoar; é passagem de uma situação para outra, da morte para a vida. A páscoa de Jesus, centro da fé cristã e do ano litúrgico, é a sua passagem da morte para a ressurreição. Pelo batismo nós participamos desta páscoa, ou seja, morremos para o pecado e renascemos para a vida em Cristo. A vida cristã é toda pascal. Nossos dias na terra são pascais: vivemos o contínuo esforço pessoal de renunciar o pecado e abraçar a graça santificante de Deus, morrer para o pecado e nascer para a Deus.

Deus permitiu novamente que a Quaresma e, provavelmente, a Páscoa sejam acompanhadas pela covid-19. Que provação! Vivamos estes dias com suas incertezas, angústias, medos e luto na perspectiva pascal. Atravessemos o vale da sombra e da morte firmes na fé e na esperança. A realidade da pandemia foi tocada pela Páscoa de Cristo. Por isso, “se com Cristo morremos, com Ele viveremos” (Rm 6,8); “tende coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Estes dias passarão e ficarão a vida e os valores do Reino de Deus mais estampados em nós, pois este é um dos frutos das provações.

Ajudam-nos a viver este tempo rumo à Páscoa os consagrados exercícios espirituais: oração, jejum e esmola ou obras de caridade. A oração para ouvir e falarmos com Deus. O jejum para o nosso fortalecimento espiritual. A esmola para se fazer próximo ao irmão.

Uma boa proposta de obra de caridade para este tempo é ser fraterno e dialogante. Neste sentido, convido-lhe a refletir e renovar sua fé no Evangelho: você sabe o que é dialogar? Você dialoga? Como você apresenta a verdade para a outra pessoa? O que fala mais forte em seu coração: a paz e a unidade ou a divisão e o ódio? Como você se coloca diante de quem pensa e vive diferente de seus princípios religiosos e morais? Como você trata as pessoas de outras igrejas cristãs? Você tem respeitado as pessoas em suas escolhas? Você tem condenado o pecador ou o pecado? Antes de escolher um jeito de viver e compreender o mundo, somos pessoas humanas, criadas por Deus a sua imagem e semelhança. Jesus Cristo, por sua morte e ressurreição, fez de nós filhos de Deus Pai. Por isso, somos todos irmãos. Isso antecede qualquer adjetivo predicado à pessoa humana.

Assim, percorrendo o caminho quaresmal somos “pascalizados” por Jesus Cristo que nos torna, pelo poder do Espírito Santo, filhos amados do Pai-Nosso. Acompanha-nos neste itinerário São José, protetor da Santa Igreja, com a sua intercessão.

Dom Francisco Agamenilton Damascena
Bispo de Rubiataba-Mozarlândia – GO