A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) realizou nos dias 11 a 13 de setembro, o 8º Encontro de Jornalistas das Arqui/dioceses, regionais, pastorais e organismos da Igreja no Brasil. O evento aconteceu na sede da Cáritas Brasileira, em Brasília, e reuniu 52 jornalistas e assessores de comunicação, de 16 estados do país.
Referência para os profissionais que atuam nas diversas instâncias da Igreja, o encontro é realizado com o objetivo de partilhar experiências das bases e âmbito nacional, bem como levar a cabo a discussão de uma comunicação pautada nas causas sociais sob a ótica da mensagem cristã.
“Nossa missão é fazer uma comunicação encarnada na realidade humana, pois do encontro nasce o anúncio e apresenta a nossa Igreja que é atenta às necessidades maiores – trabalho esse que ajuda a mostrar a alma das pessoas e a darmos passos na convivência humana”, declarou o secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner logo na abertura do encontro. Ele alertou também para o cuidado de não contrapor Igreja e sociedade. “Somos também sociedade e o que fazemos e publicamos está inserido na sociedade”.
Desafios
O radialista e jornalista da Rede Globo, advogado e mestre em direito pela Universidade de Brasília (UnB) Heraldo Pereira, palestrou sobre “O desafio da assessoria de imprensa no atual quadro de comunicação”. Conforme conceituou, a mídia se estabelece de três maneiras: a formal (jornais, revistas, televisão, rádio); a mídia formal potencializada (disseminada na internet); e a comunicação informal (relações interpessoais e nas redes sociais na internet). “É com esta última que vocês irão tratar muito e aqui as pessoas são terríveis”, declarou ao lembrar os casos de racismo que já sofreram ele e a colega jornalista Maria Júlia Coutinho, do Jornal Nacional, em postagens na rede mundial de computadores.
O palestrante também disse que a responsabilidade da comunicação social da Igreja está nas mãos dos seus jornalistas e assessores de comunicação. Cabe a eles, “organizar a comunicação desse corpo que é a Igreja” e “dá sustância”, ou seja, força e densidade política (não partidária) à instituição, para que seja “reconhecida como importante, fundamental e tenha significação”. Heraldo alertou para a urgência de a Igreja adotar a comunicação em rede. “Precisamos de unidade e fazer esse trabalho em rede de comunicação da Igreja no Brasil senão os religiosos não irão conseguir tocar a missão de evangelização” e apontou a figura do papa como exemplo a ser seguido. “É um homem que comunica de maneira inexplicável com a expressão, os gestos, a sua imagem de forma tão natural; sem sombra de dúvidas é um exemplo que vocês comunicadores da Igreja devem seguir”.
Tempo de mudanças
“Estamos em meio a uma crise das empresas jornalísticas; neste cenário, para onde caminha o jornalismo?”, questionou o jornalista e doutor em comunicação pela UnB, professor Fábio Henrique Pereira, na segunda palestra do encontro. O palestrante respondeu que as mudanças são estruturais e que por isso também a notícia sofre alterações na forma em que é apresentada. Mais do que nunca, conforme ele disse, estamos na época do jornalista multimídia porque as demissões em massa estão aí. Essas mudanças também atingiram o público que participa da produção, recepção e disseminação de conteúdos. Essas pessoas ele chama de “os invisíveis do jornalismo”. O papel dos jornalistas e assessores de comunicação neste cenário é “dialogar com os públicos e se antecipar às reações desse público”. Os valores-notícia, no entanto, não mudaram. “Jornalismo como serviço público; neutralidade e ética; autonomia; regra da pirâmide invertida; atividade coletiva; inovações na linguagem”.
Mensurar resultados
Para o jornalista e sócio da Agência de Comunicação Santa Fé Ideias, Maurício Júnior, a comunicação da Igreja precisa fazer um trabalho urgente de aproximação com todos os meios de comunicação de todas as plataformas. “Devemos conhecer os blogueiros, leva-los a participar das nossas esferas de atuação; precisamos ouvi-los, para podermos alcançar o nosso público”. O objetivo desse trabalho é promover estratégias de comunicação humanizadas e conquistar espaços na sociedade. “Pesquisas hoje mostram que a Igreja e as instituições religiosas estão perdendo espaços. Será por que não comunica bem? Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Polícia Federal e outras organizações ao contrário, conquistam espaços”, afirmou. Maurício ressaltou que mensurar resultados é uma estratégia indispensável aos assessores de comunicação.
Transformação humana e social
Em mesa redonda, mediada pela professora Vânia Balbino, mestranda em comunicação e a exposição do coordenador do curso de Comunicação da Universidade Católica de Brasília (UCB), Joadir Foresti, e irmã Núbia Maria da Silva, jornalista e mestre em comunicação, a discussão girou em torno da comunicação que transforma realidades. Joadir apontou que há indicativos claros de que há nos meios de comunicação uma reconstrução na forma de ver a sociedade e as diferentes formas de existir, fato que ele destacou como importantes e indispensáveis ao trabalho de observação dos jornalistas e assessores.
Irmã Núbia, por sua vez, apresentou suas experiências de produção de jornalismo construtivo a partir da comunicação popular e comunitária que vem desenvolvendo há anos em diferentes comunidades e regiões do país. Na visão dela, a participação dos cidadãos na construção da notícia é indispensável para promover as comunidades tão excluídas da grande mídia. “Nós podemos fazer a nossa parte nesse processo comunicando experiências positivas e bonitas que acontecem na Igreja”, disse.
Oficinas
Ainda no sábado, 12, houve duas oficinas, “Fotografia”, orientada pelo repórter fotográfico da Agência Senado, Pedro França; e “Redação para novas mídias”, com o jornalista do site Fato On-line, Diego Amorim. O fotógrafo deu dicas pontuais de como produzir boas imagens para ilustrar conteúdo para sites, redes sociais e material impresso. Destacou que um bom fotógrafo pode fazer a diferença no trabalho. “O papel do fotógrafo é fazer nascer pautas de uma fotografia a partir do seu olhar e da sua personalidade que tem o poder de transformar realidades”. Já Diego falou de sua experiência como setorista de religião no Correio Braziliense e explicou que escrever para as novas mídias requer adaptação ao meio de comunicação em que se trabalha. “A orientação editorial conta muito nesse processo”. Mas ressaltou que “quem escreve bem escreve em qualquer lugar”. Indicou como estratégia para as novas mídias, sequenciar uma história. “Desdobrar matérias e criar novas pautas é tornar o trabalho mais atrativo e dinâmico”.
Missão
Na missa de encerramento, dom Leonardo disse que a missão da comunicação na Igreja é plantar trigos e não deixar ser veiculado apenas o joio na grande mídia. Trabalho que requer aproximação dos assessores. A forma como a notícia é dada, de acordo com ele, também faz a diferença. “Pode ser fria ou gerar vida e esperança, levar a mensagem de Jesus, comunicar para fora”. Como no Evangelho do domingo, 13, que relata que o filho do homem deveria sofrer muito para trazer a salvação (Mc 8, 31) da mesma forma “a comunicação da Igreja deve apoderar-se do sofrimento humano também para despertar relações novas e vida em plenitude”.
No momento dos encaminhamentos finais os participantes sugeriram que haja mais unidade entre as diversas instâncias da Igreja e a CNBB para que a produção de conteúdo tenha mais qualidade e dinamicidade. Dom Leonardo explicou que as dioceses têm autonomia para trabalhar sua comunicação, mas concordou que é necessário crescer em “entreajuda” com os 18 regionais espalhados pelo Brasil. O secretário geral sinalizou ainda para uma possível reunião do departamento de comunicação da CNBB e os regionais no sentido de estabelecer relações mais próximas.